sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Mercado de filmes tem reação após crise

Fonte: folha.uol.com.br 18/02



Retorno de americanos a Berlim simboliza nova fase na compra e venda de títulos em evento paralelo à mostra

Principais destaques da feira são filmes independentes, mas projetores 3D também chegam a provocar filas


No mercado de filmes, não há tapete vermelho nem empurra-empurra de fotógrafos.
Mas é no vasto prédio do mercado, a cerca de 500 metros da badalada tela do Berlinale Palast, que os homens de negócio decidem que filmes você, no Brasil, verá.
Por ser a primeira grande feira do ano, o European Film Market, evento paralelo à mostra de filmes, serve de termômetro para o que está por vir. E parece que, após dois anos baqueado pela crise financeira, o mercado de cinema começa a reagir.
"A crise atingiu fortemente a indústria. Mas percebemos um retorno aos negócios", atesta Catherine Buresi, vice-diretora do mercado. "Mas está claro, também, que o mercado não é mais o mesmo."
Muitas empresas fecharam. Novas surgiram. Mas a palavra de ordem é cautela.
Isso significa, no cinema, apostar no certo. É preciso, aqui, que se explique que os filmes produzidos por grandes estúdios, como Warner e Fox, são lançados por essas mesmas companhias.
O que os compradores vêm procurar são, portanto, os filmes independentes, ou seja, não ligados às chamadas "majors" de Hollywood.
O título a ser adquirido pode ser um filme pronto, em produção ou pode ser até um simples projeto, só com sinopse e nome do diretor.
São independentes, por exemplo, filmes como "O Discurso do Rei" e "Cisne Negro", que têm feito bonito na lista de premiações e nas bilheterias. "Isso acaba animando os distribuidores. Mas eles querem, é claro, filmes com grandes nomes ou de gênero", conta Buresi.
A outra onda, claro, é a do 3D. A feira aumentou em três vezes o número de projetores para o novo formato e, ainda assim, houve fila.
A revista "The Hollywood Reporter" registrou, também, a volta à cidade, em peso, dos americanos de bolsos bem forrados.
A publicação especializada afirmou que houve até um certo alívio do mercado em ver que Harvey Weinstein, o ex-chefão da Miramax, voltou às compras e que está disposto a jogar como gente grande de novo.

ARTE À VENDA
À agressividade dos norte-americanos e a disputa feroz por grandes títulos contrapôs-se, ainda, certa calmaria no mercado de filmes de arte.
O distribuidor brasileiro Jean-Thomas Bernardini, da Imovision, especializada nesse tipo de filme, diz que não teve de enfrentar grandes disputas.
Em seu carrinho de compras, ele colocou "Pina", o documentário em 3D de Wim Wenders, dois filmes da competição -o iraniano "Nader e Simin, uma Separação" e o alemão "Se Não Nós, Quem"- e ainda as novas produções de diretores como Philippe Garrel, Abbas Kiarostami e Olivier Assayas.

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CARLOS HEITOR CONY

Notícia pessoal do Egito
Fonte: folha.uol.com.br 18/02

O Nilo é de longe, e de perto, o mais belo dos rios; não é à toa que o Egito foi uma dádiva daquele rio



É ISSO aí: pirâmides, camelos, Alá é grande! -com esse obrigatório tripé pode-se fazer um cartão postal ou um superficial artigo sobre o Egito. Há alguns séculos, os egípcios se acomodaram com o lugar que ocupariam na história e, por conta própria ou forçados pelas circunstâncias, esqueceram-se de que a caravana continua, com ou sem o ladrar dos cães.
Foram necessários alguns equívocos nacionais, dominações estrangeiras e guerras perdidas até surgir a imagem de um Egito interessado em devorar a sua própria esfinge para sair da lenda e regressar à vida.
O avião parece que vai descer no deserto. Somente quando as rodas do aparelho tocam o chão, surge a fatia do asfalto. É quase como pousar num porta-aviões: em vez de água, a areia do deserto que começa lá na costa do Atlântico, atravessa com o seu pó diversos países, acredito que só termina para abrigar a poça imóvel e salgada do mar Morto. Para tal e tanto deserto, o Cairo é um imenso oásis com uma população de 16 milhões de habitantes que fazem barulho por 100 milhões -o cairota gosta de falar e gesticular, é o napolitano do Oriente Médio.
Bem, ali estou aquecido pelo sol que só se põe num céu absurdamente limpo. Já vi muitos rios, o Danúbio, o Sena, o Volga, o Arno, o Pó, o Tibre, o Tejo, o Tâmisa. o Amazonas, o Reno -mas entrego os pontos: o Nilo é de longe, e também de perto, o mais belo de todos, largo, azul e dadivoso, não é à toa que o Egito foi uma dádiva daquele rio.
Rosnam as más línguas que a represa de Assuã, construída pelos soviéticos, além de não mais atender às necessidades industriais do país, provocou dramático acidente ecológico: o celebre húmus, que espalhava a fertilidade pelas margens ambas do misterioso rio, ficava depositado no fundo da represa. E sangrava pelas disciplinadas artérias da barragem um líquido fraco, sem a seiva fecunda que gerou a primeira civilização importante do homem.
E é por esse lado que devo começar a visita ao Egito. Como se deve entender um país que, nos tempos de Cristo, já tinha sido? Olhado do alto do avião ou dos compêndios de história, o Egito é uma serpente cheia de escamas que desce do Sudão para o Mediterrâneo, serpente que também pode ser uma espinha dorsal: alguns quilômetros férteis à esquerda e à direita, o mais é areia. Mesmo assim produzia o melhor algodão do mundo.
Apesar do bom tamanho (quase um milhão de quilômetros quadrados), apenas 4% do seu território são aproveitáveis, o resto é o enigma da Esfinge que amplia outros enigmas espalhados em cada dobra do horizonte. Tirante o esplendor de seu passado, o país foi quase sempre dominado pelos impérios vizinhos, até que se acomodou em ser colônia de potências mundiais. Ficou então funcionando como uma espécie de Disneyworld para arqueólogos e paleontólogos que terminaram resumidos no espécime único: o egiptólogo.
Leão majestoso e exótico, enjaulado pelo tempo e humilhado pela história, desde os Otomanos, o Egito foi pasto de conquistadores de vários tamanhos e intenções. Alexandre ali fundou a cidade que até hoje tem o seu nome. Marco Antonio trocou aquele areal estéril pelo corpo roliço da rainha do Nilo. Mamelucos faziam tiro ao alvo no nariz da Esfinge, guarda secular da sacralidade do deserto. Quando os ingleses, que mandavam na região, resolveram restaurar a monarquia da ex-colônia, ninguém esperava que os grandes "ras" saíssem de seus mausoléus para dar continuidade às dinastias faraônicas.
Na impossibilidade de convocar Quéops, Ramsés, Acnaton e Amenófis, os ingleses chamaram Fuad, um sultão do deserto, para rei. Durou pouco. Seu filho Faruk, imberbe ainda, subiu ao trono, fez tanta besteira que acabou fugindo como um ladrão. Vieram os coronéis, o mais ambicioso de todos foi Nasser, que sonhou com um império pan-arábico. Seu motorista substituiu-o no poder, chamava-se Anwar Sadat. Assinou famoso tratado de paz com Israel e foi assassinado por um oficial egípcio. Um outro coronel, Hosni Mubarak, tomou o poder há 30 anos. Semana passada teve de fugir do Cairo, enxotado por milhões de vozes que ele dominara e silenciara.

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