sábado, 19 de fevereiro de 2011

Bienal vai homenagear Bispo do Rosário Fonte: folha.uol.com.br 19/02



Luiz Pérez-Oramas, curador do evento de 2012 em SP, pretende evidenciar artista, que foi interno de hospital psiquiátrico

Venezuelano também quer diminuir número de participantes e ter mais trabalhos pensados para a mostra

Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), marinheiro que foi interno de um hospital psiquiátrico e nunca produziu obras para o circuito das artes, será um dos artistas centrais da 30ª Bienal de São Paulo, em 2012, adiantou à Folha, anteontem, o curador Luis Pérez-Oramas.
"O que me interessa no Bispo do Rosário é que ele foi uma figura periférica, cuja obra está centrada na invenção da linguagem", disse Oramas, no café do Circullo de Bellas Artes, em Madri. Para ele, uma das questões centrais de sua Bienal será discutir os limites da arte.
"Retorno das poéticas" é o "motivo aglutinador" da Bienal paulista: "Eu sou poeta e gosto de poesia, mas por poética estou me referindo à capacidade retórica da arte".
Ao abordar o caráter discursivo da arte e seus limites, Oramas vai questionar uma das tendências importantes dos anos 1960 e 1970, liderados por Lygia Clark (1920-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980). "Se formos observar, a Lygia, com suas propostas, chegou de fato ao fim da arte. Agora, é preciso revisar a ideia da arte, que não é um instrumento de emancipação, apesar de poder ajudar", diz Oramas.
Segundo o curador, um dos problemas da produção atual é que, ao se aproximar da vida, a arte "tem se afirmado mais como comentário da realidade, da sociedade e por isso não se questiona mais como discurso".
Com isso, a Bienal entra num velho debate, que se renova permanentemente, sobre a autonomia da arte, no modernismo, e seus desdobramentos no contemporâneo, para alguns chamado de pós-moderno, outros hipermoderno e mesmo altermoderno. "É preciso tomar cuidado com conceitos messiânicos", alerta o curador.
Outros artistas importantes na conceituação da mostra são o alemão Hans-Peter Feldmann, que atualmente está em exposição no museu espanhol Reina Sofia, e o brasileiro Waldemar Cordeiro (1925-1973). "Ele é um bom exemplo para pensar limites, pois vai do meio artístico para a informática", afirma.

CAMPO EXPANDIDO
Entre seus planos, o curador pretende reduzir pela metade, em relação à última edição, o número de artistas no pavilhão, chegando a cerca de 80. "Mas queremos ter muitas obras feitas especialmente para a mostra", conta. Espacialmente, o curador planeja que entre 12 e 15 dessas novas obras sejam de grande porte.
Oramas também reserva à arte latino-americana papel importante na mostra: "Devemos dar lugar a artistas latinos importantes que não tiveram ainda a atenção merecida, mas não penso em termos quantitativos". O curador refere-se à última edição que, entre seus 159 artistas, tinha 45% de latinos.
Até setembro, Oramas pretende apresentar a lista de artistas. Assim como vem ocorrendo desde 2006, ele planeja estender a Bienal no tempo, com debates durante todo o ano de 2012.
"Como grande parte dos trabalhos será comissionado, poderemos organizar encontros com os artistas."
A 30ª Bienal também deve ocorrer de forma mais sistemática fora do pavilhão.
"Uma das perguntas que queremos fazer é qual a tensão da obra com seu entorno e, por isso, será muito importante que tenhamos trabalhos em museus da cidade, pois a Bienal, por seu caráter específico, pode muita coisa que eles não podem."
Agora, experiente, o curador sabe que tem pela frente um grande desafio: "Aqui no Bellas Artes tudo soa bonito", brinca.

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Maior feira de arte de Madri acontece em clima de tensão

Fonte: folha.uol.com.br 19/02



Crise financeira e concorrência afetam desempenho da Arco

A feira de arte espanhola Arco abriu suas portas ao mundo profissional das artes plásticas, na última quarta (16), frente a um futuro drástico: vida ou morte.
"É possível que a Arco se encontre diante de sua última oportunidade de seguir", decretou o diretor do Museu Reina Sofia, Manuel Borja-Villel, em artigo no "El País". Ao completar 30 anos, a Arco, de fato, se encontra em uma situação difícil.
"A feira perdeu muito sentido após a criação de Basel-Miami, para onde foram os colecionadores de arte latino-americana, e a Frieze, de Londres, que também ganhou importância na arte contemporânea", diz a galerista Luciana Brito.
Além da concorrência das feiras, a Espanha encontra-se em grave crise econômica, o que se reflete diretamente na situação dos museus, antes grandes compradores.
O cenário é tão difícil que associações ligadas à arte lançaram um manifesto, na última segunda, denunciando a "grave queda do financiamento público" e pedindo maior apoio ao setor.
No entanto, a renovação da feira, comandada por seu novo diretor, Carlos Urroz, deu mais fôlego ao evento.
Ele dinamizou o espaço reduzindo o número de galerias (de 197 para 238).
Além disso, deixou o evento mais internacional com novas seções -como Solo Projects, dedicada à arte latino-americana, e Opening, de galerias estrangeiras com jovens artistas.

RENOVAÇÃO
"Acho que isso vai dar uma sobrevida à feira, e essa crise econômica não vai durar para sempre", disse, otimista, Luciana Brito, que também faz parte da organização do evento. No total, são cinco brasileiras -em 2008, ano que o país foi o tema da feira, eram 31.
Agora, em 2011, a Rússia é a convidada, com apenas oito galerias. Mas, se o Brasil reduziu a participação de galerias, percebe-se que artistas brasileiros estão bastante integrados à cena espanhola.
Ao menos 18 artistas estão representados por espaços estrangeiros, como Hélio Oiticica, na prestigiada Lelong, de Paris, ou Ernesto Neto e Vik Muniz, na madrilenha Elba Benitez, e Rosângela Rennó, na La Fabrica.
E não são só artistas renomados que possuem tal visibilidade. Novos nomes como Marcelo Moscheta e Sara Ramo também estão por aqui.
No final do primeiro dia, alguns galeristas comemoravam que já tinham vendido quase todo o estande. "Só não conta isso porque parece que a maioria não vendeu nada", disse um galerista que pediu anonimato.

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