Há um baixo dinamismo na universidade brasileira
Fonte: folha.uol.com.br 02/02
É difícil uma pessoa voltar ao Brasil depois de ter estabelecido uma carreira no exterior por vários aspectos.
O primeiro é financeiro. No Brasil, os salários acadêmicos são iguais, diferentemente do que acontece no exterior. Eu não ganho o mesmo salário que os demais professores. Um membro de uma associação científica, por exemplo, ganha muito mais do que seus colegas da faculdade. Há competitividade.
Hoje existe um dinamismo baixíssimo nas universidades brasileiras. Não se vê profissionais mudando de instituições, sendo que isso poderia ser bom para as próprias instituições. Por causa do mecanismo de concurso, a pessoa entra na instituição e fica lá a vida inteira. Na Europa e nos EUA as pessoas têm em média três ou quatro empregos ao longo da vida.
Outra coisa: o que pode levar uma pessoa a largar o que está fazendo no exterior e voltar ao Brasil? A Espanha repatriou muita gente há 15 anos. Eles criaram um centro de pesquisas especiais, fazendo com que o pessoal que voltou não fosse vinculado às regras das universidades. Mas eles poderiam fazer pesquisas equivalentes às que estavam fazendo no exterior.
Os EUA dão muito mais liberdade para se fazer pesquisa. No Brasil, você tem de ficar na "fila" para conseguir financiamento ou para ter uma linha de pesquisa.
Além disso, eu estava interessado em fazer ciência interdisciplinar, e os departamentos no Brasil ainda eram muito convencionais.
A universidade brasileira é complicada: tempo integral, dedicação exclusiva e a burocracia, por exemplo, para importar material científico.
Depois de 21 anos nos EUA, eu não penso em voltar ao Brasil. Voltaria por períodos curtos, por exemplo, por alguns meses. Mas não voltaria em definitivo. A menos que acontecesse uma mudança radical no sistema de política científica nacional.
José Nelson Onuchic, 53, é físico e engenheiro pela USP. Concluiu o doutorado no Caltech (EUA), em 1987. Hoje, é professor da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD).
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