Grito de liberdade
Correioweb 28/06
Criada em uma brincadeira de carnaval, a instituição Menino da Ceilândia consolida-se como Ponto de Cultura que transforma a vida de jovens e adultos da cidade. Alguns abrem o próprio negócio
Uma filipeta mudou a vida do jovem Geovani Marques, 25 anos. Naquele pequeno papel, havia o convite para participar de oficinas gratuitas. Ele seguiu o chamado e foi parar no Ponto de Cultura Menino de Ceilândia, localizado na QNM 3, de Ceilândia Sul. Lá, fez o curso de serigrafia e, dois anos depois, estava diante de um sonho realizado: ter o próprio negócio. “Criei a minha marca de skate, a ZNC. Além da confecção de adesivos, camisetas e logomarcas, passei a investir na produção de eventos, como a realização de campeonatos da modalidade na cidade”, comemora.
Vilanir Cardoso, 36 anos, também trilhou o mesmo caminho do novato empresário Geovani. Mal ela acabou de terminar os cursos de estilismo e corte e costura, ministrados pelos monitores da instituição, e viu os clientes duplicarem. “Os três meses de oficina aperfeiçoaram um trabalho que eu já executava. Senti o ânimo para abrir o meu próprio negócio”, aponta.
Geovani e Vilanir são dois de centenas de jovens e adultos beneficiados pela instituição Menino da Ceilândia, que nasceu de uma brincadeira de carnaval. Em 1995, amigos se reuniram para botar o bloco na rua. Sentiram a necessidade de atividades culturais e descobriram no festejo popular a chance para trocar conhecimentos. Formaram então uma espécie de oficina para criar bonecos mamulengos, fantasias e adereços. Discutiram também a história do carnaval e as diferenças entre as regiões brasileiras. Além do desejo de brincantes, havia uma preocupação social e política. “A ideia de batizar o bloco de Menino da Ceilândia era para chamar a atenção sobre a quantidade de “meninos” e “meninas” que se tornavam pais na adolescência”, conta o presidente Airton Velez.
Até virar Ponto de Cultura, uma década depois, o trabalho foi de formiguinha. Airton lembra que esse processo foi empolgante. “Ficamos espantados com a quantidade de gente que chegou no primeiro momento. Vieram 60 pessoas. Fizemos uma festa empolgante. Depois, as próximas turmas aconteceram, por meio da participação em editais lançados por instituições públicas e empresas privadas”, aponta.
Carnaval de rua
Como os desfiles das escolas de sambas de Brasília ocorrem em Ceilândia, a instituição pautou as ações no carnaval de rua. O título de Ponto de Cultura permitiu a sistematização dos trabalhos. Desde a oficialização, mais de mil alunos foram beneficiados com os cursos oferecidos. “Antes de sermos aprovados no programa Cultura Viva, não tínhamos sede fixa. Por isso, os trabalhos eram realizados nas casas dos fundadores da associação. A falta de equipamentos para ministrar as oficinas era outra dificuldade. Depois que ganhamos esse edital, tivemos condições de oferecer mais do que somente o bloco de carnaval e alguns trabalhos com os moradores de Ceilândia”, conta Ailton.
Um exemplo é a Orquestra Menino da Ceilândia, projeto que tem chamado a atenção tanto dos organizadores quanto da comunidade. Criado há um ano, o grupo de instrumentistas de sopro é formado por 15 alunos do curso de musicalização. Os aprendizes, alguns encaminhados para o mercado, contam com a regência do maestro Fabiano Medeiros. “Não haveria condições de termos essa orquestra se não tivéssemos a estrutura que o Ponto de Cultura nos deu”, ressalta Ailton Velez.
Ao longo dessa década, o Menino da Ceilândia realizou, sobretudo, parcerias, como ferramenta chave para oferecer oportunidades aos moradores da Ceilândia. A ONG Programando o Futuro, por exemplo, procurou o Ponto de Cultura para a criação da incubadora Economia de Cultura. O projeto piloto permitiu a formação de empreendedores culturais. A iniciativa de um ano reuniu 400 participantes. Eles aprenderam sobre logística, captação recursos financeiros, negociação com fornecedores, tipos de locais para a realização de eventos.
FIQUE DE OLHO
» Atualmente, 200 jovens estão matriculados nos cursos de música, serigrafia e corte e costura. O Ponto de Cultura já capacitou também alunos nas áreas de artes plásticas e estilismo. Em julho, haverá oficinas diversas como frevo, música, corte e costura e serigrafia. Informações: 3373-2741.
AS OFICINAS
» LITERATURA DE CORDEL — O conteúdo abrange história do cordel no mundo e no Brasil, introdução à literatura de cordel, rima, métrica silábica, soneto e prática da escrita em cordel.
» ESTILISMO — Oferece aulas de história da moda, introdução de traços e desenho, conceitos básicos de moda, teoria das cores e pesquisa de moda.
» ARTES PLÁSTICAS E CONFECÇÃO DE BONECOS — Os dois cursos ocorrem simultaneamente. Os alunos aprendem sobre modelagem de rosto, de corpos humanos, misturas das tintas para obter as tonalidades de cores.
» DANÇA — O frevo é a base da oficina. Os alunos terão aulas de dança popular brasileira e treinamento dos passos que compõe a dança.
» SERIGRAFIA — Introdução à serigrafia, elaboração e criação, higiene e segurança, conhecimento de cada tipo de cor, práticas de gravação de telas e impressão nos tecidos.
» CORTE E COSTURA — O curso é composto por disciplinas como tipos de tecidos, modelagem e corte e costura em malha.
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