domingo, 6 de junho de 2010

TENDÊNCIAS/DEBATES

São Paulo celebra a diversidade

ANNIE MORRISSEY

A mais paulista de nossas avenidas dá uma pausa nos negócios para receber 3,5 milhões de pessoas, na 14ª Parada do Orgulho LGBT

Palco de grandes eventos, como Fórmula 1, espetáculos da Broadway e shows de bandas internacionais, a capital paulista, pelo 14º ano consecutivo, abre os braços para a celebração da diversidade com mais uma edição da Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). A mais paulista de nossas avenidas dá uma pausa nos negócios para receber mais de 3,5 milhões de pessoas, que participam da maior parada gay do mundo neste domingo, dia 6 de junho.
A expectativa dos órgãos oficiais de turismo é a de que o evento gere R$ 189 milhões em receita, lotando hotéis da região da Paulista, além de bares e restaurantes, e movimentando a economia local. Em receita, a parada perde apenas para a F1, que gera R$ 230 milhões. Em público, só não é maior que a Virada Cultural.
A parada tem programada uma grande variedade de atrações em celebração à diversidade. A festa começou em 1997, com a participação de apenas 2.000 pessoas, foi crescendo a cada ano e chega em sua 14ª edição apresentando números gigantescos.
Em 2004, em sua oitava edição, a parada GLS se tornou o maior encontro homossexual do mundo, reunindo mais de 1,5 milhão de pessoas, superando São Francisco, nos Estados Unidos.
Com o crescimento do público GLS na cidade, o São Paulo Convention & Visitors Bureau (SPCVB) tem a preocupação de oferecer um atendimento de qualidade a este público específico.
Em 2007, a entidade criou o programa Bem Receber, com treinamentos para "concierges" e recepcionistas da rede hoteleira, para qualificar o atendimento ao público GLS. Entre os temas do programa estão: perfil do consumidor, como entender as exigências desse público, como distinguir e tratar sem preconceito todas as minorias sexuais, as dinâmicas desse segmento e, por fim, mostrar como um ambiente de inclusão na empresa se reflete na captação de novos consumidores.
Ao final, os participantes recebem o Guia da Diversidade, que apresenta as credenciais de São Paulo para atrair esse segmento e inclui dicas culturais, de compras, lazer e gastronomia, com endereços e mapas. Em três anos, mais de mil profissionais já participaram desse treinamento. Certamente, com a continuidade do programa, o público GLS será ainda mais bem acolhido em nossa cidade.
Com parceria do SPCVB, São Paulo Turismo (SPTuris), Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual (Cads), Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat-GLS) e Casarão Brasil foi inaugurada a primeira Central de Informação Turística GLS do Brasil, que passou a funcionar no último dia 17 de maio.
O objetivo do espaço é oferecer informações atualizadas e completas sobre eventos na cidade, seus atrativos turísticos e outros locais de interesse a esse público.A iniciativa comprova a capacidade de São Paulo de atrair todos os públicos e, ao mesmo tempo, o engajamento de todas as entidades para receber bem e fidelizar nossos visitantes.
Um brinde à diversidade!

ANNIE MORRISSEY é presidente do São Paulo Convention & Visitors Bureau (SPCVB).

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A "puta" ideia

WASHINGTON OLIVETTO

FSP 06/06

Só a grande ideia continua tendo o poder de seduzir, porque só ela é sexy; para ser uma Maria Sharapova das agências de publicidade, é preciso grandes criadores e ideias surpreendentes

Neste mundo globalizado e digitalizado, para uma agência de publicidade ser realmente fora de série, ela precisa ser uma espécie de Maria Sharapova das agências: grande e sexy.
Presente na maioria dos países, associada a uma das maiores redes, forte na América Latina, (no Brasil, principalmente) confiável para gerir contas locais, regionais e globais, com capacidade de monitorar as áreas de interesse dos clientes e descobrir o que pode trazer verdadeiras vantagens competitivas.
Mais do que isso, tem que saber detectar, testar e entender novas soluções e serviços, ter capacidade de criar encontros personalizados, trazendo os seus mais brilhantes talentos mundiais para junto dos clientes locais e buscar soluções inovadoras.
Deve também ser capaz de contar com uma plataforma que acione digitalmente os seus melhores cérebros, para gerar respostas rápidas a desafios que necessitem de uma solução imediata. A Maria Sharapova das agências tem ainda que ter especialistas em construção de marcas, planejamento de mídia, soluções digitais, ativação, eventos, pontos de venda e relações públicas.
Tem que ter uma ferramenta própria de ROI (Retorno sobre Investimento), que simule milhares de variáveis e saiba responder qual ponto de contato traz mais resultados entre todas as alternativas existentes e qual combinação de pontos de contato garante maior retorno.
Tem também que saber detectar os hábitos e valores dos públicos-chave, saber como se comportam os construtores de identidades (adolescentes), os construtores de carreira (jovens adultos), os construtores de família (jovens casais) e os construtores de uma nova vida (pessoas na maturidade).
Saber as escolhas e preferências do consumidor de alta renda, descobrir para onde vai a classe C e antecipar quais são as novas tendências que estão prestes a virar comportamento de massa. Esses são, basicamente, alguns dos ingredientes para uma agência ser fora de série, mas só eles somados ainda não são suficientes.
Sem grandes criadores, capazes de gerar ideias surpreendentes, nenhuma agência chega a ser uma Maria Sharapova, mesmo contando com grande aparato intelectual e tecnológico.
Chega no máximo, a ser uma Maria Vai com as Outras, particularmente aquelas outras que também são grandes, mas não são sexy. A verdade é que, apesar de todas as mudanças que aconteceram no quadro social e no universo da comunicação, uma coisa continua absolutamente igual. Só a grande ideia continua tendo o poder de seduzir, porque só a grande ideia é sexy.
Só a grande ideia é capaz de produzir "excelence in advertising". A grande ideia ("puta ideia", para os íntimos) é a origem e a razão dessa profissão. Foi assim na idade do "lay" lascado, é assim nestes tempos de iPads ambicionados e será assim no futuro, que a nós pertence.

WASHINGTON OLIVETTO, publicitário, é chairman da agência W/McCann.

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Ousadias estéticas

Filmes selecionados para o 12º Fica trazem novas formas de abordagem da temática ambiental

O POPULAR GO 06/06

Seu Claudinês é um pai de famílias, assim mesmo, no plural. Nem ele sabe direito se tem 30 filhos, se tem muitos netos. Talvez quatro mulheres na função esposa. Duas na mesma casa. Andou na rua, falou com ela, gostou, leva pra casa. Gente pobre, vive da reciclagem do lixo. E são todos alegres, bem vestidinhos, o que antigamente se chamava pobreza digna.

Seu Claudinês é um patriarca, dos bons, bíblicos. É homem. Gosta de mulheres. Criou o que a sociologia chama de família ampliada. No momento em que o capitalismo destrói todos os vínculos, lá esta ele, vinculadíssimo. Não adianta o pastor lhe dizer que vive em pecado. Com ele, não cola. Até que o pastor reconhece: “quem sou eu pra te julgar”.

Seu Claudinês é negro, pobre, autônomo, líder. Comanda um batalhão, sem choramingas, na reciclagem do lixo – não é um coitadinho, ao contrário, bem potente, bem-sucedido. É um dos meus dois personagens preferidos nesta edição do Fica. Ele está no filme Efeito Reciclagem, de Sam Walsh, que filma belamente São Paulo, numa narrativa ágil, que lida muito bem com a sucessão de imagens e depoimentos, driblando a monotonia que é o inferno de quase todos os documentários.

Outra personagem preferida é a índia Ayré, da nação Ikpeng, em O Último Kuarup Branco, direção de Bhig Villas Boas. É sensacional o dom artístico dessa mulher, atriz nata, contadora de histórias nata, a nos revelar com gestos, entonações, modulações de voz, volteios de corpo, a dramatização da saga dos irmãos Villas Boas na aproximação trágica de duas culturas. Fascinada, a câmera gosta dela. Pudera, seu senso de atuação é simplesmente espetacular.

Como se não bastasse, ela é uma velha. Lá está seu corpo nu, belíssimo, de uma beleza que os insultos naturais do tempo não conseguiram destruir. Antes, o contrário. Sua mensagem é a recuperação da dignidade e humanidade perdidas: “Não nos matem.” Se não matarmos os índios, descobriremos nossa diferença, poderemos nos reinventar, sem temor de, por exemplo, entregar-lhes a câmera e nos expormos a um jeito novo de olhar, o deles, como acontece em Caçando Capivara, direção de Derli, Marilton, Fernando, João Duro, Janaína, Joanina, Juninha, Zé Ca.

Dois filmes lidam oportunamente com arquitetura e paisagem urbana: Reidy, a Construção da Utopia, de Ana Maria Magalhães, soa como uma intervenção no descalabro em que se transformou a questão habitacional no Rio de Janeiro. Casas em cima de lixões, tragédias anunciadas, desprezo das elites políticas, pulsão de morte da pobreza desencantada, todo ano a mesmíssima coisa.

A obra de Affonso Eduardo Reidy – construção do Museu de Arte Moderna, Aterro, Parque do Flamengo – é a lembrança de um Rio chique, simples, bonito e confortável nas suas construções, e sem discriminar os pobres: não faz sentido construir casa pra rico e casa pra pobre, é o mesmo que, nas questões de energia elétrica, pensar em quilowatt pra rico e quilowatt pra pobre, segundo o depoimento do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, admirador de Reidy.

Um Lugar ao Sol, de Gabriel Mascaro, recolhe o depoimento de moradores de luxuosas coberturas em Recife, Rio e São Paulo. Pouquíssimos falam de sua condição, raramente mostrada no nosso cinema. Alguns são hilariantes, como os que sugerem que os ricos são imunes à questão ambiental.

Para além da pertinência aos temas exigida pelo festival, e que lhe dá a nota característica, a 12ª edição nos mostra ângulos novos e novas linguagens. É o caso da abordagem direta de A Enseada, de Louie Psihoyos, blockbuster que não deve ser subestimado por ter sido premiado com o Oscar. Também é o caso dos recursos de animação em Os Anjos dos Dejetos, de Pierre Trudeau, e de Oranus, de Girlin Bassovkaja (embora jogar bosta na cara do espectador não seja o melhor caminho de desaliená-lo da TV). Deve ser lembrada a bela fotografia de Jesco von Puttkammer em Jangadeiros, direção de Adrian Cowell.

Por fim, uma proposta. Por que não fazer uma curadoria dos filmes que não foram indicados ao longo dos 12 anos de festival? Desclassificados por não atenderem à exigência de “cinema ambiental”, ocorre que muitas vezes são bons filmes políticos, de ficção, de animação, etnográficos. Isso contribuiria para geração de teses universitárias, parcerias com entidades cinematográficas, formação de público, fortalecimento do imaginário artístico brasileiro, agora que o cinema faz parte do currículo escolar. Não chegaria a ponto de batizá-lo de “Fica marginal”, como sugeriu um amigo piadista, mas este não é o país em que as margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico?


PROGRAMAÇÃO

Terça-feira, dia 8
Das 14 às 17h09

Vozes do Clima (Brasil-RJ, 2009), de Estevão Ciavatta e Jean Carlo Bellotti. Série de TV. – Apresentada por Marcos Palmeira, mostra as maneiras pelas quais os brasileiros podem enfrentar as consequências das mudanças climáticas.

Trazendo Vida ao Espaço (Bringing Life to Space, Dinamarca/ 2010), de Jakob Gottschau e Ojvind Hesselager. Série de TV. – Os cientistas têm tentado copiar o equilíbrio ecológico da Terra em pequenos ciclos fechados para preparar a produção de suprimentos de água, oxigênio e alimento em uma viagem para o espaço.

A Enseada (The Cove, EUA/ 2009), de Louie Psihoyos. 90 min. Doc. – Um grupo de ambientalistas, liderados pelo treinador de golfinhos Ric O’Barry, vai até uma enseada no Japão para mostrar o cruel abuso dos animais.

Quarta-feira, dia 9
Das 14 às 17h16

Tamboro (Brasil-RJ/ 2009), de Sergio Bernardes. 100 min. Doc. – O desmatamento da Floresta Amazônica, a luta pelas terras no campo, a favelização e a criminalidade nos grandes centros urbanos.

Cowboy – Oficial do Meio Ambiente (Brasil-GO/ 2009), de Bruno Fiorese Fernandes. 18 min. Doc. – Aneílton Alves Ribeiro, vulgo Cowboy, se dedica à coleta de material reciclável.

Caçando Capivara (Brasil, MG/ 2009), de Derli, Marilton, Fernando, João Duro, Janaína, Joanina, Juninha, Zé Ca. 57 min. Doc. – Caçadores tikmu un saem com seus cães e espíritos aliados em busca da capivara.

Olhar de João (Brasil-GO/ 2010), de Mariley Carneiro. 20 min. Doc. – A forma singular com que o fotógrafo João Caetano vê as faces e formas ocultas em pedras, troncos, flores e frutos.

Das 18 às 21h08

Heavy Metal (Hu Xiao de Jin Shu, China/2009), de Huaqing Jin. 50 min. Doc. – Em Fengjiang, 50 mil trabalhadores formam um exército de desmantelamento de resíduos eletrônicos, com prejuízo para sua própria saúde.

O Último Kuarup Branco (Brasil-SC/ 2008), de Bhig Villas Bôas. 52 min. Doc. – Os estados alterados de consciência nos rituais indígenas do Xingu.

Um Negócio Florescente (A Blooming Business, Holanda/ 2009), de Ton van Zantvoort. 52 min. Doc. – No Quênia, a indústria mundial de flores impõe condições de trabalho degradantes aos nativos.

Jangadeiros (Reino Unido/Brasil, 2009), de Adrian Cowell. 24 min. Doc. – Os jangadeiros de Caponga, aldeia de pescadores do Ceará.

Aquela que Mede (She Who Measures, Croácia/ 2008), de Veljko Popovic. 6 min. Ani. – Somos livres? São nossos desejos nossos ou produtos impostos pela sociedade?

Quinta-feira, dia 10
Das 14 às 17h17

Bananas! (Bananas!, Suécia/ 2009), de Fradrik Gertten. 76 min. Doc. – A maior companhia de frutas do mundo está em julgamento nos EUA sob a acusação de envenenar seus funcionários.

Entre Montanhas e Muriquis (Brasil-MG/ 2009), de Pedro Vilela, Paulo Vilela e Leandro Santana Moreira. 54 min. Doc. – O muriqui, um macaco que sobrevive na Mata Atlântica.

Esperança em Uma Mudança Climática (Hope In A Changing Climate, Reino Unido/ 2009), de Jeremy Bristow. 28 min. Doc. . – Novas soluções sobre como enfrentar o desafio da mudança climática.

A Gripe do Laissez-Faire (La Grippe de Laissez-Faire, França/ 2009), de Arthur Rifflet. 26 min. Doc. – Habitantes do vale do Perote, no México, denunciam a contaminação dos solos, da água e do ar provocados pela criação industrial dos porcos.

Ave Maria ou Mãe dos Sertanejos (Brasil-PE/2009), de Camilo Cavalcante. 12 min. Doc. – Um registro do imaginário do sertão.

Das 18 às 21h11

Sonho de Humanidade (Brasil-GO/ 2010), de Amarildo Pessoa. 14 min. Doc. – A domesticação dos psitacídeos evoca o sonho antigo dos humanos de viver em harmonia com a natureza.

Reidy, a Construção da Utopia (Brasil- RJ, 2009), de Ana Maria Magalhães. 77 min. Doc.– A repercussão da obra de Affonso Eduardo Reidy na atualidade e a construção da paisagem urbana do Rio de Janeiro.

Um Lugar ao Sol (Brasil/PE, 2009), de Gabriel Mascaro. 72 min. Doc. – A relação entre a classe dominante brasileira e a verticalização das cidades.

Vida Seca Som de Sucata (Brasil-GO/ 2009), de Diego Mendonça. 12 min. Doc. – O grupo goianiense Vida Seca, que toca percussão com instrumentos feitos de lixo.

Semeador Urbano (Brasil-MG/2009), de Cardes Amâncio. 7 min. Fic. – As plantas que reconquistam seu espaço entre o concreto.

Os Anjos dos Dejetos (Les Anges Dechets, Canadá/ 2008), de Pierre M. Trudeau. 5 min. Ani. – A descoberta de uma natureza feita de objetos inanimados.

Sexta-feira, dia 11
Das 14 às 18h01

Efeito Reciclagem (Brasil-SP, 2009), de Sean Walsh. 93 min. Doc – Claudinês e sua

família vivem da coleta de material reciclável.

Quebradeiras (Brasil-SP, 2009), de Evaldo Mocarzel. 71 min. Doc. A cultura das quebradeiras de coco de babaçu da região do Bico do Papagaio.

Nimbus (Day-Shui-Yun, Taiwan, Republic of China/ 2009), de Hsinyao Huang. 36 min. Doc. – Kouhu, uma cidadezinha na costa oeste de Taiwan, é um lugar onde a terra desaparece e reaparece.

Recife Frio (Brasil-PE/ 2009), de Kleber Mendonça Filho. 24 min. Fic. – Estranha mudança climática faz Recife, no Nordeste, passar a ser uma cidade fria.

Oranus (Estônia/ 2009), de Girlin Bassovkaja. 17 min. Ani. – Pegue o controle remoto e pressione um botão. Rápido... e sem sentido...

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