quinta-feira, 3 de junho de 2010

"O Brasil tornou-se um país muito importante no mundo"

Vermelho.org.br 03/06

O cineasta norte-americano Oliver Stone está cumprindo um roteiro por vários países da América Latina para apresentar seu novo documentário "Ao sul da fronteira". Durante sua passagem pelo Brasil, Stone encontrou-se com Dilma Rousseff e defendeu o novo papel que o país vem desempenhando no cenário mundial. "O que eles (Brasil e Turquia) acabaram de fazer no Irã pode não ser muito popular para todos, mas é para mim. Eu adoro o que Lula e o Brasil estão fazendo".

O cineasta Oliver Stone, que veio ao Brasil divulgar seu documentário “Ao sul da fronteira”, já está envolvido em um outro trabalho do mesmo gênero. O novo documentário de Stone tratará da história secreta dos Estados Unidos. Logo após a visita que fez à pré-candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff, o cineasta gravou um depoimento em vídeo onde, além de expressar apoio a Dilma, defendeu que o Brasil tornou-se uma espécie de terceira via do poder mundial e tem um papel muito importante a desempenhar no mundo, juntamente com outros países como a Turquia. “O que eles acabaram de fazer no Irã pode não ser muito popular para todos, mas é para mim. Eu adoro o que Lula e o Brasil estão fazendo”.

Oliver Stone está viajando pela América do Sul desde o dia 28 de maio para promover seu documentário. Na sexta-feira passada, a obra foi apresentada em Caracas, na Venezuela, e no domingo, em Quito, no Equador. Depois, o diretor passou pelo Brasil, seguindo daí para a Bolívia e depois para a Argentina. Na Bolívia, o documentário será exibido em um ginásio de esportes com capacidade para seis mil pessoas. Depois da exibição na Bolívia, Stone e sua equipe ainda encontrarão o presidente Fernando Lugo, em Assunção, no Paraguai.

Geraldo Cavalcanti é novo membro da ABL

Diplomata pernambucano foi eleito ontem no Rio e vai ocupar vaga de José Mindlin

FSP 03/06
Diplomata, ensaísta, poeta e tradutor, o pernambucano Geraldo Holanda Cavalcanti, 81, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras ontem à tarde no Rio.
Recebeu 20 dos 39 votos e vai ocupar a cadeira 29, vaga desde a morte do bibliófilo José Mindlin, em fevereiro.
A cadeira era disputada pelo ministro Eros Grau, pelo presidente da Biblioteca Nacional, Muniz Sodré, e pelo sambista Martinho da Vila, que não teve votos.
Cavalcanti tentou uma vaga há quatro anos, mas retirou a candidatura porque "tinha amigos concorrendo", sem dizer quem era.
"É um momento muito feliz. A academia tem um papel muito importante a realizar. É um órgão dedicado à defesa da língua e da literatura, e eu sempre procurei valorizá-la e cultuá-la", disse.
Cavalcanti fez campanha "discreta". Já Eros Grau teria sido mais "incisivo" na busca pela vaga. Martinho da Vila, por sua vez, manteve-se distante da disputa, o que, para Ana Maria Machado, explica a ausência de votos.
"Martinho é um nome respeitável da música, mas escolheu não fazer campanha acreditando que os votos viriam automaticamente. Não é bem assim", disse a imortal. Para ela, Cavalcanti é uma "ótima incorporação" para a academia.
"Pode não ser muito conhecido do grande público, mas é um intelectual de mão cheia", afirmou.

PRÊMIOS
Diplomata por quatro décadas, Cavalcanti será o quinto ex-embaixador entre os 40 imortais. Ele atuou em cidades como Genebra, Moscou e Washington.
Seu primeiro livro é "O Mandiocal de Verdes Mãos" (1964). O editor da obra, o escritor e ex-ministro Eduardo Portella, faz parte da ABL. Os dois se conheceram na Faculdade de Direito no Recife, nos anos 1950.
"Ele tinha o violino de um lado e o código do outro", lembrou Portella. Para o imortal Ivan Junqueira, ele é "um dos memorialistas mais firmes do Brasil".
Cavalcanti recebeu o prêmio Fernando Pessoa, da União Brasileira de Escritores, por "Poesia Reunida" (1998). Em 2007, lançou o primeiro livro de ficção, "Encontro em Ouro Preto", finalista do Prêmio Jabuti 2008 na categoria Melhor Livro de Contos e Crônicas.
Foi premiado pela própria ABL em 2006 por "O Cântico dos Cânticos: um Ensaio de Interpretação Através de Suas Traduções". Sua obra mais recente é o livro de memórias "As Desventuras da Graça" (2010).

As culturas e as "drogas"

JUCA FERREIRA

FSP 03/06


Fatores de ordem cultural são determinantes na constituição de padrões reguladores do consumo de todos os tipos de "drogas"




Com o lançamento do livro "Drogas e Cultura: Novas Perspectivas", editado em parceira com a Universidade Federal da Bahia, o Ministério da Cultura espera contribuir para uma maior eficácia das políticas públicas sobre "drogas" no país.
Não poderíamos nos furtar a essa discussão, pela gravidade crescente de que se reveste e, sobretudo, porque a dimensão cultural da questão não pode estar ausente, se quisermos desenvolver uma ação responsável sobre o assunto.
O consumo de "drogas" sempre remeteu a várias esferas da vida humana. Fatores de ordem moral e cultural possuem ação determinante na constituição de padrões reguladores ou estruturantes do consumo de todos os tipos de "drogas".
A cultura não é apenas um componente a mais, ela é de fundamental importância. Sentimos que a sociedade não está sabendo tratar o tema das drogas.
Ele não é apenas um caso de polícia e de saúde pública. Com "droga" ou sem "droga", os seres humanos, ao longo do tempo, têm buscado ampliar o horizonte do real. Parece ser algo intrínseco à natureza.
Não podemos continuar tendo uma visão simplista e superficial sobre o assunto. Não se trata de desconsiderar os riscos e as complexidades bioquímicas do uso dessas substâncias, mas de abrir mais espaço para esse tipo de reflexão na discussão sobre as "drogas".
A militarização no combate às "drogas" está perdendo a batalha em todo o Ocidente e também no Oriente. Essa ação não tem diferenciado o usuário do traficante; para ela, o consumidor é um cúmplice.
Não basta a descriminalização.
Algumas drogas, como o crack, viciam e geram dependência, com consequências devastadoras, inclusive parte das drogas legais.
A bebida, por exemplo, tem presença maciça nos acidentes de trânsito, e muitos remédios causam níveis altos de dependência. Entretanto, não podemos imputar à cultura a possibilidade de solucionar o problema. A cultura entra como mais um componente de uma análise multidisciplinar, mas de fundamental importância.
A diferenciação entre o consumo próprio, individual ou coletivo, e o tráfico ainda não foi totalmente estabelecida. A ausência de tal distinção acarreta um tratamento de desconfiança moral, policial e legal diante de todos os usuários de substâncias psicoativas, independentemente de seus hábitos e dos contextos culturais.
Existem drogas legais e drogas ilegais. Drogas leves e pesadas.
Drogas que criam dependência e drogas que não criam. Precisamos balizar de modo mais atento e detalhado as relações entre os usos, os consumos, a circulação e os direitos privados dos cidadãos.
Devemos incorporar compreensão "antropológica" sobre as substâncias psicoativas, abordagem mais voltada para a atenção aos comportamentos e aos bens simbólicos despertados pelos diversos usos culturais de "drogas", tanto no nível individual quanto social.
Precisamos exercer um papel propositivo na elaboração da atual política nacional sobre a matéria, buscando sempre a ênfase na redução dos danos.
Ao desconhecer certas singularidades e ignorar os diversos contextos culturais, acabamos por tratar de modo estanque e indiferenciado as distintas apreensões culturais e nos tornamos incapazes de distinguir as implicações dos múltiplos usos das "drogas".
As "drogas" estão na sociedade e nas culturas, portanto, não podem ser entendidas fora delas.
Nossos pesquisadores e nossa legislação devem, em alguma medida, levar em consideração a dimensão cultural, para cunhar políticas públicas mais eficazes e mais adequadas à contemporaneidade.


JUCA FERREIRA, sociólogo, é ministro da Cultura.

Nenhum comentário: