Governo libera R$ 500 milhões para a construção de cinemas
Programa quer estimular a abertura de 600 salas no interior
FSP 24/06
Foi o presidente Lula que, durante o lançamento do vale-cultura, há um ano, deu a ordem: o Ministério da Cultura (MinC) tinha de mudar as feições do circuito exibidor e levar salas de cinema para as pequenas cidades e regiões menos favorecidas.
Seguindo a máxima do "manda quem pode, obedece quem tem juízo", MinC e Agência Nacional de Cinema (Ancine) lançaram ontem, em Luziânia (GO), o programa Cinema Perto de Você.
A meta do programa é estimular a construção de 600 salas nos próximos quatro anos. Hoje, cerca de 90% dos municípios brasileiros não possuem cinema.
"O setor se desenvolveu sozinho e tornou-se conservador", diz Manoel Rangel, presidente da Ancine. O conservadorismo espelhou-se num circuito encastelado nas regiões nobres.
A razão para isso é simples. O custo de construção de uma sala no shopping Iguatemi, em São Paulo, ou no interior do Acre é praticamente o mesmo. Mas, obviamente, o público do Iguatemi pode pagar mais não só pelo ingresso como por todas as guloseimas da bomboniere.
É nessa aritmética que o governo interfere. O programa zera IPI e PIS-Cofins na importação de equipamentos e material de construção para as salas nas áreas foco. Os espaços também estarão isentos de PIS-Cofins nos primeiros cinco anos. Criou-se, ainda, uma linha de crédito de R$ 500 milhões.
O grupo prioritário de cidades é aquele dos 89 municípios com mais de 100 mil habitantes sem salas de cinema. O governo também vai privilegiar os empresários que comprarem projetores digitais, adaptáveis ao 3D.
"A classe C é, hoje, o grande mote do varejo. O audiovisual ainda não tinha captado esses novos consumidores", diz Rangel.
Perguntado sobre o viés eleitoreiro do lançamento, o presidente da Ancine disse apenas: "Os programas são lançados quando estão prontos para serem lançados."
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UnB devolve matrícula a aluno perseguido pela ditadura militar
Câmara de Ensino e Graduação da UnB decide por unanimidade reintegrar estudante vetado pelo vice-reitor José Carlos de Almeida Azevedo
Fonte: UnB.br
Depois de 40 anos, Iraê Sassi voltará a ser calouro. A Câmara de Ensino e Graduação da Universidade de Brasília aprovou, por unanimidade, nesta terça (22 de junho), a reintegração dele ao curso de Letras/Tradução. A decisão devolve ao paulistano de 59 anos o direito de estudar na UnB, que havia sido confiscado pela ditadura militar (1964-1985). "Estou muito feliz, luto por isso há anos", desabafou Iraê, ao receber a notícia sobre sua readmissão.
A história acadêmica de Iraê na UnB começa em 1970, quando ele passa no vestibular para estudar Engenharia Mecânica, mas não consegue efetivar sua matrícula. "Fiz movimento secundarista, fiquei com o nome marcado", relata o ex-aluno do Elefante Branco e do CIEM. O rapaz de 19 anos pede que a reitoria reconsidere a decisão, junta atestado de bons antecedentes e garante que se subordinará às normas da universidade. Mas, despacho do vice-reitor José Carlos de Almeida Azevedo, capitão de mar e guerra da Marinha, indefere o pedido. "Ele me considerava uma ameaça à ordem". Iraê, então, parte para a Justiça para tentar valer seu direito de frequentar a UnB.
A batalha judicial entre o aluno perseguido e os advogados da reitoria linha-dura só terminaria no final do ano seguinte no Supremo Tribunal Federal (STF). Em sua argumentação, o reitor da época, Caio Benjamin Dias, diz que a universidade não poderia "acolher em seu seio, numa posição cômoda, porém masoquista (...) estudantes hostis à ordem, à disciplina e à própria comunidade universitária."
Em 25 de novembro de 1971, o ministro do Tribunal Federal de Recursos (TFR), Armando Rollemberg, decide em favor do estudante. Iraê Sassi, finalmente, é registrado com o número de matrícula 70/05695. Ainda assim, não chegaria ao final do curso. "Lembro que cursei as disciplinas de cálculo, mas logo a repressão aumentou e tive que sumir de circulação", conta o ex-militante do Partido Operário Revolucionário Trotskista Pousadista. Iraê não participou da luta armada, mas estava envolvido com atividades políticas de esquerda. Aos 21 anos, muda-se para São Paulo para tocar o jornal Frente Operária e começa a viver na clandestinidade.
DOCUMENTOS - Enquanto Iraê Sassi se escondia do regime – chegou a mudar de casa sem levar nada pelo menos cinco vezes -, burocratas subservientes tratavam de retirá-lo do quadro de estudantes da UnB. Em agosto de 1974, ele foi jubilado por rendimento insuficiente. No histórico escolar que subsidiou o desligamento consta que ele vinha frequentando as aulas desde 1970 e que estava matriculado em apenas uma disciplina: "Ciências Humanas".
"O aluno só conseguiu cursar a UnB em 72, depois da decisão do STF. E, além disso, não há registros de uma disciplina chamada Ciências Humanas", aponta Elaine Maria de Oliveira Alves, professora da Medicina, a quem coube relatar o processo na Câmara de Ensino e Graduação. As duas informações, mais a documentação do processo judicial, serviram como evidência de que a direção da universidade à época queria afastá-lo do campus. A professora Elaine Maria conta que o trabalho da Secretaria de Administração Acadêmica (SAA) foi fundamental para que ela apresentasse parecer favorável a Iraê. "Eles recuperaram documentos que reconstituíram a trajetória de perseguição sofrida pelo aluno".
A reintegração de Iraê Sassi foi aprovada por unanimidade pelos 15 integrantes que estiveram presentes à sessão da Câmara de Ensino e Graduação de ontem. "Fizemos justiça a ele", comemora a relatora Elaine Maria de Oliveira Alves. Em setembro, quando começa o próximo semestre, o calouro de 59 anos, casado, pai de três filhos adolescentes, retomará sua caminhada em busca de um diploma de ensino superior.
DIPLOMA SIMBÓLICO - Em seu retorno à UnB, Iraê cogitou estudar Ciência Política ou Agronomia, mas acabou se decidindo por Letras/Tradução com habilitação em inglês. A escolha foi ditada pelos rumos que a vida dele tomou depois da perseguição política. Sem formação específica e vivendo na clandestinidade, Iraê foi mandado pelo partido para a Europa no início dos anos 80. "Lá comecei a fazer trabalhos como intérprete por uma questão de sobrevivência", conta.
Depois de passar 19 anos fora, retornou à Brasília em 2000 e, aqui, começou a atuar como tradutor de italiano e espanhol. "O curso de tradução em inglês vai completar minha formação". O ex-militante já perdeu bons trabalhos por não ter diploma, mas não se arrepende de ter participado da resistência ao regime militar. Para ele, o significado do canudo será simbólico. "É como se eu estivesse recuperando um pedaço da minha história".
O calouro está ansioso para experimentar a vida social e cultural da UnB. "Quero aproveitar a oportunidade de estar na universidade. A UnB faz parte do meu imaginário desde a adolescência", conta Iraê que é filho de um assessor de Darcy Ribeiro e conheceu o campus ainda em obras. Entre os planos dele está cursar as aulas de dança. Sobre os professores e colegas, diz que terá humildade para aprender com todos. "Posso contar a minha história como testemunho, mas não tenho a pretensão de ensinar nada a ninguém."
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Julgamento moral e cívico
Por Wilmar Marçal
A frieza das letras manifestadas por alguns defensores na instância jurídica, data vênia, muitas vezes frustra a população que aguarda um judiciário firme e comprometido com o bem público. Mas é preciso obedecer e acatar, pois, segundo se sabe, é uma análise realizada com a arte e a ciência da razão e não da emoção. Esse viés argumentativo tem tirado muito ladrão da cadeia, absolvido muitos traficantes e amparado pedófilos que são liberados e continuam machucando crianças e famílias. Essas possibilidades de contar com defensores deve e precisa continuar, pois a todos é permitido a ampla defesa e o contraditório. Lamentavelmente não se pode julgar com a emoção, razão pela qual, talvez, ainda existam muitos problemas sociais no país, pois os atos malditos coadunam com a perpetuação da impunidade. Em outros países, quem comete um erro, morre duas vezes: primeiro de humilhação, depois retirando a própria vida pela falta de dignidade em continuar convivendo com pessoas de bem. Mas no nosso querido Brasil... muitos fazem e acreditam que “não vai dar em nada”. Todavia, como diz a própria Constituição Brasileira, “todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido”, está na hora de uma reação popular para o exercício prático do bem: sem armas, sem violência e sem lágrimas. Com a mesma frieza que o judiciário é peculiar em suas análises, a população, bem organizada, tem muito mais poder do que qualquer Juiz, data vênia. Basta querer e se organizar. Sem vaidades, sem trampolins, mas com ordenamento e inteligência. Especificamente sobre os parlamentares “escolhidos” pelo povo, é possível sim avançar e execrar esses bandidos que sempre são reeleitos e se dizem representantes do povo nas respectivas Assembléias. O povo pode legislar com muito mais sapiência, no momento em que mantiver viva a memória de todos, nutrindo a lembrança com a boa informação em jornais e mídia comprometidos, verdadeiramente, com a causa coletiva. Chega dessa conversa fiada de “segredo de justiça” e “blindagem privativa”. Bandido é bandido. É preciso destacar, em grande escala, os nomes daqueles que usurpam o dinheiro público, roubam a esperança de muitos e perpetuam a falsa bondade de atender os munícipes, prometendo mirabolantes projetos e recursos. Quem viaja pelo interior do Paraná pode constatar que as cidades estão empobrecidas, com poucos investimentos em infra-estrutura, muita gente desocupada e doente. Cabe-nos como cidadãos e cidadãs uma reação natural e pacífica. Analise, pense, estude a vida dos candidatos a qualquer cargo público e vote. Vote de acordo com sua inteligência e coerência. Não se pode mais admitir que a população ainda se renda aos hipócritas, mentirosos e mentirosas. Só assim será possível um julgamento moral e cívico que, certamente, não encontrará habeas corpus em qualquer jurisprudência para liberar os pérfidos e os enganadores. Façamos cada um de nós a nossa parte. Vamos ensinar a pescar e parar de assistir algumas pessoas recebendo o peixe de graça.
* Wilmar Marçal é professor universitário e ex-reitor da UEL./Pr.
wilmar_pr2010@hotmail.com
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