MÙSICA
Tempo de colheita
O trio Sá, Rodrix & Guarabyra lança primeiro disco de inéditas desde 1973. O álbum chega às lojas um ano depois da morte súbita de Zé Rodrix
Os músicos Luiz Carlos Sá, Zé Rodrix e Guttemberg Guarabyra têm uma história em comum que continua mesmo depois de o trio Sá, Rodrix & Guarabyra se transformar na dupla Sá & Guarabyra, em 1973. Uma prova de que a relação entre os três não teve um ponto final com a separação é o álbum Amanhã, que acaba de ser lançado, assinado novamente pelo trio. O disco de canções inéditas sela a reaproximação lenta e gradual, que começou em 1982, quando Zé Rodrix fez uma participação no lançamento do álbum 10 anos juntos, da dupla formada por seus antigos companheiros.
“Depois que lançamos o segundo LP, Terra, em 1973, o trio se desmanchou cheio de ressentimentos. Passamos um tempo sem nos falarmos, mas por volta de 1980, não me lembro bem como, começamos a nos ver de novo”, conta Sá. O reencontro aconteceu de forma espontânea, com a participação de Rodrix no show dos 10 anos e em apresentações da dupla
Em 2001, o trio gravou um ao vivo, Outra vez na estrada. Mas o reencontro em disco de estúdio, segundo Sá, demorou porque as gravadoras recusavam a ideia de fazer um álbum só de inéditas. “Não queríamos isso. Achávamos que a hora não era de regravar”, diz ele. Em 2008, um patrocínio da Caixa permitiu finalmente a gravação de Amanhã. “Foi gostoso de fazer, mas demandou muito tempo de ensaio, arranjos e composição. Só ficou pronto mesmo, mixado e masterizado cerca de um mês antes do falecimento do Rodrix. E aí passou-se quase um ano até podermos lançá-lo, resolvidos os trâmites legais de praxe”, conta Luiz Carlos Sá.
Um ano de morte
Amanhã sai quase um ano depois da morte de Zé Rodrix, em maio de 2009. Sá lembra que, na época da gravação, nada os faria supor que o amigo estivesse doente. “Ele trabalhava direto, com grande disposição e trabalhou no disco até a mixagem final, pouco antes de morrer. No fim de semana anterior à morte dele, fizemos três shows em três cidades diferentes e ele estava em grande forma. Foi inacreditável”. A disposição de Rodrix era tanta, que sobrava energia, inclusive, para os embates no processo de produção.
“Sempre falamos e discutimos muito
O repertório inclui composições feitas solitariamente por cada um dos integrantes do trio (Marina, eu só quero viver e Nós nos amaremos, de Guarabyra, Novo Rio e Amar direito, de Sá, Caminho de São Tomé e Amanhã, de Rodrix), parcerias dos três (Dia do rio, Cidades meninas e Logo eu, saudade) e colaborações de Vitor Martins (com Sá e Guarabyra em Amanhece um outro dia) e Pedrão Baldanza (com Sá, em Os 10 mandamentos do amor). “O fato de estarmos sempre fazendo shows, por irônico que pareça, tirou muito do nosso tempo de compor juntos, já que só conseguíamos nos encontrar na estrada. Começamos a fazer alguma coisa via internet, mas só começamos a compor de novo juntos quando fui para São Paulo e praticamente morei lá uns seis meses, compondo e ensaiando com eles num flat perto da casa do Guarabyra, na Vila Mariana”, lembra Luiz Carlos Sá.
Com a perda do amigo, Sá e Guarabyra tiveram que enfrentar uma série de trâmites legais, que acabaram se revelando menos árduos do que eles imaginavam. “Fomos surpreendidos pela possibilidade de lançar o CD. Pensamos que esses trâmites só fossem ser resolvidos lá para o fim do ano. Mas vamos estrear
A dois
10 anos juntos foi o quinto de 12 álbuns que Sá & Guarabyra lançaram entre 1974 e 1999. Nesse período, a dupla colecionou sucessos, fossem composições próprias, como Sobradinho e Peixe voador, ou interpretações de músicas alheias, caso de Espanhola e Caçador de mim. Conseguiram também a proeza de emplacar três sucessos especialmente compostos para a trilha sonora da novela Roque Santeiro (Globo, 1985): ABC de Roque Santeiro, Dona e
Verdades e mentiras.
Rock rural
O trio Sá, Rodrix & Guarabyra se formou no início dos anos 1970 e gravou dois discos, Passado presente e futuro (1972) e Terra (1973), nos quais apresentavam um estilo classificado de rock rural — uma mescla que ia do rock à música caipira. Hoje, Luiz Carlos Sá acredita que o termo não se aplica ao que se ouve em Amanhã. “É apenas um rótulo confortável, que serve para definir um nicho quase que exclusivamente nosso. Às vezes não somos rock. Outras não somos rurais. E outras ainda nem rock nem rurais”.
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