SAÚDE
Por uma vida menos sedentária
Informações da Pnad, compiladas pelo IBGE, mostram que a prática de exercícios físicos ainda é apenas uma boa intenção para a maioria dos brasileiros. Acima dos 14 anos, apenas 10,2% fazem atividades
Um levantamento divulgado ontem pelo Instituto Brasleiro de Geografia e Estatística (IBGE), com informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e do Ministério da Saúde, aponta que o brasileiro ainda é um povo bastante sedentário. Os dados, de 2008, revelaram que apenas 41,4 milhões de pessoas a partir de 14 anos — ou 10,2% dos brasileiros nessa faixa-etária — se declaram relacionadas a alguma atividade física ou esporte, de acordo com os critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS). A entidade classifica como pessoa ativa aquela que pratica alguma atividade pelo menos três vezes por semana, durante 20 minutos. O sedentarismo foi comprovado também em um levantamento inédito do Pnad sobre as principais atividades de lazer do brasileiro e descobriu que os vilões da saúde são a TV e computador. Cerca de 175 milhões pessoas tinham o hábito de ficar cerca de três horas em frente à televisão, enquanto que 56,2 milhões — ou 29,6% — se ocupavam no computador.
Fabrício Martins, 31 anos, representa bem o perfil da pesquisa. Sedentário há pouco mais de um ano, o publicitário usa as horas vagas para navegar pelos sites preferidos quando sai do trabalho. Juntando as horas de trabalho e de lazer ele fica até 15 horas em frente ao equipamento. “Pretendo mudar a rotina e adotar a caminhada do trabalho para a casa, que dá uns três quilômetros. Está faltando só força de vontade”, brinca. Com os programas televisivos, ele é menos assíduo, mas está na média dos brasileiros, de acordo com a pesquisa: três a quatro horas.
O baixo número de pessoas ativas é visto com preocupação pelo Ministério da Saúde, que associa o sedentarismo a doenças crônicas. “O sedentarismo leva ao sobrepeso e à obesidade e aparece como fator fundamental do desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Isso impacta diretamente na qualidade de vida e no perfil de mortalidade”, afirmou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, durante a coletiva de divulgação dos dados, no Rio de Janeiro. No levantamento, 59,5 milhões de pessoas, ou 31,5% do total, declararam ao menos uma doença crônica, diante de 52,6 milhões, ou 29,9%, em 2003. Os casos mais graves eram hipertensão, problemas de coluna e artrite.
A capacidade de se movimentar também entrou no foco da pesquisa. Atividades como pequenos consertos domésticos, subir escadas, ajoelhar-se ou até mesmo caminhar por um trecho de cem metros foram classificadas por 29,1% da população como uma atividade difícil de ser realizada. Dores na coluna, sedentarismo e envelhecimento da população são os principais motivos da falta de mobilidade.
De acordo com a coordenadora-geral de Vigilância de Agravos e Doenças não transmissíveis do Ministério da Saúde, Deborah Malta, o índice ajudará no fortalecimento de políticas públicas para enfrentar o problema. “Estamos apostando na política nacional de promoção da saúde que, só em 2009, repassou R$ 56 milhões a 1.500 municípios para realização de atividades que garantam uma população mais ativa.”
O levantamento apontou ainda que a parcela da população com acesso a plano de saúde teve um aumento de 24,5% para 26,3% entre 1998 e 2008. O crescimento maior foi na área rural, que teve um salto de 5,8% para 6,7%, durante o mesmo período. Na área urbana, o índice foi de 29,2% para 29,7%. A maioria dos associados está na região Sudeste, com 35,6% do total.
Já o grau de satisfação da população em relação ao sistema de saúde foi bem elevado. De acordo com a pesquisa, 86,4% dos entrevistados consideraram o atendimento “bom” ou “muito bom”. Associado a esse fator está o de que 96,3% deles conseguiram ser atendidos na primeira vez em que procuraram o serviço. “É bom observar a mudança na qualidade do serviço e a consolidação dos centros de saúde como a porta de entrada do Sistema Único de Saúde”, diz a coordenadora do ministério da Saúde, Deborah Malta. Ela explica que a mudança de hábito das pessoas colabora para aumentar o fluxo da atenção básica e desinchar os hospitais, por onde são feitos os procedimentos mais complexo. A jovem Bárbara Cristina, 16 anos, não tem do que reclamar. Mãe de Gustavo Henrique, de apenas 1 mês, ela utiliza os serviços do posto de Saúde nº 8, da Asa Sul, desde que nasceu, assim como os seis irmãos. O bom serviço, segundo ela, será transferido agora ao pequeno Gustavo. “Quero manter as consultas regulares e trazer meu filho porque sempre tive bom atendimento.” Fonte: Correioweb.com.br 01/04
O sedentarismo leva ao sobrepeso e à obesidade e aparece como fator fundamental do desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão”
José Gomes Temporão, ministro da Saúde
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Cafezinho após o almoço diminui risco de diabetes – FSP 01/04
Estudo inédito relaciona o horário de ingestão da bebida ao seu efeito protetor
Pesquisa de nutricionista da USP usou resultados de um acompanhamento feito na França com cerca de 70 mil mulheres durante 14 anos
Consumir ao menos uma xícara (125 ml) de café depois do almoço reduz os riscos de desenvolver diabetes tipo 2, aponta pesquisa desenvolvida por uma nutricionista da USP (Universidade de São Paulo). O trabalho foi publicado na revista "American Journal of Clinical Nutrition".
A pesquisadora usou dados de um estudo francês que acompanha quase 70 mil mulheres com idades entre 41 e 72 anos desde 1990. Para relacionar o consumo de café das voluntárias e a menor incidência de diabetes, comparou dados de
"O consumo de café já foi ligado ao efeito protetor contra o diabetes tipo 2 em outros trabalhos. A diferença desta pesquisa é que relacionamos os horários da ingestão", explica a nutricionista Daniela Sartorelli, professora do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, autora do estudo.
As mulheres que consumiram café após o almoço tiveram risco 34% menor de ter diabetes. A proteção não foi encontrada naquelas que tomaram café em outro momento.
No período estudado, 1.415 participantes desenvolveram a doença. Entre as pacientes que tomaram no mínimo 125 ml de café na hora do almoço, 374 se tornaram diabéticas. O restante delas (1.051) não ingeria a bebida nesse horário ou a consumia em quantidades inferiores.
Versões cafeinadas ou não, com ou sem açúcar apresentaram os mesmos benefícios. "Mas 60% delas consumiam sem açúcar e, quando o adicionavam, era em quantidade bem menor do que aqui no Brasil", ressalta a nutricionista.
Segundo a pesquisadora, apesar de o estudo ter sido realizado somente com mulheres, provavelmente os resultados podem ser extrapolados para os homens, já que outros estudos que relacionaram café e diabetes foram realizadas com ambos os sexos. Ainda não é possível, no entanto, apontar por quais mecanismos a bebida protege contra a doença.
Para Sartorelli, uma possível explicação é a menor absorção de ferro causada pela ingestão da bebida. "Indivíduos com estoque de ferro aumentado têm risco maior de desenvolver diabetes. Esse fator poderia proteger a pessoa, se a maior quantidade de ferro for ingerida no almoço", diz.
Quantidade
Estudos já publicados que relacionaram a menor incidência de mortalidade por diabetes entre bebedores de café apontam que as substâncias presentes na bebida melhoram a sensibilidade do organismo à insulina, hormônio responsável por facilitar a entrada da glicose nas células do corpo.
Essas substâncias também evitam a oxidação das células beta, localizadas no pâncreas, que são responsáveis por produzir o hormônio.
"Os trabalhos já divulgados sugerem que o mais importante é a quantidade de café ingerida, e não o horário de consumo", diz o cardiologista Luiz Antônio Machado César, do InCor (Instituto do Coração), onde pesquisa sobre café e problemas cardiovasculares.
Recomenda-se beber ao menos duas xícaras de 150 ml para obter benefícios. Mas a indicação da bebida para prevenir o diabetes ainda não pode ser usada na prática médica.
"Não creio que o consumo de café, isoladamente, seja capaz de promover benefícios clínicos significantes em termos de impacto populacional", contrapõe Augusto Pimazoni, coordenador do Grupo de Educação e Controle do Diabetes do Hospital do Rim e Hipertensão da Unifesp e do Centro de Diabetes do hospital Oswaldo Cruz.
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Discriminação de gênero persiste no trabalho e na política
"A discriminação a esta escala, décadas após terem sido assumidos compromissos nacionais e internacionais, é sintomática de uma crise de responsabilização", define o relatório de entidade ligada às Nações Unidas
(reporterbrasil.com.br 30/03)
As mulheres recebem salários, em média, 17% menores do que o dos homens. Em empregos formais, um em cada 8 homens pode alcançar altos cargos. A probabilidade de ascender na carreira e atingir postos de comando é bem distinta para as mulheres: apenas uma em cada 40.
As desigualdades de gênero relacionadas ao mercado de trabalho aparecem com destaque no relatório "Progresso das Mulheres do Mundo 2008/2009", do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).
"As diferenças salariais entre homens brancos e mulheres negras são de quase 75%, ou seja, uma diferença gritante", declara Rebeca Reichman Tavares, representante do Unifem Brasil e Cone Sul.
O estudo revela ainda que o emprego das mulheres está cada vez mais ligado a cadeias produtivas globais, nas quais "as relações de responsabilização são frequentemente pouco claras". As mulheres formam, por exemplo, 85% da mão de obra na zona de exportação de Bangladesh. Os mecanismos de responsabilização nessas zonas, aponta o relatório, são muitas vezes limitados a códigos de conduta voluntários das próprias empresas, que relutam em adotar normas internacionais de trabalho decente.
Dados relacionados à saúde das mulheres também chamam a atenção. Na África Subsaariana, por exemplo, são três mulheres infectadas com o vírus HIV para cada dois homens; e em algumas partes do mundo, uma em cada 10 mulheres morre devido a causas relacionadas com a gravidez, apesar dos meios de prevenção da mortalidade materna serem economicamente viáveis e amplamente conhecidos. "A discriminação a esta escala, décadas após terem sido assumidos compromissos nacionais e internacionais, é sintomática de uma crise de responsabilização", define o relatório.
Entre 1998 e
"É muito difícil de entender porque as mulheres que são muito bem educadas ainda não estão atingindo níveis de tomada de decisão, nem no setor privado, nem em participação política", completa Rebeca. Ela destaca que as leis brasileiras de defesa dos direitos das mulheres ainda encontram barreiras nos aparatos de segurança pública e no Poder Judiciário.
Os compromissos governamentais de igualdade de gênero, conclui o relatório, são importantes, mas "é provável que nunca passem de palavras no papel a não ser que sejam reforçados por avaliações de desempenho dos funcionários públicos e medidas correctivas nos casos de fracasso no desempenho".
A Repórter Brasil entrevistou a representante da Unifem para o programa de rádio Vozes da Liberdade. Confira trechos da entrevista:
Repórter Brasil - O número de mulheres responsáveis pelo sustento do lar aumentou de 25% para 34%. Mesmo assim, as mulheres ainda sofrem com a desigualdade no mercado de trabalho?
Rebecca Tavares - Sim. A desigualdade entre salários de homens e de mulheres ainda é muito grande e o problema não é só porque as mulheres exercem funções diferentes dos homens.
Muitas mulheres trabalham em funções diferenciadas e que pagam menores salários. Mas muitas mulheres que exercem a mesma função que um homem estão ganhando significativamente menos que o homem pelo mesmo tipo de trabalho. A gente pode atribuir isto à discriminação, infelizmente.
Mesmo quando as mulheres têm o mesmo nível de escolaridade que o homem ou a mesma experiência, existe essa brecha no salário entre os gêneros e isso é mais gritante quando falamos das mulheres negras. As diferenças salariais entre homens brancos e mulheres negras são de quase 75%.
Os dados de educação também chamam a atenção: 57% das crianças que não frequentam a escola são meninas. Isso se refletirá na manutenção das desigualdades de gênero?
Eu creio que sim. Mas essa situação está melhorando. Devemos reconhecer que o Brasil tem progredido bastante na educação: as meninas e as mulheres frequentam mais a escola. Elas já estão se graduando cada vez mais.
Os números estão melhorando significativamente nessas duas últimas décadas. As mulheres já não caminham apenas para áreas acadêmicas tradicionalmente associadas às mulheres: como enfermagem, educação, administração de escritórios, esse tipo de função, de papéis de apoio.
O interessante também é que, mesmo que graduadas nas universidades, as mulheres ainda não têm tanta participação no poder público quanto os homens. É muito difícil de entender porque as mulheres que são muito bem educadas ainda não estão atingindo níveis de tomada de decisão, nem no setor privado, nem em participação política.
O número de leis sobre a igualdade de direitos e o combate à discriminação tem aumentado. Mas essas leis têm sido aplicadas?
Esse é outro problema. O Brasil é visivelmente muito progressista no sentido de legislação pró-mulher, que garanta os direitos da mulher, de defesa ao acesso à educação, ao trabalho e de proteção contra a violência. Mas temos um problema de implementação dessas leis porque os aparatos de segurança pública e do Poder Judiciário não respeitam sempre a aplicação dessas leis.
Temos conceitos e culturas ainda bem patriarcais dentro dos sistemas de segurança pública. O Judiciário ainda culpa a mulher, por exemplo, em casos de violência sexual ao dizer que ela estava usando uma "roupa provocante", ou dizem ainda que a mulher não necessita de um emprego mais bem pago porque ela vai deixá-lo logo para constituir sua família. Ainda são preconceitos tradicionais que são barreiras para a implementação dessas leis.
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