terça-feira, 19 de junho de 2012
A caminho de uma cultura sustentável. O Globo - 18/06/2012
-
Rio+20, o mundo procura novos caminhos para apoiar
o crescimento verde e o desenvolvimento sustentável para todos. A cultura faz
parte desses caminhos.
Este é um setor econômico próspero, é também um
acelerador da participação e da adesão das pessoas aos esforços de
desenvolvimento.
Em todas as minhas visitas pelo mundo, eu vejo o
apego visceral dos povos às suas culturas.
Eu pude constatar isso por ocasião de uma reunião
do Comitê do Patrimônio Mundial, que aconteceu em Brasília, em 2010. A cultura
é uma fonte de identidade e de dignidade, é um ponto de referência diante dos
riscos e da incerteza.
A cultura e as indústrias culturais também
representam renda, uma fonte de crescimento e de empregos — muitas vezes,
empregos verdes, fortemente ancorados no tecido local, dificilmente
deslocáveis. Fomentar a cultura é o sentido do Centro Regional de Formação para
Gestão do Patrimônio Cultural para os países lusófonos e hispânicos, criado
pela Unesco e pelo Brasil, há dois anos, a fim de formar profissionais na
região.
A história mostra que as estratégias de
desenvolvimento que omitem o fator cultural estão condenadas ao fracasso,
porque elas não conseguem ter o apoio da população-alvo. Essa é uma das lições
fruto do esforço para se atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
Isso é verdade nas áreas da saúde, da justiça, da
luta contra a fome. Sem mobilização das pessoas, não há desenvolvimento
sustentável possível. Podemos usar a cultura para estimular essa participação.
Essa é a mensagem da Unesco, retomada desde o
Relatório de Desenvolvimento Humano de 2004 e em várias resoluções das Nações
Unidas. Há mais de 65 anos, de Abou Simbel a Angkor (templos no Egito e no
Camboja, respectivamente, declarados parte do patrimônio mundial), a Unesco
lidera as operações de salvaguarda e proteção desse patrimônio. A Unesco
concebeu um quadro normativo completo para assegurar a promoção da cultura, da
diversidade cultural e das indústrias criativas para o desenvolvimento.
O mundo está esgotando o seu ambiente natural; deve
fazer crescer o seu ambiente cultural.
É chegada a hora de mudar o olhar sobre a cultura e
ver nela algo além de um patrimônio frágil ou lazer de luxo, porque ela é
também uma força de renovação e de progresso. Como setor econômico, como
facilitador de políticas de desenvolvimento, a cultura é uma condição de
sustentabilidade.
Eu levarei esta mensagem ao Rio, para que ela
prospere após a Rio+20.
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Ciência e educação como agentes transformadores
Correio Braziliense - 18/06/2012
-
Presidente da BG Brasil, companhia do BG Group, e
presidente do Conselho de Administração da Comgás
Alguns termos tornaram-se muito conhecidos dos
brasileiros desde a Rio-92. Sustentabilidade, por exemplo, tem sido muito
utilizado, visto a aproximação da Rio+20. Empregado mais rotineiramente em
referência a projetos relacionados ao meio ambiente, o termo cunhado em 1983
pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento abriga, na verdade,
um conceito muito mais amplo, que é o de garantir a capacidade de manter os
crescentes níveis de desenvolvimento sem comprometer o atendimento às necessidades
das futuras gerações.
Sob esse prisma, todos os projetos devem levar em
conta a viabilidade econômica, ambiental e social. É, portanto, de grande valia
a discussão sobre os temas centrais da Rio+20, que são a "economia
verde" no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da
pobreza e a estrutura institucional para o crescimento sustentável. Trata-se de
um ambiente propício, em que serão apresentadas as melhores práticas do mercado
que enderecem esses temas.
O encontro também irá reforçar a ideia de que é
possível, desejável e necessário investir em projetos sustentáveis e, com foco
principal no capital humano e tecnologia, como fatores críticos capazes de
impulsionar o Brasil frente à competitividade global.
Economias sustentáveis privilegiam a transformação
eficiente de recursos em riqueza e a construção de uma matriz energética
diversificada. Esse paradigma somente se realiza com profissionais de sólida
formação acadêmica, que podem prover as empresas com tecnologia e inovação necessárias.
Felizmente, esse passo fundamental foi dado pelo nosso país, que tem destacado
entre seus principais objetivos a educação, a ciência, a tecnologia e a
inovação, e que serão debatidos durante a conferência.
Ciência e educação são poderosos agentes de
transformação social, mas sua ênfase é também um desafio para a sociedade.
Agora é preciso que a iniciativa privada invista pesadamente em educação e
capacitação em ciência, tecnologia, engenharia e matemática — disciplinas que
estimulam a descoberta, a aprendizagem exploratória e o raciocínio. Isso não
apenas no nível universitário, mas ainda no ensino fundamental e médio, onde é
formada a juventude de um país.
Esse investimento poderá de fato promover uma
transformação sem precedentes no sentido de criar uma nova economia do
conhecimento no Brasil, globalmente competitiva e sustentável, que pode e deve
ser alavancada por megaprojetos, como o do pré-sal. O risco de não continuarmos
a investir nas áreas de ciência, tecnologia e inovação é impedir que o país
atinja os níveis de competitividade necessários para se destacar no mercado
mundial.
Mais do que um fórum de debates,
a Rio+20 é um chamado para que as empresas assumam seu papel indelegável neste
momento especial que o país atravessa. Investir em uma estratégia que
privilegia a pesquisa e a inovação, o aumento de produtividade e
competitividade do conteúdo local, o investimento social (principalmente em
educação) e o meio ambiente (incluindo a biodiversidade brasileira) é um dever
de todo o empresariado realmente comprometido com o futuro do país. Assim
fazendo, não somente estaremos cumprindo com nossas obrigações de empresários
cidadãos, mas também agindo como esperam os nossos acionistas, com nossos
parceiros e as comunidades onde atuamos. Estaremos sobretudo contribuindo para
transformar o Brasil em um país melhor.
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