sexta-feira, 8 de junho de 2012


LITERATURA
Philip Roth vence prêmio Príncipe de Astúrias das Letras

DE SÃO PAULO - O escritor americano Philip Roth ganhou na manhã de ontem o prêmio espanhol Príncipe de Astúrias das Letras 2012. O júri justificou a escolha afirmando que Roth cria una "complexa visão da realidade contemporânea". Autor de "O Complexo de Portnoy" e "O Teatro de Sabbath", entre outros, ele vai receber 50 mil euros (cerca de R$ 126 mil). FOLHA SP 07.06

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Olhar pragmático sobre a pobreza. CORREIO BSB 07.06
» RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA
Presidente do Conselho de Administração do CIEE e da Academia Paulista de Letras Jurídicas
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Uma reflexão, digamos, mais acadêmica sobre os rumos da modalidade de assistência social que deve ser praticada no Brasil esbarra, já de início, na dificuldade de estabelecer parâmetros de avaliação. Alguns exemplos. De quantos e de quais brasileiros estamos falando? Dos 16,2 milhões que vivem em situação de extrema pobreza, citados em pronunciamentos oficiais com base em dados de 2010 do IBGE? Ou dos 60 milhões que outras fontes situam abaixo da linha de pobreza? As dúvidas não cessam por aí. Há, ainda, o critério da carência material, relativa a condições de alimentação, moradia, saúde, vestuário. Ou, entre outros, o da carência social, que consiste na exclusão e na incapacidade de participar da sociedade em consequência de desigualdades de educação e acesso à informação no sentido mais amplo.

Entretanto, uma visão mais pragmática e próxima da realidade indica que a educação e a formação para o trabalho são os dois principais fatores para o resgate social em quaisquer dos universos citados. A educação, porque dotará o beneficiário de competências pessoais, senso crítico e consciência dos direitos e deveres como cidadão. A formação para o trabalho, porque tornará esse mesmo cidadão independente, gerará autoestima e assegurará condições de uma vida digna a ele e à família, além de possibilitar que contribua para o desenvolvimento da sociedade à qual pertence.

Assim, os constituintes de 1988 foram sábios ao assegurar a todos os brasileiros o direito à educação e ao trabalho. Tanto assim que buscaram garantir o apoio do Estado aos menos favorecidos, estabelecendo no artigo 203 da Constituição Federal que “a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social”, incluindo entre seus objetivos a promoção da integração ao mercado de trabalho (inciso III). Num Brasil que, reconhecidamente, não é um país pobre, mas um país de muitos pobres, apenas a ação do governo, por mais ampla e bem-intencionada que seja, não reduzirá as desigualdades sociais que condenam à exclusão milhões e milhões de pessoas. A sociedade pode e deve dar sua contribuição no esforço inclusivo que vem sendo promovido no país. Aliás, é isso que as organizações do terceiro setor vêm fazendo há séculos, como é o caso das Santas Casas na área da saúde, ou, mais recentemente, o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), com o encaminhamento de 11 milhões de jovens estagiários e aprendizes ao mercado de trabalho.

Um detalhe impressiona a quem dedica um olhar mais atento às organizações sérias do terceiro setor. É sua apurada percepção das carências das populações que beneficiam e sua permanente disposição de ampliar, aprimorar e atualizar continuamente os serviços que prestam. Voltando ao CIEE, vale lembrar que, ao longo de sua história de 48 anos, decidiu reforçar seu lado escola, quando constatou como as deficiências do ensino brasileiro prejudicam a empregabilidade futura do jovem. Assim, criou uma série de cursos para aprimorar a formação do jovem. Em 2005, por exemplo, sensibilizou-se com a desigualdade de oportunidades entre os jovens de Santa Catarina (com 1,7% dos moradores em extrema pobreza) e os do Maranhão (com seus 26,3% de miseráveis). E, em vez de apenas lamentar a situação, criou um programa de educação a distância pela internet para nivelar, dentro das possibilidades, as oportunidades de acesso a cursos de desenvolvimento pessoal e profissional, beneficiando estudantes dos mais remotos rincões. Mais recentemente vem criando parcerias com universidades para promover cursos pré-vestibulares para jovens das periferias das metrópoles, apostando na educação para retirá-los de situações de alta vulnerabilidade.

A dimensão do problema social brasileiro desmente, de certa forma, a conhecida tese de que é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe. É indispensável e louvável dar o peixe a quem não tem o que comer nem forças para pescar. Mas também é preciso — embora mais difícil — não descuidar do ensino da pesca, principalmente para os jovens. Caso contrário, o país corre o risco de ver boa parte das futuras gerações mergulhada em temidas situações de vulnerabilidade, caso elas não consigam se qualificar para ingressar num mercado de trabalho cada vez mais seletivo e exigente de profissionais bem formados.

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As dívidas das universidades
O Estado de S. Paulo - 08/06/2012

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A inclusão de "penduricalhos" em medidas provisórias (MPs) continua sendo praticada de forma acintosa pelo governo. O enxerto mais recente deve-se à ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que acolheu em nome do governo a proposta formulada pelo deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), de incluir no corpo da MP 559/12 um artigo que permite a renegociação das dívidas de 500 universidades públicas, privadas, confessionais, comunitárias e filantrópicas com o governo federal. Com o endosso da ministra, o relator Pedro Uczai (PT-SC) redigiu às pressas o texto do "penduricalho".

A MP 559/12, que deverá ser votada hoje à tarde, nada tem a ver com o tema da educação. Foi baixada para autorizar a Eletrobrás a adquirir o controle acionário da Celg Distribuição S.A. - uma antiga subsidiária da Centrais Elétricas de Goiás. A inclusão do penduricalho atende a uma reivindicação de instituições de ensino superior de todo o País, especialmente as do Estado do Rio Grande do Sul, que vêm amargando vultosos prejuízos.

Uma delas é a Universidade da Região da Campanha (Urcamp). Outra é a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Como não conseguiram saldar suas dívidas tributárias e previdenciárias com a União, elas não podem assinar convênios com o Programa Universidade para Todos (ProUni). Em vigor desde 2005, esse programa permite que as universidades confessionais, comunitárias e privadas ofereçam bolsas de estudo parciais e integrais, em troca da isenção de alguns tributos. Por terem se expandido sem maior planejamento, essas instituições acabaram enfrentando problemas de escala - e o ProUni foi decisivo para mantê-las em funcionamento.

"Das 64 universidades comunitárias em todo o País, 60% têm dívidas previdenciárias e tributárias com a União", diz Jorge Framil, procurador jurídico da Urcamp. A dívida da instituição é de R$ 147 milhões - o que corresponde a quase o dobro de seu valor patrimonial. O débito da Ulbra é de R$ 2,5 bilhões, segundo o governo federal. A dívida da Universidade de Passo Fundo ultrapassa R$ 400 milhões. Pelas contas da União, os débitos tributários e previdenciários das 500 universidades públicas, privadas, comunitárias, confessionais e filantrópicas do País totalizam mais de R$ 15 bilhões.

Pela proposta do deputado Jerônimo Goergen, essas instituições pagariam apenas 10% desse valor - cerca de R$ 1,5 bilhão. Elas teriam o prazo de 15 anos para fazer o pagamento e esse valor seria corrigido anualmente pela Selic. Além disso, as universidades devedoras teriam uma carência de um ano até o primeiro pagamento.

Mesmo recebendo uma parte ínfima do que tem direito, o governo aceitou fornecer imediatamente a todas essas universidades uma certidão negativa de débito, a fim de que elas possam se inscrever no ProUni, cujo prazo vence na próxima semana. Com a certidão negativa, as universidades também poderão pleitear recursos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Pelo acordo firmado com o governo, elas se comprometeriam a oferecer cerca de 300 mil bolsas de estudo durante 15 anos, em troca do abatimento de 90% de seus débitos tributários e previdenciários. "As universidades sairão da asfixia para um cenário em que terão alunos e recursos movimentando a vida acadêmica", diz o relator Pedro Uczai.

Ao justificar essa renúncia tributária e previdenciária, por meio do velho expediente da inclusão de um "penduricalho" na MP 559/12, o governo alegou que o acordo recebeu pareceres favoráveis dos Ministérios da Educação e da Fazenda e da Casa Civil. Mas, entre as beneficiadas, estão instituições particulares com capital aberto em bolsas de valores e universidades confessionais que há muito tempo recebem vultosos repasses de verbas oficiais, sob as mais variadas justificativas. Por isso, a justificativa de que o acordo irá favorecer estudantes pobres e alunos egressos da rede pública de ensino médio não se sustenta. O expediente usado para abater em 90% a dívida das universidades e o envolvimento de parlamentares da base aliada nas negociações deixam claro quem, de fato, saiu lucrando com o acordo.


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O capitalismo ambientalista na Rio+20
Tímidas em 92, empresas têm mais voz na Rio+20
Valor Econômico - 08/06/2012
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À primeira vista, uma planície com fortes rajadas de vento no norte do Oregon pode não parecer o mais óbvio dos locais para o Google investir US$ 100 milhões.

Mas é ali que vem tomando forma uma das maiores fazendas eólicas do mundo, e o dinheiro que a empresa destinou ao empreendimento é apenas uma parte dos US$ 915 milhões que o Google investiu em projetos de fontes de energia renováveis nos últimos dois anos.

A empresa não é a única: do outro lado do mundo, a controladora da fabricante dinamarquesa de brinquedos Lego está investindo 3 bilhões de coroas dinamarquesas (US$ 500 milhões) em uma fazenda eólica ao largo da costa da Alemanha. A Ikea, da Suécia, tem uma série de fazendas eólicas em países como a Escócia, França e Alemanha.

Muitas empresas usam credenciais ecológicas como marketing, mas outras vão além da "maquiagem verde"

"Não desejamos nos tornar uma empresa geradora de energia", diz Rick Needham, diretor da área de energia e sustentabilidade do Google. Essa é também a posição da Ikea ou da Lego, mas o que as três desejam, efetivamente, é promover o uso da eletricidade "verde".

"E daí?", poderiam perguntar alguns. Empresas vêm brandindo suas credenciais ambientais desde pelo menos os anos 80, década em que Ed Woolard, então executivo-chefe do grupo químico DuPont, disse que em sua companhia a letra "e" da sigla CEO, de "chief executive officer", representava "ambiente" (Environment). A empresa, na época, encontrava-se sob fogo cruzado de críticos que a consideravam uma das piores poluidoras do mundo.

Mas algo distinto está acontecendo agora. Um pequeno, mas importante, grupo de empresas começou a adotar estratégias verdes muito mais ambiciosas, que exigem grandes recursos e uma mudança na forma como operam seus negócios.

Essa versão mais proativa de sustentabilidade empresarial poderá revelar-se insustentável. E é fácil descartar a ideia de que seria apenas mais uma tática de relações públicas para os tempos atuais, em que o termo "maquiagem verde" (usar a ecologia em relações públicas como forma de maquiar comportamento empresarial incorreto) tornou-se parte da linguagem cotidiana.

Embora algumas empresas certamente estejam desfilando com suas credenciais verdes como estratégia de marketing para atrair os consumidores, cada vez mais receptivos a questões ambientais, muitas outras parecem na verdade estar avançando muito além da maquiagem verde. Alguns observadores acreditam que estamos no início de uma mudança crucial no comportamento das empresas, que se intensificará à medida que se deparem com problemas cada vez mais profundos decorrentes do aumento populacional e da limitação de recursos.

Essa será a mensagem neste mês no Rio de Janeiro, onde mais de cem líderes mundiais se reunirão para a Rio+20, conferência sobre sustentabilidade organizada pela ONU, que tem esse nome por acontecer 20 anos depois da Eco-92, também realizada na cidade.

Os líderes empresariais terão maior papel neste ano do que em encontros anteriores. Muitos dizem que as empresas agora estão na vanguarda das iniciativas, enquanto os governos, repetidamente, não conseguem chegar a um consenso em torno de políticas policiáveis de crescimento mundial sustentável.

O envolvimento empresarial no encontro de 1992 foi insignificante, diz Rachel Kyte, vice-presidente de desenvolvimento sustentável do Banco Mundial. "Foi uma era diferente".

Neste ano, em contraste, os executivos constituirão um dos grupos não governamentais mais numerosos no Rio. Pretendem reunir-se durante vários dias, antes do evento formal. Vão elaborar suas próprias estratégias de sustentabilidade e as apresentarão às autoridades.

"O objetivo é criar insumos para as políticas governamentais em escala grande e bastante ambiciosa, e é a primeira vez em que isso acontece", diz Georg Kell, diretor executivo do Global Compact, da ONU

O que vai resultar efetivamente disso ainda não está claro. De qualquer forma, o encontro no Rio evidenciará que atualmente é mais complicado para uma empresa tentar passar-se por defensora ecológica plantando um punhado de árvores numa floresta tropical da Indonésia ou publicando um relatório de sustentabilidade.

Hoje, algumas empresas promovem mudanças bem mais radicais. O Walmart está induzindo milhares de fornecedores a praticar processos produtivos mais verdes. A Puma, fabricante de artigos esportivos, adotou uma contabilidade de "lucros e prejuízos" ambientais, para priorizar que aspectos de suas operações precisam ficar mais verdes. Sob pressão do Greenpeace, o McDonald"s comprometeu-se a não vender frangos alimentados com soja, uma agricultura que vem sendo responsável por desmatamentos na Amazônia.

Muitos observam que o número de empresas que colocam em prática esse tipo de ações continua pequeno e levantam dúvidas sobre se as demais - cujo objetivo supremo é o lucro - podem realmente mudar o rumo de suas agendas sem uma orientação mais firme dos governos. Especialmente as empresas de setores poluentes, como a indústria pesada e a petrolífera, sofrem críticas por recorrer à "maquiagem verde".

Apesar disso, muitas empresas estão, sem dúvida, sob mais pressões imediatas para reformar seus modelos de negócios, diante de previsões de que a população mundial crescerá de 7 bilhões para 9 bilhões de pessoas até 2050, em grande parte nas economias emergentes. A pressão resultante sobre os recursos naturais, como as fontes de energia, água e alimentos, vem incentivando muitos executivos a imaginar como suas empresas podem enfrentar - ou beneficiar-se - de um mundo onde o barril de água poderá custar US$ 150, para não falar dos barris de petróleo.

Ao mesmo tempo, não há um país ou grupo de países que pareça disposto ou capaz de defender uma agenda internacional, algo que o cientista político americano Ian Bremmer descreve como mundo do "G-zero", em oposição ao mundo liderado por grupos como o G-7 ou G-20.

Isso oferece às empresas uma oportunidade histórica, diz Paul Polman, holandês de 55 anos que há três anos e meio comanda a Unilever. O executivo é considerado um decano do movimento de sustentabilidade nas empresas. Em 2010, ele respondeu a investidores que discordavam de sua estratégia verde da seguinte forma: "Não coloque seu dinheiro em nossa empresa". Incansavelmente, ele promoveu esforços que vão de detergentes concentrados (que usam menos água) até ensinar a agricultores indianos que cultivam pepinos a usar menos pesticidas.

Tomando um cafezinho em seu escritório em Londres, ele diz que essas medidas são necessárias devido ao esgotamento cada vez maior dos recursos naturais, associado à pressão das mudanças climáticas e à inação dos políticos presos a uma visão de curto prazo.

"Não vemos, hoje, os governos comandando tanto quanto esperaríamos", diz ele. "Essa é uma oportunidade única, para as empresas, de assumir cada vez mais essa responsabilidade de oferecer soluções".

"O que veremos no Rio é uma galvanização inacreditável de empresas que dizem: "Eu vejo os custos todos os dias, vejo os efeitos todos os dias, não consigo funcionar se a sociedade não funciona. Nós precisamos assumir o comando"."

Alguns dizem que as empresas já assumiram a liderança. "Se você pensar onde estão as iniciativas dignas de nota na paisagem da inovação e ideias e pensamentos interessantes, verá que estão quase exclusivamente sendo agora originadas nas empresas", diz John Elkington, uma das principais figuras do movimento de responsabilidade empresarial.

"Há uma nova geração de CEOs que não estão nisso simplesmente para sentirem-se à vontade quando nadam para lá e para cá na piscina do clube, só para poderem dizer: "Eu recebi um relatório, você recebeu?" Eles estão dizendo: "Isso diz respeito, fundamentalmente, ao futuro do capitalismo, e vamos ter de botar isso em ordem"."

Mas há limites evidentes ao que uma empresa estruturada para gerar valor para seus acionistas, está disposta a fazer na ausência de regulamentação governamental.

Em outras palavras, será que a Coca-Cola teria algum dia abandonado volutariamente o uso de garrafas tamanho família para seu refrigerante, proibida pelo prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, na semana passada?

Isso está no cerne da argumentação de pelo menos um dos executivos que estarão a caminho do Rio, neste mês. James Cameron, do grupo de investimento londrino Climate Change Capital, concorda com que as empresas estão fazendo muito mais para cumprir objetivos ambientais.

"Mas, em muitos aspectos, o objetivo delas não é esse", diz ele. "É um ajuste incômodo. O objetivo dessas empresas não deixou de ser gerar lucros e distribuí-los aos acionistas".

O desafio, considera ele, é capitalizar o know-how que está sendo desenvolvido nas principais empresas e usá-lo com mais eficácia.

O grupo de defensores do verde abriga apenas cerca de 1% das empresas com receita acima de US$ 1 bilhão

Por outro lado, o grupo de defensores do verde ainda é muito pequeno. Corresponde apenas a cerca de 1% das empresas com receita acima de US$ 1 bilhão, diz David Metcalfe, principal executivo do Verdantix, uma empresa de pesquisas e consultoria, que divide essas empresas em dois segmentos.

Em primeiro lugar, há as "evangélicas", como a Unilever, a Philips, companhia holandesa fabricante de produtos eletrônicos, ou a britânica Marks and Spencer, para as quais a sustentabilidade é "um sistema de crenças", muitas vezes motivadas pelas opiniões de um CEO sobre tendências de longo prazo, como a escassez de recursos naturais. Embora o Google enfatize pretender que seu parque gerador de energia eólica seja lucrativo, o empreendimento é, na realidade, um exemplo da iniciativa de uma empresa de enveredar numa área de atuação não essencial para se preparar para uma nova paisagem comercial.

E há também os "capitalistas da sustentabilidade", como a GE ou a Siemens, que investem em empreendimentos como energia eólica ou em tecnologia para aumentar a eficiência do uso da água porque veem oportunidades de crescimento em curto prazo.

Apesar do que Metcalfe descreve como esforços "desesperados" para estabelecer um vínculo entre sustentabilidade e lucros, ele diz que "ainda não se chegou, absolutamente, a uma conclusão" sobre a existência desse vínculo, e sugere que a atual campanha empresarial em defesa da sustentabilidade pode ser frágil.

"A grande interrogação é até que ponto as evangélicas conseguirão converter as pessoas, e com que rapidez", diz ele. "Acho que muitos conselhos de administração serão, positiva ou negativamente, influenciados pelo êxito ou não das evangélicas".

Já há sinais de defecções. Neste ano, a Tesco, grupo britânico de supermercados, revelou estar abandonando um plano que pretende colocar nas embalagens de produtos, rótulos informando sobre seu "impacto de carbono", anunciado em 2007 durante tempos mais prósperos.

Finalmente, há a questão possivelmente mais básica sobre as ambiciosas políticas de sustentabilidade empresarial: estão, essas políticas, gerando grandes resultados?

"Em nível geral, a resposta é, inequivocamente, "não"", diz John Sauven, do Greenpeace Reino Unido, apontando para o aumento incessante das emissões de carbono, a pesca excessiva, a devastação florestal e a extinção de espécies em todo o mundo.

"Mas quando focamos o comportamento empresarial individual, observamos algumas mudanças bastante significativas", acrescenta ele, explicando que as empresas multinacionais, como a Nestlé e a Unilever, podem produzir um grande impacto ao decidirem tornar suas enormes cadeias de suprimento tão ambientalmente saudáveis quanto for possível.

"Isso é muito difícil de implementar", diz ele. "É também algo relativamente novo para elas. Mas estão fazendo isso, e estão investindo somas muito consideráveis de dinheiro".

Isso é inegável. Mas teremos de esperar até a realização da Rio+30 para ver se essas iniciativas irão realmente mudar a maneira como as empresas são operadas.

Essa deverá ser a maior conferência já organizada pela ONU, sendo uma oportunidade histórica para os líderes mundiais resolverem uma longa lista de problemas ambientais e sociais do mundo.

Mas, a apenas algumas semanas do início da conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável na cidade brasileira do Rio de Janeiro, ainda está longe de ser claro o que dela resultará.

Acredita-se que cem líderes venham a participar da conferência Rio+20. Mas Barack Obama, o presidente dos EUA, em meio de uma campanha eleitoral, estará ausente. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e primeiro-ministro britânico, David Cameron, também não virão.

E alguns que inicialmente planejavam comparecer, inclusive uma delegação do Parlamento Europeu, abandonaram a ideia, quando confrontados com os preços estratosféricos dos hotéis em uma cidade cujo número de leitos é estimado em 33 mil, em comparação com os 50 mil visitantes esperados para a cúpula.

Outro empecilho está no fato de alguns hotéis insistirem em que os hóspedes façam reservas para pelo menos uma semana, mesmo que desejem permanecer apenas alguns dias, o que não é um sinal animador para uma cidade que sediará a Copa do Mundo de futebol em 2014 e a Olimpíada de 2016.

Alguns problemas estão fora de controle dos organizadores. A data original da conferência teve de ser transferida por coincidir com o Jubileu de Diamante da rainha Elizabeth II, do Reino Unido. Ninguém poderia ter imaginado que a conferência seria realizada na mesma semana em que a Grécia realizará uma eleição crítica para o destino da zona do euro.

No entanto, muita gente está mais preocupada com os resultados das negociações sobre os resultados da própria cúpula. Elas têm sido tão turbulentas, que diplomatas ainda estavam se reunindo em Nova York, na semana passada, para tentar transformar um texto final desconexo num documento político que apresentasse um pouco mais de foco.

"Parece inexistir um senso de urgência, o que é preocupante", diz Peter Paul van de Wijs, do Conselho Mundial Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável. "O que está em discussão é totalmente inadequado para uma conferência mundial", acrescenta Daniel Mittler, diretor de assuntos políticos do Greenpeace International. "Esses tipos de eventos deveriam se preocupar em promover mudanças transformacionais".

Mas alguns analistas continuam otimistas. "As coisas progrediram consideravelmente nos últimos dias", disse Farroq Ullah, do Stakeholder Forum, um grupo de defesa da sustentabilidade do ambiente. "Acho que chegaremos a um bom ponto com o documento resultante do encontro".
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Vencer a miséria, causa de todos. O POPULAR/GO 08.06
Hélio Rocha é jornalista e escritor e colunista do POPULAR
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Jovem jornalista que acabara de se casar, fiz parte de um grupo de cerca de 20 pessoas que certa vez fez um giro pela Europa. Era ainda início da primavera, mas na Riviera francesa já se manifestava calor. Estávamos visitando o cassino de Monte Carlo, o casal Moraes César e Sureia (ele tinha um programa de rádio de grande audiência na época, Nossa Fazenda), ao meu lado e de minha mulher. De repente, avistamos o diretor de cinema e ator Vittorio de Sicca. Moraes César, que também tinha experiência de ator, entusiasma-se e brada: “Grande Vittorio, Bravo Vittorio!” – e o grande cineasta, que vestia um terno branco e camisa azul marinho, responde, agradecendo, com um gesto de chapéu. De Sicca estava então com 66 anos, viveria mais oito, pois morreu com 74.
Foi uma das primeiras coisas que contei, voltando da viagem, a meu pai, que gostava muito de cinema e se tornara arrebatado admirador de Vittorio de Sicca. Um dos filmes que mais o impressionaram foi Ladrões de Bicicleta, produzido em 1948, que os críticos e entendidos escolhem como um dos dez melhores filmes de todos os tempos.
No começo do pós-Segunda Guerra Mundial, De Sicca se encontrou um dia com Roberto Rosselini na charmosa Praça de Espanha, em Roma. Rosselini revelou que estava planejando Roma, Cidade Aberta, com a atriz Anna Magnani, e De Sicca informou que pretendia fazer um filme no qual apareciam engraxates da Via Vêneto. Tal filme seria Ladrões de Bicicleta. Nascia naquela conversa a fase do histórico neo-realismo do cinema italiano, com temário aprofundado na miséria do povo italiano no pós-guerra.
Uma miséria impressionante, dolorosa e lancinante, como mostra o filme Ladrões de Bicicleta. Hoje a Itália enfrenta problemas econômicos por causa da crise na área do euro, mas miséria não tem mais, o que significa dizer que ela também pode ser vencida, Mas essa vitória é muito difícil, exige uma mobilização política e social, muita solidariedade humana e corajoso enfrentamento da concentração de renda, que no Brasil ainda é grande. Por comparação com a Itália, onde a concentração de renda é pequena, o Brasil tem renda per capita de 13 mil dólares e a Itália de 31 mil dólares.
No Brasil ainda existem 16 milhões de miseráveis mesmo, principalmente no Norte e no Nordeste. Este número, como lembrou a própria presidente Dilma ao lançar o Programa Brasil Sem Miséria, corresponde à população do Chile. No Maranhão, por exemplo, continua uma extravagância a porcentagem da população que vive abaixo do nível de pobreza, nada menos do que 26%. Para cada 100 maranhenses, 26 são miseráveis. Por comparação, em Goiás são apenas 3,6%.
Está em curso o programa Brasil Sem Miséria. Que não é uma causa apenas da Administração Dilma. É uma causa de todos nós.

Hélio Rocha é jornalista e escritor e colunista do POPULAR

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Coleção traz contos do argentino Bioy Casares.
Com prosa refinada, autor passeou pelas vertentes fantástica, policial e de ficção científica. FOLHA SP 08.06


DE SÃO PAULO
"A trama é o carro-chefe de uma história. Tudo mais, o estilo, a maneira de contar, os experimentos, deve estar a seu serviço", resumiu o escritor argentino Adolfo Bioy Casares (1914-1999).

Parte de seus enredos se entrelaçam em "Histórias Fantásticas", reunião de 14 contos publicados pelo argentino entre 1948 e 1969 e décimo volume da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana, que será lançado neste domingo, dia 10.

De sua imaginação sem limites se desprendem mistérios tecidos ao redor de referências que vão de lendas celtas a alienígenas, passando pelas incertezas da tecnologia.

Ao sentenciar que "escrever é agregar um quarto à casa da vida", Casares acabou por definir, simbolicamente, a força construtiva de sua obra, que influenciou inúmeros escritores argentinos.

Em seus livros, personagens comuns se veem aprisionados por enigmas fantasmagóricos, forçados a decifrar a complexa estrutura dos sentidos, em que as combinações entre realidade e aparência regem a existência diária.

"Quando estou conversando com uma pessoa, ouvindo o que ela me diz, de repente, sinto que ali há a possibilidade de uma história. Guardo aquilo na memória. Depois, conto esta história para mim mesmo", revelou o autor.

Dotada de uma manipulação hábil e carregada de ironia, a prosa de Bioy Casares é considerada uma das mais refinadas e elegantes da literatura ibero-americana.

Passeando pelas vertentes fantástica, policial e de ficção científica, o autor deve parte de seu reconhecimento a sua amizade com Jorge Luis Borges (1899-1986), de quem foi parceiro na literatura.

Em ensaio autobiográfico, Borges revelaria que um dos principais acontecimentos de sua vida foi essa relação.

Em entrevista à Folha em 1995, Casares resumiu o convívio: "Eu acreditava no surrealismo, na liberdade absoluta, e Borges me dizia que a liberdade estava limitada só pela inteligência. Graças a esse conselho, pude escrever o que escrevi".

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