sexta-feira, 8 de junho de 2012
LITERATURA
Philip Roth vence prêmio Príncipe de Astúrias das
Letras
DE SÃO PAULO - O escritor americano Philip Roth
ganhou na manhã de ontem o prêmio espanhol Príncipe de Astúrias das Letras
2012. O júri justificou a escolha afirmando que Roth cria una "complexa
visão da realidade contemporânea". Autor de "O Complexo de Portnoy"
e "O Teatro de Sabbath", entre outros, ele vai receber 50 mil euros
(cerca de R$ 126 mil). FOLHA SP 07.06
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Olhar pragmático sobre a pobreza. CORREIO
BSB 07.06
» RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA
Presidente do Conselho de Administração do CIEE e
da Academia Paulista de Letras Jurídicas
-
Uma reflexão, digamos, mais acadêmica sobre os
rumos da modalidade de assistência social que deve ser praticada no Brasil
esbarra, já de início, na dificuldade de estabelecer parâmetros de avaliação. Alguns
exemplos. De quantos e de quais brasileiros estamos falando? Dos 16,2 milhões
que vivem em situação de extrema pobreza, citados em pronunciamentos oficiais
com base em dados de 2010 do IBGE? Ou dos 60 milhões que outras fontes situam
abaixo da linha de pobreza? As dúvidas não cessam por aí. Há, ainda, o critério
da carência material, relativa a condições de alimentação, moradia, saúde,
vestuário. Ou, entre outros, o da carência social, que consiste na exclusão e
na incapacidade de participar da sociedade em consequência de desigualdades de
educação e acesso à informação no sentido mais amplo.
Entretanto, uma visão mais pragmática e próxima da
realidade indica que a educação e a formação para o trabalho são os dois
principais fatores para o resgate social em quaisquer dos universos citados. A
educação, porque dotará o beneficiário de competências pessoais, senso crítico
e consciência dos direitos e deveres como cidadão. A formação para o trabalho,
porque tornará esse mesmo cidadão independente, gerará autoestima e assegurará
condições de uma vida digna a ele e à família, além de possibilitar que
contribua para o desenvolvimento da sociedade à qual pertence.
Assim, os constituintes de 1988 foram sábios ao
assegurar a todos os brasileiros o direito à educação e ao trabalho. Tanto
assim que buscaram garantir o apoio do Estado aos menos favorecidos,
estabelecendo no artigo 203 da Constituição Federal que “a assistência social
será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social”, incluindo entre seus objetivos a promoção da integração ao
mercado de trabalho (inciso III). Num Brasil que, reconhecidamente, não é um
país pobre, mas um país de muitos pobres, apenas a ação do governo, por mais
ampla e bem-intencionada que seja, não reduzirá as desigualdades sociais que
condenam à exclusão milhões e milhões de pessoas. A sociedade pode e deve dar
sua contribuição no esforço inclusivo que vem sendo promovido no país. Aliás, é
isso que as organizações do terceiro setor vêm fazendo há séculos, como é o
caso das Santas Casas na área da saúde, ou, mais recentemente, o Centro de
Integração Empresa-Escola (CIEE), com o encaminhamento de 11 milhões de jovens
estagiários e aprendizes ao mercado de trabalho.
Um detalhe impressiona a quem dedica um olhar mais
atento às organizações sérias do terceiro setor. É sua apurada percepção das
carências das populações que beneficiam e sua permanente disposição de ampliar,
aprimorar e atualizar continuamente os serviços que prestam. Voltando ao CIEE,
vale lembrar que, ao longo de sua história de 48 anos, decidiu reforçar seu
lado escola, quando constatou como as deficiências do ensino brasileiro
prejudicam a empregabilidade futura do jovem. Assim, criou uma série de cursos
para aprimorar a formação do jovem. Em 2005, por exemplo, sensibilizou-se com a
desigualdade de oportunidades entre os jovens de Santa Catarina (com 1,7% dos
moradores em extrema pobreza) e os do Maranhão (com seus 26,3% de miseráveis).
E, em vez de apenas lamentar a situação, criou um programa de educação a
distância pela internet para nivelar, dentro das possibilidades, as
oportunidades de acesso a cursos de desenvolvimento pessoal e profissional,
beneficiando estudantes dos mais remotos rincões. Mais recentemente vem criando
parcerias com universidades para promover cursos pré-vestibulares para jovens
das periferias das metrópoles, apostando na educação para retirá-los de
situações de alta vulnerabilidade.
A dimensão do problema social brasileiro desmente,
de certa forma, a conhecida tese de que é melhor ensinar a pescar do que dar o
peixe. É indispensável e louvável dar o peixe a quem não tem o que comer nem
forças para pescar. Mas também é preciso — embora mais difícil — não descuidar
do ensino da pesca, principalmente para os jovens. Caso contrário, o país corre
o risco de ver boa parte das futuras gerações mergulhada em temidas situações
de vulnerabilidade, caso elas não consigam se qualificar para ingressar num
mercado de trabalho cada vez mais seletivo e exigente de profissionais bem
formados.
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As dívidas das universidades
O Estado de S. Paulo - 08/06/2012
-
A inclusão de "penduricalhos" em medidas
provisórias (MPs) continua sendo praticada de forma acintosa pelo governo. O
enxerto mais recente deve-se à ministra de Relações Institucionais, Ideli
Salvatti, que acolheu em nome do governo a proposta formulada pelo deputado
Jerônimo Goergen (PP-RS), de incluir no corpo da MP 559/12 um artigo que
permite a renegociação das dívidas de 500 universidades públicas, privadas,
confessionais, comunitárias e filantrópicas com o governo federal. Com o
endosso da ministra, o relator Pedro Uczai (PT-SC) redigiu às pressas o texto
do "penduricalho".
A MP 559/12, que deverá ser votada hoje à tarde,
nada tem a ver com o tema da educação. Foi baixada para autorizar a Eletrobrás
a adquirir o controle acionário da Celg Distribuição S.A. - uma antiga
subsidiária da Centrais Elétricas de Goiás. A inclusão do penduricalho atende a
uma reivindicação de instituições de ensino superior de todo o País,
especialmente as do Estado do Rio Grande do Sul, que vêm amargando vultosos
prejuízos.
Uma delas é a Universidade da Região da Campanha
(Urcamp). Outra é a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Como não
conseguiram saldar suas dívidas tributárias e previdenciárias com a União, elas
não podem assinar convênios com o Programa Universidade para Todos (ProUni). Em
vigor desde 2005, esse programa permite que as universidades confessionais,
comunitárias e privadas ofereçam bolsas de estudo parciais e integrais, em
troca da isenção de alguns tributos. Por terem se expandido sem maior
planejamento, essas instituições acabaram enfrentando problemas de escala - e o
ProUni foi decisivo para mantê-las em funcionamento.
"Das 64 universidades comunitárias em todo o
País, 60% têm dívidas previdenciárias e tributárias com a União", diz
Jorge Framil, procurador jurídico da Urcamp. A dívida da instituição é de R$
147 milhões - o que corresponde a quase o dobro de seu valor patrimonial. O
débito da Ulbra é de R$ 2,5 bilhões, segundo o governo federal. A dívida da
Universidade de Passo Fundo ultrapassa R$ 400 milhões. Pelas contas da União,
os débitos tributários e previdenciários das 500 universidades públicas,
privadas, comunitárias, confessionais e filantrópicas do País totalizam mais de
R$ 15 bilhões.
Pela proposta do deputado Jerônimo Goergen, essas
instituições pagariam apenas 10% desse valor - cerca de R$ 1,5 bilhão. Elas
teriam o prazo de 15 anos para fazer o pagamento e esse valor seria corrigido
anualmente pela Selic. Além disso, as universidades devedoras teriam uma
carência de um ano até o primeiro pagamento.
Mesmo recebendo uma parte ínfima do que tem
direito, o governo aceitou fornecer imediatamente a todas essas universidades
uma certidão negativa de débito, a fim de que elas possam se inscrever no
ProUni, cujo prazo vence na próxima semana. Com a certidão negativa, as
universidades também poderão pleitear recursos do Fundo de Financiamento
Estudantil (Fies). Pelo acordo firmado com o governo, elas se comprometeriam a
oferecer cerca de 300 mil bolsas de estudo durante 15 anos, em troca do abatimento
de 90% de seus débitos tributários e previdenciários. "As universidades
sairão da asfixia para um cenário em que terão alunos e recursos movimentando a
vida acadêmica", diz o relator Pedro Uczai.
Ao justificar essa renúncia tributária e
previdenciária, por meio do velho expediente da inclusão de um
"penduricalho" na MP 559/12, o governo alegou que o acordo recebeu
pareceres favoráveis dos Ministérios da Educação e da Fazenda e da Casa Civil.
Mas, entre as beneficiadas, estão instituições particulares com capital aberto
em bolsas de valores e universidades confessionais que há muito tempo recebem
vultosos repasses de verbas oficiais, sob as mais variadas justificativas. Por
isso, a justificativa de que o acordo irá favorecer estudantes pobres e alunos
egressos da rede pública de ensino médio não se sustenta. O expediente usado
para abater em 90% a dívida das universidades e o envolvimento de parlamentares
da base aliada nas negociações deixam claro quem, de fato, saiu lucrando com o
acordo.
>>
O capitalismo ambientalista na
Rio+20
Tímidas em 92, empresas têm mais voz na Rio+20
Valor Econômico - 08/06/2012
-
À primeira vista, uma planície com fortes rajadas
de vento no norte do Oregon pode não parecer o mais óbvio dos locais para o
Google investir US$ 100 milhões.
Mas é ali que vem tomando forma uma das maiores
fazendas eólicas do mundo, e o dinheiro que a empresa destinou ao
empreendimento é apenas uma parte dos US$ 915 milhões que o Google investiu em
projetos de fontes de energia renováveis nos últimos dois anos.
A empresa não é a única: do outro lado do mundo, a
controladora da fabricante dinamarquesa de brinquedos Lego está investindo 3
bilhões de coroas dinamarquesas (US$ 500 milhões) em uma fazenda eólica ao
largo da costa da Alemanha. A Ikea, da Suécia, tem uma série de fazendas
eólicas em países como a Escócia, França e Alemanha.
Muitas empresas usam credenciais ecológicas como
marketing, mas outras vão além da "maquiagem verde"
"Não desejamos nos tornar uma empresa geradora
de energia", diz Rick Needham, diretor da área de energia e
sustentabilidade do Google. Essa é também a posição da Ikea ou da Lego, mas o
que as três desejam, efetivamente, é promover o uso da eletricidade
"verde".
"E daí?", poderiam perguntar alguns.
Empresas vêm brandindo suas credenciais ambientais desde pelo menos os anos 80,
década em que Ed Woolard, então executivo-chefe do grupo químico DuPont, disse
que em sua companhia a letra "e" da sigla CEO, de "chief
executive officer", representava "ambiente" (Environment). A
empresa, na época, encontrava-se sob fogo cruzado de críticos que a consideravam
uma das piores poluidoras do mundo.
Mas algo distinto está acontecendo agora. Um
pequeno, mas importante, grupo de empresas começou a adotar estratégias verdes
muito mais ambiciosas, que exigem grandes recursos e uma mudança na forma como
operam seus negócios.
Essa versão mais proativa de sustentabilidade
empresarial poderá revelar-se insustentável. E é fácil descartar a ideia de que
seria apenas mais uma tática de relações públicas para os tempos atuais, em que
o termo "maquiagem verde" (usar a ecologia em relações públicas como
forma de maquiar comportamento empresarial incorreto) tornou-se parte da
linguagem cotidiana.
Embora algumas empresas certamente estejam
desfilando com suas credenciais verdes como estratégia de marketing para atrair
os consumidores, cada vez mais receptivos a questões ambientais, muitas outras
parecem na verdade estar avançando muito além da maquiagem verde. Alguns
observadores acreditam que estamos no início de uma mudança crucial no
comportamento das empresas, que se intensificará à medida que se deparem com
problemas cada vez mais profundos decorrentes do aumento populacional e da
limitação de recursos.
Essa será a mensagem neste mês no Rio de Janeiro,
onde mais de cem líderes mundiais se reunirão para a Rio+20, conferência sobre
sustentabilidade organizada pela ONU, que tem esse nome por acontecer 20 anos
depois da Eco-92, também realizada na cidade.
Os líderes empresariais terão maior papel neste ano
do que em encontros anteriores. Muitos dizem que as empresas agora estão na
vanguarda das iniciativas, enquanto os governos, repetidamente, não conseguem
chegar a um consenso em torno de políticas policiáveis de crescimento mundial
sustentável.
O envolvimento empresarial no encontro de 1992 foi
insignificante, diz Rachel Kyte, vice-presidente de desenvolvimento sustentável
do Banco Mundial. "Foi uma era diferente".
Neste ano, em contraste, os executivos constituirão
um dos grupos não governamentais mais numerosos no Rio. Pretendem reunir-se
durante vários dias, antes do evento formal. Vão elaborar suas próprias
estratégias de sustentabilidade e as apresentarão às autoridades.
"O objetivo é criar insumos para as políticas
governamentais em escala grande e bastante ambiciosa, e é a primeira vez em que
isso acontece", diz Georg Kell, diretor executivo do Global Compact, da
ONU
O que vai resultar efetivamente disso ainda não
está claro. De qualquer forma, o encontro no Rio evidenciará que atualmente é
mais complicado para uma empresa tentar passar-se por defensora ecológica
plantando um punhado de árvores numa floresta tropical da Indonésia ou
publicando um relatório de sustentabilidade.
Hoje, algumas empresas promovem mudanças bem mais
radicais. O Walmart está induzindo milhares de fornecedores a praticar
processos produtivos mais verdes. A Puma, fabricante de artigos esportivos,
adotou uma contabilidade de "lucros e prejuízos" ambientais, para
priorizar que aspectos de suas operações precisam ficar mais verdes. Sob
pressão do Greenpeace, o McDonald"s comprometeu-se a não vender frangos
alimentados com soja, uma agricultura que vem sendo responsável por
desmatamentos na Amazônia.
Muitos observam que o número de empresas que
colocam em prática esse tipo de ações continua pequeno e levantam dúvidas sobre
se as demais - cujo objetivo supremo é o lucro - podem realmente mudar o rumo
de suas agendas sem uma orientação mais firme dos governos. Especialmente as
empresas de setores poluentes, como a indústria pesada e a petrolífera, sofrem
críticas por recorrer à "maquiagem verde".
Apesar disso, muitas empresas estão, sem dúvida,
sob mais pressões imediatas para reformar seus modelos de negócios, diante de
previsões de que a população mundial crescerá de 7 bilhões para 9 bilhões de
pessoas até 2050, em grande parte nas economias emergentes. A pressão
resultante sobre os recursos naturais, como as fontes de energia, água e
alimentos, vem incentivando muitos executivos a imaginar como suas empresas
podem enfrentar - ou beneficiar-se - de um mundo onde o barril de água poderá
custar US$ 150, para não falar dos barris de petróleo.
Ao mesmo tempo, não há um país ou grupo de países
que pareça disposto ou capaz de defender uma agenda internacional, algo que o
cientista político americano Ian Bremmer descreve como mundo do
"G-zero", em oposição ao mundo liderado por grupos como o G-7 ou
G-20.
Isso oferece às empresas uma oportunidade
histórica, diz Paul Polman, holandês de 55 anos que há três anos e meio comanda
a Unilever. O executivo é considerado um decano do movimento de
sustentabilidade nas empresas. Em 2010, ele respondeu a investidores que
discordavam de sua estratégia verde da seguinte forma: "Não coloque seu
dinheiro em nossa empresa". Incansavelmente, ele promoveu esforços que vão
de detergentes concentrados (que usam menos água) até ensinar a agricultores
indianos que cultivam pepinos a usar menos pesticidas.
Tomando um cafezinho em seu escritório em Londres,
ele diz que essas medidas são necessárias devido ao esgotamento cada vez maior
dos recursos naturais, associado à pressão das mudanças climáticas e à inação
dos políticos presos a uma visão de curto prazo.
"Não vemos, hoje, os governos comandando tanto
quanto esperaríamos", diz ele. "Essa é uma oportunidade única, para
as empresas, de assumir cada vez mais essa responsabilidade de oferecer
soluções".
"O que veremos no Rio é uma galvanização
inacreditável de empresas que dizem: "Eu vejo os custos todos os dias,
vejo os efeitos todos os dias, não consigo funcionar se a sociedade não
funciona. Nós precisamos assumir o comando"."
Alguns dizem que as empresas já assumiram a
liderança. "Se você pensar onde estão as iniciativas dignas de nota na paisagem
da inovação e ideias e pensamentos interessantes, verá que estão quase
exclusivamente sendo agora originadas nas empresas", diz John Elkington,
uma das principais figuras do movimento de responsabilidade empresarial.
"Há uma nova geração de CEOs que não estão
nisso simplesmente para sentirem-se à vontade quando nadam para lá e para cá na
piscina do clube, só para poderem dizer: "Eu recebi um relatório, você
recebeu?" Eles estão dizendo: "Isso diz respeito, fundamentalmente,
ao futuro do capitalismo, e vamos ter de botar isso em ordem"."
Mas há limites evidentes ao que uma empresa
estruturada para gerar valor para seus acionistas, está disposta a fazer na
ausência de regulamentação governamental.
Em outras palavras, será que a Coca-Cola teria
algum dia abandonado volutariamente o uso de garrafas tamanho família para seu
refrigerante, proibida pelo prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, na semana
passada?
Isso está no cerne da argumentação de pelo menos um
dos executivos que estarão a caminho do Rio, neste mês. James Cameron, do grupo
de investimento londrino Climate Change Capital, concorda com que as empresas
estão fazendo muito mais para cumprir objetivos ambientais.
"Mas, em muitos aspectos, o objetivo delas não
é esse", diz ele. "É um ajuste incômodo. O objetivo dessas empresas
não deixou de ser gerar lucros e distribuí-los aos acionistas".
O desafio, considera ele, é capitalizar o know-how
que está sendo desenvolvido nas principais empresas e usá-lo com mais eficácia.
O grupo de defensores do verde abriga apenas cerca
de 1% das empresas com receita acima de US$ 1 bilhão
Por outro lado, o grupo de defensores do verde
ainda é muito pequeno. Corresponde apenas a cerca de 1% das empresas com
receita acima de US$ 1 bilhão, diz David Metcalfe, principal executivo do
Verdantix, uma empresa de pesquisas e consultoria, que divide essas empresas em
dois segmentos.
Em primeiro lugar, há as "evangélicas",
como a Unilever, a Philips, companhia holandesa fabricante de produtos eletrônicos,
ou a britânica Marks and Spencer, para as quais a sustentabilidade é "um
sistema de crenças", muitas vezes motivadas pelas opiniões de um CEO sobre
tendências de longo prazo, como a escassez de recursos naturais. Embora o
Google enfatize pretender que seu parque gerador de energia eólica seja
lucrativo, o empreendimento é, na realidade, um exemplo da iniciativa de uma
empresa de enveredar numa área de atuação não essencial para se preparar para
uma nova paisagem comercial.
E há também os "capitalistas da
sustentabilidade", como a GE ou a Siemens, que investem em empreendimentos
como energia eólica ou em tecnologia para aumentar a eficiência do uso da água
porque veem oportunidades de crescimento em curto prazo.
Apesar do que Metcalfe descreve como esforços
"desesperados" para estabelecer um vínculo entre sustentabilidade e
lucros, ele diz que "ainda não se chegou, absolutamente, a uma
conclusão" sobre a existência desse vínculo, e sugere que a atual campanha
empresarial em defesa da sustentabilidade pode ser frágil.
"A grande interrogação é até que ponto as
evangélicas conseguirão converter as pessoas, e com que rapidez", diz ele.
"Acho que muitos conselhos de administração serão, positiva ou
negativamente, influenciados pelo êxito ou não das evangélicas".
Já há sinais de defecções. Neste ano, a Tesco,
grupo britânico de supermercados, revelou estar abandonando um plano que
pretende colocar nas embalagens de produtos, rótulos informando sobre seu
"impacto de carbono", anunciado em 2007 durante tempos mais
prósperos.
Finalmente, há a questão possivelmente mais básica
sobre as ambiciosas políticas de sustentabilidade empresarial: estão, essas
políticas, gerando grandes resultados?
"Em nível geral, a resposta é,
inequivocamente, "não"", diz John Sauven, do Greenpeace Reino
Unido, apontando para o aumento incessante das emissões de carbono, a pesca
excessiva, a devastação florestal e a extinção de espécies em todo o mundo.
"Mas quando focamos o comportamento
empresarial individual, observamos algumas mudanças bastante
significativas", acrescenta ele, explicando que as empresas
multinacionais, como a Nestlé e a Unilever, podem produzir um grande impacto ao
decidirem tornar suas enormes cadeias de suprimento tão ambientalmente
saudáveis quanto for possível.
"Isso é muito difícil de implementar",
diz ele. "É também algo relativamente novo para elas. Mas estão fazendo
isso, e estão investindo somas muito consideráveis de dinheiro".
Isso é inegável. Mas teremos de esperar até a
realização da Rio+30 para ver se essas iniciativas irão realmente mudar a
maneira como as empresas são operadas.
Essa deverá ser a maior conferência já organizada
pela ONU, sendo uma oportunidade histórica para os líderes mundiais resolverem
uma longa lista de problemas ambientais e sociais do mundo.
Mas, a apenas algumas semanas do início da
conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável na cidade brasileira do
Rio de Janeiro, ainda está longe de ser claro o que dela resultará.
Acredita-se que cem líderes venham a participar da
conferência Rio+20. Mas Barack Obama, o presidente dos EUA, em meio de uma
campanha eleitoral, estará ausente. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e
primeiro-ministro britânico, David Cameron, também não virão.
E alguns que inicialmente planejavam comparecer,
inclusive uma delegação do Parlamento Europeu, abandonaram a ideia, quando
confrontados com os preços estratosféricos dos hotéis em uma cidade cujo número
de leitos é estimado em 33 mil, em comparação com os 50 mil visitantes
esperados para a cúpula.
Outro empecilho está no fato de alguns hotéis
insistirem em que os hóspedes façam reservas para pelo menos uma semana, mesmo
que desejem permanecer apenas alguns dias, o que não é um sinal animador para
uma cidade que sediará a Copa do Mundo de futebol em 2014 e a Olimpíada de
2016.
Alguns problemas estão fora de controle dos
organizadores. A data original da conferência teve de ser transferida por
coincidir com o Jubileu de Diamante da rainha Elizabeth II, do Reino Unido.
Ninguém poderia ter imaginado que a conferência seria realizada na mesma semana
em que a Grécia realizará uma eleição crítica para o destino da zona do euro.
No entanto, muita gente está mais preocupada com os
resultados das negociações sobre os resultados da própria cúpula. Elas têm sido
tão turbulentas, que diplomatas ainda estavam se reunindo em Nova York, na
semana passada, para tentar transformar um texto final desconexo num documento
político que apresentasse um pouco mais de foco.
"Parece inexistir um senso de urgência, o que
é preocupante", diz Peter Paul van de Wijs, do Conselho Mundial
Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável. "O que está em discussão é
totalmente inadequado para uma conferência mundial", acrescenta Daniel
Mittler, diretor de assuntos políticos do Greenpeace International. "Esses
tipos de eventos deveriam se preocupar em promover mudanças
transformacionais".
Mas alguns analistas continuam otimistas. "As
coisas progrediram consideravelmente nos últimos dias", disse Farroq
Ullah, do Stakeholder Forum, um grupo de defesa da sustentabilidade do
ambiente. "Acho que chegaremos a um bom ponto com o documento resultante
do encontro".
>>
Vencer a miséria, causa de todos. O POPULAR/GO 08.06
Hélio Rocha é jornalista e escritor e colunista do
POPULAR
-
Jovem jornalista que acabara de se casar, fiz parte
de um grupo de cerca de 20 pessoas que certa vez fez um giro pela Europa. Era
ainda início da primavera, mas na Riviera francesa já se manifestava calor.
Estávamos visitando o cassino de Monte Carlo, o casal Moraes César e Sureia
(ele tinha um programa de rádio de grande audiência na época, Nossa Fazenda),
ao meu lado e de minha mulher. De repente, avistamos o diretor de cinema e ator
Vittorio de Sicca. Moraes César, que também tinha experiência de ator,
entusiasma-se e brada: “Grande Vittorio, Bravo Vittorio!” – e o grande
cineasta, que vestia um terno branco e camisa azul marinho, responde,
agradecendo, com um gesto de chapéu. De Sicca estava então com 66 anos, viveria
mais oito, pois morreu com 74.
Foi uma das primeiras coisas que contei, voltando
da viagem, a meu pai, que gostava muito de cinema e se tornara arrebatado
admirador de Vittorio de Sicca. Um dos filmes que mais o impressionaram foi
Ladrões de Bicicleta, produzido em 1948, que os críticos e entendidos escolhem
como um dos dez melhores filmes de todos os tempos.
No começo do pós-Segunda Guerra Mundial, De Sicca
se encontrou um dia com Roberto Rosselini na charmosa Praça de Espanha, em
Roma. Rosselini revelou que estava planejando Roma, Cidade Aberta, com a atriz
Anna Magnani, e De Sicca informou que pretendia fazer um filme no qual
apareciam engraxates da Via Vêneto. Tal filme seria Ladrões de Bicicleta.
Nascia naquela conversa a fase do histórico neo-realismo do cinema italiano,
com temário aprofundado na miséria do povo italiano no pós-guerra.
Uma miséria impressionante, dolorosa e lancinante,
como mostra o filme Ladrões de Bicicleta. Hoje a Itália enfrenta problemas
econômicos por causa da crise na área do euro, mas miséria não tem mais, o que
significa dizer que ela também pode ser vencida, Mas essa vitória é muito
difícil, exige uma mobilização política e social, muita solidariedade humana e
corajoso enfrentamento da concentração de renda, que no Brasil ainda é grande.
Por comparação com a Itália, onde a concentração de renda é pequena, o Brasil
tem renda per capita de 13 mil dólares e a Itália de 31 mil dólares.
No Brasil ainda existem 16 milhões de miseráveis
mesmo, principalmente no Norte e no Nordeste. Este número, como lembrou a
própria presidente Dilma ao lançar o Programa Brasil Sem Miséria, corresponde à
população do Chile. No Maranhão, por exemplo, continua uma extravagância a
porcentagem da população que vive abaixo do nível de pobreza, nada menos do que
26%. Para cada 100 maranhenses, 26 são miseráveis. Por comparação, em Goiás são
apenas 3,6%.
Está em curso o programa Brasil Sem Miséria. Que
não é uma causa apenas da Administração Dilma. É uma causa de todos nós.
Hélio Rocha é jornalista e escritor e colunista do
POPULAR
>>
Coleção traz contos do argentino
Bioy Casares.
Com prosa refinada, autor passeou pelas vertentes
fantástica, policial e de ficção científica. FOLHA SP 08.06
DE SÃO PAULO
"A trama é o carro-chefe de uma história. Tudo
mais, o estilo, a maneira de contar, os experimentos, deve estar a seu
serviço", resumiu o escritor argentino Adolfo Bioy Casares (1914-1999).
Parte de seus enredos se entrelaçam em
"Histórias Fantásticas", reunião de 14 contos publicados pelo
argentino entre 1948 e 1969 e décimo volume da Coleção Folha Literatura
Ibero-Americana, que será lançado neste domingo, dia 10.
De sua imaginação sem limites se desprendem
mistérios tecidos ao redor de referências que vão de lendas celtas a
alienígenas, passando pelas incertezas da tecnologia.
Ao sentenciar que "escrever é agregar um
quarto à casa da vida", Casares acabou por definir, simbolicamente, a
força construtiva de sua obra, que influenciou inúmeros escritores argentinos.
Em seus livros, personagens comuns se veem
aprisionados por enigmas fantasmagóricos, forçados a decifrar a complexa
estrutura dos sentidos, em que as combinações entre realidade e aparência regem
a existência diária.
"Quando estou conversando com uma pessoa,
ouvindo o que ela me diz, de repente, sinto que ali há a possibilidade de uma
história. Guardo aquilo na memória. Depois, conto esta história para mim
mesmo", revelou o autor.
Dotada de uma manipulação hábil e carregada de
ironia, a prosa de Bioy Casares é considerada uma das mais refinadas e
elegantes da literatura ibero-americana.
Passeando pelas vertentes fantástica, policial e de
ficção científica, o autor deve parte de seu reconhecimento a sua amizade com
Jorge Luis Borges (1899-1986), de quem foi parceiro na literatura.
Em ensaio autobiográfico, Borges revelaria que um
dos principais acontecimentos de sua vida foi essa relação.
Em entrevista à Folha em 1995, Casares resumiu o
convívio: "Eu acreditava no surrealismo, na liberdade absoluta, e Borges
me dizia que a liberdade estava limitada só pela inteligência. Graças a esse
conselho, pude escrever o que escrevi".
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