segunda-feira, 11 de junho de 2012
“O
juiz não é nomeado para fazer favores com a Justiça, mas para julgar segundo as
leis.”
Platão, filófoso grego
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Brasil engatinha em
desenvolvimento sustentável, dizem especialistas. www.cartamaior.com.br
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Cúpula dos Povos protesta contra
as licenças ambientais.
www.cartamaior.com.br
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Educação. Ministro Aloizio Mercadante quer oferecer bolsas de
estudo no exterior para que brasileiros abram os horizontes para acompanhar
costumes mundiais. CORREIO BSB 10/06
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Lei garante assistência aos
incapazes de gerir seus próprios bens e direitos.
www.stj.jus.br
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Mesmo após 18 anos do fim do apartheid,
obra de arte rediscute cismas raciais e sociais na África do Sul
Fonte: Herald Tribune. 10/06
-
Artista Desmond Tutu (branco) satiriza o presidente
da África do Sul Jacob Zuma (negro); causa revive discussão sobre racismo no
país
Quase duas décadas após o fim do apartheid na
África do Sul, simbolizado pelas longas filas de pessoas votando pela primeira
vez no lado de fora dos centros eleitorais em 1994 e a imagem de "Nação
Arco-Íris" de Desmond Tutu, uma pintura satírica por um artista (branco) do
presidente (negro) Jacob Zuma com sua genitália exposta também revelou quão
profundos permanecem os cismas racial e social no país.
Em 10 de maio, uma exposição das obras de Brett
Murray foi inaugurada na Galeria Goodman, em Johannesburgo. O trabalho satírico
de Murray anterior zombava dos líderes racistas do apartheid e explorava
identidade e cultura. Mas seu foco se voltou para os líderes negros da África
do Sul, a corrupção e o nepotismo.
Uma das pinturas, "A Lança", exibia Zuma
na pose de Lenin em um famoso cartaz soviético, mas com a face de Zuma e sua
genitália revelada –uma referência ao caso de estupro do presidente (ele foi
absolvido) e suas muitas esposas, uma tradição zulu.
Virou um inferno.
Três pessoas foram presas na galeria –um jovem negro
e um homem branco de meia-idade por atacar a pintura, separadamente e por
motivos diferentes, e um segurança por agressão enquanto continha o negro que
atacava a pintura.
O líder da Igreja Shembe, que tem milhões de fiéis,
pediu que Murray fosse apedrejado até a morte. Manifestantes marcharam na
galeria. Líderes do Congresso Nacional Africano (CNA), o partido do governo,
foram à Justiça para tentar conseguir a remoção da pintura e pediram pelo
boicote do jornal que publicou a pintura em seu site. A galeria retirou
posteriormente a pintura, assim como o site.
"Missão cumprida, companheiros", declarou
o secretário-geral do CNA, Gwede Mantashe.
A controvérsia está passando. Mas juntamente com o
alívio veio uma inquietação de que as questões explosivas que ela levantou,
notadamente em torno de raça, foram deixadas de lado e podem explodir –mais
perigosamente– mais à frente. Muito pouco é claro nessa sociedade complexa e em
transformação, onde negros e brancos, amargamente divididos sob o apartheid,
andam lado a lado, em grande parte amigavelmente, todo dia.
A enxurrada de respostas à "A Lança" nos
programas de rádio, na imprensa e nas redes sociais mostrou uma opinião pública
dividida segundo várias linhas e dentro de grupos raciais. Muitos brancos
consideraram a pintura ofensiva; muitos negros defenderam seu valor como obra
de arte. E vice-versa.
O debate foi principalmente emoldurado como
liberdade de expressão contra o direito à dignidade, ambos princípios
protegidos pela Constituição sul-africana. Muitos argumentaram que dada a
história desagradável e sensibilidades raciais do país, a dignidade deveria
prevalecer sobre a liberdade de expressão. Outros viram a questão sendo usada
cinicamente para transformar a fúria negra em apoio político a Zuma, cujas chances
de uma reeleição não são boas.
Murray disse em uma declaração à Justiça que atuou
ativamente no movimento antiapartheid, que foi um ex-apoiador do CNA que se
sentiu traído por seus heróis, que abandonaram seus ideais por conveniência.
Ele disse que sua obra "é uma metáfora de poder, ganância e
patriarcalismo".
Mas como
escreveu Steven Friedman, diretor do Centro para o Estudo da Democracia, em
Johannesburgo, e um colunista do "Business Day": "No meio desse
espetáculo desagradável, algo importante está surgindo que exige atenção
urgente". Os sul-africanos negros veem consistentemente a pintura
"como outro exemplo do desprezo com que acreditam que são tratados pelos
brancos", ele disse.
Um comentarista do "Daily Maverick",
Aubrey Masango, por sua vez, argumentou que sátira fala para um público
pequeno, mas educado, mais rico e influente de todas as raças, que representa
uma ameaça política real à elite de governo que está fracassando em solucionar
os profundos problemas socioeconômicos da África do Sul. Ao perceberem isso,
escreveu Mazango, os governantes da África do Sul "usurparão as ideias
desinformadas de identidade cultural e manipularão o verdadeiro desconforto
econômico das massas para gerar simpatia".
De outro ponto de vista, Blade Nzimande, o ministro
do Ensino Superior e líder do Partido Comunista, disse que a obra era um sinal
de que os brancos racistas viam a oferta de reconciliação e de uma sociedade
não racial do CNA como uma fraqueza.
Jonathan Jansen, um intelectual negro e vice-reitor
da Universidade do Estado Livre, descreveu as reações à pintura como um choque
de ideologia, apenas perifericamente sobre raça. Usando uma analogia de boxe,
ele situou, em um córner, os liberais (a maioria brancos de língua inglesa)
educados para ver críticas e protestos "como normais, até mesmo vitais, na
construção e manutenção de uma sociedade democrática". No outro ponto
estavam os negros e brancos conservadores, "pessoas frequentemente
religiosas que consideram a exibição pública de um pênis como um ataque direto
às sensibilidades cristãs".
"Eu não posso pensar em um diálogo mais
necessário que deva ocorrer entre essas duas posições linhas-duras, mas sendo
esta a África do Sul, o ardor supera a luz", escreveu Jansen. "Ambos
os pontos, em uma crença exagerada e rígida em sua própria virtude, partiram
para cima um do outro nesta luta sangrenta."
Em todas essas interpretações diferentes, há uma
área de acordo: a de que a saga de "A Lança" atinge o coração das
tensões ainda profundas na África do Sul.
Se Murray desejava que sua pintura fosse uma
declaração sobre a África do Sul, ele certamente teve sucesso, apesar de que de
uma forma muito diferente daquela que tinha em mente.
* Karen MacGregor é uma jornalista sul-africana.
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RIO+20. Roteiro cultural movimenta a cidade durante
a Rio+20. Programação inclui shows de
Caetano e Bethânia, exposições, palestras e talk-show de Regina Casé com Lula.
FOLHA SP 09.06
-
A Rio +20 estimulou o surgimento de um roteiro
cultural, que promete movimentar a cidade a partir desta semana com atrações
paralelas à conferência oficial sediada no Riocentro, na zona oeste.
A programação inclui shows gratuitos de Maria
Bethânia e Caetano Veloso, além de exposições associadas a questões ambientais.
No Forte de Copacabana, uma estrutura de andaimes
(com 170 metros de extensão e altura equivalente a um prédio de seis andares)
vai abrigar o Humanidade 2012, a partir da próxima terça, dia 12.
A agenda é eclética. Organizadores já confirmaram
talk-show de Regina Casé com o ex-presidente Lula, palestra da chef Roberta
Sudbrack, apresentação do bloco carnavalesco Cordão do Boitatá, e os shows de
Bethânia e Caetano num auditório para 400 pessoas.
O acesso é gratuito. Mas resta definir como será a
distribuição de senhas para os eventos mais concorridos.
HOMEM E MEIO AMBIENTE
Boa parte da estrutura atende à exposição sobre o
homem e o meio ambiente.
As onze salas da mostra estão distribuídas pelo
prédio formado por um emaranhado de tubos metálicos.
"Podemos ver o mar de qualquer ponto",
diz a cenógrafa Bia Lessa, responsável pelo projeto. Um dos ambientes traz a
escultura de um homem cercado por textos que remetem a bens de consumo. "É
uma referência a valorização do consumo, que precisa ser repensada hoje."
No Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo, o
artista plástico Siron Franco criou uma videoinstalação para retratar o
cerrado.
"Mostro a realidade desta região com dois
elementos básicos da vida, a água e o fogo. O cerrado é repleto de cachoeiras,
e o fogo simboliza as queimadas recorrentes naquela área", diz Siron.
A Amazônia também foi lembrada em uma exposição com
fotografias, pinturas e esculturas em cartaz no CCBB carioca, no centro da
cidade.
Outra referência é o documentário brasileiro
"Amazônia Eterna", do diretor Belisario França, que será exibido no
dia 18 no Cine Odeon.
O longa metragem faz parte da lista do GoodPlanet
Film Festival, mostra de cinema com produções associadas a temas ambientais
organizada pela fundação presidida pelo francês Yann Arthus-Bertrand.
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Livro sobre Noel Rosa estuda as inovações de compositor nos anos 30.
FOLHA SP
09.06
-
Obra de Mayra Pinto fala das contribuições de Noel
para a canção popular
Publicação pode ser proibida pela família do
sambista, como ocorreu com biografia
-
Mais de 75 anos depois da morte de Noel Rosa, o
nome do compositor de Vila Isabel segue envolto em polêmicas.
Acaba de ser lançado o livro "Noel Rosa: O
Humor na Canção" (Ateliê Editorial), resultado da tese de doutorado de
Mayra Pinto pela Universidade de São Paulo (USP).
A obra analisa os aspectos artísticos de Noel -ele
atuou somente seis anos como compositor e morreu aos 26, vítima de tuberculose.
São esmiuçados no livro o uso do humor e da ironia,
a quebra do estereótipo do malandro, a profissão de sambista e a linguagem
coloquial de Noel. Sua entoação (seguindo a escola de Mario Reis, ao cantar de
modo mais falado) também é explorada, assim como o fato de não ser um sambista
do morro, como as figuras do Estácio, e a célebre rusga poética entre o Poeta
da Vila e Wilson Batista.
"Ele usava um humor sofisticado, e o samba não
tinha prestígio nos anos 1930. Além da originalidade, Noel sempre teve uma
postura de confronto em relação às forças dominantes", diz Mayra.
"Hoje, a pesquisa de música popular brasileira
está mais substanciosa. Não posso deixar de citar o acervo do Instituto Moreira
Salles e a caixa do Omar Jubran ["Noel Pela Primeira Vez"], que me
ajudaram demais."
BIOGRAFIA PROIBIDA
Mesmo sem levantar passagens biográficas, dedicando-se
apenas a uma investigação artística da obra de Noel, o livro de Mayra deve
enfrentar problemas judiciais com a família do sambista.
"Tecnicamente, este livro está ilegal. Tudo
que envolva o uso do nome ou da imagem -da marca Noel Rosa- está sujeito à
autorização das herdeiras", diz Élio Joseph, 74, representante legal das
sobrinhas de Noel, as irmãs Maria Alice Joseph, 70, com quem ele é casado, e
Irami Medeiros Rosa de Melo, 72.
"Nós vamos analisar este livro, estamos
abertos a negociações. Caso contrário, vamos ver as medidas cabíveis, como
aconteceu com o livro de Máximo e Didier".
Amparada na Constituição e no Código Civil, a
família segue com processo, em Brasília, contra a editora da UnB (Universidade
de Brasília), João Máximo e Carlos Didier, autores de "Noel Rosa - Uma
Biografia".
Lançado em 1990, o livro ficou em circulação até
1994, com 15 mil cópias vendidas. Desde então, virou raridade e teve seu preço
inflacionado em sebos. A livraria Luzes da Cidade, em Botafogo, cobra R$ 1.000
por um exemplar.
"A família nos cobra R$ 50 mil. Se existisse
uma editora mais ousada, ela daria esse valor, e o livro até poderia sair
novamente. O negócio das herdeiras é dinheiro. Não estão preocupadas com a
moral da família", diz Máximo.
"Esse valor, de R$ 50 mil, não procede. Nenhum
dos autores entrou em contato conosco. Se existir um acordo, vamos estudar e
ver o que é mais favorável para nós e para eles", responde Joseph.
MODIFICAÇÕES NA LEI
Além do livro de Máximo e Didier, o embate entre
autores e biografados ou seus herdeiros é comum. Foi assim com Roberto Carlos e
Paulo Cesar de Araújo); herdeiros de Garrincha e Ruy Castro ou com o espólio de
Guimarães Rosa e Alaor Barbosa.
O projeto de lei 395/2011, representado pela
deputada Manuela D'Ávila (PC do B-RS), que permitiria a divulgação de
informações biográficas e de imagens de figuras públicas, continua parado na
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) desde fevereiro do ano
passado, sem previsão de avanços.
"Biografia não é livro de fofoca, fala da
história de um país", diz a deputada.
"O Brasil está muito atrasado. Steve Jobs
morreu e ganhou cinco biografias. Imagina se os filhos do Napoleão tivessem
impedido as biografias dele? É a história da França, não de uma pessoa."
NOEL ROSA: O HUMOR NA CANÇÃO
AUTOR Mayra Pinto
EDITORA Ateliê Editorial
QUANTO R$ 35 (205 págs.)
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Filósofo redefine terapêutica do
homem. Psiquiatra Mauro Maldonato situa
homem contemporâneo numa síntese entre natureza, cultura e história. FOLHA SP
09.06
-
"Passagens de Tempo", novo livro do
italiano, investiga o tempo do corpo, aliando os saberes da medicina e das
artes
-
O filósofo italiano Mauro Maldonato, 51, autor do
livro "Passagens de Tempo", é um psiquiatra sui generis.
Partindo de rede de referências que transita por
ciências humanas, teologia e literatura, ele busca situar a terapêutica do
homem contemporâneo numa síntese entre natureza, cultura e história, fundando
um campo de intuições que vai além da oposição entre matéria e espírito.
Entretanto, sua síntese não é um mar de
superficialidades, mas uma trama de conceitos filosóficos que exige do leitor
repertório e atenção.
Folha - Como viver entre o tempo biológico, o
social, o psicológico e o cosmológico sem experimentar tal confluência como mais
uma demanda à nossa consciência moderna já saturada?
Mauro Maldonato - Não acredito ser apocalíptico
quando digo que o mal-estar descrito por Freud se transformou na civilização do
mal-estar. A tecnociência está cancelando o equilíbrio entre o tempo natural e
o tempo humano. Para realizar seu poder sobre o mundo, anulou a distância entre
meios e fins.
Estamos em plena realização do projeto biopolítico
da tirania sobre o tempo e sobre o corpo humano.
Desde a origem da civilização ocidental, o corpo
tem sido considerado pela ciência como organismo a ser cuidado; da economia,
como força de trabalho a ser empregada; da religião, como carne a ser redimida.
Hoje, não se trata de emancipar o corpo das
restrições impostas, mas de restituí-lo a sua inocência original.
Um dos tempos em que vivemos é o da morte, o nada
do humano. O senhor afirma que há uma potência do nada. Qual seria esta
potência?
O niilismo, mais inquietante e impotente entre
todos os hóspedes, foi imposto a nossa época nas suas diferentes declinações:
da metáfora perfeita do encontro com o nada que clinicamente chamamos de ataque
de pânico às potentes tendências da tecnociência. Temos necessidade de
compreender as razões disso e de encontrar soluções. Um pensamento forte
atravessa até o fundo da noite do niilismo e encontra um caminho para
superá-lo.
O senhor parece crer num diálogo rico entre
religiões. Não há conflitos insuperáveis entre algumas crenças historicamente
constituídas?
O diálogo entre as religiões não pode ser uma
simples comparação de hierarquias de valores. Um diálogo é autêntico quando
acolhemos o outro, sem anular as diferenças. Creio que seja este, hoje, o
desafio para todas as grandes religiões.
O senhor crê numa espiritualidade do ateísmo, como
filósofos como Luc Ferry?
Ferry identifica o pensar com a pesquisa de uma
salvação sem Deus. É uma instância presente em todas as grandes filosofias.
Estamos ainda com esta ideia fixa. O ateísmo diz
que, além da nossa vida mundana, não precisamos nos importar com nada. É
necessário nos opormos a tudo isso.
O nosso dever é lutar duramente, sem nos rendermos
ao nada. Talvez tentando mudar os valores, com a coragem de quem constrói dia
após dia a sua existência terrena.
Uma das riquezas de sua obra é o diálogo entre a
psiquiatria e humanidades. O senhor vê esse dialogo como um diferencial na
formação de um "terapeuta da alma humana"?
A psiquiatria é uma ciência que estuda não apenas
os sintoma psíquicos do homem neuronal, mas o homem na sua capacidade (e também
na sua incapacidade) de viver na reciprocidade.
Por isso se faz necessário rever em novas
perspectivas argumentos até o presente muito frequentemente omissos ou apenas
esboçados: a inquietação, a solidão, a coragem da espera, a esperança, a
nostalgia, a tendência transcendente.
Os espaços de pesquisa que se abrem nos indicam um
percurso sensível à ética do tornar-se humano.
PASSAGENS DE TEMPO
AUTOR Mauro Maldonato
EDITORA Edições SescSP
QUANTO R$ 40 (192 págs.)
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Governo dobra diárias de quem
vai à cúpula
O governo federal decidiu dobrar o valor das
diárias pagas a servidores públicos e a militares que participarem da Rio+20. FOLHA
SP 09.06
-
O decreto que autoriza o acréscimo nos valores foi
assinado pela presidente Dilma Rousseff e publicado no Diário Oficial da União
na quarta-feira.
Com isso, a maior diária paga pelo governo federal,
que é destinada a ministros, passará de R$ 581,00 para R$ 1.162,00.
De acordo com o Ministério do Planejamento, a
medida se justifica pela "defasagem" do valor das diárias, que
"não condizem mais com os custos de alimentação, deslocamento e,
sobretudo, hospedagem no período".
O governo afirma que uma pesquisa de mercado aponta
que as diárias concedidas "cobrem só de 40% a 60% do custo médio de
hospedagem".
No dia 16 de maio, o presidente da Embratur, Flávio
Dino, anunciou um acordo com a rede hoteleira do Rio que permitiria uma redução
de 25% a 60% dos custos de hospedagem dos participantes.
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FERREIRA GULLAR. Drogas: qual a
alternativa?
A legalização das drogas transformaria o Brasil num
centro internacional de consumo, como é a Holanda. FOLHA SP 10.06
-
Volto a um assunto que tenho abordado aqui e o faço
porque considero necessário discuti-lo sempre que possível e com total isenção:
o problema da liberação das drogas. Agora mesmo, uma comissão de juristas
submeterá ao Congresso um anteprojeto propondo descriminalizar o porte e o
plantio de maconha.
Admito que, por alguma razão, pessoas de tanta
responsabilidade entendam que a descriminalização é uma medida positiva.
Ainda assim, duvido da conveniência de uma tal
medida, uma vez que, no meu modo de ver, o fator principal que sustenta o
tráfico de drogas é o consumidor.
Volto ao argumento óbvio, conforme o qual não há
mercado para mercadoria que não se consome. Logo, se o tráfico ganhou a
dimensão que tem hoje, foi porque, a cada dia, um número maior de pessoas
consome drogas. Um dos argumentos usados pelos defensores da liberação das
drogas é o de que a repressão não deu os resultados esperados, uma vez que o
tráfico, em lugar de diminuir, aumentou.
Já discuti esse argumento, que me parece descabido.
Basta raciocinar: desde que a humanidade existe, combate-se a criminalidade e,
não obstante, ela não acabou. Pelo contrário, aumentou. Devemos concluir,
então, que a Justiça fracassou e que, por isso, o certo é acabar com ela? Claro
que não. Se se praticasse semelhante insensatez, simplesmente poríamos fim à
sociedade humana. O certo é entender que determinados problemas não têm solução
definitiva, mas nem por isso devemos nos render a eles, sob pena de se tornar
inviável o convívio humano.
A droga é um desses problemas. Exterminá-la
definitivamente parece-nos impossível mas, por outro lado, aceitá-la é abrir
mão de importantes valores que o homem conquistou ao longo de sua história. A
droga é uma herança de tempos remotos, quando estava associada a uma concepção
ingênua e mágica da existência.
A ciência demonstrou que os efeitos que ela provoca
são resultados dos elementos alucinógenos que fazem parte de sua composição
química. Ela se alimenta daquilo que, no ser humano, resiste à compreensão
objetiva e racional da existência. Como talvez o ser humano jamais alcance um
estado permanente de lucidez em face do mistério da vida, a droga continuará a
ser necessária a uma parte da sociedade, que nela encontra compensação para
suas ansiedades. Disso se valem e se valerão os produtores e vendedores de
drogas.
As últimas apreensões de drogas ocorridas no Brasil
indicam o crescente poderio econômico e técnico dos traficantes. São toneladas
de maconha, cocaína e crack, o que pressupõe o crescimento progressivo de
consumidores.
Acreditar que a legalização das drogas fará com que
essas organizações clandestinas se tornem, de repente, empresas legais é
excesso de boa-fé. E o que fazer com as drogas sintéticas que, por se
multiplicarem rapidamente, gozam de legalidade, já que os órgãos de repressão
sequer as conhecem? A legalização das drogas transformaria o Brasil num centro
internacional de consumo, como é hoje a Holanda.
Outro ponto que os defensores da legalização
parecem ignorar é o fato de que os consumidores de drogas -em sua maioria
jovens- nem sempre dispõem de dinheiro para comprá-las e isso os leva a
praticar roubos e assaltos.
Hoje, a maioria dos crimes está ligada, de uma
maneira ou de outra, ao tráfico e ao consumo de drogas. Na verdade, o viciado é
um aliado do traficante -já que têm interesses comuns- e o ajuda a burlar a
repressão.
Amparado na lei, o viciado em drogas vai se sentir
mais à vontade para consegui-la a qualquer preço, sem que a família tenha
autoridade para impedi-lo, já que estará agindo dentro da legalidade.
A alternativa seria o Ministério da Saúde -que não
consegue manter em funcionamento satisfatório os hospitais, por falta de
verbas- passar a subvencionar o vício dos drogados?
Creio que tudo conduz à conclusão de que o caminho
certo é batalhar para reduzir o número de consumidores de drogas, e isso só
será possível se as autoridades, em nível nacional e internacional, se
dispuserem a promover um trabalho sistemático de esclarecimento e educação dos
jovens para mostrar-lhes que as drogas só os levarão à autodestruição.
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