segunda-feira, 7 de maio de 2012



ANA DE HOLLANDA »  O que eles pensam.   CORREIO BSB 06.05
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A temperatura parece estar sempre quente no Ministério da Cultura, mas Ana de Hollanda se mostra firme em seus projetos. Ela recebeu o Correio na última quinta-feira e disse que há má vontade e interesse político por trás dos ataques que recebe. Quando deixar a pasta, pretende ser lembrada como a ministra que ajudou os artistas a entrarem no mercado formal e ficarem menos dependentes de editais públicos. Falou também da saudade que tem dos tempos em que era cantora e do pouco cuidado que toma com a voz hoje em dia. Garante que o irmão, Chico Buarque, jamais interferiu em seu trabalho.
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Em busca da  economia cria
        

Desde que assumiu o cargo, a senhora é alvo de ataques. Por quê?
São muitos motivos. Às vezes, as pessoas têm de se adaptar a mudanças de governo, a novas diretrizes. A presidente Dilma realiza outra gestão, nova etapa do projeto iniciado pelo ex-presidente Lula, mas, em certas ocasiões, é necessário rever algumas ações. A cultura é sempre uma área muito polêmica, faz parte do espírito do artista a divergência, o questionamento… cada um tem as suas teses e os seus interesses. Muita gente que estava satisfeita com a gestão anterior reclama das novas ações. É normal. Também  há muita gente que cobiça esse cargo e não é mistério para ninguém. Essas pessoas insistem em procurar erros na nova gestão, há certa má vontade… no mínimo.

E qual a sua reação?
Não vou ficar paralisando meu trabalho para me preocupar com  ataques. Mas, se as críticas forem sérias, serei a primeira a reavaliar minhas ações, pois sou zelosa com meu trabalho. Agora, ataques por acusações infundadas, esses deixo de lado. Passaram o ano inteiro dizendo que não estávamos fazendo nada, no fim do ano a execução do que havíamos planejado foi de 98%. A pasta nunca tinha alcançado esse percentual de execução, então o argumento foi por água abaixo. Me acusam de ter interrompido os projetos do então presidente Lula, isso não tem fundamento nenhum.

Os críticos alegam que a  senhora não tem competência  para ser a chefe do Ministério da Cultura? Qual sua resposta? 
Que eles observem com um pouco mais de atenção o trabalho que está sendo feito.

Seu irmão, Chico Buarque, nunca  sugeriu que a senhora deixasse a pasta e ficasse livre dessa pressão?
Não, nunca.

Qual a possibilidade concreta de o Plano Nacional de Cultura sair do papel? E quais as metas de curto prazo que a senhora destaca?
O plano já saiu do papel. É lei aprovada em dezembro de 2010 e, imediatamente, iniciamos um trabalho de consulta com a sociedade, ouvindo todos os setores para estabelecer as metas do plano até 2020. O plano é uma política de Estado para a cultura que vai se adequando aos poucos às novas realidades. São 53 metas em todas as áreas, como a ampliação dos pontos de cultura. Hoje, temos 3,5 mil pontos e deveremos chegar a 15 mil em todo o país.

Como conseguir “aumento de 95%” no emprego formal do setor cultural, como prevê o plano?
Um dos eixos do ministério é a economia criativa. O ministro Gilberto Gil já falava dela, mas não chegou a ser desenvolvida como agora. O projeto da economia criativa envolve várias pastas. Por exemplo, a do Trabalho, da Fazenda, da Educação, do Desenvolvimento Agrário… A questão da formalização do trabalho criativo é muito importante, pois a informalidade é grande, um pouco do perfil do artista. Isso o deixa muito dependente de outros agentes que não dão a garantia de trabalho com regularidade maior que gere certa estabilidade para o artista. Se a gente conseguir realizar um mapeamento do que está sendo feito no Brasil desde o pequeno artesanato ao design, à arquitetura, à moda..., então teremos a chance de ajudar a organizar os trabalhadores, já documentados, em cooperativas, parcerias, etc… Que eles possam, por exemplo, ser acessados em site com informações sobre suas obras. A nossa diversidade criativa é enorme, mas às vezes isso fica nas mãos de poucos. Vejo objetos em lojas de decoração que são trabalhos de artesãos de uma região do país a que os comerciantes vão, compram um lote das peças e as vendem sem nenhuma referência de quem fez o trabalho, de onde saiu. A gente vai criar um selo, o Brasil criativo, em que estarão várias informações sobre o artista. Isso abre a possibilidade de novos negócios diretos.

A cultura no Brasil ainda vive no informalismo…
Sim. Um dos objetivos é reduzir o informalismo, é fazer com que a cultura deixe de ser dependente de eventos, de mecenas, de editais (eles vão existir, pois são ações necessárias), mas a nossa prioridade é que os artistas possam trabalhar com regularidade sem precisar viver recorrendo e dependendo de incentivos públicos. Nossa preocupação é que o mercado de trabalho criativo seja conhecido e consumido pelo Brasil e que também seja exportado... não fique dependente de leis de incentivo somente. O mecenato é importante, mas é pontual.

E a Lei Rouanet?
Ela tem qualidades, mas também tem problemas, porque é lei de mercado. Quem vai escolher o projeto artístico será o empresário. E entre patrocinar um espetáculo com artistas conhecidos ou investir em algo experimental, ele certamente ficará com o primeiro. No mundo todo, como Inglaterra e Austrália, a ideia de investimento do mercado criativo está sendo trabalhada. Estamos um pouco atrasados.

A senhora acha que a relação artista/direitos autorais é justa no Brasil? O que pode ser feito para reduzir a diferença tão grande?
A questão do direito autoral é bastante problemática. É necessário transparência nessa área, ou seja, o dinheiro entrou, pertence ao artista, a ele deve ser repassado. A discussão sobre esse tema precisa ser feita. Enviamos um projeto ao Congresso que prevê, inclusive, supervisão do Ministério da Cultura: a gente vai pedir prestação de contas para as associações, ver balanços anuais, e, se irregularidades forem constatadas, encaminharemos todas à Justiça. A relação dos direitos autorais não é do Estado. Ele só supervisiona. Quem toma as providências é a Justiça.

O Ecad é o modelo certo para arrecadação dos direitos autorais no país?
É um escritório necessário. Se é bem ou mal administrado, é outra questão.

A CPI do Ecad não colocou o modelo em xeque?
Sempre existe o questionamento, a CPI vai checar as denúncias e tudo será examinado pela Justiça.

O que a senhora recebe de direito autoral dá para viver?
Com certeza não, recebo pouco (risos). Acontece também que meus discos foram mal distribuídos e, infelizmente, hoje em dia se toca muito pouco a música brasileira nas rádios.

A ministra Ana tem saudade da cantora Ana?
Tenho. Outro dia, estava ouvindo uma fala minha não sei onde e pensei: Gente, cadê minha voz? Estou rouca. Hoje não tenho o menor cuidado com a voz, durmo pouco, ando falando muito e isso para a voz de uma cantora não é bom. O Gil teve problemas também quando estava na pasta. A gente fala, fala, sempre com  aquela tensão… Também tenho o lado da compositora, gosto muito de escrever. Vários parceiros me deram melodias para eu letrar, mas estou com dificuldade de tempo para relaxar e escrever. É muito difícil se desligar dos problemas que se vai enfrentar no dia seguinte…

O que o seu pai, Sergio Buarque de Holanda, diria se a senhora, ainda criança, dissesse a ele: “Papai, quando crescer, quero ser ministra da Cultura”?
(risos) Ele não iria acreditar, porque nem eu acreditaria que seria ministra. Mas, às vezes, sinto muita vontade de contar o que se passa no ministério. Na última quarta-feira, estava conversando com o presidente do Iphan e ele falou de uma descoberta em uma região onde transitavam as monções (na época dos bandeirantes). Elas cruzavam um rio e registravam nas pedras de uma cachoeira as pessoas que passavam por lá, de onde vinham, para onde iam. Esse registro histórico era coisa que meu pai adoraria saber. Tem muita coisa que gostaria de comentar com ele…

Qual foi sua primeira impressão ao conhecer Brasília?
Vim para cá, pela primeira vez a passeio, em 1974. Era uma cidade muito diferente. Essas árvores diante do ministério eram pequenas ainda (risos). Brasília agora é muito mais verde. Ainda hoje paro e me surpreendo com a arquitetura da cidade. Juscelino foi muito ousado, ele trouxe o Brasil para dentro.tiva
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Comovente, musical celebra os 90 anos da diva Bibi Ferreira. FOLHA SP 06.05
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Amparada por orquestra, cantora dá mostras de todo o seu carisma e presença cênica em "Histórias e Canções"

É notável como, sem nenhuma partitura a sua frente, a artista desfile tão vasto repertório
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Cessa tudo quando a antiga diva canta. "Bibi - Histórias e Canções", espetáculo que celebra os 90 anos de Bibi Ferreira, coroa a carreira única no teatro brasileiro e atualiza o reconhecimento de um talento extraordinário.

Concebida por Bibi, em parceria com Nilson Raman e João Falcão, e dirigida por este último, a encenação se vale do carisma da atriz.

Sua presença cênica, como uma entidade que alcança a condição de mito em vida, arrebata desde o momento em que ela surge em meio a uma orquestra de 26 músicos.

Nos 80 minutos seguintes, o público se embevece com uma sequência de blocos temáticos que mesclam várias canções, o que só dificulta a interpretação, pois exige modulações harmônicas complexas na variação ininterrupta das músicas.

Bibi encara essas transições com tranquilidade, sem abrandar seu timbre forte e sem perder a afinação perfeita. Verdade que a direção mantém o maestro e o arranjador das orquestrações, Flávio Mendes, próximo dela.

Como um ator coadjuvante, ele dialoga com Bibi e dá a deixa para cada uma das sessões. Mesmo assim, é notável como, sem nenhuma partitura a sua frente, a artista desfile tão vasto repertório, que vai de antiquíssimos musicais de Hollywood até sambas de breque.

Nas poucas vezes em que ela hesita na recordação de alguma letra, a leveza com que assume o erro, e retoma sem temor o canto, denota a tarimba da tradição de improviso do teatro popular.

Bibi Ferreira sintetiza na sua trajetória tanto uma teatralidade brasileira que remete ao século 19 e seus grandes atores carismáticos, como às formas dos últimos 60 anos.

Esse trânsito fluente entre tempos e registros distintos se confirma no momento mais emocionante do espetáculo, quando evoca o musical "Gota d'Água", de 1975, adaptação da "Medeia" de Eurípides de seu falecido marido, o talentoso dramaturgo Paulo Pontes (1940-1976), com composições dele e de Chico Buarque de Holanda.

Expressa-se também quando apresenta suas paródias de árias de óperas famosas, em que encaixa Lamartine Babo e Pixinguinha em melodias de Verdi e Rossini, ou quando repropõe o "Samba de Uma Nota Só", de Tom Jobim, com letra de Noel Rosa.

O espetáculo é um acontecimento. Consagra uma artista ímpar que elevou seu ofício, em sete décadas de prática, à condição de arte maior.

BIBI - HISTÓRIAS E CANÇÕES
QUANDO sex. e sáb, às 21h, e dom., às 20h
ONDE Theatro Net Rio (r. Siqueira Campos, 143, Copacabana, tel. 0/xx/21/2147-8060)
QUANTO de R$ 100 a R$ 150
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo

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APÓS 24 ANOS, FRANÇA ELEGE SOCIALISTA.  FRANÇA REJEITA MEDIDAS DE SARKOZY E LEVA SOCIALISTA HOLLANDE À PRESIDÊNCIA.  O Estado de S. Paulo - 07/05/2012

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O discurso de defesa do crescimento econômico em lugar da austeridade devolveu ontem o poder na França aos socialistas, que não venciam eleições presidenciais havia 24 anos. Em votação apertada, o candidato do Partido Socialista François Hollande recebeu 51,7% dos votos, derrotando Nicolas Sarkozy, primeiro chefe de Estado francês em três décadas a não conseguir uma reeleição. Em um discurso sóbrio, Hollande disse que sua missão será levar a mensagem das urnas na França a toda a União Europeia. O vencedor toma posse no dia 15. Na primeira viagem como presidente, vai se encontrar com a chanceler alemã Angela Merkel, principal defensora da austeridade como receita contra a crise

Após mais de duas décadas de jejum, esquerda francesa vence eleição presidencial por margem apertada, destrona gaullista e volta ao Palácio do Eliseu; eleito promete "crescimento e prosperidade", presidente de saída indica que não concorrerá mais a cargos públicos

Numa votação apertada, confirmando os prognósticos, o socialista François Hollande foi eleito ontem presidente da França. O deputado que adotou o slogan da mudança e do crescimento econômico, em lugar da austeridade, obteve 51,7% dos votos – segundo projeção do "Le Monde" – quebrando o jejum de 24 anos nos
quais a esquerda francesa perdeu todas as disputas presidenciais. Impopular, o presidente Nicolas Sarkozy tornou-se o primeiro chefe de Estado da França em
três décadas a não ser reeleito. Ele obteve 48,3% dos votos. Os números finais da vitória seriam confirmados pelo Ministério do Interior ainda na noite de ontem, mas a festa da vitória espalhou-se pelas principais cidades do país a partir das 20 horas (15 horas em Brasília), quando pesquisas de boca de urna começaram a ser divulgadas.

O resultado selou o retorno de um socialista ao Palácio do Eliseu 1 7 a nos após o fim da era François Mitterrand. Sarkozy, do outro lado, entrou para a Hitória ao lado do ex-presidente Valéry Giscard D"Estaing, conservador derrotado a o fim de seu primeiro mandato, em 1981. Menos de meia hora após a divulgação dos resultados, Sarkozy partiu do Eliseu na direção do Teatro da Mutualité, onde os militantes da União pelo Movimento Popular (UMP) o aguardavam. "Quero agradecer a todos
os franceses pela honra que me foi dada, de ter sido escolhido para presidir o país durante cinco anos. Jamais vou esquecer", disse ele, assumindo a "responsabilidade integral pela derrota". "Não consegui convencer uma maioria dos franceses. Fizemos uma campanha inesquecível contra todas as forças – e Deus sabe que elas foram numerosas e coesas contra nós. Mas não consegui fazer vencerem os nossos valores", admitiu Sarkozy diante de seus partidários.

O presidente sugeriu que não voltará a se candidatar a cargos públicos, como havia anunciado, mas tampouco se afastará da vida política. "Vocês podem contar comigo para defender essas ideias, essas convicções, mas meu lugar não poderá mais ser o mesmo", afirmou, encerrando seu discurso emocionado. Fala da vitória. Mais de uma hora depois, François Gérard Georges Hollande, de 57 anos, ex- secretário-geral do PS entre 1997 e 2008, agora presidente eleito, veio à multidão que o aguardava no centro de Tulle, sua cidade natal. Em um discurso sóbrio, sem espaço para a emoção, Hollande enviou uma "saudação republicana" a seu oponente eafirmou estar "orgulhoso de ter sido capaz de devolver a esperança aos franceses". Como em pronunciamentos anteriores, prometeu uma "presidência exemplar", sem excessos. "A mudança deve estar à altura da França. Ela começa agora", garantiu, prometendo realizar um governo aberto aos eleitores da extrema direita. "Saibam que
eu respeito suas convicções e serei o presidente de todos."

Hollande ainda não anunciou nenhum nome de seu governo, mas reiterou suas metas. A primeira, disse, é levar à Alemanha e à União Europeia a mensagem das urnas na França. "Minha missão é dar à construção europeia uma dimensão de crescimento, de emprego e de prosperidade." Ainda à noite, líderes europeus como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o premiê britânico, David Cameron, tele-fonaram ao vencedor para parabenizá-lo. O presidente dos EUA, Barack Obama, também falou com o novo colega francês. O ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, classificou a eleição como "histórica" e afirmou que os dois países "continuarão a cumprir suas missões e a assumir suas responsabilidades no seio da UE". "A disciplina fiscal e a estratégia do crescimento constituem as duas faces da mesma moeda", disse o ministro. Em sinal de reaproximação, Hollande e Merkel se encontrarão na primeira viagem oficial do novo presidente. O presidente eleito deixou Tulle em avião privado rumo à Paris, onde discursaria no início da madrugada às centenas de milhares de pessoas reunidas na Praça da Bastilha para comemorar a volta da esquerda ao poder.

Cumprimento de Dilma

A presidente Dilma Rousseff enviou ontem à noite cumprimentos a François Hollande. Ela defendeu que o aperto fiscal seja acompanhado por medidas de crescimento e inclusão social na França

PERFIL

François Hollande,
presidente eleito da França

Vencedor deu volta por cima

Há 18 meses, ninguém na França apostaria na vitória de François Hollande no segundo turno da eleição. Contrariando caciques do Partido Socialista, ele lançou em março de 2011 a pré-candidatura e iniciou um trajeto sem falhas até a vitória, mais de um ano depois. Filho de um médico ligado à extrema direita e de uma assistente social ultracatólica de esquerda, Hollande nasceu em 12 de agosto de 1954, em Rouen, noroeste da França. Criado em Neuilly-sur-Seine – a mesma cidade de Nicolas Sarkozy –, estudou Direito na Universidade de Paris, depois na Escola de Altos Estudos de Comércio (HEC) e no Instituto de Estudos Políticos (Sciences-Po), até chegar à Escola Nacional de Administração (ENA) – todas de alto prestígio.

Militante do partido desde 1979 e discípulo de François Mitterrand, eleito em 1981 presidente, fez o percurso "clássico" dos políticos franceses. Foi subindo de conselheiro municipal (equivalente a vereador) até chegar a secretário-geral do Partido Socialista, em 1997. Deixou o cargo sob críticas, desgastado pela derrota de Lionel Jospin para o extremista Jean-Marie Le Pen, em 2002, seguida do fracasso de sua mulher, Ségolène Royal, diante de Sarkozy, em 2007. Longe dos holofotes, Hollande separouse, emagreceu, conheceu a segunda mulher, a jornalista Valérie Trierweiller, e cercou-se de um grupo de conselheiros políticos que o aproximou dos discursos e símbolos de campanha de Mitterrand.
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Agricultura de precisão ganha espaço.   Valor Econômico - 07/05/2012
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Regras socioambientais mais rígidas e espaço limitado para expansão de cultivos deram novo status à agricultura de precisão. Pesquisadores estimam que 20% das lavouras de grãos do Cerrado, que estão entre as mais mecanizadas, são conduzidas com base na atividade, que inclui gestão, técnicas e mecanização. Um dos termômetros da tendência é o crescimento de empresas que fazem mapas para apontar os locais que mais precisam de insumos e das consultorias que auxiliam os clientes na compra de equipamentos. Cresceram as vendas de tratores e colheitadeiras com computador de bordo e piloto automático


A valorização das principais commodities agrícolas na última década e a necessidade de se ampliar a produção com regras socioambientais mais rígidas, menos desperdício e espaço limitado para a expansão dos cultivos conferiram um novo status à agricultura de precisão no país.

Ainda que não existam estatísticas sobre a área ocupada por esse conjunto formado por gestão, técnicas e equipamentos, pesquisadores estimam que 20% das lavouras de grãos do Cerrado brasileiro, que estão entre as mais mecanizadas, já são conduzidas com base nesses princípios. Mas em praticamente todas as cadeias agrícolas é possível notar avanços nesse sentido.

Afinal, aumentar a eficiência com manejo diferenciado e com a aplicação de insumos como fertilizantes e defensivos no local correto, no momento adequado e nas quantidades necessárias também tem impacto direto nas rentabilidades dos produtores e em seus investimentos. Só a adubação chega a representar cerca 40% dos custos agrícolas de uma propriedade.

Apesar das incertezas que cercam a economia global, mas estimulado pelas perdas provocadas pela estiagem em lavouras de soja e milho na região Sul na safra 2011/12, o mercado para a agricultura de precisão deverá continuar em expansão neste e nos próximos anos, segundo especialistas. Um dos termômetros dessa tendência é a Infoagri, que faz mapas das lavouras para indicar quais locais precisam de mais insumos. Após ter crescido 15% em 2011, a empresa, que atua sobretudo no noroeste de Mato Grosso, deve elevar em 10% sua área de prestação de serviços em 2012, para 44 mil hectares.

A Infoagri divide as lavouras de seus clientes em pequenas "células", para ter uma visão exata de quais as áreas que precisam de mais nutrientes. A partir daí faz uma amostragem e classifica, em laboratório, as "zonas de manejo" da propriedade. Esse serviço custa, em média, R$ 24 por hectare, mas a empresa afirma que a economia na aplicação de insumos pode atingir de 20% a 25%.

De acordo com o engenheiro agrônomo Luciano Oliveira de Resende, dono da empresa criada em 2005, seus negócios vêm sendo impulsionados pela valorização da soja e porque no noroeste mato-grossense, as produtividades médias do grão devem ser menores por causa de doenças, pragas e da própria baixa fertilidade do solo.

Acosta, da Drakkar: empresa registra crescimento médio de 50% ao ano

Resende e outros empresários acreditam que será possível acelerar o ritmo de crescimento das companhias do setor nos próximos anos, mas para isso o mercado ainda tem de amadurecer mais. Para José Paulo Molin, professor da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq/USP), a evolução do mercado como um todo ainda esbarra na falta de informação e na escassez de mão-de-obra preparada para lidar com todo o processo. Além disso, o custo para implementar a tecnologia torna os investimentos mais polpudos nas safras mais rentáveis para o produtor.

Apesar das ressalvas, a Drakkar, que presta consultoria e auxilia seus clientes na compra de equipamentos, informa que conseguiu crescer 50% ao ano nos últimos cinco anos. Alan Acosta, sócio-diretor da empresa, diz que mais de 90% de seus clientes vão utilizar a agricultura de precisão este ano. No mercado há seis anos, a Drakkar atua em cerca de 200 mil hectares no Rio Grande do Sul, um dos pioneiros na utilização dessas tecnologias. E deve passar para 240 mil hectares em 2012. As áreas, diz Acosta, têm de ser "diagnosticadas" a cada três anos. A Drakkar mapeia cada 1,5 hectare de uma propriedade. O serviço custa entre R$ 50 e R$ 80 por hectare.

Segundo Acosta, os aumentos de produção com a agricultura de precisão são superiores a 30%. "Costumamos dizer que a agricultura de precisão é a terceira grande revolução na agricultura da nossa geração, antecedida pelos transgênicos e pelo plantio direto", diz.

Também é positivo o cenário traçado pelas indústrias fabricantes de máquinas com tecnologias para agricultura de precisão. É o caso, por exemplo, de tratores e colheitadeiras com piloto automático e computador de bordo. A Case New Holland, da CNH, tem como meta quase dobrar a quantidade de tecnologias oferecidas nos equipamentos em relação a 2011.

Mais de 2 mil máquinas comercializadas neste ano sairão de fábrica com sistema de agricultura de precisão, incluindo desde o piloto automático até monitores de produtividade em colheitadeiras. No ano passado, foram 1,3 mil máquinas. Segundo a empresa, os produtores também vão adquirir outros kits avulsos para colocar nas máquinas que já utilizam.

Gregory Riordan, responsável por agricultura de precisão da Case New Holland, diz que o uso das tecnologias já está migrando de máquinas maiores para menores. Um piloto automático que antes era usado somente por tratores com potência acima de 220 cavalos, hoje já é adaptado para modelos com 120 cv. E a tendência é de que, em pouco tempo, migre para tratores menores ainda. Mas são equipamentos mais caros. Um pulverizador com piloto automático e controle de seção custa 20% ou 30% mais do que um convencional. Bem utilizado, porém, ele dará retorno, garante Riordan.

Também fabricante de máquinas, a gaúcha Stara quer elevar as vendas de equipamentos com tecnologia para agricultura de precisão de 3 mil, em 2011, para 4 mil este ano. A empresa fornece desde equipamentos mais simples, que custam R$ 5 mil, até máquinas mais complexas, vendidas por cerca de R$ 500 mil. É o caso do pulverizador auto-propelido, que joga defensivos e tem um sensor que lê a folha da planta e informa a necessidade de aplicação dos insumos. A Stara vende 16 produtos diferentes para agricultura de precisão. E deve lançar em 2013 uma nova máquina capaz de fazer a leitura do solo em tempo real.

Hoje, a agricultura de precisão representa de 25% a 30% do faturamento da empresa, que foi de R$ 560 milhões no ano passado e deve chegar a R$ 720 milhões em 2012. Eder Sepulveda, gerente de manejo avançado da Stara, acredita que diante da seca no Sul do país, o produtor pode aumentar ou pelo menos manter a produtividade com uso desse tipo de tecnologia.
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Valorizar o ensino de arte. EVELYN BERG IOSCHPE,   socióloga, é presidente da Fundação Iochpe e do Instituto Arte na Escola.  FOLHA SP 07.05.
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Por que a maior carência de professores é na disciplina de arte? São 85 escolas estaduais funcionando sem professor de arte na capital de São Paulo

A notícia da Folha de 25 de abril dando conta de que faltam professores em 32% das escolas estaduais é um escândalo em si mesma.

Que outra instituição se daria ao "luxo" de abrir as portas com apenas dois terços de seu contingente?

Imagine-se a linha de montagem de uma indústria que vai lançar um novo produto com um contingente rebaixado em 32%. Que tal um automóvel com três rodas como produto final? E que tal um aluno manco para explicar o que significa esse índice vergonhoso?

E por que a maior carência incide justamente sobre a disciplina de arte? São 85 escolas estaduais funcionando sem professor de arte na capital de São Paulo.

E, no Brasil, apenas cerca de 20% dos professores em exercício têm formação em artes.

Apesar de a arte ser uma disciplina obrigatória desde 1996, apesar de a formação específica em artes ser obrigatória para o professor da área e apesar, ainda, de o Ministério da Educação ter acelerado a oferta de cursos de graduação em arte através da Capes, temos esse quadro clamoroso de insuficiências.

Ou seja: o Brasil é pródigo em produzir leis de efeito, mas muito lento ao implementá-las e mesmo cobrar a sua efetivação.

Um estudo do Banco Mundial revela que as "habilidades do século 21" são cruciais para a próxima geração de trabalhadores do Brasil.

São elas: a capacidade de pensar analiticamente, de fazer perguntas críticas, de aprender novas habilidades, de operar com alto nível de habilidades interpessoais e de trabalhar eficazmente em equipes.

O estudo mostra ainda que a melhoria da qualidade dos professores no Brasil exigirá o apoio ao melhoramento contínuo da prática, entre outras questões.

É exatamente isso que o Instituto Arte na Escola vem fazendo de Norte a Sul do Brasil, através de parcerias com 47 universidades há mais de duas décadas.

Temos nos ocupado em manter programas de educação continuada para professores de arte de escolas públicas, reunindo 1.700 professores nos grupos de estudos que mantemos em nossa rede de universidades parceiras, de forma a atualizar a sua prática, receber supervisão e realizar "peer learning" (aprendizagem entre pares).

O Instituto Arte na Escola fornece materiais pedagógicos e um site (www.artenaescola.org.br) de apoio atualizado e interativo, rico em oportunidades de pesquisa e colaboração entre os pares.

Mais de 40 mil professores formam, pelo site, uma comunidade de aprendizado que se sente respaldada em seu exercício profissional.

Esses professores que hoje optam por se reciclar continuamente nas nossas universidades parceiras já seriam uma festa em qualquer disciplina. Mas sabendo, como hoje se sabe, que aprender através das artes evita a repetência e a evasão (e traz efeitos significativos para a aquisição de conhecimentos também em outras áreas), as razões para comemorar são ainda maiores.

E talvez sirvam como contraponto a este desalento que nos fica do pouco caso com que a Secretaria de Educação de São Paulo trata o ensino de arte no Estado que é o carro-chefe da economia do país.

Um Estado que necessita de profissionais com pensamento analítico, aptos a fazer perguntas críticas e a aprender novas habilidades. Gente criativa para um século 21 que aponta um novo lugar possível para o país que era um gigante adormecido.

EVELYN BERG IOSCHPE, socióloga, é presidente da Fundação Iochpe e do Instituto Arte na Escola

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