segunda-feira, 14 de maio de 2012
LITERATURA. Autor autografa obra sobre Semana de 22. FOLHA SP 13/03
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O jornalista Marcos
Augusto Gonçalves, da Folha, autografa hoje, às 19h, seu livro "1922 - A
Semana que Não Terminou" (Companhia das Letras, R$ 49, 376 págs.). O
evento acontece na livraria da Travessa montada no Pavilhão da Bienal, no parque
Ibirapuera, por conta da feira SP-Arte.
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Coleção sonda distopias de José Saramago. FOLHA SP 13/03
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Em "Ensaio sobre a
Lucidez", que chega às bancas em 20/5, português faz crítica mordaz às
instituições políticas
Obra é o sétimo título de
seleção que reúne 25 livros de renomados romancistas e poetas de origem
ibero-americana
DE SÃO PAULO
Em um país qualquer, em
um dia chuvoso, poucos eleitores comparecem para votar durante a manhã. As
autoridades eleitorais, preocupadas, chegam a prever uma abstenção em massa.
À tarde, porém, quase no
encerramento da votação, milhares de eleitores formam filas, mas para votar em
branco, manifestando sua indignação de forma direta.
A cena faz parte de
"Ensaio sobre a Lucidez", romance do escritor português José Saramago
(1922-2010) e sétimo volume da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana, que
chega às bancas no dia 20/5.
É desse "corte de
energia cívica" que trata a obra, escrita em 2004, e que não apenas no
título remete ao seu "Ensaio sobre a Cegueira", de 1995. A política
aqui se apresenta tal como a epidemia que se abate sobre os personagens daquele
livro.
Ao narrar as providências
de governo, polícia e imprensa para entender as razões da "epidemia
branca", o autor faz uma alegoria da fragilidade dos rituais democráticos,
da política e das instituições.
Saramago, entretanto, não
propõe a substituição da democracia por um sistema alternativo, mas o seu
permanente questionamento.
É pela via da ficção que
o português entrevê uma saída para esse impasse. E é a potência simbólica da
literatura -território em que reflexão, humor, arte e política se confundem-
que se revela capaz de vencer a mediocridade, a ignorância e o medo.
Em sua obra, o escritor
luso buscou desenvolver uma crítica mordaz às instituições: sob o véu da democracia,
enxergava os vetores da natureza autoritária -lúcido é, na verdade, quem os
percebe.
Nascido em uma região
pobre e rural portuguesa, Saramago talvez tenha na vida seu melhor romance.
Seria em Lisboa que o futuro Prêmio Nobel da Literatura se tornaria
"operário da escrita", como tradutor, jornalista e romancista
profissional.
Com uma linguagem solene,
na qual o narrador assume a objetividade distante de um relator oficial,
Saramago combinou a força da linguagem oral com recursos estilísticos de traços
barrocos.
O resultado é uma obra
irônica e moralista em que a humanidade é dissecada pela pena sarcástica do
autor, disposto a mostrar a falta de lucidez e a crueldade dos homens e de suas
utopias.
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Ana Miranda prepara livro sobre Xica da Silva. FOLHA SP 13/03
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Título vai mesclar
biografia e ficção, marcas da carreira da escritora cearense
Autora é convidada do
quinto Festival da Mantiqueira e vai debater com estudantes o livro "Dias
e Dias"
DE SÃO PAULO
Misturar fatos históricos
e ficção é algo comum na carreira de Ana Miranda.
Em "Boca do
Inferno" (1989), seu romance mais conhecido, a autora inspirou-se no
universo literário do padre Antônio Vieira (1608-1697) e do poeta Gregório de
Matos (1636-1695) para recriar a Bahia do final do século 17.
Agora, prepara a
biografia da escrava Xica da Silva (1732-1796), que a editora Leya deve lançar
no segundo semestre deste ano. Mas, se tratando de Ana Miranda, já podemos
esperar a ficção se intrometendo no relato.
"Vai ser uma
biografia, mas não pura, pois sou romancista. As partes ficcionais são
diferenciadas por letras em itálico", conta ela.
A interação entre
biografia e romance é um dos temas da palestra que a escritora fará no Festival
da Mantiqueira (confira a programação abaixo). Em um encontro com estudantes,
ela vai comentar "Dias e Dias", que tem como protagonista o poeta
Gonçalves Dias (1823-1864).
"Muito mais do que
Gregório ou Gonçalves Dias, meu interesse é pelas palavras levantadas através
das obras desses literatos. Nesse sentido sou, mais do que romancista, uma
arqueóloga que desenterra palavras", afirma.
No trabalho sobre Xica da
Silva, ela ficou atraída pela ideia de representar uma mulher de personalidade
"inesgotável" em meio à exploração do ouro em Minas Gerais.
"O processo da
transformação da escrava em uma mulher livre e poderosa, através do amor e do
sexo, é repleto de lances dramáticos."
Miranda tem mais dois
projetos para este ano. O infanto-juvenil "Carta da Vovó e do Vovô",
a ser lançado no segundo semestre pela Armazém, e a adaptação de "Boca do
Inferno" para o cinema.
"Sei que a
literatura e o cinema são linguagens diferentes, tudo muda. Mas são mudanças
maravilhosas. Estou revivendo o livro, e ainda gosto dele. "
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Livro questiona a mitificação de Zumbi. FOLHA SP 08.05
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Para autores, feriado da
Consciência Negra (20/11), celebrado no dia da morte do quilombola, esvazia 13
de Maio
Editora Três Estrelas
lança ensaio polêmico sobre como imagem do herói tornou-se ícone de todas as
minorias
Edson Silva/Folhapress
Ricardo Alexandre
Ferreira (em pé) e Jean Marcel França
PAULO WERNECK
EDITOR DA “ILUSTRÍSSIMA”
A história absolveu
Zumbi. Mais que isso, deu-lhe um lugar de destaque no panteão nacional: 315
anos depois da queda de Palmares, aniquilado pelo bandeirante Domingos Jorge
Velho, o herói negro dá nome a tudo, de universidade a banda de rock.
O dia de sua morte, 20 de
novembro, é um feriado cada vez mais celebrado -o dia da consciência negra vem
contribuindo para o "esvaziamento" do 13 de maio (Abolição) e sua
protagonista branca, a princesa Isabel.
Em abril, o Supremo
Tribunal Federal referendou as cotas raciais nas universidades, uma vitória
inequívoca dos movimentos que têm em Zumbi o seu mártir.
A unanimidade do mito,
porém, é bastante recente. E, como mostram os autores do recém-lançado
"Três Vezes Zumbi", os historiadores Jean Marcel Carvalho França e
Ricardo Alexandre Ferreira, as feições do herói mudam conforme as conveniências
ideológicas de cada geração.
Ao mostrar como uns e
outros "construíram" seus próprios Zumbis, eles lançam uma fagulha de
provocação às vésperas do 13 de Maio. Ou, como disse Ferreira à Folha, põem
"uma pulga atrás da orelha" do leitor dos livros de história, para
não comprar o que lê pelo valor de face.
Na tese dos autores, a
"canonização" recente do líder quilombola, que o transformou num
porta-bandeira dos oprimidos, é uma "construção" histórica. A
ausência de dados biográficos sobre um homem cuja existência deixou poucas
pistas facilitou a inclusão de capítulos fantasiosos na narrativa.
Mais pop do que nunca na
era Lula, Zumbi tem figurino apropriado para o momento político -daí, talvez, o
interesse recente em sua figura. "É um outro Brasil que está contando o
seu passado, inventando o seu passado", disse França à Folha. "A
elite branca tradicional de Higienópolis já inventou o seu passado há muito
tempo. Já tem a mitologia."
Como exemplo da conversão
de Zumbi em ícone de todo tipo de minorias, França e Teixeira citam a tese de
Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, que retratou Zumbi como homossexual.
Esse
"anacronismo", escrevem os autores, "faria um historiador como
Lucien Febvre revirar no túmulo".
Mott disse à Folha que
não teve "o beneficio da dúvida" e que os autores "nem
desconstruíram sequer uma das cinco pistas" apresentadas por ele de que
Zumbi seria gay. Não há, diz, "nenhuma prova de que o mitológico líder
quilombola era heterossexual". O antropólogo diz que França e Teixeira
estão "dominados pela ideologia heteronormativa".
ESQUERDA
O elo com a causa gay,
mostram eles, vem de uma "construção" mais ampla: no século 20, sua
rebeldia vinha a calhar como herói romântico da esquerda. França e Teixeira
criticam o messianismo de autores como Décio Freitas e Joel Rufino dos Santos,
que fixaram a atual "perspectiva verdadeira" de Zumbi.
Historiadores ligados ao
movimento negro também são questionados. França e Teixeira recriminam o endosso
de Flávio dos Santos Gomes a passagens fantasiosas escritas por Freitas,
baseadas "em supostas cartas que só ele [Freitas] leu", como aquela
que descreveria a infância de Zumbi como coroinha.
O líder imantado pela
esquerda é o terceiro dos três anunciados no título. Antes dele, vêm o dos
séculos 17 e 18, ameaça ao empreendimento colonial português, e o do século 19,
providencialmente posto de lado pelos bem-pensantes na construção da identidade
nacional.
O mesmo poderia ser feito
com outros heróis. Para França, temos fascínio por figuras
"desviantes", como Zumbi ou Tiradentes, e relegamos figuras "da
ordem", como a princesa Isabel. "Não sabemos fazer uma história da
norma."
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A reviravolta europeia. Coluna Econômica do Luiz Nassif 08/05/2012
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No primeiro dia de
funcionamento, após a vitória dos socialistas na França, as bolsas de valores
mundiais subiram. Sinal de que nem os mercados acreditam mais nas receitas
recessivas que vêm afundando sucessivas economias.
A vitória de François
Hollande tira da frente recessiva uma das três maiores economias, a francesa.
Insistem no endurecimento fiscal apenas a Alemanha e a Grã-Bretanha. Mas os
ecos da vitória de Hollande em breve baterão às portas dos dois governantes.
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O discurso de Hollande
foi simples: “A austeridade não precisa ser o destino da Europa”, defendendo a
ideia de que o crescimento é a fórmula para, tirando os países europeus da
recessão, melhorar a própria receita fiscal. Hollande foi além. Na sua
campanha, prometeu tributar os super-ricos, impedir o desmonte do estado de bem
estar social.
Trata-se de uma luta
inglória para os recessistas. Propõem uma política econômica que penaliza o
cidadão, o contribuinte, extermina direitos sociais. E não entrega o prometido:
a volta à normalidade econômica.
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No fundo, são dois os
caminhos:
1. Enorme ajuste fiscal. Consegue-se algum
equilíbrio no primeiro momento. Depois, o tamanho do ajuste pode derrubar a
atividade econômica. Caindo a atividade econômica, cai a receita fiscal e
entra-se no pior dos mundos.
2. Estímulos à economia que permitam o
equilíbrio fiscal através do aumento da arrecadação, e o aumento da arrecadação
através do aumento da atividade econômica.
3. O risco do Passo 2 é se errar demais na
mão dos incentivos e a recuperação da atividade econômica não bastar para repor
a arrecadação fiscal.
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Com Sarkozy, é sepultado
o discurso da intolerância, os benefícios aos super-ricos, os cortes sociais, o
pensamento anti-imigração. E emerge a alternativa da recuperação dos direitos
sociais e do equilíbrio fiscal através do crescimento.
O discurso de Holland já
ecoa no Partido Socialista alemão, que se prepara para as eleições do próximo
ano. O primeiro ministro italiano Mário Monti já pede um plano de crescimento.
E observadores europeus têm esperanças de que no próximo encontro com Holland,
a alemã Ângela Merkel saia um pouco do seu dogmatismo.
No mês passado, a
presidente brasileira Dilma Rousseff já sentiu Merkel bastante curiosa em
relação a fórmulas alternativas de enfrentar a crise fiscal.
Caso haja uma aproximação
entre Merkell e Holland, haverá o isolamento do primeiro ministro britânico
David Cameron.
Recentemente, Cameron
cometeu a indelicadeza de não receber Holland, pensando em isolar o líder
socialista francês.
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Este ano será importante
para mostrar a viabilidade do caminho indicado por Holland, de não recessão,
mas com cautela. Tem-se hoje uma Europa sem rumo, o que favorece movimentos de
intolerância em um continente que já se rendeu aos ventos mais destrutivos do
século 20.
Caso a fórmula Holland dê
certo, haverá um novo rumo a pavimentar a pacificação europeia e sua
viabilização como bloco econômico.
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EMBARGOS CULTURAIS
Edward Said e a invenção
do Oriente. www.conjur.com.br
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O intelectual palestino
Edward Said morreu de leucemia em 2003 após doze anos de luta contra a medonha
doença. Viveu desassossegado com uma identidade palestina que teimava em
formatar. Edward Said foi também um dos mais importantes críticos literários do
século XX.
Said nasceu em Jerusalém,
em 1935, cidade sagrada pelas religiões, profanada pela política, ultrajada
pela ganância, símbolo da vastidão e da exiguidade humanas. Said viveu em
ambiente pietista anglicano, comprovando que casamentos e adultérios de
Henrique VIII propiciaram doutrina que cativou até radicais levantinos.
Said foi criado no Cairo
e valendo-se da nacionalidade secundária norte-americana do pai viveu em Boston
e estudou em Harvard e em outras universidades norte-americanas. A partir de
1963, lecionou em Nova Iorque, ambiente cosmopolita que o albergou e que
presenciou sua morte.
Said sentia-se um
errante. Como todas as crianças, inventou e criou seus pais, família, história.
A riqueza do pai comerciante propiciou educação primorosa, elegante. Said
militou na Organização Pró-Libertação da Palestina, da qual se afastou em
oposição a Arafat, decepcionado que ficara com a corrupção das elites árabes.
Crítico da cultura, Said
concebeu o oriente como invenção funcional do ocidente. Esse último caricaturou
aquele primeiro, opondo progresso e atraso, civilização e barbárie. Romantizado
em túnicas, camelos e sabres e sistemáticas orações prostradas para a cidade do
Profeta, o oriente protagoniza estereótipos que justificam carnificinas, como
recentemente vê-se em Bagdá.
É este o grande mote de
seu mais importante livro, Orientalismo, publicado em 1978, e que foi traduzido
em várias línguas. A tese consistia na concepção do oriente como uma invenção
do ocidente, premissa empiricamente comprovada em farta pesquisa bibliográfica.
Trata-se de um livro apaixonante.
Edward Said foi também um
ativista de causas nobres e apontou para os enigmas da globalização perversa.
Denunciou esse palco sangrento no qual os descontentes com a paz matam em nome
de verdades messiânicas, tradutoras da ganância e da miserabilidade de uma
existência centrada na burrice destruidora de espaços pluralistas e
compreensivos. São esses poderosos que manipulam a cultura, criando uma falsa
ética a partir de uma duvidosa estética, dimensionando a gangrena moral de
nosso tempo.
Depois da obra de Said,
nossa concepção do outro nunca mais foi a mesma. O outro é uma invenção nossa
e, portanto, é um pouco de nós mesmos. Na teoria da cultura, que também
transita nos valores do justo e do direito, a concepção de Said é comprovada
pelas figuras imaginárias que frequentam ambientes que não conhecemos.
Quando Said morreu,
ouviu-se um estranho ruído. É que os anjos choraram, enquanto os ainda
perversos comemoravam um mundo cada dia mais vazio de idealistas e de humanistas.
Edward Said foi um
humanista, porque acreditava em valores permanentes entre os seres humanos. E
também foi um idealista, porque acreditava que o combate em frentes culturais
substitui a irracionalidade das guerras e a perversidade da exploração humana.
Arnaldo Sampaio de Moraes
Godoy é consultor-geral da União, doutor e mestre em Filosofia do Direito e do
Estado pela PUC-SP.
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