quarta-feira, 2 de maio de 2012
Na rede social, Brasil está no básico.
Valor Econômico - 02/05/2012
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O apresentador chama a
"ajudante de palco", em trajes mínimos, e suplicando, pede uma ajuda
aos telespectadores. "Entrem no Twitter e coloquem a Juju [a garota em
pose parada no meio do palco]
no Trending Topics, por favor.
Nos ajudem!", repetia em programa ao vivo dias atrás. Se estivesse no
grupo dos 10 assuntos mais comentados no Twitter no país, Juju poderia pleitear
um vaga no primeiro "reality show" transmitido pelo Facebook. Marcos
Mion, apresentador do programa "Legendários", da TV Record, estava
fazendo campanha para o desodorante Axe, da Unilever, usando o Twitter. E
conseguiu por a Juju no ranking dos assuntos mais comentados dessa rede social.
Meios de comunicação e
anunciantes usam geralmente Facebook, Orkut, You Tube e Twitter para atingir
algum nível básico de interação com o consumidor. Querem ganhar visibilidade
inicial - somar fãs ou seguidores. Mais da metade das ações hoje no país não
passa muito disso. Entre 30 campanhas brasileiras mais acessadas no Facebook em
abril, 26 são promocionais ou material copiado do que já foi veiculado na TV,
segundo levantamento do Valor.
Dos US$ 51,9 bilhões investidos
em campanhas na web no mundo em 2011, US$ 24 bilhões foram ações que envolveram
promoções, segmento que responde pela maior fatia do bolo, segundo o site da
revista "Adweek". Hoje, no Brasil, quem acessa campanhas no Facebook
e recomenda o conteúdo a outras pessoas participa do sorteio de kits de higiene
bucal, nécessaires com batons, amostras grátis de sabão líquido e, de vez em
quando, viagens ao Nordeste. O que se fazia na TV é feito na internet.
Os anunciantes querem "buzz
marketing", o buxixo, dizem executivos da área. "É o jeito mais fácil
de se conseguir visibilidade. Busca-se volume de fãs e seguidores porque muitas
vezes é isso que o anunciante pede", diz Fábio Tachibana, diretor de mídia
digital da Giovanni+Draftfcb. "A maioria das empresas ainda não tem plano
de marketing para mídia social. E o retorno do capital investido ainda é feito
de maneira muito básica", observa. "A questão é que hoje se quer
interagir, e em certas ações na mídia, só a marca fala. Isso não gera conteúdo,
engajamento, algo que envolve quase um trabalho de catequização e retorno a
longo prazo", diz Daniel Sollero, coordenador criativo de mídia social da
WMcCann.
As formas de cálculo dos retornos
dos investimentos ainda caminham lentamente. O Brasil está atrás de mercados
como Estados Unidos e Inglaterra. "Ainda somos muito quantitativos nessas
análises. A ideia é que em alguns anos cresça, em paralelo, as avaliações
qualitativas", diz Luiz Lara, presidente da Abap, associação das agências
de publicidade.
Em outras palavras, um internauta
que tenha uma imagem positiva de uma marca e meia dúzia de seguidores, que
sejam formadores de opinião, podem ter mais peso numa análise final de retorno
do capital aplicado do que outro, com algumas dezenas de amigos pouco
influentes.
As análises focadas em
quantidade, as "activity-based", incluem número de fãs, por exemplo.
As "result-based" avaliam conversas de internautas. No Brasil usa-se,
em geral, de 3 a 4 métricas para se medir o retorno de um investimento na web.
Em mercados mais avançados, chega-se a usar 48.
Entre as mais básicas estão o
valor de um "curtir" (opinião favorável) do Facebook (divide-se o
número de "curtir" versus o volume de vendas feitas pelo site da
rede) e o número de citações positivas da marca nas discussões sobre o mercado
em que a empresa atua.
Outros indicadores simples já são
usados localmente, como a "métrica de sentimento": as citações
positivas, negativas ou neutras de uma marca em relação ao total de menções.
Mas não passa muito disso. "Algumas vezes, o cliente não está interessado
numa análise mais minuciosa. E muitas vezes, as agências não fazem, em sua
maioria, um trabalho completo para calcular o uso dos recursos em mídias
sociais", diz um diretor de agência.
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Para ONU, economia verde ditará Rio+20.
O Estado de S. Paulo - 02/05/2012
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Alto funcionário diz que entidade
busca acordo que mobilize recursos para transição de modelo; custo anual, até
2050, seria de US$ 1,3 tri
A Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, marcada para junho, terá êxito se
conseguir fechar um acordo que mobilize recursos para financiar uma transição
nos próximos anos do atual modelo econômico para a chamada economia verde. O
alerta é de um alto funcionário da ONU, que não quis se identificar, ao Estado.
Segundo ele, está claro que a maior parte desses recursos não virá de governos,
e sim do setor privado. Cálculos do Pnuma, o programa da ONU para o meio
ambiente, indicam que o custo poderia ser de pelo me-nos US$ 1,3 trilhão por
ano, até 2050.
O investimento de 2% do PIB
mundial durante quatro décadas, segundo a ONU, fi-nanciará a maior revolução na
estrutura da sociedade promovida pelo homem em séculos. Nenhuma área será
pou-pada: essa transição exigirá reformas na produção indus-trial, agricultura,
transporte, educação, no combate à pobreza e no estilo de vida dos países mais
ricos.
Se o custo é alto, a ONU estima
que a Rio+20 pode significar também a abertura de novas oportunidades de
negócios. Nos bastidores da entidade, multinacionais, grupos privados e fundos
já procuraram o secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon, para alertar que
estariam prontos para anunciar investimentos importantes durante o evento no Rio
de Janeiro. Mas, para isso, alertam que precisarão obter dos governos um
compromisso de como ocorrerá essa transição, quais as metas e o nível de
responsabilidade de cada grupo de países.
No gabinete de Ban, a constatação
é de que, duas décadas após a Conferência do Rio em 1992, o novo encontro
mostrará que “o centro de gravidade” para realizar a transição para uma
economia verde passou dos governos para o setor privado. “Há muito dinheiro
esperando a definição de regras para ser investido na economia verde”, admitiu
um alto funcionário da ONU. Diante das incertezas na economia mundial e da
queda no consumo em países ricos, a estimativa é de que multinacionais estariam
sentadas sobre cerca de US$ 6 trilhões a US$ 8 trilhões. Na avaliação da cúpula
da diplomacia da ONU, não há dúvidas de que parte desse dinheiro migrará para
oportunidades de negócios na economia verde, uma vez estabelecido o arcabouço
do acordo.
“O sucesso do Rio será medido na
quantidade de recursos que o setor privado conseguirá mobilizar nos próximos
dois anos e como vai determinar a estrutura da economia mundial por décadas”,
indicou o alto funcionário da ONU.
Acordo. Diante desse cenário, a
prioridade da ONU nas próxi-mas semanas será o de convencer governos a deixar
detalhes do acordo final para os dias do encontro e tentar fechar o mais
rapidamente possível as grandes linhas
do compromisso final. Em Genebra e Nova York, ninguém duvida de que a
negociação chegou em seu momento mais crítico. Mas o apelo de Ban a todas as
missões é de que coloquem suas diferenças de lado para que haja, o quanto
antes, um acordo de princípios. A esperança é de que isso crie um clima de
confiança no setor privado de que a conferência terminará com pelo menos algum
êxito para, portanto, anunciar seus investimentos. “Chegou o momento crítico da
negociação”, alertou um nego-ciador da ONU ao Estado. O secretário-geral da
ONU, Ban Ki-moon, porém, está oti-mista. Em conversa com um grupo de
jornalistas em Gene-bra, há poucos dias, ele assegu-rou que a Rio+20 será um
su-cesso. “Não é exagero dizer que será a c onferência mais importante da
história da ONU”, assegurou.
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Vez da diversidade. O Globo - 02/05/2012
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A legitimidade jurídica e
simbólica concedida pelo STF às políticas de cotas nas universidades abriu um
importante precedente para que caminhemos na direção do reconhecimento da
diversidade, pluralidade e heterogeneidade da constituição de nossa nação
As primeiras políticas públicas
de fomento às ações de discriminação positiva se deram na Índia Colonial,
implementadas pela administração britânica, com a finalidade de suprimir as
desigualdades ocasionadas pelo sistema de casta em vigor, à época. Estas
primeiras investidas de estabelecimento de cotas, diante do valor hierárquico e
desigual do regime de castas no período, resultaram em fortes reações das
denominadas castas altas contra as castas baixas.
Décadas depois, o sistema de
cotas, com a constituição de mecanismos de inclusão de minorias na década de 60
do século XX nos EUA, foi objeto de políticas públicas dirigidas a suplantar as
desigualdades provocadas pela escravidão e, posteriormente, o sistema
segregacionista que vigorou durante décadas nos EUA. Tal experiência foi
replicada, com algumas alterações, em diversos outros Estados nacionais
contemporâneos.
No entanto, países como a França
e o Brasil, por exemplo, foram durante anos refratários à constituição de
mecanismos que visassem a superar as desigualdades de cunho étnico/racial. Na
França, em particular, a ideologia republicana foi, e continua sendo, uma
barreira ao reconhecimento dos direitos das minorias, diante da invisibilidade
política de que gozam no espaço público. A recusa a incluir categorias raciais
no Censo e a proibição do uso do véu e da burca nas escolas e, atualmente, nas
ruas expõem as dificuldades da França em reconhecer sua pluralidade.
No Brasil, a nossa extemporânea e
deslocada autoimagem de uma democracia racial forjou uma visão míope quanto aos
efeitos de um regime escravocrata que vigorou até meados da fundação de nossa
República. Ao contrário do que ocorreu em países como a Índia, os EUA e, mesmo,
a França, as populações provenientes do regime escravista foram objeto de
políticas de exclusão de acesso aos bens primordiais do mercado, como a
educação, a terra e o trabalho. A ideologia da democracia racial, tão cara à
formação de nosso Estado-nação, foi uma dura barreira para o reconhecimento de
desigualdades geradas por um sistema cujos grupos étnicos que compuseram nossa
identidade nacional foram alijados do sistema político, econômico e simbólico.
Todavia, a partir dos anos 90 do
século passado, assistimos no Brasil a diversas ações afirmativas no âmbito das
políticas públicas, como as reservas de vagas nas universidades, as políticas
de titulação de terras das comunidades indígenas e quilombolas, as políticas
educacionais diferenciadas dirigidas às populações tradicionais, entre outras,
conformando um novo cenário político.
Um país justo e democrático deve
conceder o direito de manifestação das múltiplas formas de expressões
identitárias, reconhecendo que barreiras étnicas e raciais compõem as variáveis
que culminam na exclusão e na desigualdade, bem como fazendo com que direitos
diferenciados possam propiciar o aperfeiçoamento do sistema democrático,
suplantando o malefício da desigualdade histórica e estrutural.
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Infraestrutura: o foco na qualidade dos serviços públicos. CORREIO BSB 02/05
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No momento em que as ações de
implantação, reestruturação e expansão da infraestutura de serviços públicos no
país constituem tema prioritário na pauta governamental, algumas questões
intercorrentes vêm à tona, demandando atenção dos responsáveis pelos processos,
na fase de estruturação.
Em palestra proferida no Fórum
Brasileiro de Contratações Públicas e Infraestrutura (O Controle nas Obras da
Copa do Mundo de 2014 %u2013 Brasília, março/12), o ministro relator da Copa,
Valmir Campelo, do Tribunal de Contas da União, abordou os investimentos em
andamento nos estádios, aeroportos, portos, mobilidade urbana, turismo,
segurança e negócios.
Na ocasião, o ministro destacou a
importância do momento histórico atual, adequado não apenas à implantação da
infraestrutura específica de apoio aos eventos esportivos, mas também enfatizou
a necessidade e oportunidade de efetivar investimentos mais perenes em setores
de infraestrutura tradicionalmente carentes, que beneficiarão a longo prazo o
usuário dos serviços públicos.
Nessa linha, o Executivo federal
divulgou recentemente o PAC Mobilidade %u2013 Grandes Cidades, com execução
atrelada à Lei 12.587, em vigor desde 13/4/12. Noticia-se a programação de
vultosos investimentos em setor que constitui um dos principais gargalos da
infraestrutura dos municípios mais populosos.
Nesse contexto, um dos aspectos
de discussão mais recentes versa sobre a questão do valor de outorga nas
concessões. Ora, o valor de outorga não tem a finalidade precípua de produzir
receita para o poder concedente, mas de remunerá-lo por investimentos
preexistentes à delegação, efetivados na implantação da infraestrutura
necessária à prestação dos serviços.
Por isso, esse critério de
julgamento se justifica na medida em que o investimento mínimo necessário à
prestação do serviço já tenha sido efetivado pelo poder concedente previamente
à licitação, ou seja, quando a infraestrutura se encontre implantada e o
concessionário dela vá se utilizar para prestar os serviços delegados.
Quando não for este o caso, a
previsão do pagamento de valor de outorga merece avaliação, pois encarece o
custo da proposta, onerando o concessionário, e a final, o próprio serviço. Nos
primeiros processos de concessões de rodovias tal critério mostrou-se ineficaz,
noticiando-se hoje a tendência da adoção do menor valor da tarifa.
Evidentemente, não seria o valor de outorga o único motivo das distorções indesejadas,
que comprometeram o êxito esperado para tais delegações, mas é certo que a
variável comportará revisão em processos futuros.
Enfim, o critério de julgamento
em qualquer licitação deve ser eficaz para os fins a que se destina o próprio
certame: selecionar a proposta mais vantajosa para a administração (nas
delegações, entenda-se, ao usuário final e beneficiário dos serviços públicos).
A obtenção de benefícios e
melhorias na qualidade da prestação do serviço público, em proveito do usuário,
constitui essência da delegação. O mote desses processos apoia-se justamente na
perspectiva de beneficiamento da infraestrutura da prestação do serviço, de sua
qualidade, simultaneamente à modicidade da tarifa.
Segundo a Lei 8.987/95, serviço
adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas. A missão do poder concedente nas delegações é
viabilizar e tutelar tais princípios, sob pena de comprometer a legitimidade da
própria razão. Enfim, o foco deve sempre repousar nos possíveis resultados.
O Tribunal de Contas de União tem
estado alerta a esse aspecto. No julgamento do 2º estágio de fiscalização da
privatização dos aeroportos, o ministro relator, Aroldo Cedraz, destacou dois
pontos de preocupação por ele já externados por ocasião dos julgamentos
relativos ao 1º estágio de fiscalização.
Um deles referia-se ao ganho de
produtividade e à incidência do Fator X, que consiste num percentual para incidência
do repasse de ganhos de produtividade, do concessionário, aos usuários. No caso
dos aeroportos, o nível de qualidade dos serviços, conforme compromissado no
PQS (Plano de Qualidade dos Serviços), repercutirá no mecanismo de reajuste
tarifário, de forma que o denominado Fator QQ funcionará como limitador dos
reajustes, nos casos e na extensão em que os padrões de qualidade não forem
atendidos.
Assim, nesta nova etapa de
expansão da infraestrutura nacional, é fundamental reviver as experiências e
privilegiar o princípio da finalidade das delegações, cuja essência repousa,
enfim, na qualidade dos serviços.
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INTOLERâNCIA »
Polícia identifica e intima suposto racista. CORREIO BSB 02/05
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Para os investigadores, não
restam dúvidas de que um médico de 62 anos é o autor das ofensas a uma
atendente de bilheteria de um cinema da Asa Norte, no domingo passado. A Ordem
dos Advogados do Brasil vai acompanhar o caso e exige punição exemplar
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Entre outras coisas, Marina
Serafim dos Reis ouviu que deveria estar na África, cuidando de orangotangos,
em vez de vender bilhetes
A Polícia Civil identificou o
homem acusado de discriminação racial em um shopping da Asa Norte. Por meio de
imagens dos arquivos da instituição e da internet, reconhecidas pela vítima e
testemunhas, os investigadores da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central)
chegaram ao médico Heverton Octacílio de Campos Menezes, 62 anos. As agressões
teriam ocorrido após ele chegar atrasado para a sessão de um filme e querer
passar à frente de outros clientes na fila para comprar o ingresso, na tarde de
domingo. Furioso, o homem disparou ofensas à bilheteira Marina Serafim dos
Reis, 25 anos. Entre outras coisas, falou que ela deveria estar na África,
cuidando de orangotangos.
A equipe policial descobriu ainda
que o suspeito tem uma clínica no Lago Sul, é doutor em psicanálise e
palestrante. A intimação para depor foi encaminhada ontem ao suspeito. A Ordem
dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF) vai acompanhar o caso. E
essa não é a primeira vez que Campos Menezes se envolve em um episódio de
racismo, segundo a polícia. Ele foi acusado, em 2002, de ofender uma mesária
eleitoral, também por ter que esperar a vez na fila. “Isso aqui parece uma
republiqueta das bananas e você a representa muito bem, sua negrinha”, teria
dito o homem à senhora negra, por ela ter dado preferência às grávidas e aos
idosos na hora da votação. A polícia não informou o desfecho da acusação. No
site do Tribunal de Justiça, não há dados sobre esse processo.
A vítima mais recente prestou
depoimento ontem ao delegado Ailton Rodrigues, plantonista da 5ª DP. Ela
identificou o acusado por meio das fotos mostradas pelos investigadores.
Rodrigues enfatizou que a procura pelo suspeito começou quando a denúncia
chegou à unidade, no domingo. Campos Menezes fugiu do shopping após os clientes
reagirem com indignação aos xingamentos dele. Imagens do circuito interno de TV
do centro comercial mostram um homem correndo entre as lojas depois da confusão
na fila do cinema. Ele seria o médico. O delegado aguarda o recebimento do
vídeo para mandá-lo à perícia e saber se usará ou não como prova.
No entanto, Ailton Rodrigues diz
ter elementos suficientes para intimar Campos Menezes. “Identificamos onde ele
mora e trabalha e encaminhamos a intimação. Escutamos a vítima, testemunhas e
temos que ouvir a outra parte”, ponderou. Para o delegado, que é negro, o
suposto crime é repugnante. “Não posso negar que por ser negro também me senti
ofendido, mas um delegado tem que ser imparcial, ver os dois lados e procurar a
verdade dos fatos”, comentou. A intimação foi entregue ao acusado na tarde de
ontem.
Medo na família
Marina Serafim deseja justiça.
“Ele disse que meu lugar não era ali, lidando com gente. Falou que eu deveria
estar na África, cuidando de orangotangos”, lembrou. Porém, a família dela está
teme represália. “Meus pais ficaram temerosos que algo pior aconteça comigo.
Mas pretendo entrar com uma ação (indenizatória) na Justiça”, afirmou. O
psicanalista deve responder por injúria racial, que prevê reclusão de até três
anos e multa. Se condenado, terá a pena acrescentada em um terço porque cometeu
o crime na presença de outras pessoas.
Campos Menezes poderia ficar mais
tempo na cadeia, se a polícia e a Justiça entenderem que ele praticou o crime
de racismo. Nesse caso, a punição é mais severa, com prisão de até cinco anos e
inafiançável. O advogado criminalista Antônio Alberto do Valle Cerqueira diz
que o delegado agiu corretamente. “Um exemplo de racismo é quando um negro é
impedido de almoçar em determinado restaurante. O autor está segregando essa
pessoa. Na injúria, o agente deseja somente prejudicar a imagem do outro. Isso
pode acontecer com negros, portadores de deficiências ou idosos.”
A reportagem tentou entrar em
contato com o psicanalista, mas ele não foi encontrado. Na internet, ele
aparece em vídeos apresentando seminários com temas da psicanálise. Menezes é o
chanceler-secretário de relações internacionais da Associação da Refundação
Psicanalística Internacional (Arpi).
O presidente da OAB-DF, Francisco
Caputo, reagiu indignado ao caso de injúria racial. Ele vai destacar a Comissão
de Direitos Humanos da instituição para acompanhar o caso. “Vamos estimular o
Ministé. Vrio Público e a polícia para dar uma resposta enérgica até para
desestimular outras pessoas a cometerem algo tão absurdo”, afirmou.Ele
ressaltou que o acusado, pela sua qualificação, deveria dar exemplo. “Se fosse
no século passado, já seria motivo de repúdio, mas, nos dias de hoje, partindo
de uma pessoa altamente esclarecida, é mais deplorável.”
A coordenadora do Movimento Negro
Unificado no DF, Jacira da Silva, ressaltou que Marina foi corajosa ao
denunciar o caso e que ela não estará sozinha. “Precisamos dar um basta na
discriminação e no ódio racial.”
Três perguntas para
Romualdo Sanches Calvo Filho,
presidente a Academia Paulista de Direito Criminal
Quais elementos devem estar
presentes em uma onduta para enquadrá-la como injúria racial
e como racismo?
Na injúria, além da alusão à cor,
etnia, religião, origem, entre outras questões, o ofensor acrescenta algo
pejorativo. Para dar um exemplo, se você diz “nordestino burro”, comete uma
injúria. Porque não está discriminando, ainda que diga de forma pejorativa, a
origem do outro, você está chamando o outro de burro e acrescentando a questão
da origem. Mas se você fala “no meu estabelecimento não entram nordestinos”, aí
é racismo puro, não há o que discutir. Mas note que é uma diferença muito sutil,
difícil até de explicar, de entender. Vai depender muito do caso concreto, da
interpretação que se faz.
Essa subjetividade da lei
dificulta sua plicação por parte dos operadores do direito?
Sem dúvida. Fica muito a cargo da
interpretação. No caso de Brasília, por exemplo, o delegado vai usar as
informações que ele tem para fazer uma pré-classificação do crime eventualmente
ocorrido. Mas o promotor e o juiz podem, a qualquer momento, modificar o crime,
caso entendam que a classificação da polícia não foi adequada. Vale ressaltar
que as penas são iguais, de um a três anos, em ambos os crimes, no caso de
primários. O que torna o racismo mais grave que a injúria é por ser
inafiançável e imprescritível. Mas a prisão em flagrante só ocorre quando há
continuidade na perseguição. Se houver interrupção, o ofensor não pode ser
preso.
Qual dos dois crimes, injúria ou
racismo, o senhor onsidera mais adequado para o caso ocorrido m Brasília?
É difícil falar sem conhecer os
detalhes. O que posso dizer sobre esses casos, de uma forma geral, é que as
vítimas devem lutar pela condenação dos criminosos e, depois, promoverem ações
de indenização. Até porque sabemos que a parte mais sensível do corpo humano é
o bolso. Na minha avaliação, o efeito educativo e ressocializador de uma
indenização, nesses casos, é maior que a prisão de poucos dias, que é o que
ocorre. Porque mesmo que a sentença dê a pena máxima, três anos, ela pode ser
substituída por prestação de serviços à comunidade ou pagamento de cestas
básicas. Qualquer pena de até quatro anos tem essa previsão.
Pichação contra cotas
A frase “A UFMG vai ficar preta”,
pichada diante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo
Horizonte, reacendeu a discussão sobre o racismo no meio acadêmico. Ela seria
uma alusão à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) favorável às cotas
raciais. A Pro-Reitora de Graduação, Antônia Aranha, afirmou que o caso será
investigado pela polícia e o Conselho Universitário. A UFMG não tem cotas, mas
oferece bônus de 10% do valor da nota alcançada para candidatos com no mínimo
de sete anos em escola pública. O estudante negro ou pardo tem direito a mais
um bônus de 5% da nota.
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