segunda-feira, 28 de maio de 2012


A concentração mundial do agronegócio
Blog: www.luisnassif.com.br  24/05/2012
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Há um fenômeno global de concentração econômica na área agrícola, a merecer atenção especial da parte do governo.

Essa concentração manifesta-se na cana, soja, pecuária e na laranja. Dá-se globalmente ao longo de toda a cadeia produtiva - de trás para diante, das redes de supermercados aos produtores de matéria prima.

No caso do suco de laranja, antes 200 engarrafadores adquiriam o suco brasileiro; hoje são  70, 15 dos quais compram 70% do suco brasileiro. No Brasil, eram 20 indústrias, hoje são 3, respondendo por 98% da produção de suco brasileiro e 83% das exportações mundiais. 51 produtores detêm 40% das árvores plantadas; outros 12 mil ficam com o restante.

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Esta é a explicação da Citrus (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) para os conflitos com a Associtrus (Associação Brasileira dos Produtores de Laranja).

A produção de laranja é dividida em três grupos:  produção própria, produtores com contratos de longo prazo e produtores que vendem no mercado à vista.

Quando os preços melhoram, há queixas dos produtores com contratos de longo prazo e alegria dos produtores spot. E vice-versa, quando os preços despencam.

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Segundo ele, até 1994 o setor era regido por um contrato-padrão: todos compravam laranja baseados na variação dos preços de Bolsa e performados nos Estados Unidos.

Na época, um grupo de citricultores denunciou o contrato ao CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico), alegando formação de cartel, já que todos, pagando o mesmo preço, iriam contra as regras de concorrência.

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No modelo antigo, a usina se responsabilizava pela colheita e transporte da laranja. Pelo novo sistema, esse custo passou a ser dos citricultores. Muitos não conseguiram assimilar o novo modelo e pretenderam voltar ao contrato-padrão. Mas havia o veto do CADE.

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O pano de fundo dos conflitos - segundo ele - é a queda mundial do consumo do suco de laranja. Há 10 anos, o mundo tomava 2,7 milhões de toneladas de suco por ano; no ano que vem, serão apenas 2 milhões. O Brasil exporta 98% do suco que produz e tem conseguido manter o mesmo nível de exportações devido ao declínio das exportações norte-americanas.

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No ano passado uma superssafra de laranja forçou o primeiro acordo setorial do setor. A safra de 428 milhões de caixas foi a maior dos últimos 15 anos. O Ministério da Agricultura deu um crédito de R$ 80 milhões a juros baixos para manter o suco estocado nos tanques dos produtores.

A maior vantagem do acordo foi impedir que essa estocagem fosse vista lá fora como manobra especulativa, já que servia de garantia para o empréstimo.

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Em geral, depois de um ano de boa safra as árvores ficam cansadas, e segue-se uma safra menor.

Para aumentar os problemas do setor, a safra deste ano promete repetir a do ano passado. Há o risco de se perder  50 milhões de caixas - correspondendo à produção dos que não têm contratos de longo prazo.

Essa supersafra ocorre em um momento em que mercados norte-americano, europeu e japonês enfrentam quedas históricas.

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São dois desafios pela frente. O primeiro, como estabelecer isonomia entre os fornecedores e compradores brasileiros nesses setores oligopolizados. O segundo, como resolver os nós da produção de laranja.

Mercado de Rotterdã

Uma das queixas da Associtrus é sobre o poder de mercado dos produtores de suco, que dominam a Bolsa de Nova York - base para a fixação de preços no spot.

Segundo Lohbauer, a Bolsa não é tão importante. Já representou 70% do comércio mundial, hoje em dia não mais que 15%.

70% das exportações brasileiras são para a União Européia. cujas cotações baseiam-se nos preços spot e nos contratos do mercado de Rotterdã.

Aumentando o consumo

Internamente, a preferência ampla é pelo suco de laranja fresco.

Esta semana, uma consultoria internacional iniciou estudos em 12 mercados para analisar as razões para a queda do consumo de suco de laranja. O problema é que o suco é uma commodity, vendido no atacado. Na sequência, há os engarrafadores - Coca e Pepsi nos EUA, 15 grandes na Europa - e, na ponta final, os supermercados, cada vez mais concentrados.



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Os desafios da manufatura do século 21.   Blog: www.luisnassif.com.br- 25/05/2012
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Como será a manufatura no século 21?

Essa talvez seja a questão que vale uma nação. Quem acertar, pega o bonde do desenvolvimento. Quem errar, marca passo.

O próprio Estados Unidos, com suas inúmeras think tank esbarrou em um erro monumental de análise. Definiu o que seriam as indústrias de ponta, concentrou nelas o esforço estratégico e permitiu que as indústrias da geração anterior – automobilística, eletroeletrônica etc. – se transferissem para a Ásia.

O resultado foi a perda do dinamismo do mercado interno e a enorme crise que se sucedeu ao fim da bolha de crédito.

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Mesmo assim, o enigma continua à espera de quem o desvende.

Discussão relevante ocorreu na 2a Conferência de Inovação Brasil-EUA,
“Parcerias para  a prosperidade no século 21”, promoção conjunta da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), MBC (Movimento Brasil Competitivo) e Compete (Council on Competitiveness).

O ponto central da mesa foi discutir se os dois países estão preparados para liderar a manufatura do século 21, se existem condições objetivas de parceria estratégica. E também sobre o papel da Universidade e do sistema educacional científico nessa batalha.

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A conclusão da mesa é que onde houver mão-de-obra intensiva, a China é absoluta. Mas países com tecnologia avançada têm condições de manter um setor manufatureiro robusto.

David Arkless, presidente de uma empresa de Recursos Humanos com mais de 4 milhões de funcionários, estimou que cerca de 250 milhões de pessoas vivem fora de seus países de origem por causa do trabalho. Especialmente após a grande crise de 2008.

Arkless rebate a visão de que os EUA se tornaram a única e verdadeira economia de serviços do mundo. Pesquisa recente de sua empresa estimou que o setor de manufaturas nos EUA deve crescer consistentemente nos próximos 15 anos, mas com um desenho diferente da manufatura tradicional.

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Opinião diversa foi apresentada pela General Eletric, através de Mark Little, vice-presidente senior. Nos áureos tempos da financeirização, com Jack Welch no comando, abriu uma série infindável de frentes. Agora, voltou a focalizar, desfazendo-se de inúmeras participações fora do seu foco.

Uma das reavaliações da GE foi sobre a importância de fazer a manufatura onde a tecnologia é desenvolvida, motivo que a levou a investir em fábricas em regiões pobres dos EUA. Certamente, a opinião da GE tem muito mais peso do que a de um head hunter.

Outra prioridade foi criar um centro de pesquisas de classe mundial no Brasil, similar ao que têm nos EUA, Alemanha e Índia. Vantagens brasileiras: crescimento, clientes significativos (Petrobras, Vale Embraer) e sistemas universitários mais fortes.

Segundo Little, a Internet acelerou de maneira inédita a inovação. Nos próximos 20 anos serão criadas mais coisas do que a soma de tudo o que foi criado na história, prevê a GE.

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Nesse cenário, prevê Jan Simek, reitor da Universidade do Tenessee, as universidades terão papel fundamental para o futuro da manufatura. A parceria da sua universidade com a Dupont foi essencial para desenvolver um biocombustível à base de etanol.

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FERREIRA GULLAR.   As bienais e as vanguardas
Por não se apoiar numa linguagem, mas numa "boa ideia", a arte conceitual vê esgotar-se seu repertório. FOLHA SP 27.05
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A BIENAL de Veneza, fundada em 1895, foi talvez o primeiro sinal da tendência à internacionalização das manifestações artísticas que surgiam e se multiplicariam nas décadas seguintes. Nela, pela primeira vez, as tendências estéticas inovadoras de diferentes países europeus podiam ser apreciadas por um público também internacional.

Assim, a Bienal de Veneza se tornaria a vitrine da arte de vanguarda, característica do século 20. É desnecessário dizer que os fundadores da Bienal não podiam prever o futuro que a esperava mas, se a criaram, foi porque os tradicionais salões nacionais de arte tornaram-se incapazes de atender à inevitável internacionalização dos movimentos artísticos que eclodiam nas cidades de Paris, Berlim, Zurique, Milão e Moscou.

Mas o papel desempenhado pela Bienal não se limitou a difundir a produção artística internacional, uma vez que esse encontro das diferentes manifestações nacionais estimulou a troca de influências, ao mesmo tempo que a difusão e intensificação do experimentalismo estético. Desse modo, a Bienal de Veneza passou a desempenhar um papel dinamizador das inovações artísticas e de sua progressiva internacionalização.

É verdade que duas guerras mundiais -a de 1914 a 1918 e a de 1939 a 1945- provocaram interrupções nesse processo, dificultando ou mesmo inviabilizando o intercâmbio entre artistas e países.

A mais grave dessas interrupções foi provocada pela Segunda Guerra Mundial, de que resultou o exílio de artistas e até mesmo a cessação de vida artística em importantes centros culturais da Europa.

É verdade, porém, que a radicação de alguns artistas importantes em países onde a guerra não chegara resultou em outro modo de difusão das tendências artísticas que representavam. Com o fim do conflito, reatou-se o intercâmbio artístico e a Bienal de Veneza retomou suas atividades.

Foi então que Ciccillo Matarazzo Sobrinho fundou, em 1951, a Bienal de São Paulo, destinada a influir decisivamente no processo artístico brasileiro.

Por surgir quando surgiu e onde surgiu, esta Bienal não desempenhou inicialmente o mesmo papel que a de Veneza, mas se aproximou dela em função mesmo do que viria a ocorrer no âmbito internacional.

A primeira e principal consequência de sua criação foi contribuir decisivamente para o surgimento, no Brasil, da arte concreta, cuja figura principal era o suíço Max Bill, ganhador do prêmio da 1ª Bienal com sua escultura "Unidade Tripartida".

O concretismo significou a ruptura com a tradição modernista brasileira, surgida no ano de 1922, e possibilitou o nascimento da arte neoconcreta, considerada hoje uma contribuição original brasileira à arte contemporânea.

Mas os anos se passaram e as vanguardas, seguindo os "ready-mades" de Duchamp, abandonaram as linguagens artísticas, fundadas no domínio técnico, para entregar-se ao improviso das sacações ditas conceituais.

Disso resultaram as instalações e os "happenings" que não buscam permanência, mas apenas o impacto eventual e momentâneo.

Por outro lado, como não se apoia numa linguagem, a arte conceitual se vale de todo e qualquer objeto (ou coisa, ou gente, ou bicho) para se expressar. Isso vai desde expor casais despidos num museu até engaiolar urubus para exibi-los numa bienal.

Resulta que tais sacações só ganham caráter de arte se realizadas numa galeria de arte, num museu ou numa bienal. Ou seja, essa é uma vanguarda que precisa das instituições para se afirmar.

Por essa razão, as bienais, dado o caráter de mostras eventuais, tornaram-se o lugar mais do que qualquer outro propício à arte conceitual, pois a obra dura o tempo que dura o evento e termina com ele.

Com raras exceções, por não se apoiar numa linguagem, mas numa "boa ideia", a arte conceitual -depois de se valer de casais despidos e de urubus engaiolados- vê esgotar-se seu repertório.

Essas bravatas já não escandalizam ninguém. O urinol de Marcel Duchamp completa um século em 2017. Como uma se apoia na outra, é possível supor que não vão durar muito tempo.

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VISãO DO CORREIO »  Universidade: greve inscrita no calendário. CORREIO BSB 27.05
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A greve nas universidades federais lembra a Crônica da morte anunciada. A obra de Gabriel García Márquez conta, nas primeiras linhas, o assassinato do protagonista. A curiosidade do leitor muda de rumo. Sabedor do destino do personagem, não mais lhe interessa descobrir o que aconteceu, mas o como aconteceu. O mesmo ocorre com as instituições de ensino superior mais bem avaliadas do país.

No início de cada ano, tem-se como certa a paralisação das atividades. A questão é descobrir quando. Este ano não foi diferente. Professores de 44 das 59 federais cruzaram os braços. Segundo o Comando Geral de Greve, coordenado pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), a tendência é de ampliação das adesões. Santa Maria e Grande Dourados devem abraçar o movimento amanhã.

As reivindicações também se repetem. Os docentes exigem duas providências. Uma: a reestruturação de carreira única, com 13 níveis remuneratórios e variação de 5% entre eles. A outra: a incorporação de gratificações e percentuais relacionados à titularização e ao regime de trabalho. Mais: 14 instituições que integram o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais queixam-se das condições de trabalho. Instituída em 2007, a ampliação dos câmpus não recebeu a contrapartida em salas de aula, laboratórios, bibliotecas, estacionamentos, acesso à internet.

É lamentável e preocupante o descaso com as escolas encarregadas de formar a elite nacional e de qualificar profissionais aptos a responder às necessidades do mercado de trabalho. Para sustentar o crescimento, o país tem de contar com cabeças pensantes e mão de obra sofisticada. No mundo globalizado, cada vez mais competitivo, não há espaço para improvisações. Nem para jeitinhos. O Brasil precisa ter condições de disputar, palmo a palmo, fatias no mercado mundial.

O avanço passa, necessariamente, pela universidade. O teto das exigências de qualidade está cada vez mais alto. Ele puxa o piso. A excelência se impõe, pois, em todos os níveis de ensino. Espera-se que Aloizio Mercadante, oriundo da carreira acadêmica, tenha mais sensibilidade no tocante às urgências dos professores e chegue a acordo capaz de pôr ponto final na crônica da greve anunciada.

De um lado, porque os alunos precisam estudar — e muito. De outro, porque a universidade perde quadros. Instituições privadas, que nem sempre têm compromisso com a qualidade e a pesquisa, oferecem remuneração superior para atrair doutores a fim de atender exigências do MEC. O país não pode abdicar das universidades federais — construídas com competência e idealismo.
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Cidades sofrem com esgoto e lixo, aponta IBGE
Valor Econômico - 28/05/2012

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As cidades brasileiras contam com boa cobertura de iluminação pública e de pavimentação, mas problemas como esgotos a céu aberto, lixo acumulado nas ruas e baixa incidência de rampas para deficientes ainda são significativos no país. Os dados constam de mais um recorte do Censo 2010 - Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios, divulgado na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No levantamento, foram pesquisados 47.264.208 domicílios urbanos no país, onde vivem em torno de 84,4% da população brasileira, de acordo com cálculos do IBGE. Desse total, 96,3% das casas contavam com iluminação pública em sua quadra e 81,7% tinham pavimentação em sua rua. Mas 11% encaravam esgoto a céu aberto e 5% sofriam com lixo acumulado em seu quarteirão. Além disso, a existência de rampas para deficientes era de apenas 4,7% no entorno dos domicílios pesquisados pelo IBGE.

Segundo a pesquisadora Daléa Soares Antunes, a iluminação pública é a característica urbana mais disseminada em todas as regiões, entre as pesquisadas pelo instituto. A maior ou menor incidência das outras características oscila de acordo com outros fatores, como renda. "Não queremos dizer que obras importantes de infraestrutura urbana sejam feitas mais frequentemente onde os ricos moram; e sim que as pessoas com renda maior escolhem os melhores lugares para morar", afirma.

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País tem legião de ‘pobres invisíveis’
Fora do radar do governo, País tem 700 mil famílias em ‘extrema pobreza’.  O Estado de S. Paulo - 28/05/2012

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Há um ano o governo federal começou a mapear os brasileiros miseráveis que não estão sob o abrigo de programas sociais. Esperava encontrar 800 mil famílias até 2013. Só no primeiro ano de busca já achou 700 mil.

Pente-fino promovido pelo ministério mostra que estatísticas oficiais ignoravam legião de miseráveis, que ficaram descobertas até pelos programas sociais incrementados na gestão do ex-presidente Lula


Um ano atrás, o governo federal pôs em andamento uma operação para localizar os chamados miseráveis invisíveis do Brasil - aquelas famílias que, embora extremamente pobres, não estão sob o abrigo de programas sociais e de transferência de renda, como o Bolsa Família. Na época, baseado em dados do IBGE, o Ministério do Desenvolvimento Social estabeleceu como meta encontrar e cadastrar 800 mil famílias até 2013. Na semana passada, porém, chegou à mesa da ministra Tereza Campello, em Brasília, um número bem acima do esperado: só no primeiro ano de busca foram localizadas 700 mil famílias em situação de extrema pobreza e invisíveis.

Veja também:
TV ESTADÃO: ex-pintor não sabia que poderia ter acesso ao Bolsa Família

Considerando apenas o chefe da família, isso corresponde à população de João Pessoa (PB). Se for levada em conta toda a família, com a média de quatro pessoas, é uma Salvador inteira que estava fora dos programas.

O resultado da operação, conhecida como busca ativa, também surpreende pelas características dessa população: 40% das famílias invisíveis estão em cidades com mais de 100 mil habitantes. Com o desdobramento e a análise das estatísticas, é provável que se constate que a maioria dos miseráveis invisíveis não estão nos grotões das regiões Norte e Nordeste, como quase sempre se imagina, mas na periferia dos centros urbanos.

"Estamos falando de famílias extremamente pobres que até agora não faziam parte do cadastro único do governo federal e por isso não eram vistas na sua integridade, de acordo com suas necessidades e carências", observa a ministra Tereza Campelo. "Podiam ter filhos na escola, mas não tinham acesso ao básico dos programas sociais, como o Bolsa Família, a tarifa social de energia elétrica e outras ações."

Para chegar a essas pessoas o ministério partiu do princípio de que, por algum motivo, elas não conseguiam chegar aos serviços de assistência social das prefeituras e pedir a inscrição no cadastro único. "Era preciso sair dos escritórios. Mobilizamos prefeituras, agentes de saúde, empresas de distribuição de energia elétrica", conta Tereza. "As prefeituras estão sendo remuneradas por esse trabalho."

Acidentado. Em Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo, a assistente social Marisa Lima foi uma dessas agentes mobilizadas para caçar os invisíveis. Em janeiro deste ano ela estava trabalhando na Unidade Básica de Saúde Municipal do Centro, na Avenida dos Coqueiros, quando apareceu por lá Raimundo Marques Ferreira, pintor de paredes, de 52 anos.

Buscava remédios e assistência médica, rotina que segue desde 2007 quando sofreu um acidente de trabalho. Caiu num fosso de elevador e teve os movimentos motores do lado esquerdo do corpo comprometidos. Como não era registrado e a empresa fechou as portas após o acidente, ficou sem nenhum tipo de cobertura. Os laudos médicos, que guarda presos com um elástico, indicam que também sofre com depressão e problemas neurológicos.

Separado, Ferreira mora com quatro filhos num cômodo de pouco mais de 30 metros quadrados, no fundo de um quintal, na Vila Zazu, bairro pobre de Franco da Rocha. É uma casa limpa, mas úmida e escura, erguida rente a um barranco ameaçador. Na época das chuvas, Ferreira sempre é visitado pela Defesa Civil, que insiste para que abandone o lugar. "Sair para onde?", indaga. "Aqui eu não pago aluguel."

Não sabia como fazer. No centro de saúde, abordado pela assistente social, o pintor contou que "já tinha ouvido falar" do Bolsa Família, mas não sabia se tinha direito, nem como se inscrever. Hoje recebe R$ 102 por mês, que usa sobretudo para pagar as contas de água e luz e comprar alguma comida. Dois de seus filhos, com 16 e 13 anos, foram inscritos no Ação Jovem, do governo estadual, que garante R$ 80 por mês, desde que frequentem a escola.

Agora a assistência social orienta Ferreira para que obtenha uma aposentadoria por invalidez, no valor de um salário mínimo, no INSS. Se conseguir, ele quer ampliar a casa onde mora e investir em cursos de informática para os filhos menores. Ele tem o olhar triste e fala em voz baixa, com modos tão humildes que dá a impressão de assustar-se com o mundo à sua volta.

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LITERATURA.  40 mil livros são distribuídos em quiosques
O projeto De Mão em Mão distribui gratuitamente, a partir de hoje, os livros "Contos Paulistanos", de Antônio de Alcântara Machado, e "A Nova Califórnia e Outros Contos", de Lima Barreto, em quiosques montados nos terminais de ônibus Santo Amaro, Mercado, Pirituba e A. E. Carvalho. FOLHA SP 28.05
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Escritoras rejeitam o rótulo de "literatura feminina". FOLHA SP 28.05
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Último dia do Festival da Mantiqueira, no interior paulista, atrai público com Maitê Proença e Zeca Baleiro

MARCO RODRIGO ALMEIDA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO FRANCISCO XAVIER (SP)
Música e literatura feminina foram os temas que mais atraíram público para a quinta edição do Festival da Mantiqueira, ontem, em São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos (SP).

No dia de encerramento do festival, o debate "A Mulher na Escrita ao Longo dos Tempos", com as escritoras Carola Saavedra, Tatiana Salem Levy e com a atriz Maitê Proença, foi o mais concorrido.

"Não gosto da definição 'literatura feminina'. Não falamos em 'literatura masculina'", disse Levy, autora do romance "A Chave da Casa". "O que você é está na sua obra, mas não quer dizer que seja feminino. O homem também pode ter um olhar feminino."

Saavedra ("Toda Terça") comentou que tal classificação fazia sentido quando as mulheres viviam restritas ao ambiente doméstico e retratavam sobretudo esse universo em seus livros. "Depois, a mulher começa a trabalhar, a ter participação política. Não existem mais os 'temas femininos'."

Já Maitê, que escreveu a coletânea de crônicas "Entre Ossos e a Escrita", comentou o papel decisivo das escritoras Clarice Lispector e Virginia Woolf na emancipação feminina. "Elas romperam com uma forma anterior e mostram que nós também devemos romper."

Na tarde de ontem, o cantor Zeca Baleiro foi recebido por fãs que não cansavam de chamá-lo de "gênio". Baleiro comentou que ele e os irmãos tomaram gosto pela leitura desde cedo, incentivados pelo pai. "Na oitava série, um professor nos fez ler 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' e 'O Estrangeiro'. Uns três alunos devem ter se matado", brincou ele. "Mas ler os dois mudou minha vida."

Na última palestra do festival, Marcos Augusto Gonçalves, editorialista e repórter da Folha, falou sobre o tema de seu livro "1922 - A Semana que Não Terminou" (Companhia das Letras). Durante as pesquisas, ele identificou alguns mitos.

"Muitos dizem que o Mário de Andrade leu na Semana o 'Ode ao Burguês'. Não achei nenhuma prova disso."

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VISãO DO CORREIO »
Resgate da credibilidade do Enem. CORREIO BSB 28.05

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Depois das trapalhadas dos últimos dois anos, que quase o levaram ao descrédito total, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) faz, hoje, mais do que abrir as inscrições para as provas que podem representar a realização do sonho de milhares de jovens em todo o país de entrar para uma universidade. O que tudo parece indicar é que o Enem começa também uma etapa de resgate de sua oportuna e inadiável missão de substituir total e definitivamente os anacrônicos vestibulares, sistema de há muito distorcido e que vinha agravando uma das mais profundas desigualdades da sociedade brasileira: a de acesso a uma instituição de qualidade para se tornar apto a se colocar no mercado de trabalho qualificado.

É animador constatar que o novo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, reconheceu haver falhas na elaboração, na logística e mesmo na operação do teste, incluindo a delicada fase de correção das provas. Melhor: mergulhou nos problemas em busca de soluções em tempo de implantá-las, pelo menos parcialmente, ainda este ano. É justo concordar que o desafio de aplicar o exame, simultaneamente, em todo o território nacional, não é pequeno e tornou-se ainda maior com a tarefa de retirar sua gigantesca operação do descrédito. Para se ter ideia de quantas esperanças e sonhos estão contando com o sucesso e a lisura do Enem, de hoje até 15 de junho, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo certame, espera receber nada menos do que 6 milhões de inscrições. As provas, em 3 e 4 de novembro, serão realizadas em 140 mil salas de aula de todo o país, envolvendo 400 mil aplicadores.

Uma das principais mudanças tenta eliminar um dos mais polêmicos pontos do Enem e que gerou o maior número de reclamações e recursos. Trata-se da sistemática de correção das redações, que envolve uma avaliação subjetiva. Até o ano passado era admitida uma diferença de até 300 pontos (a nota final do Enem vai de 0 a 1 mil) entre as avaliações feitas por dois corretores independentes. Agora, se houver discrepância acima de 200 pontos, a redação será revista por um terceiro corretor. Se ainda persistir diferença elevada, uma banca de três outros avaliadores, coordenada por um professor doutor, reexaminará a redação. Para atender a essas mudanças, o MEC reforçou a equipe de avaliadores: este ano, 4,2 mil pessoas trabalharão na correção das provas.

Ninguém pode garantir que tudo dará certo. Mas tampouco negar o esforço para corrigir falhas antigas e evitar o surgimento de novas. A mudança vem em boa hora. É importante para o país que o Enem vingue como processo de avaliação do ensino médio e avance como seleção confiável, justa e equilibrada dos estudantes que terão acesso às vagas nas universidades mantidas com o dinheiro de todos. Manter a humildade de reconhecer falhas que ainda poderão ocorrer e a disposição de corrigi-las em vez de negá-las ou tentar minimizar sua importância é o melhor caminho para ganhar a confiança dos jovens e atender os anseios da sociedade. 

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