quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Em vez de código florestal, Brasil terá código agrícola. O empresário Roberto Klabin, que critica o projeto do novo Código Florestal FOLHA SP 29.11

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No polarizado debate entre ambientalistas e ruralistas sobre as mudanças propostas no Código Florestal, o empresário Roberto Klabin é uma das raras personalidades com trânsito e atuação nas duas esferas, seja como presidente da Fundação SOS Mata Atlântica, ONG ambientalista que atua na preservação das florestas, seja como pecuarista e empresário do setor de papel e celulose (é um dos principais acionistas da Klabin).

Contrário às mudanças propostas no código, ele concedeu a seguinte entrevista à Folha.

(ANDRÉ PALHANO)

Folha - De onde surgiu a ideia de alterar o Código Florestal?

Roberto Klabin - A movimentação toda aconteceu a partir de 2008, quando o presidente Lula começou a utilizar a lei de crimes ambientais para enquadrar produtores que não estavam adequados. Isso gerou uma tensão grande no setor e criou-se uma comissão, chefiada pelo Aldo [Rebelo], para alterar a legislação.

O problema é que nunca houve ali a intenção de melhorar o código anterior ou tornar o Brasil mais moderno na questão ambiental, mas sim favorecer apenas um setor da sociedade, que é o do agronegócio, em detrimento de outros setores e até da população. O que temos na proposta é um código agrícola, não um código florestal.

O que explica tamanha polarização no debate?

O fato de terem chamado apenas um setor para discutir mudanças que dizem respeito a todos. Isso é que gerou toda essa mobilização da sociedade. Obviamente, não podemos criticar o processo, que foi democrático.

O problema é que, além da assimetria dos poderes envolvidos, o resultado é um retrocesso que afetará negativamente a todos no futuro, inclusive o produtor rural.

De que maneira?

Um exemplo: vários países estão começando a entender a necessidade de mitigar e adaptar os efeitos das mudanças climáticas, enquanto o Brasil está indo na contramão da história, uma vez que as mudanças no código claramente pioram esses efeitos. E não sou eu quem está afirmando isso, é a ciência.

Em resumo, para atender interesses de curto prazo de um grupo específico da sociedade, estamos retrocedendo em temas que afetarão negativamente a todos.

Quem defende a mudança no código alega que a legislação atual impede o aumento da produção no campo, prejudicando a economia. Como o sr. vê essa questão?

É um falso dilema. Um estudo da Esalq-USP, por exemplo, mostrou que há mais de 100 milhões de hectares de vegetação que se encontram fora de áreas de proteção e que poderiam ser desmatados, dos quais 26 milhões propícios à agricultura. Hoje, temos toda a agricultura do país localizada em 60 milhões de hectares. A alegação de que é impossível se adequar também não é correta.

Se a lei caminhar em sentido contrário, quem se adaptou não acaba sendo prejudicado?

De forma nenhuma. Tanto por essa tendência dos consumidores e da regulação como pela proteção que eles acabam tendo em um cenário de mudanças climáticas e aproveitamento do valor econômico da biodiversidade. Isso sem falar na proteção natural contra pragas, incêndios e outros temas. Ou seja, quem não se adaptar agora resolverá um problema econômico de curto prazo, mas terá de enfrentar isso lá na frente, provavelmente com impacto negativo maior.

O que o sr. está dizendo é que o setor agrícola sofrerá um efeito bumerangue no futuro?

O produtor brasileiro terá de se adequar para atender às exigências de mercado que vêm por aí, isso é inevitável. Fica cada vez mais claro que teremos de trabalhar em cadeias de certificação, e quem mais vai se prejudicar nesse processo, mantida a tendência atual, é o pequeno produtor, que tem mais dificuldades de adaptação quando comparado aos grandes. Isso não está sendo considerado.

Passada a votação, o embate entre ambientalistas e ruralistas deixará cicatrizes?

Sem dúvida ficarão mágoas, sem dúvida o Brasil perde com essa polarização, mas isso não é muito diferente de outros países. O entendimento da sociedade sobre as questões de sustentabilidade ainda é fraco, tratado de maneira secundária.

De qualquer forma, tudo isso deixará uma grande lição para os ambientalistas, que é trabalhar melhor e com maior representatividade em Brasília. Tenho certeza de que muitos deputados que votaram a favor das mudanças no código nem imaginavam o que estavam aprovando, só seguiram suas lideranças. Temos de reforçar esse trabalho de conscientização.

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Fazendeiros levam cobras a prédio público em protesto por suborno UOL NOTÍCIAS 30.11

Dois fazendeiros indianos cansados de terem que pagar suborno esvaziaram três sacolas cheias de cobras dentro de uma repartição fiscal no norte da Índia na tarde de terça-feira, em horário em que o prédio estava cheio de pessoas.

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O funcionário Ramsukh Sharma afirmou que aproximadamente 40 cobras de diferentes espécies e tamanhos, incluindo ao menos quatro mortalmente perigosas, entraram em cena e causaram o caos dentro do escritório.

Funcionários e moradores da região subiram sobre as mesas e cadeiras do lugar, enquanto alguns saíam correndo pela porta para escapar do prédio na cidade de Basti.

Os dois fazendeiros foram ao local requisitar um histórico dos impostos de suas terras, mas os funcionários atrasavam a entrega dos documentos durante semanas, supostamente pedindo um dinheiro a mais para liberarem o pedido.

Ninguém ficou ferido no incidente e as cobras foram capturadas. A polícia local procura pelos fazendeiros, sendo que um deles tem a fama na região de ser encantador de serpentes.

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Casamentos aumentam, mas homens e mulheres preferem casar mais tarde, mostra IBGE

Débora Melo . Do UOL Notícias 30/11

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O número de casamentos aumentou no Brasil no último ano. Em 2010, foram registrados 977.620 matrimônios, um aumento de 4,5% em relação a 2009, de acordo com as estatísticas do Registro Civil, divulgadas nesta quarta-feira (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Após mudança na lei, divórcios batem recorde e separações alcançam menor nível em 26 anos

Na contramão da média nacional, número de mortes violentas cresce entre homens no Nordeste

A idade com que o homem e a mulher se casam, porém, tem subido gradativamente nos últimos anos. Em 2010, os homens solteiros que se casaram com mulheres solteiras tinham 29 anos, em média, e as mulheres, 26 anos --um ano a mais quando comparado com 2005 e dois anos a mais em relação 2000, em ambos os casos.

Para Claudio Dutra Crespo, gerente de estatísticas vitais e estimativas populacionais do IBGE, essa mudança está relacionada a questões sociais. “O país passa por um processo de transição demográfica. As mulheres postergam a maternidade e tanto homens como mulheres adiam o casamento em função do que a vida contemporânea e o mercado de trabalho exigem. Essas mudanças não são isoladas, ou seja, não dependem apenas de uma escolha individual porque estão inseridas nas mudanças sociais pelas quais o país está passando.”

Veja a evolução e mais dados sobre casamento no Brasil

Taxa de crescimento

Nupcialidade

Idade na data do casamento

Dos casamentos formalizados em 2010, 958.253 foram de cônjuges com 15 anos de idade ou mais. Desse total, verificou-se que o Estado que teve mais casamentos foi Rondônia (9,4 casamentos para cada mil habitantes com mais de 15 anos), enquanto o Amapá apresentou a menor taxa (2,7 casamentos para cada mil habitantes nessa faixa etária).

Analisando as taxas de nupcialidade é possível identificar os diferentes padrões de casamento no Brasil. Em 2010, a maioria das mulheres que se casaram tinha entre 20 e 24 anos. No caso dos homens, a maioria deles se casou com idade entre 25 e 29 anos.

No caso dos idosos, o número de homens com 60 anos ou mais que se casaram correspondeu a mais que o dobro de mulheres nessa faixa etária que formalizaram uma união. Para o IBGE, o fato de haver mais mulheres do que homens com mais de 60 anos no país reduz as chances de casamento para as mulheres idosas.

Recasamentos

Segundo análise do instituto, o aumento no número de casamentos, também verificado no período entre 2003 e 2008, é atribuído ao maior acesso aos serviços de Justiça, ao desejo dos casais de formalizarem suas uniões consensuais, às ofertas de casamentos coletivos e aos recasamentos (quando há divorciados ou viúvos envolvidos na união).

Em 2010, a maior parte dos casamentos envolveu cônjuges solteiros (81,7%), mas a proporção de recasamentos deu um salto em relação ao registrado em 2000: de 11,7% para 18,3%. “O recasamento foi crescente na última década e representa uma mudança comportamental”, afirma Crespo. As maiores proporções de casamentos entre divorciados foram verificadas no Rio de Janeiro e em São Paulo (4,2%, em ambos). Quanto às uniões entre solteiros, o Rio registrou a menor proporção (76,7%), ao passo que a mais elevada foi no Piauí (92,9%).

Apesar das mudanças, ainda é mais comum que um divorciado se case com uma solteira do que o contrário. Em 2010, 7,8% dos casamentos formalizados em todo o país foram de homens divorciados com mulheres solteiras, enquanto 4,5% foram de mulheres divorciadas com homens solteiros. Na comparação entre os Estados, as uniões formais entre homens divorciados e mulheres solteiras foram mais comuns no Distrito Federal (10%) e no Rio de Janeiro (9,4%), enquanto a situação inversa foi mais frequente em Rondônia (5,9%) e em São Paulo (5,8%).

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Ato pelo centenário de Carlos Marighella

Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em cinco de dezembro de 1911. Era filho de imigrante italiano com uma negra descendente dos haussás, conhecidos pela combatividade nas sublevações contra a escravidão. De origem humilde, ainda adolescente despertou para as lutas sociais. Aos 18 anos iniciou curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia e tornou-se militante do Partido Comunista, dedicando sua vida à causa dos trabalhadores, da independência nacional e do socialismo. O auge da Ditadura Militar, a partir do final de 1968, culminou numa repressão sem precedentes. Marighella passou a ser apontado como Inimigo Público Número Um, transformando-se em alvo de uma caçada que envolveu, a nível nacional, toda a estrutura da polícia política. Na noite de 4 de novembro de 1969, surpreendido por uma emboscada na alameda Casa Branca, na capital paulista, Carlos Marighella tombou varado pelas balas dos agentes do DOPS sob a chefia do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Para lembrar o centenário deste homem que sonhou um Brasil melhor, no próximo dia 5 de dezembro vamos realizar um ato no auditório da Biblioteca Pública Alceu Amoroso Lima, em Pinheiros. Saiba mais sobre Carlos Marighella abaixo ou: www.carlos.marighella.nom.br.

Veja um vídeo sobre o ato em 4 de novembro de 2011 no local de sua morte, na Al. Casa Branca que, neste dia virou, Al. Carlos Marighella: www.youtube.com/watch?v=lcBcSy3KTeE

Centenário de Carlos Marighella – Programação da noite

19h00 - Exibição de vídeos sobre sua vida

20h00 - Depoimentos sobre sua militância e leituras de textos e poesias de seu livro “Rondó da Liberdade”, com a participação do músico e escritor Erton Morais, o agitador cultural e coordenador da AEUSP Adriano Mogli, o coordenador do projeto O Autor na Praça Edson Lima e outros convidados.

21h30 - Apresentação musical com Dinho Nascimento acompanhado de Cecília Pellegrini nos vocais e Gabriel Nascimento na percussão. Dinho vai apresentar dois poemas de Marighella que ele musicou e pretende gravar em breve.

Ato pelo centenário de nascimento de Carlos Marighella

Dia 5 de dezembro, Segunda-feira, das 19h as 22h

Auditório da Biblioteca Municipal Alceu Amoroso Lima – Entrada Franca

Av. Henrique Schaumann, 777 - Pinheiros - São Paulo (SP) – Tel. 3082 5023 / 3063 3064

Realização: O Autor na Praça, Trokaoslixo, AEUSP e Biblioteca Pública Alceu Amoroso Lima.

Assessoria de Imprensa: Edson Lima – 9586 5577 – edsonlima@oautornapraca.com.br.

Vida - Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911. Era filho de imigrante italiano com uma negra descendente dos haussás, conhecidos pela combatividade nas sublevações contra a escravidão. De origem humilde, ainda adolescente despertou para as lutas sociais. Aos 18 anos iniciou curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia e tornou-se militante do Partido Comunista, dedicando sua vida à causa dos trabalhadores, da independência nacional e do socialismo. Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães. Libertado, prosseguiria na militância política, interrompendo os estudos universitários no 3o ano, em 1932, quando se deslocou para o Rio de Janeiro. Em 1º de maio de 1936 Marighella foi novamente preso e enfrentou, durante 23 dias, as terríveis torturas da polícia de Filinto Müller. Permaneceu encarcerado por um ano e, quando solto pela “macedada” – nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação -- deixou o exemplo de uma tenacidade impressionante. Transferindo-se para São Paulo, Marighella passou a agir em torno de dois eixos: a reorganização dos revolucionários comunistas, duramente atingidos pela repressão, e o combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio Vargas. Voltaria aos cárceres em 1939, sendo mais uma vez torturado de forma brutal na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, mas se negando a fornecer qualquer informação à polícia. Na CPI que investigaria os crimes do Estado Novo o médico Dr. Nilo Rodrigues deporia que, com referência a Marighella, nunca vira tamanha resistência a maus tratos nem tanta bravura. Recolhido aos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande pelos seis anos seguintes, ele dirigiria sua energia revolucionária ao trabalho de educação cultural e política dos companheiros de cadeia. Anistiado em abril de 1945, participou do processo de redemocratização do país e da reorganização do Partido Comunista na legalidade. Deposto o ditador Vargas e convocadas eleições gerais, foi eleito deputado federal constituinte pelo estado da Bahia. Seria apontado como um dos mais aguerridos parlamentares de todas as bancadas, proferindo, em menos de dois anos, cerca de duzentos discursos em que tomou, invariavelmente, a defesa das aspirações operárias, denunciando as péssimas condições de vida do povo brasileiro e a crescente penetração imperialista no país. Com o mandato cassado pela repressão que o governo Dutra desencadeou contra os comunistas, Marighella foi obrigado a retornar à clandestinidade em 1948, condição em que permaneceria por mais de duas décadas, até seu assassinato. Nos anos 50, exercendo novamente a militância em São Paulo, tomaria parte ativa nas lutas populares do período, em defesa do monopólio estatal do petróleo e contra o envio de soldados brasileiros à Coréia e a desnacionalização da economia. Cada vez mais, Carlos Marighella voltaria suas reflexões em direção do problema agrário, redigindo, em 1958, o ensaio “Alguns aspectos da renda da terra no Brasil”, o primeiro de uma série de análises teórico-políticas que elaborou até 1969. Nesta fase visitaria a China Popular e a União Soviética e, anos depois, conheceria Cuba. Em suas viagens pôde examinar de perto as experiências revolucionárias vitoriosas daqueles países. Após o golpe militar de 1964, Marighella foi localizado por agentes do DOPS carioca em 9 de maio num cinema do bairro da Tijuca. Enfrentou os policiais que o cercavam com socos e gritos de “Abaixo a ditadura militar fascista” e “Viva a democracia”, recebendo um tiro a queima-roupa no peito. Descrevendo o episódio no livro “Por que resisti à prisão”, ele afirmaria: “Minha força vinha mesmo era da convicção política, da certeza (...) de que a liberdade não se defende senão resistindo”. Repetindo a postura de altivez das prisões anteriores, Marighella fez de sua defesa um ataque aos crimes e ao obscurantismo que imperava desde 1o de abril. Conseguiu, com isso, catalisar um movimento de solidariedade que forçou os militares a aceitar um habeas-corpus e sua libertação imediata. Desse momento em diante, intensificou o combate à ditadura utilizando todos os meios de luta na tentativa de impedir a consolidação de um regime ilegal e ilegítimo. Mas, mantendo o país sob terror policial, o governo sufocou os sindicatos e suspendeu as garantias constitucionais dos cidadãos, enquanto estrangulava o parlamento. Na ocasião, Carlos Marighella aprofundou as divergências com o Partido Comunista, criticando seu imobilismo. Em dezembro de 1966, em carta à Comissão Executiva do PCB, requereu seu desligamento da mesma, explicitando a disposição de lutar revolucionariamente junto às massas, em vez de ficar à espera das regras do jogo político e burocrático convencional que, segundo entendia, imperava na liderança. E quando já não havia outra solução, conforme suas próprias palavras, fundou a ALN – Ação Libertadora Nacional para, de armas em punho, enfrentar a ditadura. O endurecimento do regime militar, a partir do final de 1968, culminou numa repressão sem precedentes. Marighella passou a ser apontado como Inimigo Público Número Um, transformando-se em alvo de uma caçada que envolveu, a nível nacional, toda a estrutura da polícia política. Na noite de 4 de novembro de 1969, surpreendido por uma emboscada na alameda Casa Branca, na capital paulista, Carlos Marighella tombou varado pelas balas dos agentes do DOPS sob a chefia do delegado Sérgio Paranhos Fleury.

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BIOGRAFIA » Entre a notícia e a poesia. "Mineiro do litoral", Wilson Figueiredo tem sua história contada em livro CORREIO BSB 01.12

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O jornalista Wilson Figueiredo, no alto de seus 87 anos, diz ter um certo horror a biografias. Ser perfilado numa narrativa cronológica extensa, diz ele, pode soar como um ato de egoísmo. Modesto, pediu então ao amigo e companheiro de trabalho Francisco Soares Brandão, dono da ideia, que organizasse um livro “em que ele não fosse o personagem essencial”. “Queria que a minha vida constasse como uma coisa subsidiária, que servisse só como referência para falar de outros assuntos”, completa. Pois bem, histórias reais, contadas em cartas e textos de colaboradores, ajudam a compor E a vida continua: a trajetória profissional de Wilson Figueiredo (Ouro Sobre Azul), relato coordenado por Moacyr Andrade, com lançamento marcado para hoje no Rio de Janeiro.

Figueiredo é um “mineiro do litoral”, como Rubem Braga se referia aos nascidos no Espírito Santo. Aliás, a exemplo de Braga, Figueiredo também abriu os olhos pela primeira vez na cidade de Castelo (ES). De lá, sairia para Minas Gerais, ainda pequeno, e depois para o Rio de Janeiro, onde participaria do revolucionário Jornal do Brasil, nos anos 1960. No meio do caminho, cruzou com outros brasileiros ilustres, como Mário de Andrade e Nelson Rodrigues. Em Minas, nos seus tempos de poeta, andou na turma de Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos. Mário de Andrade gostava dos versos do capixaba. “Do grupo, ele é o único que escreve coisas de moço: como eu sorria feliz lendo os versos dele”, comentou o escritor, em carta a Lara Resende.

“Antes de ser jornalista, fazia versos, queria ser escritor, como todo jovem. Editei dois livros. Depois me arrependi. E jurei que não faria mais. Tinha sido bem acolhido pela crítica. Criei expectativa de que seria escritor. Mas queria sair”, lembra ele, que chegou ao Rio em 1957, dois anos antes da reforma gráfica do Jornal do Brasil. A nova rotina era exigente, mas estimulante. “Jornal ocupa a cabeça e a vida pessoal. É pior que paixão”, compara.

Profeta

Recém-chegado, conheceu Nelson Rodrigues, “que tinha mania de fazer dos amigos, personagens”. Depois de algumas conversas — Rodrigues provocava, Figueiredo falava —, o mineiro do litoral virou alvo das crônicas do pernambucano. “Fomos ficando amigos. E ele me tornou profeta do Fluminense. Escrevia dizendo que eu garantia vitória do Flu no domingo. Mas sempre perdia”, recorda o biografado, aos risos.

Uma das novidades criadas no JB, que amargaria crises financeiras a partir dos anos 1980, foi a inserção de verbos nos títulos das matérias. “Começou do zero, com gente que não tinha nada a ver, que chegou ali e fez uma experiência de mudar a visão do jornal. Os títulos não levavam verbo antes. A notícia ganhou objetividade, visibilidade. Também houve divisão do trabalho, uma pirâmide hierárquica. E o veículo começou a chamar a atenção dando ênfase no mercado de trabalho, nas páginas de classificados”, enumera. De saída da redação, na década de 1980, Figueiredo tomou o rumo da comunicação empresarial. E nunca perdeu a vitalidade de jovem poeta.

Fomos ficando amigos. E ele (Nelson Rodrigues) me tornou profeta do Fluminense. Escrevia dizendo que eu garantia vitória do Flu no domingo. Mas sempre perdia”

Wilson Figueiredo, jornalista

E A VIDA CONTINUA: A TRAJETÓRIA PROFISSIONAL DE WILSON FIGUEIREDO

Organização de Moacyr Andrade. Editora Ouro Sobre Azul,

220 páginas. R$ 85.

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MÚSICA » A cara de Brasília. Projeto Ocupação Sala Cássia Eller / FUNARTE encerra o ano homenageando gente de casa, com concertos até o dia 16. Jorge Antunes: a música eletroacústica com tempero brasiliense

Programe-se

Conrado Silva. Hoje, às 20h, na Sala Cássia Eller (Funarte). R$ 10 e R$ 5 (meia). » Amanhã, às 20h,

Quarteto Radamés Gnattali. » Quinta, 8/12, Rênio Quintas » Sexta, 9/12, Renato Vasconcellos » Quinta, 15/12, Roberto Corrêa » Sexta, 16/12, Jorge Antunes CORREIO BSB 01.12

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Durante todo o ano, o projeto Ocupação Sala Cássia Eller, da Funarte, reservou o palco para artistas cujas carreiras começam a despontar na cidade. Ontem, Anderson Lira, um dos idealizadores do projeto, se deu conta de que a última ocupação funcionaria como um arremate. Brasília, minha música encerra o projeto a partir de hoje com um time de compositores assentados em histórias pessoais visceralmente entrelaçadas com Brasília e se estende até a segunda quinzena de dezembro. “Fizemos um recorte muito mais da velha guarda do que de nomes mais recentes”, constata Lira.

A programação começa com o uruguaio Conrado Silva. Radicado no Brasil desde 1969 e ex-professor da Universidade de Brasília (UnB), o compositor vai executar uma partitura escrita para rádios. Música para 10 rádios portáteis consiste em sintonizar aparelhos em estações diferentes e manipular os sintonizadores de acordo com as indicações técnicas da partitura. Amanhã é a vez do Quarteto Radamés Gnattali, único da programação a vir de fora de Brasília. Lira optou pelos cariocas porque são especialistas nas músicas de Claudio Santoro. Na Funarte, eles tocam o Quarteto nº3 e Quarteto nº4, compostos pelo maestro que fundou a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. “Queríamos mostrar a criação de pessoas que moraram ou moram na cidade”, explica Lira.

O panorama proposto é diversificado, assim como o foram as levas de brasileiros que desembarcaram na capital desde sua inauguração. A música eletroacústica, além de Conrado, terá a batuta de Jorge Antunes, pioneiro do gênero no Brasil e também ex-professor da UnB. O maestro conta com a presença do Grupo de Experimentação Musical da UnB (GeMUnB) para transformar em sons uma das seis cartas de recusa de projetos apresentados ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O texto está devidamente musicado, à maneira de Antunes.

O repertório tem ainda obras que resumem a trajetória do compositor. “Fiz uma seleção de peças que geraram polêmicas, que desafiaram o sistema e ironizaram o conservadorismo”, avisa. A mais recente, Polimaxixenia sideral, de 2009, usa sons de clarineta, piano e violino filtrados pelo computador e transformados em sons eletrônicos. Em Autorretrato sobre paisagem portenha e Três impressões cancioneirígenas o alvo são a repressão da ditadura e a canção tradicional, ironizados em canções escritas pelo maestro.

A música caipira foi confiada a Roberto Corrêa, que fez uma visita ao passado para montar o repertório com músicas como Coração verde cavalo, parceria com o poeta Fernando Mendes Viana, Pagode em Brasília (Teddy Vieira e Lourival dos Santos) e Forrozal, de Marco Pereira, com quem se aperfeiçoou no violão quando estudava na UnB. “Esse projeto mostra a diversidade musical que Brasília apresenta. É uma cidade que produz música de qualidade e de vários estilos. Aqui tem desde música caipira até eletroacústica.” Também tem jazz, garantido por Renato Vasconcellos e música popular com Rênio Quintas e a suíte-homenagem Brasília. “Construí como se fosse a cidade. Na minha cabeça é uma analogia com a construção, com as referências de Brasília”, avisa o compositor.

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Novo Código Florestal agrava efeito estufa, afirmam ecologistas. Em Durban, ONGs dizem que projeto deixa sem proteção uma área florestal do tamanho da França e do Reino Unido. Governo rebate análise de ONGs e afirma que projeto vai ajudar a diminuir o processo de aquecimento global FOLHA SP 01.12

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Organizações ambientalistas reunidas na conferência do clima de Durban acusaram ontem o Brasil de estar contribuindo para o aquecimento global com a reforma do Código Florestal, cuja votação no Senado foi adiada para a próxima terça-feira.

As ONGs afirmaram em seu boletim "Eco", distribuído no encontro na África do Sul, que a nova lei deixará desprotegida uma área de florestas do tamanho de França e Reino Unido somados.

Isso porque o novo código anistia desmatamentos antigos e permite novos, o que comprometeria as metas brasileiras de redução de emissões de gases-estufa, como o CO₂, anunciadas pelo Brasil em 2009, em Copenhague.

As florestas agem como fixadoras de carbono e sua destruição joga esse gás na atmosfera, contribuindo para o aumento do aquecimento global.

O país se comprometeu a reduzir entre 1,16 bilhão e 1,26 bilhão de toneladas de CO₂ suas emissões em 2020 em relação ao que seria liberado se nada fosse feito. Boa parte da meta deverá ser cumprida com a redução de 80% no desmatamento na Amazônia.

O "Eco" afirma ainda que as mudanças no código criam uma situação "embaraçosa" para o Brasil, que sediará no ano que vem a conferência Rio +20, sobre desenvolvimento sustentável.

Em Brasília, o Ministério do Meio Ambiente evitou polemizar. Mas afirmou que a nova lei ajudará o Brasil a cumprir a meta dos gases-estufa, e não o contrário. Para o governo, o código estimulará a recuperação de parte das florestas desmatadas ilegalmente até julho de 2008.

A votação do texto no plenário do Senado, que deveria acontecer nesta semana, foi adiada depois que uma manobra regimental do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) derrubou o requerimento de urgência, na terça.

Ontem a urgência foi aprovada por 58 votos a 6, mas devido ao regimento do Senado a votação só poderá correr na semana que vem.

No plenário, há ainda alguns pontos de atrito entre o governo e ruralistas.

Um deles é uma emenda do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que prevê que conselhos estaduais possam aumentar a proteção a bacias hidrográficas importantes e muito degradadas.

Outro é a exigência da bancada do Nordeste de excluir uma parte do manguezais da categoria de área de preservação permanente, para liberá-los à criação de camarão.

Segundo o senador Blairo Maggi (PR-MT), essas são questões "que pegam" para os deputados, que terão a palavra final sobre a lei.

A situação no Senado fez a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) adiar sua ida a Durban, onde deveria chefiar a delegação brasileira a partir de sábado.

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