segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
A UFG e o
desenvolvimento de Goiás.
O POPULAR/ GO 16.12
-
A
Universidade Federal de Goiás foi criada em 14 de dezembro de 1960 no final do
governo Juscelino Kubistchek. Ressalte-se que daí alguns dias Jânio da Silva
Quadros, eleito em 3 de outubro de 1960, tomaria posse como presidente da
República e, quem sabe, a história fosse outra! Jânio Quadros, assumindo em 31
de janeiro de 1961, logo passou a executar sua plataforma de campanha de cortar
despesas, disciplinar gastos, conter a inflação e pôr ordem na administração pública,
dentro da sua proposta de 'varrer' a corrupção e a desordem pública brasileira
- "Jânio vem aí" era seu lema, simbolizado pela vassoura.
Na
conjuntura da época, poucas eram as condições do surgimento de duas
universidades em Goiás. A Católica era a da vez, dado o importante trabalho da
Igreja, especialmente, de d. Fernando Gomes dos Santos. Contrapôs-se ao projeto
da Católica, um 'movimento' inicialmente liderado por estudantes de Goiás que,
com apoios decisivos de professores e de políticos (Castro Costa, Alfredo
Nasser, Coimbra Bueno, entre outros), principalmente de JK, tornou possível
outro projeto.
O
projeto da UFG era avançado, integrando e dando outro estatuto às faculdades
existentes em Goiás - Direito, Farmácia e Odontologia, Engenharia, Medicina,
Conservatório de Música, além da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
criada em 1962. A estas faculdades foi agregado o Centro de Estudos Brasileiros
(CEB), concebido como unidade multidisciplinar avançada/revolucionária, com
objetivo de repensar a história e a cultura brasileira, significando uma
moldagem nova do ensino superior. Não somente o CEB era vanguarda, alguns
outros inovavam, por exemplo, no jornalismo a UFG saía na frente - o jornal O
Quarto Poder - objetivava mudar a forma e a direção da notícia e da
comunicação.
O
'movimento' pela universidade federal teve no professor Colemar Natal e Silva
sua principal liderança. Orlando de Castro, professor emérito da UFG e como
estudante (em 1959) e integrante do 'movimento' (frente universitária
pró-ensino federal), narra que o professor Colemar usou de muitos recursos,
amizades inclusive, para conseguir autorização para instalação da Universidade
Federal já no governo Jânio. Ele, diretor da Faculdade de Direito (da Rua 20,
já federalizada), assumiu a luta pela criação da UFG moldado pela sua
militância na cultura goiana. Liderou o grupo de intelectuais goianos que
fundou a Academia Goiana de Letras (1939) e, desde estudante no Rio de Janeiro,
destacou-se entre os intelectuais goianos do período. Tem sido considerado um
dos principais artífices da manutenção do Instituto Histórico e Geográfico de
Goiás e da Academia Goiana de Letras. Essa sua pertinácia sem dúvidas ele
herdara de sua mãe - Eurídice Natal e Silva que, no início do século 20, liderou
a criação da Academia de Letras de Goiás (1904-1909).
Colemar
Natal e Silva, merecidamente, tornou-se o primeiro reitor da UFG (1961-1964).
Seu reitorado aconteceu numa conjuntura brasileira e goiana de confrontos
ideológicos: nacionalismo e 'reformas de base' da esquerda verso entreguismo,
conservadorismo e golpismo da direita. As correntes ideológicas tanto marcaram
o período de criação da UFG, como estavam 'dentro' da universidade.
No
início da UFG, muitos eram os problemas, maiores os desafios. A estruturação da
universidade exigiu muito dos seus dirigentes. A Reitoria estava instalada em
uma casa na Rua 20, abaixo da Rua 15. Poucas unidades estavam instaladas em
prédios próprios. Por exemplo: a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras não
tinha sede, seus cursos funcionaram durante vários semestres em lugares
diversos. Lembro-me. Ingressei na UFG, como aluno da primeira turma de Ciências
Sociais, em 1964. Apesar disso, era muito o dinamismo e o esforço para
funcionar bem.
Logo
aconteceu o Golpe Militar de 1964. Intervindo, prendendo, aposentando, o regime
militar mudou o 'projeto original' da UFG. O Centro de Estudos Brasileiro e o
jornal O Quarto Poder foram os primeiros alvos da repressão - seus professores,
dirigentes, alunos e servidores foram perseguidos e muitos presos. Também o
regime militar intervém na Reitoria, afastando o professor Colemar, em agosto
de 1964.
A
Universidade Federal de Goiás tem sido produto de um esforço coletivo de
professores, alunos e servidores que sempre vislumbraram lá adiante as
condições e possibilidades, sonhadas pelos fundadores, de construção de um
Goiás diferente e de um Brasil com mais igualdade. Hoje, a universidade
tornou-se complexa e mais qualificada. Pesquisas, laboratórios, centros de
referência, além de seu processo de interiorização multicampi. Em Goiânia são
61 cursos de graduação; mais de 20 mil alunos; 43 mestrados; 19 doutorados,
destacando-se entre as principais instituições nacionais pela sua qualidade. A
UFG tem sido fator de mudanças e renovação de Goiás e, também do Brasil. Seus
números, por mais expressivos, não são capazes de mostrar o real significado
que ela tem tido para o desenvolvimento de Goiás.
Itami Campos , cientista político, é pró-reitor de
Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Ações Comunitárias, e professor titular da
UFG, aposentado
Fundação
Palmares lança a coleção Faces do Brasil
Ao
todo 42 obras escritas por negros e indígenas serão estudadas por alunos do
ensino médio
Coletânia
foi organizada pela professora Jacy Proença. Segundo ela, coleção já está
disponível em mais de doze estados do país
Em
comemoração ao ano dos afro-descendentes no país, a Fundação Cultural Palmares
e a Editora Ética lançaram, na biblioteca Oliveira Silveira, a coleção Faces do
Brasil – História e Cultura. Os 42 livros foram escritos por negros e indígenas
e organizados pela professora Jacy Proença.
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Orçamento 2012:
relatório final não inclui aumento para Judiciário e MPU
Texto
pode ser votado quarta-feira na Comissão Mista de Orçamento e quinta no
Plenário do Congresso. Negociação sobre reajuste para servidores e aposentados
continua. SENADO.GOV.BR 19/12
-
Chinaglia
e senador Vital do Rêgo, presidente da Comissão de Orçamento: votação na
quarta-feira.
O
parecer final da proposta orçamentária de 2012 não traz recursos para o aumento
reivindicado pelos servidores do Poder Judiciário e do Ministério Público da
União (MPU) e pelos juízes e procuradores da República. O relatório, que foi
entregue nesta segunda-feira (19) pelo relator-geral do projeto, deputado
Arlindo Chinaglia (PT-SP), também não prevê dotação para um reajuste real das
aposentadorias e pensões do INSS. Com isso, os aposentados deverão receber
apenas a reposição da inflação deste ano.
A
concessão dos reajustes – cuja soma chegaria à casa dos R$ 20 bilhões – era um
dos pontos mais controversos da proposta orçamentária deste ano. Para os
servidores, o único reajuste que o projeto contempla já estava previsto no
texto enviado pelo Executivo. Ele beneficia 937,7 mil servidores do governo
federal, divididos em diversas categorias, todas descritas no Projeto de Lei
2203/11, em tramitação na Câmara. O impacto do reajuste é de R$ 1,65 bilhão em
2012.
No
geral, o parecer não acrescentou nenhum centavo nos gastos com pessoal: os R$
203,2 bilhões do projeto original foram mantidos pelo relator. No ano passado,
por exemplo, o parecer final adicionou R$ 179 milhões para o funcionalismo
público.
Segundo
Chinaglia, não houve acordo nas negociações travadas pelo governo com o
Judiciário e o MPU, que ele mediou. O Executivo também não concordou com ganhos
reais para os beneficiários do INSS que recebem acima do mínimo. A maior
dificuldade, de acordo com ele, foi conciliar a demanda por reajustes com a
manutenção da estabilidade fiscal, em um quadro de incerteza econômica.
“Procurei criar as condições para a negociação. Procurei fazer aproximações,
mas não deu”, afirmou Chinaglia.
Negociação
continua
Apesar
de o parecer sair sem a dotação necessária para os aumentos, o próprio
Chinaglia admite que “o processo ainda não se encerrou”. Parlamentares da
oposição e da base aliada, membros da Comissão Mista de Orçamento, já
manifestaram em diversas ocasiões apoio ao reajuste de servidores públicos e dos
aposentados. Na semana passada, líderes da base chegaram a ensaiar a divulgação
de um abaixo-assinado apoiando o aumento do Judiciário e do MPU, mas acabaram
desistindo diante da possibilidade de desgaste político com o Executivo.
O
parecer final será colocado em votação no colegiado na quarta-feira (21). Caso
os aumentos sejam aprovados, os recursos terão que sair das áreas que foram
priorizadas pelo relator-geral e que estão elencadas no parecer preliminar
aprovado em novembro. Entre os candidatos a perder dotação estariam a Lei
Kandir, que recebeu R$ 3,4 bilhões, o plano Brasil sem Miséria, contemplado com
R$ 1 bilhão a mais por Chinaglia, e as ações de apoio aos pequenos e médios
produtores rurais, que foram ampliadas em R$ 200 milhões.
Investimentos
A
atuação dos parlamentares garantiu o acréscimo de R$ 32,1 bilhões ao projeto
enviado pelo Executivo (veja tabela abaixo). O texto original previa um
orçamento efetivo (conceito que exclui os gastos com refinanciamento da dívida
pública) de R$ 1,572 trilhões. Após acréscimos de receita e despesa no
Congresso, o valor ficou em R$ 1,602 trilhões.
Entre
as grandes despesas, o maior ganho foi em investimentos (do orçamento fiscal e
da seguridade), que cresceu 37,6%, passando de R$ 57,9 bilhões para R$ 79,7
bilhões. Dos R$ 32,2 bilhões acrescentados na fase setorial e geral de
tramitação, R$ 21,8 bilhões foram destinados a investimentos. As estatais, por
sua vez, vão investir outros R$ 106,8 bilhões, valor que foi mantido.
Segundo
Chinaglia, desde que recebeu a relatoria-geral, sua intenção era focar em
políticas sociais e investimentos públicos. “Aumentar o investimento é a
maneira mais segura de manter o nível de emprego, de gerar oportunidades e
proteger o Brasil da crise”, afirmou.
O
relator também elevou, de forma pontual, algumas dotações reivindicadas por
bancadas ou relatores setoriais. É o caso do Fundo Partidário, que recebeu mais
R$ 90 milhões em relação à fase setorial, totalizando R$ 324,7 milhões para
2012. E dos recursos para o programa de garantia de preços mínimos, gerenciado
pelo Ministério da Agricultura, que passaram de R$ 600 milhões para R$ 900
milhões.
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Em decisão liminar,
ministro do STF esvazia poderes do CNJ.
Em decisão
liminar nesta segunda-feira (19), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal)
Marco Aurélio Mello suspendeu o poder "originário" de investigação do
CNJ (Conselho Nacional de Justiça) contra magistrados, determinando que o órgão
só pode atuar após as corregedorias locais. FOLHA SP 19.12
-
A
liminar concedida pelo ministro deve ser levada a plenário na primeira sessão
do ano que vem, no início de fevereiro, para que seus colegas avaliem o tema.
Até lá, no entanto, as funções da corregedoria do CNJ estarão esvaziadas.
Associações
divergem sobre decisão que esvazia poderes do CNJ
Juiz
deve ser investigado no seu Estado, diz Cezar Peluso
"Ninguém
investiga ninguém", diz corregedora nacional de Justiça
Ficarão
prejudicadas aquelas investigações que tiveram início diretamente no conselho,
antes que tenham sido analisadas nas corregedorias dos tribunais onde os juízes
investigados atuam.
Como
está previsto na Constituição, o CNJ pode ainda avocar [determinar a subida de]
processos em curso nas corregedorias, desde que comprovadamente parados. O
ministro afirmou que o conselho deve se limitar à chamada "atuação
subsidiária".
Rodrigo
Capote/Marcelo Camargo/Folhapress
Ministro
Cezar Peluso e a corregedora do CNJ, Eliana Calmon, desentenderam-se sobre as
atribuições do conselho
Em
outras palavras, o que não pode é iniciar uma investigação do zero, fato
permitido em resolução do CNJ, editada em julho deste ano, padronizando a forma
como o conselho investiga, mas que foi questionada pela AMB (Associação dos
Magistrados Brasileiros).
"A
solução de eventual controvérsia entre as atribuições do Conselho e as dos
tribunais não ocorre com a simples prevalência do primeiro, na medida em que a
competência do segundo também é prevista na Constituição da República",
diz o ministro em sua decisão. "A atuação legítima, contudo, exige a
observância da autonomia político-administrativa dos tribunais, enquanto instituições
dotadas de capacidade autoadministrativa e disciplinar."
Foi
exatamente este assunto que colocou em lados opostos o presidente do CNJ,
ministro Cezar Peluso, e sua corregedora, Eliana Calmon. O primeiro defendia
exatamente a função subsidiária do conselho, enquanto a última afirmava ser
fundamental a atuação "concorrente" e "originária".
Calmon
chegou a dizer que o esvaziamento dos poderes do CNJ abriria espaço para os
chamados "bandidos de toga".
A
ação da AMB está na pauta do STF desde o início de setembro, mas os ministros
preferiram não analisar o tema, exatamente por conta desta polêmica.
Como
a última sessão do ano aconteceu durante a manhã e os ministros só voltam a se
reunir em fevereiro, Marco Aurélio decidiu analisar sozinho uma série de
pedidos feitos pela AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros).
Além
desta questão, o ministro também suspendeu mais de dez outras normas presentes
na resolução do CNJ em questão. Entre elas, uma que permite a utilização de
outra lei, mais dura que a Loman (Lei Orgânica da Magistratura Nacional), para
punir magistrados acusados de abuso de autoridade.
Outra
regra, que também foi suspensa, dava direito a voto ao presidente e ao
corregedor do CNJ.
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A lei do mais caro. Rouanet
inflaciona mercado; sem incentivo, preços vão às alturas FOLHA SP 19.12
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O
fracasso da turnê de 80 anos de João Gilberto reforça a tese: nem um dos
maiores artistas brasileiros sobrevive hoje sem recursos públicos das leis de
incentivo à cultura.
Anunciada
há seis meses e cancelada na semana passada, a série de shows não fazia uso da
Lei Rouanet para captar recursos (ela permite que patrocinadores abatam do
imposto parte do dinheiro investido em cultura).
Os
produtores afirmaram que tentaram convencer mais de cem empresas a investir na
turnê. Em vão. Decidiram retirar da bilheteria todo o dinheiro para cobrir os
custos. E também seus lucros.
O
preço dos ingressos foi às alturas -de R$ 500 a R$ 1.400. Resultado: boa parte
encalhou. Shows foram adiados -a assessoria afirmou que o cantor estava
gripado.
Na
última hora, os Correios toparam investir R$ 300 mil nas apresentações do Rio e
de SP. Pouco. E tarde demais.
Segundo
artistas e produtores, hoje não é mais possível sobreviver sem incentivo.
"Se
não uso a Rouanet, não consigo patrocínio. De cada dez empresas, sete perguntam
de cara: tem lei de incentivo?", fala Flora Gil, empresária e mulher de
Gilberto Gil. "Posso fazer show sem patrocínio? Posso. Mas o preço dos
ingressos vai subir."
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Na internet, site
ensina a investir por meio de incentivos fiscais. Cultivo.cc
pretende atrair dinheiro para pequenos projetos FOLHA SP 19.12
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Conseguir
aprovar seu primeiro projeto na Lei Rouanet não é o que tira o sono da
produtora Camila Boer, 34.
Dureza
mesmo, ela aposta, será a etapa seguinte: encontrar um patrocinador que banque
os R$ 3 milhões estimados para "Que Samba É Esse?", projeto que
inclui série de shows e documentário sobre o samba-rock do cantor Jorge Ben e
companhia.
Muito
produtor já gastou sola de sapato na mesma via-crúcis pela qual Boer passa.
Para
contornar esse caminho, uma nova plataforma na internet quer fazer o meio de
campo entre projetos com dificuldades para captar recursos e potenciais
investidores.
O
diferencial do Cultivo.cc (www.cultivo.cc) é aliar a lógica do
"crowdfunding" a leis de incentivo fiscal do Brasil.
"Crowdfunding"
quer dizer financiamento da multidão -uma espécie de "vaquinha" do
século 21. Com a ajuda de redes sociais, como Twitter e Facebook, levanta-se
pequenas quantias até que se chegue à bolada necessária para realizar um
projeto.
A
prática funcionou até catapultar a campanha de Barack Obama.
ENTRAVES
DA ROUANET
O
portal trabalhará com três leis federais de isenção fiscal: Rouanet,
Audiovisual e Esporte. Será uma vitrine de projetos para possíveis mecenas,
investindo em processo ativo de captação de recursos.
Há
várias formas de financiar uma proposta e debitar esse valor no Imposto de
Renda. Via Rouanet, apoiar shows de MPB, por exemplo, rende descontos parciais
no imposto. Outros setores, como artes plásticas, dão 100% de isenção ao
investidor.
Isso
tudo dentro de um limite do quanto se pode aplicar do IR: 4% para pessoas
jurídicas e 6% para as físicas.
O
problema é que, hoje, burocracia, "juridiquês" e desconhecimento
sobre a lei funcionam como espantalhos para o investidor, diz o designer
Gustavo Junqueira, 27, um dos quatro sócios do Cultivo.
Em
outras palavras: fora grandes empresas, há muito "peixe pequeno" por
fora da lei. Vai pelo ralo a chance de que "as pessoas possam ver o que
está sendo feito com o dinheiro do imposto".
Em
2010, o Ministério da Cultura deu sinal verde para que projetos captassem cerca
de R$ 5 bilhões pela Rouanet, mas só se angariou 30% desse valor, segundo os
dados mais recentes da pasta.
Para
o colunista da Folha Ronaldo Lemos, o problema é "conjugar a boa ideia com
a realidade burocrática da Rouanet". Ele lembra propostas similares que
não avançaram, como perguntar no formulário de declaração do IR: "Quer
contribuir para projetos culturais? Marque um X aqui".
A
vantagem do Cultivo.cc "seria aproveitar a internet para isso, sem
necessidade da cooperação da Receita", diz Lemos.
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João Gilberto abre o
mundo de afetos com a voz. Chamar o cantor de 'complicado' e
'personalista' é resquício de uma antiga visão da bossa nova como 'reacionária'. Fazem caricatura da postura de João
Gilberto, mas ele nunca deixou de ser aquele que quer cantar o que ama. FOLHA
SP 19.12
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João
Gilberto se apresenta com banquinho e violão no auditório do ibirapuera em SP
-
Eram
os anos 60. A avenida Paulista ficava forrada de flores amarelas que caíam das
árvores de seus casarões. Naquela paisagem, a voz de João Gilberto soava como
um trovão dissonante.
Aqueles
sons estranhos não se pareciam com nada conhecido na nossa música.
Sons
de jazz, em um samba americanizado? Em uma delicadeza ímpar, o baiano João
Gilberto parecia estar cantando unicamente para aquele que o escutava.
Nosso
"um cantinho, um violão, esse amor e uma canção", nosso "o
pato", que queria cantar alegremente, foram pelo mundo afora.
Naquele
momento, aqui, a bossa nova era considerada reacionária, individualista,
burguesa. Antes da briga entre a música engajada e o tropicalismo houve outra
bobagem, que foi contrapor o samba de raiz à bossa nova.
Parece
que tudo isso perdura. O cancelamento recente do show de João Gilberto volta a
colocá-lo no rol dos "megastars" complicados e personalistas.
Resquício
daquela antiga visão acadêmica que, por meio da análise das letras da bossa
nova, apontava um intimismo burguês reacionário.
João
Gilberto sempre foi "um cantinho, um violão". Nos teatros municipais
do mundo todo, em pleno Carnegie Hall, cantando para multidões, João Gilberto
sempre reclamou de falhas técnicas, pois sempre quis "um cantinho e um
violão".
Tem
fama de ser intransigente, genioso. É sempre temido em suas atitudes.
Fazem
caricatura de sua postura. O fato é que João Gilberto nunca deixou de ser
aquele baiano que saiu de
Juazeiro
e que quer cantar aquilo que ama.
Sua
obra é absolutamente coerente com sua proposta inicial, quando tocou o violão
da música "Chega da Saudade" para o disco pioneiro "Canção do
Amor Demais" (1958), em que Elizete Cardoso (1920-1990) canta as
composições de Vinicius e Jobim.
O
violão deixou de ser um mero acompanhamento nas músicas. As letras tornam-se
falas de intimidade.
Há
um enlevo, um prazer no puro som do "bim, bom": "É só isso o meu
baião, e não tem mais nada não, o meu coração pediu assim, só".
Um
solitário afirmando seu jeito de ser entre o baião e o coração. Seus silêncios
e respiros recriam nosso mundo sonoro. Ele adora concertar o belo, como costuma
dizer.
João
Gilberto só grava depois que atinge a perfeição total nos seus acordes
dissonantes. Tem sempre uma vogal a ser reinventada para dar conta do que quer
cantar.
SEM
ESQUEMA
Como
manter "um cantinho, um violão" no esquema dos shows de hoje, quando
o telão substituiu o olhar direto, onde o "show business" determina o
que criar e como cativar o público, onde fica difícil manter qualquer
singularidade que não passe pelo que a massa determina e compra?
João
Gilberto parece não se adaptar ao mundo de hoje. Continua tímido, atrapalhado,
lutando para poder continuar sendo o que é.
Se
isso o folcloriza, se isso o torna "estranho", se isso horroriza sua
vizinhança (dizem até que um gato seu chegou a se suicidar), isso não tem nada
a ver com a grandeza de sua criação.
Como
inventor que é não se subordina às pressões todas, ainda que isso o leve à
solidão. Psicopatologizar sua postura é não poder se defrontar com a
peculiaridade do que inventou.
Só
nos resta a gratidão pelo que ele continua a nos proporcionar. Com sua doce
voz, ele nos instrumenta para o mundo dos afetos. Algo que, em nosso cotidiano,
está cada vez mais em desuso.
MIRIAM
CHNAIDERMAN é psicanalista, documentarista e ensaísta
>>>
DEPOIMENTO SERGIO BRITTO (1923 - 2011). Ator era
apaixonado por tudo o que se nutria de drama
Morto
no sábado, Britto era um "ser beckettiano" como Thomas, que veio ao
Brasil a convite do ator. Convivíamos
como tias que fofocam e falam sério, que sentem nostalgia até dos tempos que
não vieram FOLHA SP 19.12
-
A
maior questão para o autor sempre foi: como reduzir à palavras os grandes
sentimentos e as fortes emoções que se tem durante uma vida?
Esse
dilema me bate na cara justamente quando essa, a maior "questão", é
testada por meio da morte de um de meus melhores amigos e parceiro de trabalho
de décadas.
Como
escrever sobre Sergio Britto, "minha vida, minha morte, meu amor"
-palavras de Valmont, personagem do nosso "Quartett", de Heiner
Mueller-, como Tônia Carreiro dizia baixinho, ao som ensurdecedor dos cellos,
enquanto Sergio se deixava cair no palco como se fosse um Tristão que não
queria mais sua Isolda, justamente por ter sido testado pelo dilema de se saber
demais e não conseguir representar tantos símbolos ao mesmo tempo.
Sergio
Britto caído no palco do teatro Laura Alvim, no Rio, em 1986, com Philip Glass
sentado, mudo (ou quase), dizendo: "Esse ator é simplesmente
maravilhoso".
Mas
foi aqui, em Londres, que tudo começou.
Conheci
Sergio aos meus 16 anos, em Chalk Farm, onde fica o teatro The Roundhouse. Ele
estava de passagem com a peça "Autosacramentales", de Calderon de La
Barca. Vinha desde o Brasil com meu telefone, dado por Sergio Mamberti (veja o
papo com os dois em geraldthomas.net).
Se
me perguntarem se há alguém neste planeta com quem sempre tive total afinidade,
a resposta é imediata: Sergio Britto.
NOSTALGIA
Aliás,
este sábado [dia 17]está horrendo! Acordei mal e queria visitar o túmulo de
Karl Marx, em Highgate. Desisti. Dei meia volta e cheguei em casa me sentindo
mal. Fui avisado da morte de Sergio. Meu primeiro impulso foi escrever à minha
futura-ex-eterna-para-sempre sogra Fernanda Montenegro, com quem me correspondi
ainda ontem [sexta], mas com leveza, numa típica troca de e-mails de fim de
ano. Mal sabíamos.
Devo
a Sergio a vida do meu teatro no Brasil. Mas não é assim tão fácil. A troca foi
recíproca. Convivíamos como duas tias que fofocam e falam sério, daquelas que
sentem nostalgia até dos tempos que ainda não vieram.
Discordávamos.
E como! Mas discordávamos a respeito de teatro. Só falávamos de teatro: das
diferenças entre as culturas, do atraso estético do teatro brasileiro nos anos
1980, do formalismo do teatro inglês e das vanguardas que cresciam em Nova
York, no "off off Broadway".
"Sergio!
Você está roncando!", eu o cutucava nas costelas quando íamos ao National
Theatre, em Londres, ou à Broadway, em Nova York. Assim que os refletores
diminuíam sua intensidade, ele dormia. "Roncando? Como você se
atreve?", ele reagia. "Quieto, Sergio! O Michael Gambon e o Alan
Bates estão ouvindo você berrar na plateia." Era muito engraçado.
MÚSICA
Sergio
era um surdo mal assumido. E afirmava ter uma "eterna ameba" que o
fazia dormir na plateia -e até no palco! Certa vez, em "Quatro Vezes
Beckett", Sergio dormiu em cena, enquanto a cortina se abria. Rubens
Correa, lá atrás, era quem dava a primeira deixa, berrando a palavra
"música!". Sergio tinha de reagir, dizendo algo típico dos diálogos de
Beckett. Essa peça, o "Teatro 1", era uma pré-etapa do que viria a
ser o "Fim de Jogo", aquela memorável e imortal peça em que Hamm e
Clov se pegam, se atazanam, do início ao fim.
Antes
disso, estava em Nova York, dirigindo o La MaMa, e Sergio me visitava com
frequência. Insistia em que eu fosse dirigi-lo no Teatro dos Quatro, na Gávea,
no Rio.
Eu
nunca sabia como encarar seus convites. Foi quando Julian Beck, criador do
Living Theater, disse: "Vá ao Brasil. Lá terá dinheiro e palcos maiores.
Quando retornar para Nova York, estará nas capas dos cadernos culturais".
E assim foi.
Fui.
Sergio Britto, Ítalo Rossi e Rubens Correa, numa montagem quase espelho da
nova-iorquina, mas com uma peça a mais: o "Nada" (terra coalhada de
ruínas....).
"Chica,
traz aquele feijão bem forte. Ele gosta forte, lembra?", berrava Sergio,
num de seus vários apartamentos em Copacabana, no Leblon, em Santa Tereza.
Chica
cuidava de tudo. Inclusive de sua videoteca de filmes e de teatro. Sergio era
ator, diretor, produtor, professor e apaixonado por tudo o que se nutria de
drama, do palco falado ao cantado.
De
certa forma, Sergio e eu éramos dois seres beckettianos. Vivíamos numa
atmosfera de eterna discordância e pequenos beliscões e petelecos, muito
carinho e muito amor.
"Você
ainda está aí?", Hamm (cego), pergunta a um Clov inquieto. "Como eu
poderia não estar?"
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