sábado, 24 de dezembro de 2011


O clima nas mãos de Deus.
O ano termina com uma declaração muito inquietante do ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante - a de que o governo não tem como impedir mortes nesta temporada de chuvas por conta de deslizamentos em enchentes: "Morrerão pessoas neste verão. E nos próximos" ( Folha de S. Paulo , 16/12). Washington Novaes é jornalista. O popular/GO 22.12
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Segundo o ministro, ainda não há sistemas de avaliação e prevenção de riscos desse tipo, embora os desastres venham acontecendo há décadas. O Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais foi criado há poucos meses e "está atrasado no mapeamento de áreas de risco". Só 56 mapeamentos foram concluídos em 251 cidades "críticas". Como fazer para ter um alarme e tirar as pessoas num prazo de poucas horas, se "não temos tradição, estruturas, mobilidade"? Só este ano, informou o ministro, 1,5 mil pessoas morreram ou desapareceram em "eventos extremos" como esses. Nos últimos três anos, as mortes somaram 2,5 pessoas por milhão - ou 4.750.


Até aqui, o Centro de Monitoramento só processou mapeamentos para avaliar áreas de risco naquelas 251 cidades porque, diz o ministro, faltam geólogos (eles preferem trabalhar para mineradoras, "onde ganham mais" - informou). E os sistemas de Defesa Civil são precários, onde existem, ou seja, em apenas 90 dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros.

É quase inacreditável que seja assim, 30 anos depois de órgãos da ONU virem alertando para o problema das mudanças climáticas geradas pela emissão de poluentes que se concentram na atmosfera terrestre e contribuem para o aumento da temperatura do Planeta (0,8 grau Celsius até aqui). Depois de três décadas de discussão na Convenção do Clima, em busca de um pacto global que permita reduzir as emissões e impedir que a temperatura suba além de 2 graus - situação em que as catástrofes serão ainda mais amplas. Mas já estamos próximos de superar a barreira dos 2 graus, que, segundo cientistas, acontecerá com as emissões ultrapassando a casa dos 32 bilhões de toneladas anuais de dióxido de carbono - em 2010 foram 30,6 bilhões, 6% mais que no anterior. Apesar disso, na recente reunião de Durban, na África do Sul, o máximo a que penosamente se chegou foi o de estabelecer o ano de 2015 como data para que todos os países assumam compromissos obrigatórios de reduzir suas emissões - mas só a partir de 2020, daqui a uma década.

Enquanto isso, estamos com perto de 20 cidades de Minas Gerais em estado de emergência. O Rio Grande do Sul perdendo sua colheita de uvas por causa de geadas na hora de começar o verão. As Filipinas com centenas de mortos e centenas de milhares de desabrigados por tufões - eventos que só merecem poucas linhas na maior parte da comunicação, quando merecem; já se tornaram rotina "desinteressante" para a busca de leitores/espectadores. Órgãos municipais informam que só na cidade de São Paulo são 27,1 mil famílias - umas cem mil pessoas - "vivendo em áreas de alto risco". São um milhão de pessoas no conjunto de áreas inadequadas. Mas os próprios órgãos municipais informam que só em 2040, daqui a 30 anos, terminará de ser implantado o plano da prefeitura para manejo das águas pluviais, que inclui a construção de mais piscinões e a limpeza dos que existem, o desassoreamento do Rio Tietê, a readequação da rede municipal de drenagem etc.

Que outras prioridades serão mais urgentes que a de impedir a morte de pessoas, a perda de suas casas e seus bens? Túneis? Viadutos? Estádios? Trens-bala? Porque a ciência continua a advertir que os eventos serão mais graves a cada dia. No Brasil, diz o respeitado Met Office do Hadley Centre, da Grã-Bretanha, que o risco de eventos climáticos extremos até o fim deste século crescerá 87%. Geofísicos franceses lembram que os Alpes já perderam 25% de sua área em 40 anos, com mais calor. O mar vai subir pelo menos 30 centímetros até o fim deste século, advertem cientistas da Universidade Southampton, também da Grã-Bretanha. Aqui mesmo no Brasil ele já se elevou perto de 20 centímetros em certos pontos no litoral fluminense, assegura o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Mas estamos implantando ali mais uma usina nuclear, ao lado de duas outras que já funcionam e não têm onde depositar seu lixo atômico altamente perigoso - como não terão mais quatro que o Ministério de Minas e Energia quer implantar no vale do Rio São Francisco; nem têm centenas de outras usinas no mundo todo, que o acumulam em piscinas nas suas instalações. Quando, há alguns anos, o autor destas linhas gravava um documentário para a TV Cultura num projeto de depósito de lixo nuclear que o governo norte-americano estava implantado em Nevada (hoje embargado pela Justiça), perguntou a um diretor do Departamento de Energia dos EUA se não era temerário construir um depósito como aquele num local onde frequentemente acontecem abalos sísmicos. Ele respondeu que dois anos antes houvera um abalo de 5.3 graus na escala Richter, sem nenhum problema para o depósito. "Mas se houver um abalo mais forte, quem garante?" - foi-lhe perguntado. E o diretor, apontando para o alto o dedo indicador, respondeu: "Ele".

Ou seja, estamos, lá como aqui, nos "eventos extremos" e em matéria de lixo atômico, nas mãos de Deus. Precisamos contar com sua generosidade. Inclusive em Goiás.
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Poética do concreto.  Com olhar humanizado, livros de fotos e textos líricos passeiam pelos Palácios da Alvorada e do Planalto CORREIO BSB 24.12
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A escritora e pesquisadora Graça Ramos passou longo tempo sentada na Praça dos Três Poderes, olhando para o Palácio do Planalto. Teve um dia em que reparou as janelas do prédio onde a presidente despacha. Observou que elas pareciam um mural, refletindo o céu como se fossem pinturas. “Pedi para a fotógrafa Graça Seligman fazer uma foto apresentando isso porque senão as pessoas achariam que eu sou louca”, contou sobre o trabalho feito em parceria com a xará para o livro Palácio do Planalto — Entre o cristal e o concreto, lançado como mais um exemplar da coleção Memória, organizada pelo Instituto Terceiro Setor (ITS).
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Graça Ramos, que foi por muitos anos repórter de grandes jornais e revistas, precisou cobrir pautas no Palácio do Planalto eventualmente. Desta vez, experimentou olhar para o edifício, tentando decifrá-lo e conhecer sua história. O resultou foi uma investigação reveladora principalmente no que pode significar simbolicamente um prédio complemente revestido de vidro ou da “poética da transparência”, nas palavras da autora. “Tentei transformar esse objeto lindo, escultórico e prismático em um personagem. O desenho dele, relacionado com a poética da transparência, diz muito do que se espera de um governo democrático, republicano e suas as ações públicas deixadas às claras”, definiu Graça.
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Outro livro da mesma série, Palácio da Alvorada — Majestosamente simples, escrito pelo jornalista do Correio Severino Francisco, e ilustrado com fotografias também de Graça Seligman, está disponível nas estantes. “O Palácio do Planalto e o Palácio da Alvorada são matrizes de projetos que Niemeyer usaria no resto da cidade. Eles são frutos da experimentação da arquitetura que ele vinha fazendo desde os projetos do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte. Brasília é realização do projeto modernista brasileiro iniciado em 1922”, resume Severino Francisco.
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Em cada autor, seja das imagens seja dos textos, uma visão diferente dos edifícios é descortinada. “Niemeyer é um grande escultor. Todas as composições dele têm muita leveza. Os projetos em Brasília valorizam o horizonte aberto e o céu. É um casamento fantástico, a integração da arquitetura com a natureza”, comenta a fotógrafa Graça Seligman sobre o caráter plástico dos prédios funcionais da cidade retratados nos cinco livros.
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 “O conhecimento da história da arquitetura modernista confere sentido e grandeza a Brasília. Os prédios não fazem uma cidade sozinhos, mas a arquitetura de Brasília tem essa dimensão. Ela nos coloca esse desafio e, na verdade, poucos se confrontam e estão à altura dele. Brasília não foi criada para ser uma cidade provinciana nem cosmopolita de terceira mão, como ocorre com os novos ricos”, constata Severino Francisco.
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Aproveitando a carona dessas duas novas edições, foram relançados exemplares de Severino Francisco, publicados anteriormente na mesma série: Memorial dos Povos Indígenas — Maloca moderna e Catetinho — Palácio de Tábuas. Teatro Nacional Claudio Santoro, texto de Celso Araújo, e fotos de Rui Faquini, André Abrahão e Claudio Moraes, também faz parte dos volumes da coleção. Todas as edições são publicadas em inglês e português. O próximo edifício que deverá ser retratado na coleção Memória deve ser o Palácio do Itamaraty.

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» A COLEÇÂO
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PALÁCIO DA ALVORADA – MAJESTOSAMENTE SIMPLES
Pesquisa e textos: Severino Francisco. Fotografia: Graça Seligman.
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PALÁCIO DO PLANALTO – ENTRE O CRISTAL E O CONCRETO
Pesquisa e texto: Graça Ramos. Fotografia: Graça Seligman.
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CATETINHO – PALÁCIO DE TÁBUAS
Pesquisa, textos e edição: Severino Francisco. Fotografia: André Abrahão.
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MEMORIAL DOS POVOS INDÍGENAS – MALOCA MODERNA
Pesquisa, textos e edição: Severino Francisco. Fotografias: André Abrahão.
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TEATRO NACIONAL CLAUDIO SANTORO
Texto, pesquisa, entrevistas e edição: Celso Araújo. Fotos: Rui Faquini, André Abrahão, Claudio Moraes e Arquivo Público DF.

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» DOIS TEMPLOS
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 “A caixa de vidro que parece suspensa na paisagem devido ao conjunto de colunas que apoiam e também ajudam a erguê-la resulta de desenho que alia ‘simplicidade e nobreza’, nas palavras de Niemeyer. Revestidas de mármore branco texturizado, as colunas não possuem ornamentos. São em si elementos visuais ao evocar redes, velas de barco, que se movimentam no ar.”
Graça Ramos em Palácio do Planalto — Entre o cristal
e o concreto
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 “Oscar Niemeyer não gosta da palavra decoração aplicada à presença da arte em seus projetos. De fato, ele sempre buscou uma integração orgânica e indivisível entre a arte e a arquitetura, de modo que seja impossível separar uma da outra, sem desfigurar os seus prédios esculturais.”
Severino Francisco em Palácio da Alvorada — Majestosamente simples
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O Palácio da Alvorada e o Palácio do Planalto foram desfiados pelos olhares de Severino Francisco e Graça Ramos, num trabalho de preservação de memória
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No Planeta Elite não tem crise
Para o planeta elite, que usufrui das benesses e dos produtos do mercado de luxo e seus 191 bilhões de euros (número de 2010), os problemas econômicos do capitalismo não existem. Muito pelo contrário. Na Itália, para comprar o último lançamento do carro esportivo Lamborghini Aventador a espera é de 1,5 ano. E os utilitários custam US$ 400 mil. No Brasil, a Louis Vuitton, conhecida por suas bolsas que custam quase 3 mil dólares, está ampliando o número de lojas de seis para nove. O artigo é de Najar Tubino. Carta Maior 24.11
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Como disse o ex-premiê Silvio Berlusconi se os aviões estão lotados e há filas nos restaurantes, não tem crise econômica. Na Itália, além disso, para comprar o último lançamento do carro esportivo Lamborghini Aventador a espera é de 1,5 ano. E os utilitários custam US$ 400 mil. Um outro italiano, Sérgio Marchionne, presidente da Fiat, também comentou na feira de automóveis de Frankfurt, na Alemanha, em setembro:

- Quando estava na estande da Ferrari não ouvi nenhum cliente chorando por causa da crise.

Para o planeta elite, que usufrui das benesses e dos produtos do mercado de luxo e seus 191 bilhões de euros (número de 2010), os problemas econômicos do capitalismo moderno não existem. Muito pelo contrário. O Brasil, por exemplo, recebeu a visita de dois presidentes de grifes mundiais importantes, recentemente: Ives Carcelle, da Louis Vuitton e Pierre Pringuet, da Pernod Ricard. A LV francesa, conhecida por suas bolsas de couro bovino, custam em média quase 3 mil dólares, está ampliando o número de lojas no Brasil, de seis para nove. A maior delas substituirá a do Shopping Cidade Jardim, e terá 1.000 metros quadrados.

Em dois anos, o cliente poderá personalizar os acessórios, ou seja, escolher cinco modelos básicos no computador, depois monta os outros ingredientes, como cor e tipo de couro. Lógico que o preço aumenta, entre 5 e 7 mil reais. Se for couro de crocodilo, o preço dobra. A Louis Vuitton faz parte do conglomerado de luxo do bilionário francês Bernard Arnaut, também acionista do Carrefour. O LVMH (Louis Vuitton, Moet, Hènessy), fatura mais de 20 bilhões de euros anualmente. O bilionário este ano resolveu estender seus contatos a outra marca histórica francesa, a Hèrmes, e comprou quase 20% da empresa, através de ações de terceiros, o que deixou a empresa em pé de guerra. A Hèrmes ainda é controlada por grupos familiares, desde a fundação no século XIX. A sua mais famosa bolsa, a Birkis, custa US$7,5 mil. É feita de couro de bezerro, que por sinal, teve um aumento de mais de 20%, em 2011. Tudo é fabricado manualmente.

GARRAFA DE CRISTAL E OURO
O Brasil emergente do planeta elite recebeu um simpósio de luxo - Hot Luxury -, no mês de novembro em São Paulo, patrocinado pelo jornal inglês, Herald Tribune, coordenado pela editora de moda, Suzy Menkes, figura carimbada do mercado de luxo mundial. Segundo um dos participantes, controla vendas de outlet de luxo na Europa, as grifes, hoje em dia, estão atrás do mercado "aspiracional", normalmente de clientes que gastam mais do que tem. Uma prática que já foi abandonada entre os países ricos, onde as empresas querem é a minoria abastada, que procura exclusividade no luxo. Ou como diz Ives Carcelle não vai ser pela desvalorização das bolsas de valores que os clientes vão deixar de comprar uma bolsa ou um par de sapatos.

De qualquer forma, o Brasil já faz parte do grupo dos 10 clientes mais importantes no mundo da Louis Vuitton, uma definição definida pela empresa, em decorrência das compras dos brasileiros nas butiques da Europa e Estados Unidos. O Brasil também é o segundo mercado, atrás dos americanos, no consumo da vodca Absolut, um dos carro-chefe da Pernod Ricard, que também está inaugurando uma loja no Shopping Cidade Jardim.

- O Brasil tem condições de estar entre os 10 mercados mais importantes da Pernod Ricard. Nós esperamos que a classe média brasileira continue comprando nossas marcas com valor agregado, aumentando o padrão do consumo", disse Pierre Pringuet.

Ele quer que os brasileiros troquem o uísque Natu Nobilis pelo Ballantaines ou o Chivas 12 anos, uma troca de quase 30 reais por R$110. A Pernod também está lançando a vodca Absolut Elyx, ao preço de R$390. Agora, para integrar o planeta elite tem que comprar uma das 50 garrafas do uísque Royal Salute 62 Gun Salute, de cristal e pintada a ouro, custa R$10 mil. Durante o mês de dezembro, a Pernod está distribuindo kits no Cidade Jardim. Ela também é dona da marca Orloff e diz que repaginou a vodca, do tipo popular, chegará ao mercado com nova embalagem, a preços irrisórios (R$21,90).

O luxo também terá de 15 a 20% das 212 lojas do no Shopping JK, do grupo Iguatemi, será inaugurado em março de 2012.

RELÓGIO DE US$3 MILHÕES
No JK, segundo Carlos Jereissati, estreará a grife francesa Goyard, fabricante de malas e bolsas mais luxuosas que a Louis Vuitton. Fundada em 1853, a Goyard só tem 12 lojas no mundo, nos principais mercados do luxo: Estados Unidos (4 butiques) e 48,1 bilhões de euros, seguido pelo Japão (4 butiques) e 18,1 bilhões de euros. As outras quatro estão na Europa. O mercado chinês é o terceiro em faturamento, 9,6 bilhões de euros. O Brasil, segundo a projeção da Bain & Company, que faz a pesquisa mundial do luxo, é um mercado de 2,3 bilhões de euros.

Só para se ter uma ideia da expansão do negócio. A Louis Vuitton dobrou de produção nos últimos cinco anos. Em 2011, o mercado de luxo crescerá 10%. Dividindo por segmento, os índices são os seguintes, ainda conforme os dados da consultoria: artigos de couro l6%, sapatos 11%, joias 15% e relógios 20%.

Sobre relógios foi constatada uma nova tendência, as mulheres estão comprando como investimento. A Omega lançou o Ladymatic ao preço de US$42 mil. Vamos dizer que é um padrão mediano. A Hublot vendeu um modelo cravejado de diamantes por US$3 milhões. E pretende colocar no mercado em 2012 o relógio mais caro da história: US$5 milhões, com 300 quilates de diamantes. Trata-se de um modelo extravagante, tipo milionário asiático ou do Oriente Médio, os que mais compram. Para clientes finos e arrojados, mas sem ostentação, indica-se um modelo da IWC Schaffahausen, única marca suíça no leste do país, onde se fala alemão.

Ela tem relógios básicos a partir de US$4 mil. Mas o melhor modelo foi lançado recentemente: o Portuguese Sidérale Scafusic, levou 10 anos para ser desenvolvido. Tem calendário perpétuo, marca horário sideral, diferente do solar, um mapa atrás em movimento, com as estrelas visíveis no horizonte. É o mais caro da fábrica suíça - US$750 mil, é produzido somente por um relojoeiro, Stefan Brass. A Suíça exportou em 2010, 7 bilhões de euros em relógios. Na conta estão quase 1 milhão de Rolex.

PROBLEMA EXISTENCIAL DA MERCEDEZ
Para completar o quadro, de um segmento muito sensível do mercado de luxo. A Scoth Whisky Association, da Escócia, anunciou que as vendas cresceram 22% no primeiro semestre de 2011. O Brasil importou R$125 milhões em garrafas, nesse período. No mundo, em 2010, os escoceses venderam 569 milhões de garrafas. Mesmo ímpeto é registrado no mercado de carros de luxo. A BMW manteve a liderança no ano passado vendendo 234.175 BMW mini e 196.004 da série 1. A Audi vendeu 2.332 mil e a Mercedez Bens 222.400 das marcas A e B. A Mercedez vive uma crise existencial, como disse o presidente executivo, Dieter Zetsche:

- É impossível dizer aos nossos clientes, funcionários e investidores que temos que aceitar o terceiro lugar".

A Mercedez sempre liderou o mercado de luxo no mundo. Perdeu a posição nos últimos anos. Lançou até um compacto da marca B-class por 26 mil euros, na Europa, onde o S-class custa 72 mil euros. A Porshe vendeu 100 mil carros este ano, aos europeus em crise.

A Universidade de N. York fez uma pesquisa durante dois anos e meio, e chegou a seguinte conclusão:

- Os poderosos não prestam atenção nas outras pessoas.

Para ilustrar a síntese da pesquisa, vamos citar alguns números.

No caso do Brasil. Segundo a Merryl Lynch Global Wealter Management e a Consultoria Capegemini são 155 mil brasileiros com US$1 milhão disponíveis para investir. O Brasil é o décimo primeiro na lista dos milionários do mundo. Porém, é o mercado que mais cresce, inclusive acima da Ásia - 28% nos últimos 12 meses. Segundo a Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), até junho de 2011 eram 64.260 clientes com investimentos no chamado "private banking".

38.095 MILIONÁRIOS NO BRASIL
O volume de recursos aplicados por esse seleto grupo atingiu R$421,8 bilhões. No primeiro semestre deste ano, ingressaram no clube milionário mais 1.036 pessoas. Os motivos são conhecidos: maior circulação de dinheiro entre empresários, altos executivos, consultores e profissionais liberais. Além dos resultados para muitos interessados em fusões e aquisições de empresas. Para quem não sabe um presidente executivo no Brasil ganha uma média de R$2 milhões por ano. Um diretor executivo na faixa de R$240 mil. Estão no topo mundial, às vezes, acima dos ricos desenvolvidos. Hiram Maisonave, vice-presidente do BNP Paribas, banco francês, que atua no Brasil, detalha quem são os participantes do "private banking":

- Não são mais apenas os empresários, altos executivo, ou herdeiros de grandes fortunas. O crescimento econômico desencadeou uma mudança de patamar na renda de profissionais liberais, como médicos, engenheiros, arquitetos, advogados e consultores".

São Paulo, tradicionalmente, concentra o maior número de milionários, mais de 50%, em dinheiro são R$233,53 bilhões sob gestão. Há uma expansão na região norte cresceu 34,1% e no centro-oeste 25,6%, mas em termos de volume de capital não se compra: R$8,47 bilhões no centro-oeste e R$1,26 bilhão no norte. O economista Márcio Pochmann do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas), em um trabalho sobre as famílias mais ricas do país, disse que as 5 mil no topo da lista, possuem um patrimônio equivalente a 40% do Pib, o que daria mais ou menos R$1,65 trilhão.

A Receita Federal tem um estudo detalhado sobre o patrimônio dessas famílias: 997 contribuintes tem patrimônio superior a R$100 milhões; 1.327 entre R$50 e R$100 milhões; 5.047 entre R$20 e 50 milhões; 10.168 entre R$10 e R$20 milhões e 26.206 entre R$5 e R$10 milhões. Se aprovassem um imposto sobre fortunas no Brasil, ele recairia sobre 38.095 contribuintes, e uma alíquota de 1,5 poderia arrecadar R$22 bilhões.

A ILUSÃO ACABOU
Agora vamos examinar o lado, digamos, mais traumático do planeta elite. A crise em Wall Street. A primeira notícia: redução de 30% no bônus anual. O presidente do Fundo de Hedge (risco), Navigator Group, Charles Stevenson, mora perto da praça Zucotti, local dos acampados de Nova York. Ele mora no condomínio Park Avenue, junto com muitos outros membros do planeta elite. Ele declarou ao The Wall Street Journal:

-Não acho que é hora de ganhar dinheiro, este é um momento de nos prepararmos para sobreviver. O futuro não vai ser como um passado que conhecemos. Não há saída deste atoleiro".

Fundos de risco, gestores de patrimônio e, principalmente, os bancos de investimentos, que aprontaram as peripécias que resultaram na maior crise financeira estão com problemas. Um diretor executivo da empresa de recrutamento Options Group, o chamado "headhunter", caçador de talentos, foi tomar um chá com um corretor, de um dos cinco bancões americanos, em um hotel de N. York. A queixa do corretor, de 27 anos, diplomado na Universidade de Ivy League: só ganharia os mesmos US$500 mil de bônus do ano passado e teve que trabalhar mais em 2011. O comentário do caçador de talentos:

-É muito desmoralizante para as pessoas, especialmente para gente jovem, com curso superior, que veio para Wall Street embalada em sonhos de tornar-se milionário e não conseguir".

Mesmo com a queda no valor dos bônus, o Goldman Sachs, que é o maior banco de investimentos do mundo, separou US$10 bilhões para distribuir aos seus 34,2 mil funcionários, uma média de US$292.836 para cada um. Isso é mais que 10 vezes a renda dos 49 milhões de americanos classificados na faixa de pobreza - famílias com dois filhos e renda anual de US$22 mil.

O cenário negativo de Wall Street estão nas demissões. O Bank of America já avisou que vai demitir 30 mil até o ano que vem. Mesmo número do HSBC, maior banco do Reino Unido. O BNP Paribas, maior da França vai demitir 1,4 mil e o Unicredit, maior da Itália, outros 6.150 funcionários. A Agência Bloomberg fez um levantamento sobre as demissões nos serviços financeiros em todo o mundo.

Serão 220 mil, bem maior que os 174 mil em 2009. Os motivos: maiores exigências de capital, pelas regras que entrarão em vigor em 2013, o fracasso dos produtos financeiros exóticos e a redução de negócios com carteira própria. O presidente do Conselho de Administração do UBS, maior banco suíço, Kasper Villiger, comentou o caso:

- Muitos banqueiros de investimentos estavam convencidos de que estamos vivendo hoje um período limitado, em que tudo está um pouco mais difícil, mas depois o velho mundo retornaria. Mas agora essa ilusão acabou".

DE QUEM SÃO OS IATES?
Na América do Norte os bancos, seguradoras e administradores de recursos já anunciaram 50 mil demissões em 2011, mais que o dobro do ano passado, ainda longe dos 175 mil cortes de 2008. Na Europa as companhias financeiras já anunciaram 125 mil demissões, quase o dobro das realizadas em 2008. O número de funcionários da City de Londres e no Canary Wharf, os distritos financeiros, cairá para 288 mil (27 mil a menos), considerado o menor nível desde 1998.

No final de 2011, os corretores e gestores de patrimônio de Wall Street não estarão tão seguros na hora de fazer a piada para turistas, que chegam na baía do rio Hudson e se espantavam com a quantidade de iates. Os turistas perguntavam: quem são os donos desses iates? Ao que o povo de Wall Street respondia - são os corretores e gestores de patrimônio. E os turistas retrucavam: e onde estão os iates dos clientes? Desmancharam na comissão de 2% fixa que os profissionais cobram, além de mais 20% sobre o desempenho.

CHINESES RICOS QUEREM SEGURANÇA
Sobre os pouco mais de 500 mil chineses com renda acima de US$1 milhão para investir circulam muitas informações de extravagâncias. Mas surgiu uma nova tendência. Procurar residência fixa nos países ricos como Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Austrália. Em 2011, quase 3 mil chineses pediram visto de investidor para se fixar nos Estados Unidos. O candidato precisa ter US$500 mil para investir e dar emprego a 10 americanos em dois anos. Em 2007, foram apenas 270 chineses. Boston é uma das cidades escolhidas, assim como Vancouver, no Canadá. Os chineses do planeta elite argumentam que procuram segurança, como empreendedores, não sujeitos à mudanças na legislação ou rupturas políticas.

Na China, mais de 800 empresas licenciadas de serviços de emigração orientam candidatos como proceder em entrevistas, para obtenção do visto. A Well Trend United, de Pequim, cobra US$30 mil por cliente, tem 10 escritórios nas maiores cidades chinesas e 400 consultores, já conseguiu mais de 10 mil vistos desde que iniciou a operação, no final dos anos 1990.

Um problema dos ricos chineses é documentar o patrimônio, principalmente, a origem dos bens. Como a maioria deles não gosta de pagar imposto, como afirma Gao Tang, da empresa de emigração Harmonia Capital," temem ser pegos se tiverem que informar sua renda total".
A verdade é que os ricos chineses, na maioria, tem uma ligação oficial com governantes e tem um "pecado original para conseguir seu primeiro balde de ouro", como comentou outro empresário que tem uma fábrica em Xangai e não quis se identificar, para a revista Business Week.

O medo na verdade é das tensões sociais, que estão se acumulando na China. O número de conflitos entre trabalhadores ou populações despejadas de áreas em obras tem duplicado nos últimos anos. Os chineses não esqueceram que em 1949, na revolução maoísta, mais de um milhão de proprietários foram mortos. Alguns deles, alegaram que a qualidade do ensino nas universidades americanas e canadenses é melhor, que a poluição é um problema grave e existe uma insegurança na hora de consumir alimentos, em consequência do uso de venenos. Sem contar que os filhos dos revolucionários de 1949 andam desfilando de ferraris, lamborghinis e maseratis nas ruas de Pequim, perto do Estádio do Trabalhador, onde se concentram boates e discotecas. Na China, mais uma vez, tem se divulgado com frequência a expressão "fen fu", ódio aos ricos e seus desmandos.

CHAMPANHE DE 130 MIL EUROS
Um dos legítimos representantes do planeta elite é o hotel Cheval Blanc, na estação de esqui construída pelo bilionário Bernard Arnaut em Courchevel (França). É preciso ter US$10 mil dólares para pagar o helicóptero de Genebra até o hotel, com 34 quartos, lotação de 90% entre os meses de dezembro a abril. A maior percentagem de hóspedes são novos ricos russos, país onde 40% da população está na linha de pobreza. Depois são britânicos, franceses e tem mais brasileiros do que americanos. As diárias variam de 1.130 euros a 20 mil euros.

- O luxo é uma experiência natural para nós, diz o diretor geral, Philippe Gourgan, à agência Bloomberg. Não se sente recessão em nossos quartos".

A única preocupação com a inflação é a do gás hélio injetado em balões prateados, recheados de chocolate, que ficam nos quartos. Por 47 mil euros o abastado pode usufruir de um nascer do sol com uma garrafa da safra 1947 do famoso Chatêau Cheval Blanc, de Bordeaux, e posteriormente, tomar um café regado a trufas negras. O hotel tem um chef três estrelas no guia Michelin, uma ceia de Uannick Alleno, com pombo cozinhado no vapor, grãos de cacau derretido em cenouras e cogumelos temperados com favas de cumaru, está no menu. Mais importante: por 130 mil euros, o somelier Sebastian Labe abrirá uma champanhe "Nabucodonosor St Emilion Premier Grand Cru clase 1990", de 15 litros.

Não há um limite em que o luxo torna-se absurdo. Os homens precisam sonhar no Cheval Blanc. Imagine o tipo de sonho. O porteiro Jean Batiste Ran atendeu a um desses pedidos. O hóspede queria comer bolo fresco. Não qualquer bolo fresco. Tinha que ser de uma padaria de Zurique, na Suíça, exatos 924 km ida e volta. O porteiro mandou uma limousine buscar dois bolos frescos de creme em 10 horas.

O Cheval Blanc é estiloso. As camisetas polos dos funcionários chamados de jogadores são tecidas com casimira de pelos de cabra. Funcionários andam pelo hotel fumando charutos cubanos e, dentro de uma iurta mongol, adornada com chifre de cabrito montês da Saboia, carregam conhaque Armagnac, de 100 anos. No balcão do bar de três metros, esculpido em gelo, o cliente pode tomar a sua vodca.

- O Cheval é um clichê, uma dramaturgia de momentos táteis, prazeres perfumados, na qual os hóspedes com óculos escuros para não serem reconhecidos, perambulam pelas dependências como se fossem instalações de um museu", registra o colunista da Bloomberg.

ANÚNCIO DE CÃES NA TV
Para encerrar este relato uma informação de um segmento dos mais resistentes à crise financeira. A Nestlé, maior empresa de alimentos do mundo, com 400 fábricas e faturamento mais de US$100 bilhões, com participação de quase 25% no mercado de alimentos para animais de estimação, chamados de pets. É um mercado que faturou em 2009, logo após a quebra do Lehman Brothers, US$53 bilhões, as vendas aumentaram 9%, nesse ano. O último lançamento da Nestlé é um anúncio para televisão já veiculado na Alemanha e lançado na Áustria, em outubro. Trata-se de uma peça publicitária dirigida diretamente aos cães de sofá. Ou seja, o anúncio emite sons de alta frequência e tons agudíssimos, que provocam frenesi nos animais. O resultado é óbvio: o cachorro corre para a frente da televisão e fica pulando, querendo comer a ração Benefuel.

Na Alemanha aumentaram as vendas. O mesmo deve acontecer na Áustria. Interessante é que no Reino Unido não existe promoção de alimentos pets. Lá é comum satirizar os donos de animais domésticos por gostarem mais deles do que dos filhos. Por sinal, no Reino Unido e no Japão já existem mais animais de estimação do que crianças. A Nestlé deve lançar em breve um sorvete especial para cães e um ipad de jogos para gatos.

Tem mais: nos Estados Unidos, a Qualcom, empresa especializada na produção de chips de rádio, lançou um novo produto, o Tagg, custa US$200. É um acessório usado em coleiras com GPS (sistema de posicionamentos global). Nos Estados Unidos são criados 77 milhões de cachorros e 10 milhões se perdem por ano. O equipamento tem bateria válida por 30 dias.

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