"Eu quero é público!". Mesmo tímida, presença de longas brasilienses na programação comercial mostra que a produção local não deve ficar restrita às plateias de festivais CORREIO BSB 07.12
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Cena de Simples mortais, de Mauro Giuntini, que teve de investir pesado como distribuidor do próprio filme
A entrada quase simultânea de Simples mortais e Um assalto de fé no circuitão brasiliense de cinema é uma satisfação para os diretores estreantes, Mauro Giuntini e Cibele Amaral. Afinal, exibir o longa-metragem de estreia no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é importante. Projetar em salas comerciais passa a ser ainda mais essencial: oportunidade de alcançar mais pessoas e, quem sabe, provar às distribuidoras que os filmes independentes (e brasilienses) podem dividir o mesmo espaço com produções nacionais dos grandes centros e os endinheirados títulos estrangeiros.
Recentemente, Rock Brasília — Era de ouro, o documentário de Vladimir Carvalho, atravessou a distância entre festivais e salas comerciais com agilidade, em questão de alguns meses: passou em Paulínia, em Brasília e, na sequência, chegou ao circuito comercial. Outro exemplo, de outubro de 2010, é o thriller Federal, de Erik de Castro: cópias em 63 salas do país. Agora, resta saber se as estreias de Cibele e Giuntini são agradáveis coincidências ou sinais claros de uma mudança de comportamento do mercado.
Obstáculos vencidos
Foram exatamente quatro anos. A primeira exibição pública do longa-metragem brasiliense Simples mortais, de Mauro Giuntini, aconteceu exatamente em 25 de novembro de 2007 durante a Mostra Brasília do 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, de onde saiu premiado com o troféu Câmara Legislativa de longas em 35mm e o lançamento do filme que só aconteceu agora em 2011, no último 25 de novembro. “Isso reflete um monte de coisas, a dificuldade está inserida dentro de uma coisa maior. A maneira como está funcionando a distribuição de filmes no país é uma delas. O mercado está lançando muitas cópias juntas para que o filme fique o menor tempo possível em cartaz. Para um filme pequeno é muito difícil encontrar distribuidores desse jeito”, lamenta o cineasta estreante em formatos de longa duração.
Um assalto de fé, de Cibele Amaral: "Os filmes brasilienses só precisam de uma chance"
A ficção formada por várias histórias de cidadãos comuns mantidas em ambiente íntimo ganhou o prêmio de júri popular no 16º Cinesul — Festival Ibero-Americano de Cinema (RJ), em 2009, e os prêmios de melhor ator para Chico Sant’Anna e melhor ator coadjuvante para Eduardo Moraes no 12º Cine-PE, Festival Audiovisual do Recife. Mesmo assim, encontrou obstáculos de lançamento que pareciam intransponíveis até o diretor ter resolvido encarar o trabalho pessoalmente. “Sou eu que estou lançando o filme com a verba do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Isso aconteceu por falta de opção mesmo. Teve distribuidor que chegou a ficar um ano com a fita e não a lançava”, relembra Giuntini. “Na conversa com diversos exibidores ficou claro para mim que não adianta colocar um filme numa sala voltada para um público não acostumado a assistir aos títulos que saiam da fórmula de cinemão. O público não entra. É melhor ser colocado em menos salas, mas com público receptivo para esse tipo de cinema do que insistir em circuitos que não sejam apropriados”, qualificou o diretor e, agora, distribuidor.
Segundo o cineasta, a experiência foi determinante para o planejamento do próximo longa, Plutão em trânsito, ainda em fase de captação. “Deu para entender melhor o mercado. É uma outra visão de cinema que eu não tinha até então.
Simples mortais ocupou dois horários na grade de programação do Cinemark Pier 21 na primeira semana. Agora, está sendo exibido apenas no horário de almoço, às 13h30, no mesmo lugar. O Espaço Itaú Cultural de Cinema anunciou o filme na programação a partir de sexta-feira, quando será aberto ao público. Na semana que vem, a fita estreia em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Sátira pastelão
Outra novata em longas, a brasiliense Cibele Amaral acredita que seu primeiro filme, Um assalto de fé, é destinado ao grande público. Ou seja: partir para um próximo projeto sem ter visto a fita nos cinemas seria frustrante para ela. “Os filmes brasilienses só precisam de uma chance. A gente tenta falar com as distribuidoras, mas não passamos nem da secretária”, lamenta. O segredo, segundo a diretora, é tentar iniciar uma conversa com o distribuidor desde a fase de roteiro. Tentar emplacar um título pronto, talvez carecendo de pequenos ajustes, pode atrasar o lançamento em meses, até anos.
No caso dela, o processo levou “apenas” um ano. Com o título prévio de O galinha preta, a comédia de ação, rodada principalmente em Brazlândia, passou no penúltimo Festival de Brasília, em cópia inacabada. O corte final foi projetado pouco depois, no Festival do Rio, ainda em 2010. A produção, iniciada em outubro em 2007, somou dois anos e quatro meses — entre gravação e finalização.
Os recursos obtidos pelo FAC estão longe do ideal, mas a cineasta considera a ajuda do governo importante para o início do contato com as distribuidoras. “Com ele, a gente tem a chance de entrar aos poucos. Desde que o FAC começou a apoiar lançamentos, os filmes de Brasília estão conseguindo chegar. É uma verba que pelo menos ajuda a gente a conversar com o distribuidor”, ela diz.
Filmado num estilo “bem pastelão”, segundo a realizadora, Um assalto é decididamente comercial: Alexandre Carlo, vocalista do Natiruts, é protagonista de uma trama de confusões e desencontros, em que o músico Falcão interpreta um caricato cantor evangélico.
Doses de paródia suficientes para causar polêmica. De líderes religiosos, chegaram mensagens tanto bem-humoradas como incendiadas. Das plateias locais, boa bilheteria: 1.065 pessoas viram o filme no primeiro fim de semana. No último, o longa estreou em somente uma sala, no Pier 21, e em duas, em São Paulo. A partir desta sexta, deve entrar em cartaz no Cinemark do Taguatinga Shopping. Dia 16, desembarca no Rio de Janeiro.
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ARTES CÊNICAS » Encontro de mestres. Eugenio Barba e Aderbal Freire-Filho trocam impressões sobre teatro em programa de treinamento de ator CORREIO BSB 07.12
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Aderbal Freire-Filho divide hoje o debate com Barba em noite aberta ao público
Faz um tempo que o diretor teatral Eugenio Barba, criador do lendário Odin Teatret, só trabalha diretamente com seus atores. Palestras, debates e orientações são rotina em sua carreira, numa maratona que o faz rodar o mundo. Mas só integrantes da companhia têm o privilégio de serem dirigidos por ele. Há quatro anos, no entanto, Barba abre uma exceção para Brasília, dividindo suas técnicas e dirigindo um seleto grupo de atores brasileiros. O ciclo A arte secreta do ator inicia hoje a quarta edição, com demonstração de trabalho, palestra (com a participação de Aderbal Freire-Filho) e lançamento do livro Para um teatro pobre, hoje, às 19h, na Caixa Cultural. A entrada é franca.
“Brasília é o único lugar do mundo em que Barba trabalha com esses atores como se eles fossem seus. Aqui, ele também permite que seis diretores e pesquisadores acadêmicos atuem como observadores do seu trabalho”, explica Luciana Martuchelli, atriz e proprietária da Tao Filmes, organizadora do evento. Na palestra, em que disseca seu fazer teatral, o diretor italiano radicado na Dinamarca dividirá a palavra com Aderbal Freire-Filho. “Aderbal e Eugenio chegaram, cada um a seu jeito, a respostas diferentes para a mesma pergunta: como construir uma obra original no palco? Vejo o trabalho deles como fruto de um esgotamento”, afirma Martuchelli sobre o mestre europeu e o criador do gênero chamado de romance em cena. Não por acaso, os dois são alguns dos principais inspiradores de sua carreira como atriz e pedagoga.
Solo de Julia
Hoje, o público ainda poderá ver um aperitivo do trabalho da trupe dinamarquesa. A atriz Julia Varley, que há mais de 40 anos atua sob a direção de Barba, apresentará o solo O irmão morto, demonstração que, há quatro anos, fez nascer o projeto. “Quando vi essa apresentação, fiquei completamente chocada. Não sabia fazer nada do que via no palco e me senti roubada no meu aprendizado, porque aquilo não me foi oferecido”, conta a atriz e organizadora do projeto.
Eugenio Barba volta a Brasília para treinar atores e falar do método de criação
O passo seguinte foi montar um curso baseado nos ensinamentos do diretor e, em uma visita seguinte do grupo ao Brasil, convidá-lo para assistir a uma demonstração. Foi assim que Luciana ganhou um curso, e posteriormente, essa parceria que se concretiza com as vindas anuais do grupo a Brasília.
Nos quatro dias seguintes, os 18 atores selecionados (dentre 430 inscrições) trabalharão durante oito horas diárias, em regime de imersão, em uma chácara nos arredores da cidade. O encontro, batizado de Como pensar através de ações, terá como base os princípios da antropologia teatral e os métodos de treinamento, criações e montagens do Odin. Vindos de estados do Brasil, como Piauí, Maranhão, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, e até mesmo do Chile, da Argentina e da Itália, receberão 32 horas de treinamento, que terá como tema as histórias de amor.
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LITERATURA. Senac lança livro sobre tecnologias móveis. O Instituto Sergio Motta e a editora Senac promovem hoje, às 18h30, na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915, tel. 0/xx/11 3814-5811), o lançamento do livro "Nomadismos Tecnológicos", uma coletânea que tem como foco o intenso uso das tecnologias móveis na atualidade. FOLHA SP 07.12
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Chaplin lembra que todo homem tem que andar na corda bamba. Mas um homem não pode afinal ser senão quem é, feio ou bonito, forte ou fraco, amado ou não. Não é coisa simples: para descobrir quem é, todo homem tem que andar na corda bamba. Chaplin pode ser sentimental, mas de bobo não tem nada.
FOLHA SP 07.12
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"O Circo" (TC Cult, 18h25, livre), filme que Chaplin fez em 1927, contém todos os filmes de circo feitos depois, de Fellini ao nosso Selton Mello.
Mas nenhum deles seria capaz de criar sequências como aquela em que Carlitos, palhaço, se faz passar por equilibrista, só para encantar a garota do circo, namorada de Rex, o equilibrista de fato.
Ele se paramenta todo de Rex, faz pose de Rex (e toma algumas providências extras para não se esborrachar, é verdade) e sobe atrevido na corda bamba.
Mas um homem não pode afinal ser senão quem é, feio ou bonito, forte ou fraco, amado ou não. Não é coisa simples: para descobrir quem é, todo homem tem que andar na corda bamba. Chaplin pode ser sentimental, mas de bobo não tem nada.
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Nova Lei Rouanet quer tirar poder decisório de empresas. Projeto destina 20% do IR deduzido para braço do Ministério da Cultura. Interferência do Fundo Nacional de Cultura visa pulverizar recursos pelo país; eixo Rio-SP hoje abocanha 80% Mas um homem não pode afinal ser senão quem é, feio ou bonito, forte ou fraco, amado ou não. Não é coisa simples: para descobrir quem é, todo homem tem que andar na corda bamba. Chaplin pode ser sentimental, mas de bobo não tem nada. FOLHA SP 07.12
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Uma proposta de mudança no modelo federal de incentivo à cultura joga nova pá de cal na Lei Rouanet.
De 1991, o atual sistema é criticado por deixar a esfera privada decidir as produções que recebem patrocínio -deduzido do Imposto de Renda, via renúncia fiscal.
O ProCultura, projeto de lei que toma o lugar da Rouanet, vai propor que as empresas sejam obrigadas a destinar 20% desses recursos ao Fundo Nacional da Cultura.
A ideia é que, por meio de editais, a entidade pulverize o financiamento pelo país. Hoje, o eixo Rio-São Paulo é imã de 80% dos recursos.
Se os tais 20% estivessem valendo em 2010, por exemplo, o fundo teria um aporte adicional de R$ 240 milhões.
Relator do projeto na Comissão de Finanças da Câmara, o deputado Pedro Eugênio (PT-PE) pretende sugerir os 20% na próxima semana. Se esse teto for ultrapassado, diz, "as empresas podem ficar reativas" à retração do mecenato direto.
Atualmente, o Ministério da Cultura autoriza os projetos aptos ao subsídio, e só aí financiadores escolhem a quem associar sua marca.
CONFLITO
Desacordos rondam a recauchutagem da Rouanet.
Prevê-se, por exemplo, um sistema de pontos para definir se o candidato à lei oferece contrapartida social (a partir disso, fixa-se uma porcentagem maior ou menor de renúncia fiscal).
O secretário de Fomento do MinC, Henilton Menezes, defende critérios mais objetivos, como gratuidade em eventos.
Mas discorda que a pasta deva classificar "propostas inovadoras", conforme sugerido em 2010 na Comissão de Educação e Cultura. "Posso dizer que é inovador num Estado, e não no outro."
Versão anterior do projeto previa que patrocinadores bancassem do próprio bolso (ou seja, sem debitar do fisco) 20% dos recursos para os projetos apoiados.
Assim, fechava-se a janela para os 100% de renúncia fiscal (até o teto de 4% do total do imposto devido).
Isso cai no texto atual. Com o risco de as empresas recuarem, haveria "queda importante nos recursos captados", afirma o deputado Eugênio.
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