sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Luis Fernando Verissimo pensa em parar de escrever Fonte: O estadão 21/11

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O escritor Luis Fernando Verissimo é famoso por seus textos de humor e pelas sátiras de costumes que publica em jornais de grande circulação. Comédias da Vida Privada, uma antologia de crônicas engraçadíssimas, publicada em 1994, por exemplo, virou até uma série da TV Globo em 1995. Por causa desse talento em fazer rir, fica difícil acreditar quando o próprio autor afirma que não tem vocação humorística. "O que eu tenho é a técnica para escrever textos divertidos", diz ele. "Mas meu jeito de ver as coisas está mais para depressivo", completa.

Neco Varella/AEO escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo em sua casa, em Porto AlegreDe fato, esse lado depressivo do escritor não aparece em suas obras (são, ao todo, 500 mil exemplares vendidos no País). Seu último livro, Em Algum Lugar do Paraíso, é composto por 41 crônicas, a maioria delas publicada nos últimos cinco anos, no jornal O Estado de S. Paulo. Verissimo, aliás, vem diminuindo o ritmo de sua produção. Reduziu, já há alguns anos, o número de jornais para os quais escreve - se antes, chegou a publicar em dez periódicos, hoje concentra-se em três: O Globo, Estado e Zero Hora. E pensa, inclusive, em se aposentar. "Penso em parar de escrever. O problema é que o dinheiro que ganho com os direitos autorais dos livros não é o suficiente para garantir minhas contas."

Os leitores, aliás, já podem notar sua ausência em eventos literários. "Vou a lançamentos mais por causa da editora. Não é por prazer, pois sou caseiro e evito badalações", conta. De onde vem, então, a inspiração para os textos se ele tem se mantido mais reservado? "Às vezes, de um filme ou de uma música", diz. "Aliás, eu preferiria ser músico a escritor", revela ele. "Mas como eu escrevo melhor do que toco saxofone, vamos deixar as coisas como estão."

Na casa do escritor, em Porto Alegre (RS), num porão de pedra, há vários instrumentos. Curiosamente, apesar da paixão pelo jazz, não há sequer uma crônica em sua nova obra cujo tema seja a música. No livro Em Algum Lugar do Paraíso, o autor repete a fórmula já consagrada em seus trabalhos: a de abordar situações cotidianas. Algo que faz, inclusive, em seus cartuns.

Vem dessa última abordagem um dos textos mais inspirados da obra. Em Cafarnaum fala do encontro entre Guizael, dono de uma taberna, e um homem capaz de multiplicar peixes e pães, e transformar água em vinho. A história - contada em linguagem textual similar à bíblica - desenvolve-se quando Guizael tenta convencer o homem a fazer uma parceria financeira com ele.

Outro destaque é Microfone Escondido, em que o casal Leonor e Ataíde resolve esconder um aparelho desses no elevador do prédio só para descobrir o que os amigos pensam deles. Toda vez que fazem um jantar para um casal de convivas, há uma nova descoberta, revelada pelo microfone antes destes chegarem ao apartamento ou quando estão descendo o elevador rumo à rua. O resultado é um sucessão de confusões e mágoas, temperada pelas construções simples (mas não simplistas) e certeiras do escritor.

Por meio do humor, o autor acaba desvelando as idiossincrasias humanas. Em Pato Donald, Sérgio e Dulce, casados há 25 anos, reveem suas vidas quando o homem conta que, apesar de ter rido a vida inteira das piadas do personagem americano, admite que nunca entendeu patavinas do que ele falava. A confissão ganha, então, ares de crise existencial. E, enquanto discutem, Dulce fica preocupada, porque o zíper do vestido que sempre lhe coube está difícil de fechar.

Outro exemplo interessante de narrativa é Versões. No texto, um homem entra em um bar e começa a imaginar o que teria sido de sua vida se ele tivesse feito um teste para jogar no Botafogo. De repente, surge, ao lado dele, uma versão de si mesmo que fez o tal teste. As perguntas se multiplicam e, consequentemente, mais versões dele aparecem.

Nessa crônica, Verissimo toca num de seus assuntos mais caros: o futebol. Torcedor do Internacional e da Seleção, ele se preocupa com a Copa de 2014 no Brasil. "Espero que as obras fiquem prontas a tempo." E fala que irá aos jogos. Até lá, terá 78 anos, Vale torcer para o pique se estenda também à escrita. Ou a literatura ficará órfã do depressivo mais bem-humorado de que se tem notícia.

"Em Algum Lugar do Paraíso" Luis Fernando Verissimo - Editora Objetiva Preço: R$ 36,90

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A escritora mais famosa da Alemanha Oriental, a romancista Christa Wolf, morre aos 82 anos UOL NOTÍCIAS 02/12

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Christa Wolf, importante romancista da Alemanha pós-guerra, morreu nesta quinta-feira.

Christa Wolf, uma das mais importantes romancistas da Alemanha pós-guerra e uma das poucas da Alemanha Oriental a ganhar fama literária internacional, morreu nesta quinta-feira. Ela tinha 82 anos.

Apesar de amplamente elogiada por suas contribuições à literatura alemã, a imagem pública de Wolf foi manchada por não ter criticado o bastante o antigo regime comunista. Ela recebeu outro golpe no início dos anos 90, quando foi revelado que, por um período de quase três anos durante os anos 50 e 60, ela serviu como informante para a temida polícia secreta da Alemanha Oriental, a Stasi.

Mesmo assim, o relacionamento de Wolf com o regime alemão-oriental estava longe de confortável, e ela foi espionada pelo Estado por um período maior do que aquele que serviu como informante. “Wolf foi uma figura de enorme importância, considerada até 1990 como alguém que, de modo cuidadoso e delicado, expandiu as fronteiras do que podia ser dito na Alemanha Oriental”, disse Georgina Paul, uma especialista em literatura alemã-oriental da Universidade de Oxford, para a agência de notícias “Reuters”.

Nascida em 1929, filha de um comerciante da cidade de Landsberg (atualmente a cidade polonesa de Gorzów Wielkopolski) Wolf e sua família fugiram para o oeste em 1945, para o que viria a se tornar a Alemanha Oriental. Quatro anos depois, Wolf, que era uma ativista marxista na juventude, se tornou integrante do Partido Unidade Socialista (SED), o partido comunista da Alemanha Oriental.

Sem alternativas, sem lugar

Wolf encontrou sucesso literário com seu livro “Der Geteilte Himmel” (O Céu Dividido, de 1963), a história de um caso amoroso que se passa pouco antes da construção do Muro de Berlim. Ela estabeleceu sua reputação nos círculos literários após visitar a Alemanha Ocidental e o Julgamento de Auschwitz, em Frankfurt, escrevendo “Nachdenken über Christa T.” (Em memória de Christa T., 1968), que explorava a tensão entre as exigências da sociedade e o desejo da protagonista no romance por desenvolvimento individual. Seu livro de 1983, “Cassandra”, que explorava a ameaça à paz e usava a figura homérica de Cassandra para retratar os conflitos de gênero, se transformou em leitura obrigatória para os movimentos feminista e pacifista tanto na Alemanha Ocidental quanto Oriental.

Com obras como o romance semiautobiográfico “Com Kindheitsmuster” (Modelo de uma infância, 1979) e “Kein Ort. Nirgends”, (Sem lugar. Em lugar algum, 1979), sobre um encontro imaginário com Heinrich von Kleist, ela também se estabeleceu como uma figura histórica contemporânea.

“‘Sem lugar’ é a expressão de como me sentia a respeito da vida na época. Para mim, não havia alternativas, não havia lugar. Eu não mais cooperava com a RDA (República Democrática Alemã, a Alemanha Oriental)”, Wolf disse posteriormente para a “Spiegel” em uma entrevista, descrevendo seus sentimentos conflitantes sobre o regime alemão-oriental. É claro que as pessoas se perguntam, “Não deveríamos partir?”, ela disse. Mas Wolf disse que no final pôde experimentar “uma das poucas revoluções na história alemã” e que valeu a pena ter ficado.

Se a literatura de Christa Wolf esteve profundamente enraizada em sua experiência vivendo na Alemanha Oriental, essa também foi a percepção do público a respeito dela, particularmente após as revelações em 1993 de suas ligações com a Stasi. Foi a própria Wolf que tornou público seu passado com a Stasi, reconhecendo ao jornal “Berliner Zeitung” que ela tinha servido como informante esporádica para a Stasi entre 1959 e 1962, sob o codinome “Margarete”. Então ela tornou disponível todos seus documentos da Stasi, visando colocar fim a qualquer especulação sobre seu conteúdo. As revelações foram particularmente danosas, porque Wolf já tinha escrito de modo crítico sobre estar sob vigilância.

Monitorada cuidadosamente pela polícia secreta

Falando para a “Spiegel” em junho de 2010, Wolf disse: “O que me incomoda, e que realmente me deixa furiosa, é o fato de as pessoas terem se concentrado neste único ponto e não terem visto meu desenvolvimento, e nem mesmo acharem necessário descobrir a respeito dos outros documentos”.

De fato, 42 volumes da Stasi mostram que a própria Wolf foi cuidadosamente vigiada pela polícia secreta. Posteriormente, ela disse, “havia extensas transcrições de conversas telefônicas (de Wolf, grampeadas pela Stasi). Mas havia um volume sobre minhas discussões com a Stasi, que remontam 30 anos, sobre as quais quase ninguém escreveu. Quando na época, e fui a única pessoa a fazer isso, eu publiquei meu chamado ‘arquivo de perpetrador’ na íntegra, nenhum jornal que tinha me condenado deu atenção. (...) Ninguém quis retratar meu desenvolvimento, que me levou a ser observada (pela Stasi) durante os anos 60 e depois. Isso me surpreendeu”.

De fato, em 1976, Wolf se tornou co-signatária da “carta aberta contra a expatriação” do compositor Wolf Biermann, que foi expulso da Alemanha Oriental por suas posições dissidentes. Como reprimenda, o marido de Wolf, Gerhard, foi expulso do SED. Apesar de choques adicionais com a liderança do SED, a escritora permaneceu leal ao país. Em novembro de 1989, apenas poucos dias após a queda do Muro de Berlim, ela declarou publicamente que esperava por um novo início – um socialista.

Sem muito tempo restante

A própria Wolf deixou o SED em junho de 1989 e se tornou ativa em seu desejo de “promover mudança de dentro do país”, juntamente com as pessoas no movimento que, no final, liderariam a queda do Muro meses depois. Depois, em 28 de novembro de 1989, ela defendeu juntamente com o escritor Stefan Heym, o teólogo Friedrich Schorlemmer e outros a continuidade da existência da Alemanha Oriental, dizendo que ela não deveria ser simplesmente tomada pela Alemanha Ocidental. Ela aconselhou as pessoas que queriam deixar a Alemanha Oriental a permanecerem, para a “criação de uma sociedade realmente democrática”. Após numerosas declarações, discursos, cartas abertas, leituras e entrevistas, Wolf, que foi atacada como “defensora do socialismo” e uma “oponente domesticada” do SED, abandonou a vida política.

Em 2010, Wolf publicou seu último romance, “Stadt der Engel” (Cidade dos Anjos), um livro também centrado no legado da Alemanha Oriental. O livro se passa principalmente na Califórnia, onde a escritora viveu como convidada da Fundação Getty entre setembro de 1992 e julho de 1993. Também foi durante essa época que seus arquivos foram revelados pela agência responsável pela administração do acesso ao imenso arquivo da Stasi.

Antes de sua morte, Wolf viveu em Berlim e também na cidade de Woserin, no Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Falando sobre morte em uma entrevista para a “Spiegel” em junho de 2010, Wolf disse: “Eu penso muito sobre a morte e estou consciente quase todo dia de que não me resta muito tempo. Enquanto escrevo, eu às vezes penso: Quem sabe você me deixe escrever este aqui, até estar completo”.

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Dia de samba na Rodoviária » Maíra de Deus Brito - Artistas da cidade celebram o gênero musical mais brasileiro entre ônibus e passageiros Correio BSB 02.112

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O corre-corre da Rodoviária do Plano Piloto vai diminuir hoje, a partir das 16h, com o projeto Plataforma do Samba. O show gratuito contará com vários grupos da cidade, como Adora Roda, Regional Candanguero, Maracangalha, além de cantores Sérgio Magalhães, Marquinhos Benon, Teresa Lopes e Kiki Oliveira. “Desde o primeiro ano (2007), o evento é feito na Rodoviária. Brasília é muito segregada geograficamente, então, queríamos um lugar mais central para integrar as pessoas e os grupos de samba da cidade que, muitas vezes, não têm oportunidade para se reunir”, conta Cris Pereira, uma das idealizadoras do projeto.

A roda de samba terá músicas de Adoniran Barbosa, Arlindo Cruz, Cartola, Dona Ivone Lara, Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Ary Barroso. O compositor de Aquarela brasileira foi (sem querer) o responsável pela criação do Dia Nacional do Samba. A data surgiu para comemorar o dia da visita dele à Bahia, estado que ainda não conhecia, mas que já havia homenageado com Na baixa do sapateiro.

Cris Pereira: "Queríamos um lugar mais central para integrar as pessoas e os grupos de samba da cidade"

“Estamos na quinta edição e tem dado certo na base do improviso, mas um improviso gostoso. Cada uma ajuda com o que se pode oferecer: mesas, cadeiras, equipamentos de som. É o pessoal do samba quem faz tudo!”, comenta Cris sobre a estrutura do evento. Sem nenhum apoio financeiro, ela e os músicos da cidade esperam que a Plataforma do Samba ganhe no futuro uma estrutura maior por causa do crescimento do público. “É visível o aumento. No primeiro ano, foi num domingo chuvoso e o pessoal passava e não parava. Agora, temos que guardar os instrumentos, senão, o pessoal fica até tarde. Quem foi uma vez fica com gostinho de quero mais e volta ano seguinte”.

Mais espaço

Patrimônio Cultural Imaterial desde 2007, o gênero imortalizado por Noel Rosa terá comemorações em todo o Brasil. Apresentações em Salvador, em São Paulo e no Rio do Janeiro (com o tradicional Pagode do Trem) ajudam a fortalecer o ritmo que, apesar de ser símbolo do país, ainda encontra obstáculos. “O Dia Nacional do Samba é importante para abrir espaço para outros gêneros. O sertanejo está dominando tudo e o verdadeiro samba, na verdade, fica um pouco fora da grande mídia. Nomes como Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho já têm espaço, mas o pessoal que está começando ainda encontra dificuldade”, observa Breno Alves, vocalista do Adora Roda.

Breno Alves:

"O pessoal que está começando ainda encontra dificuldade para mostrar seu trabalho"

“Quero chegar cedo e acompanhar para ver tudo até o final. É como na escola de samba: é agradável vê-la crescer antes de o desfile começar, com o pessoal chegando. Brasília está bem melhor, porque tem muito compositor fazendo música de qualidade, surgiu muita gente boa. Agora, podemos fazer shows só com artistas daqui”, diz o compositor portelense Carlos Elias, presença garantida nas principais batucadas da cidade e, claro, na Plataforma do Samba, pois, quem não gosta de samba…

Batucada no trem

Idealizado por Marquinhos de Oswaldo Cruz, o Pagode no Trem surgiu para celebrar o Dia Nacional do Samba no Rio de Janeiro. Com shows na Central do Brasil e nos vagões rumo a Oswaldo Cruz, o projeto já contou com participações ilustres de Moacyr Luz, Almir Guineto, Mauro Diniz e Dona Ivone Lara. Neste ano, a batucada começou no início da semana e, hoje, terá apresentações com Nelson Sargento, Wilson Moreira, Monarco e a Velha Guarda da Portela.

PLATAFORMA DO SAMBA

Hoje, a partir das 16h, roda de samba com músicos da cidade na Rodoviária do Plano Piloto. Entrada franca. Classificação indicativa livre.

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