quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Chico em almanaque. Livro
traz pérolas da vida de um dos principais nomes da MPB. Os verbetes destacam a
criatividade e o lado pessoal do artista. Encontro
de gerações: jogando futebol de botão com Vinicius de Moraes CORREIO 28.12
Chico
Buarque foi reprovado no exame da Ordem dos Músicos em julho de 1967. Segundo
os examinadores, não sabia solfejar. Só restava ao compositor cantar em
programas de Iê-iê-iê. Pela lei, sem aprovação da ordem, ele estaria impedido
de cantar em programas de MPB. Curiosamente, no ano anterior, Chico tentara
convencer Roberto Carlos, o rei do Iê-iê-iê, a migrar para o lado da música
brasileira e deixar de lado as guitarras.
O
compositor também gostava de escrever textos para os encartes dos discos, mas
abandonou o hábito ao longo do tempo.
E
não, Chico Buarque não é tímido, é arredio mesmo, não gosta de assédio e ponto.
Foi em uma coleção de revistas e jornais da tia Cecília, irmã de Sérgio Buarque
de Hollanda, pai do músico, que a jornalista Regina Zappa encontrou a maior
parte dos mais de 100 verbetes de Para seguir minha jornada, o almanaque que
pretende percorrer a vida de Chico Buarque em pílulas independentes.
Cecília
colecionava todas as publicações sobre o sobrinho e mantinha em casa uma fonte
de histórias que Regina tratou de organizar. Para seguir minha jornada é um
livro de pesquisa. Além do arquivo da tia, a jornalista mergulhou nas coleções
do próprio Chico, aproveitou entrevistas feitas para outros três livros sobre o
compositor e compilou tudo em um texto.
Originalmente,
o livro consistia em uma narrativa única e corrida, mas a opção gráfica se
tornou interessante diante da quantidade de imagens encontradas na pesquisa e o
volume virou uma enciclopédia. “A opção gráfica foi uma coisa que veio depois,
ele foi concebido mais ou menos como um almanaque que tivesse um texto como fio
condutor, um texto-base com a trajetória do Chico e verbetes que fossem
explicando e contando coisas sobre pessoas e acontecimentos que tiveram alguma
ligação com a trajetória dele”, avisa Regina.
Repetições
são uma das marcas do livro. Muitas histórias aparecem em vários verbetes e a
autora não hesita em recontar a filiação do compositor em cada momento em que
se refere à família ou de repassar várias vezes alguns acontecimentos, como a
reprodução das impressões da crítica diante da música de Morte e vida severina
ou as comparações com Guimarães Rosa, quando Chico inventou a palavra
“penseiro” para Pedro pedreiro. “Imaginei que os verbetes pudessem ser lidos de
forma independente. Sei que tem coisas repetidas propositadamente ao longo do
livro por conta disso.”
O
mais interessante do almanaque de Regina está na própria fala de Chico. O
trabalho de pesquisa permitiu resgatar entrevistas das quatro últimas décadas,
e é por essas frases que o leitor acompanha boa parte do desenvolvimento da
música brasileira no século 20. Um dos últimos verbetes ajuda a dar a medida
cronológica e do amadurecimento do próprio Chico. Dedicado aos vícios, um
pequeno texto no fim do livro narra a fissura do compositor pelo uísque e pelo
cigarro nos anos 1960, pela vodca e caipirinha nos 1970, o abandono dos
destilados, nos 1980, e a chegada do vinho nos 1990. Em entrevista concedida à
revista Fatos e fotos, em 1967, Chico fala do prazer encontrado no tabagismo.
Em outra, para uma edição da Manchete, de 1980, revela gostar de beber, mas
evita a apologia. Já na entrevista à Trip, de maio de 2006, conta ter fumado
maconha e experimentado cocaína. O trecho é um exemplo de como a trajetória do
artista é aos poucos resumida nas entrevistas e nos verbetes.
Canções
Parceiro
de shows: com Caetano, para acabar com a "rivalidade"
Regina
escreveu três livros sobre o compositor antes de se debruçar sobre o almanaque.
Chico Buarque — Cidade submersa reúne fotos em que Bruno Veiga interpreta 30
canções comentadas pelo autor e Chico Buarque faz parte da coleção Perfis do
Rio. Em Cancioneiro songbook Chico Buarque Biografia, Regina conta de forma
cronológica e tradicional a história do biografado. A novidade em Para seguir
minha jornada está na quantidade de periódicos de época aos quais a autora teve
acesso. “Fiz questão de ser um livro de pesquisa, porque entrevistas com ele eu
fiz muitas ao longo desses três livros. Mas eu o consultei algumas vezes, ele
me contou algumas histórias.” Ao final do livro, o material foi digitalizado e
está disponível no Instituto Tom Jobim, organizado e classificado para quem
quiser consultar, inclusive, on-line.
Entre
coisas que Regina nunca ouvira estava a versão de Chico para o show que todo
mundo atribuía ao produtor André Midani. Não foi dele a ideia de Caetano e
Chico e sim de Roni Berbert de Castro, amigo de Chico e dono de uma loja de
discos em Salvador, que queria dar um fim ao circo em torno da rivalidade entre
os dois compositores. Midani se apropriou da ideia e produziu o encontro no
Teatro Castro Alves, em novembro de 1972. Outra lembrança que andava guardada
foi a participação no programa do Chacrinha. “E eu não lembrava e nunca tinha
lido de o Chico ter ido ao Chacrinha, então ele me escreveu contando como foi.
Ele tem uma memória muito boa, corrigiu datas e informações, a gente foi
trocando figurinha por e-mail, mas entrevista formalmente não fiz nenhuma para
este livro.”
>>>>>
Investigação de juízes, homofobia e outros temas
polêmicos na pauta de 2012
Matérias
que aqueceram as discussões no Senado em 2011, e que, por sua natureza
polêmica, acabaram não sendo votadas, retornam à pauta de trabalho dos
senadores em 2012. Entre elas está a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
97/2011, que disciplina o poder do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e um
novo projeto de lei para tratar da homofobia. senado.gov.br 27/12
>>>>
Debate em clima tenso sobre a homofobia
Reforma Administrativa e Estatuto da Juventude
adiados. senado.gov.br 27/12
-
A
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) concentrará alguns dos
principais debates do primeiro semestre de 2012, inclusive a PEC do CNJ. O
texto de autoria do senador Demostenes Torres (DEM-GO) torna mais clara a
competência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para processar e punir
juízes. A proposta ganhou destaque neste final de ano depois da liminar
concedida pelo ministro Marco Aurélio Melo, do Supremo Tribunal Federal (STF),
restringindo os poderes do conselho. Com a decisão, os conselheiros não podem
mais iniciar investigações, sendo autorizados a atuar apenas em processos já
abertos pelas corregedorias dos tribunais que estejam paralisados. O STF ainda
vai julgar o mérito das restrições.
Na
última sessão da CCJ de 2011, senadores pressionaram para que a PEC -
apresentada em agosto pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO) - pudesse ser
votada ainda este ano, a fim de devolver ao CNJ o poder pleno para investigar
magistrados. No entanto, um requerimento para realização de audiência pública
sobre o tema, com participação da corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon,
foi motivo de adiamento da discussão para 2012. Segundo o presidente da CCJ,
senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), a matéria será votada assim que seja
realizada a audiência pública. Desse debate devem participar ainda ex-ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF) e representantes de entidades dos
magistrados.
Ato
Médico
Previsto
para ser votados nas primeiras sessões da CCJ em fevereiro está o Projeto de
Lei do Senado 268/2002, que regulamenta a profissão médica. Batizada de projeto
do "Ato Médico", a proposta estabelece atividades que cabem
exclusivamente ao médico, como formulação de diagnóstico, prescrição
terapêutica, indicação e execução de procedimentos invasivos, entre outras
atribuições.
A
proposta tem parecer favorável do relator na comissão, Antônio Carlos Valadares
(PSB-SE), que colocou de volta no texto atribuições retiradas pela Câmara dos
Deputados. O senador garantiu que o texto não interfere nas atividades dos
demais profissionais de saúde - como os fisioterapeutas. Essa é uma das
principais preocupações de associações e entidades de classe da área, que vêm
acompanhando de perto a tramitação da proposta na Casa.
Um
exemplo citado por Valadares durante o último debate da matéria é que os exames
laboratoriais voltam a ser privativos dos biomédicos e dos farmacêuticos.
-
Procuramos preservar todas as atividades que são exercidas pelas demais
profissões. O médico tem de atuar em sua área especifica, diagnosticando e, a
partir dos exames, cuidando da doença. Estão muito claras no nosso texto as
atribuições e competências do médicos e a preservação dos demais segmentos da
saúde - explicou o senador em entrevista a entidades médicas.
Estatuto
da Juventude
Menos
conturbado que a PEC do CNJ, mas com tramitação acompanhada de perto por
entidades estudantis como União Nacional dos Estudantes (UNE) e União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), está o Projeto de Lei da Câmara
98/2011, que institui o Estatuto da Juventude. A proposição em exame na CCJ,
entre outros itens, regulamenta a concessão da meia-entrada, estendendo o
benefício ao transporte intermunicipal e interestadual, e passando à
responsabilidade de entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE) a
emissão das carteiras de estudante.
Depois
da apresentação do substitutivo do relator, senador Randolfe Rodrigues
(PSOL-AP), alguns senadores pediram mais tempo para analisar a proposta. O
substitutivo traz alterações no texto aprovado pela Câmara dos Deputados. Uma
delas é a limitação da meia-entrada a somente 40% dos ingressos de eventos
culturais, artísticos e esportivos promovidos pela iniciativa privada e a 50%
dos ingressos no caso de eventos com apoio do governo. Outra mudança foi a
extensão do direito à meia-entrada a jovens carentes de famílias beneficiadas
pelo programa Bolsa Família, mesmo que estejam fora da escola.
Durante
as sessões de discussão da matéria no Senado, os estudantes fizeram protestos e
mobilizações - como visita a senadores e ao presidente do Senado, José Sarney -
em busca de apoio ao Estatuto.
Reforma
administrativa
Também
na pauta da CCJ está o Projeto de Resolução do Senado (PRS) 96/2009, que propõe
a reforma administrativa da Casa. O substitutivo do senador Benedito de Lira
(PP-AL), terceira versão da proposta desde 2009, foi concluído em dezembro e
estava pronto para votação na comissão quando um anúncio de pedido de vista
feito pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) adiou sua discussão para 2012. Simon
questionou se as sugestões do colega seriam suficientes para um real
enxugamento da máquina administrativa da Casa.
O
substitutivo a ser apresentado na CCJ fala em economia de R$ 150 milhões ao
para os cofres públicos a partir da estratégia adotada pelo senador Ricardo
Ferraço (PMDB-ES), relator da proposta na comissão especial criada para
discutir o assunto. Entre as medidas estavam a priorização da área fim
(produção legislativa); comando unificado para a coordenação dos órgãos da área
meio; junção dos órgãos voltados à gestão do conhecimento; diminuição das
despesas, por redução de hipertrofias, duplicidades e superposições; e
designação de funções comissionadas exclusivamente para o exercício de funções
de direção, chefia e assessoramento.
A
proposta também propõe a regulamentação do pagamento de horas extras e a
redução de 30% da mão de obra terceirizada, no prazo de seis meses, tomando
como base os números de dezembro de 2010. O relator estimou, com a redução da
mão de obra terceirizada, uma economia anual superior a R$ 48 milhões. Há
críticas ao projeto, porém, no que tange cargos comissionados e funções.
Homofobia
Na
Comissão de Direitos Humanos (CDH), o Senado dará continuidade à discussão de
uma das proposições mais polêmicas que já passaram pela Casa: o Projeto de Lei
da Câmara 122/2006, mais conhecido como a lei anti-homofobia. O projeto
criminaliza a discriminação motivada na orientação sexual ou em identidade de
gênero da pessoa discriminada. O texto altera o Código Penal e a Lei do Racismo
(Lei 7.716/1989) para incluir orientação sexual no rol de discriminações
criminosas como pela cor de pele, etnia, origem nacional ou religião.
O
projeto está em discussão na Comissão de Direitos Humanos e Legislação
Participativa (CDH), sob relatoria da senadora Marta Suplicy (PT-SP). A
relatora trabalha para conseguir um relatório de consenso entre senadores, que
atendam militantes do movimento LGBT e evangélicos. Os dois segmentos têm tido
atuação apaixonada no caso. Os militantes pelos direitos LGBT lutam para acabar
com os constantes episódios de violência com motivações homofóbica. Os evangélicos,
como o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), querem assegurar o respeito à
liberdade religiosa, evitando que suas críticas a homossexualidade sejam
tratadas como crime.
O
projeto estava previsto para ser votado na CDH em dezembro. Mas percebendo a
falta de entendimento entre os senadores e o risco de seu relatório ser
rejeitado, Marta Suplicy preferiu adiar a apresentação para 2012 para ganhar
mais tempo para elaborar um texto que contemple o segmento religioso, mantendo
a punição a comportamentos violentos e a intolerância contra gays.
Ao
final da última reunião para tratar do tema, o senador Magno Malta (PR-ES),
afirmava que o PLC 122 estava "sepultado" e que só um novo projeto
poderia trazer conciliação aos dois lados.
Jornalistas
Menos
controversa, a PEC 33/09, que exige diploma de graduação em Comunicação Social
para exercício da profissão de jornalista, deve ser votada em Plenário logo no
início dos trabalhos de 2012. A matéria teve de abrir espaço a outras
consideradas prioritária ao final do ano, como o projeto da Desvinculação de
Receitas Orçamentárias (DRU).
Um
acordo entre líderes partidários prevê sua votação em segundo turno em
fevereiro. O primeiro turno já foi votado no final de novembro deste ano. A PEC
dos Jornalistas, como ficou conhecida, estabelece por meio de um novo artigo da
Constituição Federal, o 220-A que, o exercício da profissão de jornalista é
"privativo do portador de diploma de curso superior de Comunicação Social,
com habilitação em jornalismo, expedido por curso reconhecido pelo Ministério
da Educação".
A
proposta prevê, porém, a manutenção da tradicional figura do colaborador, sem
vínculo empregatício, e torna validos registros obtidos por profissionais sem
diploma, no período anterior à mudança na Constituição prevista pela PEC. A
medida tenta neutralizar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de junho
de 2009, que revogou a exigência do diploma para jornalistas. Dados do
Ministério do Trabalho divulgados pelo portal Comunique-se revelam que cerca de
40% dos registros emitidos pelo ministério de 2010 a 2011 foram para
profissionais sem diploma na área. De 1º julho de 2010 e 29 de junho de 2011,
foram concedidos 11.877 registros, sendo 7.113 entregues mediante a
apresentação do diploma e 4.764 por meio da decisão do STF.
Câmara
Alguns
projetos que concentraram a atenção dos senadores em 2011 seguirão em debate no
Congresso, na Câmara dos Deputados. É o caso do novo Código Florestal (EMS
1876/99), considerado prioridade pelo presidente da Casa, deputado Marco Maia.
Aprovado em maio pelos deputados e alterado em dezembro pelos senadores, o
texto retornou à Câmara para sua apreciação final.
Também
com prioridade para os deputados está a votação do Projeto de Lei 2565/11, que
trata da divisão dos royalties de petróleo entre os estados brasileiros. O
projeto teve debate acirrados no Senado, principalmente por parte dos
representantes dos estados produtores, e deve prosseguir polêmico na Câmara.
A
matéria aprovada originalmente naquela Casa previa a distribuição dos recursos
entre estados e municípios produtores e não produtores com base nos fundos de
Participação dos Estados (FPE) e Municípios (FPM). O Senado alterou o texto,
prevendo novos cálculos para a distribuição e, por isso, o texto retornou para
apreciação da Câmara.
PEC
das MPs
Em
tramitação na Câmara está ainda a Proposta de Emenda à Constituição 70/11, do
Senado, que altera o rito de tramitação das medidas provisórias. A proposta
redistribui entre as duas Casas do Congresso o prazo de tramitação das MPs,
aumentando o tempo de análise da matéria pelo Senado. Além disso, proíbe a inclusão
no texto de assuntos diversos ao seu tema principal.
Aprovada
por unanimidade no Senado, a matéria não vem sendo tratada com prioridade pela
Câmara, segundo a queixa de alguns senadores. Encaminhada aos deputados em
agosto, a PEC segue aguardando parecer da CCJ daquela Casa, para insatisfação
dos senadores, que reclamam da falta de atenção dos colegas de Congresso com o
assunto.
>>>>>>
CARLOS VELLOSO.
TENDÊNCIAS/DEBATES
O
STF e o Conselho Nacional de Justiça. É
desejável a atuação firme do CNJ para punir e afastar o juiz que não honra a
toga, respeitando o devido processo legal, garantia constitucional. Decisões do Supremo Tribunal que têm por
objeto o Conselho Nacional de Justiça não vêm sendo corretamente interpretadas. FOLHA SP 28.12
-
É
o caso, por exemplo, de liminar recentemente deferida a respeito da competência
do CNJ para instaurar investigações contra juízes e tribunais. As notícias são
no sentido de que essas decisões esvaziariam o poder de fiscalização do
Conselho.
Não
é isso o que ocorre. Vejamos.
A
Constituição, redação da emenda 45, estabelece a competência do CNJ: o controle
da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e o cumprimento dos
deveres funcionais dos juízes (art. 103-B, § 4º). Essa competência é exercida,
primeiro, sobre a legalidade dos atos administrativos do Judiciário.
Cabe
ao CNJ zelar pela observância do artigo 37 da Constituição e apreciar, de
ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados
por membros ou órgãos do Judiciário, podendo desconstitui-los, revê-los ou
fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao cumprimento da
lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas.
Tem-se,
no caso, conforme foi dito, o controle da legalidade dos atos administrativos
praticados pelos órgãos do Judiciário.
Segue-se
a competência correcional, nos incisos III, IV e V do § 4º do artigo 103-B:
compete ao CNJ conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Judiciário,
inclusive serviços auxiliares, serventias, órgãos notariais e de registro.
No
ponto, todavia, o dispositivo constitucional ressalva a "competência
disciplinar e correicional dos tribunais", podendo o CNJ avocar processos
disciplinares em curso -nos casos de omissão por exemplo, das corregedorias- (§
4º, III) e "rever, de ofício ou mediante provocação, os processos
disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um
ano" (§ 4º, V). E mais: é competência do CNJ "representar ao
Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso
de autoridade" (§ 4º, IV).
Verifica-se,
então, numa interpretação harmoniosa dos dispositivos constitucionais
indicados, que a competência correicional do CNJ é subsidiária, porque a
Constituição assegura autonomia administrativa aos tribunais-autonomia, aliás,
pela qual deve o CNJ zelar (§ 4º, I)- estabelecendo que a eles compete,
privativamente, além de outras questões, velar pelo exercício da atividade
correicional respectiva (Constituição, artigo 96, I, "b").
É
de elementar hermenêutica que o direito é um todo orgânico e que as normas
legais devem ser interpretadas no seu conjunto.
Dir-se-á
que há corregedorias de tribunais que não estariam cumprindo com o seu dever.
Nessa
hipótese, que o CNJ não se omita, dado que pode avocar processos disciplinares
em curso (§4º, III) e rever, de ofício ou mediante provocação, os processos
disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano
(§4º, V), devendo representar ao Ministério Público no caso de crime contra a
administração pública ou de abuso de autoridade (§4º, IV).
Assim
há de ser posta a questão, que deve ser examinada sem "parti pris". E
é bom lembrar que a Constituição vigente, a mais democrática das Constituições
que tivemos, estabelece o devido processo legal e nesse se inclui autoridade
administrativa e juiz competentes, independentes e imparciais (artigo 5º, LV),
característica do Estado democrático de Direito.
Sem
dúvida que é desejável a atuação firme do CNJ para punir e afastar o juiz que
não honra a toga. Com observância, entretanto, do devido processo legal,
garantia constitucional que ao Supremo Tribunal cabe assegurar.
CARLOS
MÁRIO DA SILVA VELLOSO, 75, advogado, professor emérito da UnB e da PUC/MG, foi
presidente do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral.
>>>>
VINICIUS TORRES FREIRE. Cultura e opulência do Brasil
Menos ignorante e desigual, mais inovador e com
sorte, Brasil levaria 20 anos para ter renda de "países ricos" FOLHA SP 28.12
-
VAI
SER engraçado se, em fevereiro, quando sair o resultado do PIB, a gente
descobrir que o Brasil não se tornou a "sexta maior potência do
mundo", à frente do Reino Unido, assunto que causa certa comoção desde
anteontem, quando a notícia foi ressaltada num jornal britânico.
Bastaria
uma variação contrária de décimos de PIB e de centavos na taxa de câmbio do
real e da libra pelo dólar para reverter o bafafá folclórico sobre o gigante
que levantou do seu berço esplêndido (nós), agora tema até de propaganda de
uísque escocês (britânico, por tabela!).
Não
que vá fazer diferença real. Mas não deixa de ser curioso ver como os
nacionalismos (e os seus contrários) rebrotam devido apenas a ninharias
midiatizadas, tais como a variação de décimos num cálculo de regra de três, o
do PIB em dólar.
Nem
sempre, como escreveu Paul Krugman, estatísticas econômicas são apenas um tipo
tedioso de ficção científica. Rendem também cordéis psicológicos sobre delírios
de grandeza. Mas passemos.
Animada,
gente do governo diz ainda que o Brasil terá padrão de vida europeu em 10, 20
anos. Uhm.
Se
o PIB per capita do Brasil dobrar, chegaremos à renda de "país
desenvolvido", mas ainda algo abaixo dos europeus ocidentais mais
pobrezinhos. Para dobrar o PIB per capita em uma década, a economia precisa
crescer a mais de 7% ao ano.
Se
o prazo é 20 anos, seria preciso que o PIB crescesse mais de 4% ao ano, por
duas décadas (imaginando que o aumento populacional seja algo menor que o de
agora). Crescemos a 4% na média dos oito anos Lula. Mas isso é só aritmética.
Passar
de economia de renda média para rica é difícil. Um empecilho seria a
"armadilha da renda média", como dizem (alguns) economistas. Empregar
mão de obra barata e abundante e, em seguida, aumentar a produtividade
recorrendo a tecnologias e a conhecimentos vulgarizados no mundo rico pode, em
certas condições institucionais, sociais e macroeconômicas, acelerar o
crescimento até o nível "médio" de renda (caso do Brasil). Daí a
ladeira ficaria mais íngreme.
Não
se trata, claro, de uma lei física, mas é evidente que o tropeço nesse nível de
renda é comum. Há controvérsia, óbvio, sobre como sair da armadilha (e também
sobre como os países cairiam nela): sobre como continuar a crescer rápido.
Falta de educação, inovação, integração com o comércio mundial, regimes
históricos de propriedade (falta de reforma agrária no momento certo poderia
ser um problema), desigualdade, relações internacionais de poder, tudo pode ser
um impeditivo -deve ser mesmo.
Acasos
da história possam talvez dar um empurrão para países de renda média ricos em
recursos naturais, como o Brasil: commodities e derivados estão em alta devido
ao progresso da China e da Índia.
Apesar
do que dizem os economistas-padrão, americanos em especial, há muita variação
nas histórias e "modelos" de crescimento. Além do mais, experiências
antigas em geral, americana, alemã ou coreana, são irreproduzíveis, na íntegra.
Do básico, sabemos só que:
1)
Deixar a classe dos médios para a dos ricos não é fácil. Não existem várias
Coreias do Sul; 2) Ignorância, gastos excessivos e endividamento a juro alto
jamais deram pão a ninguém. Mas não estamos cuidando nem desse básico.
>>>
'Nova Prosa' investiga o universo literário. Lançamentos
da coleção de literatura contemporânea da Editora 34 têm escritores e tradutor
como protagonistas. Prestes a comemorar
20 anos, editora publica novas obras de Furio Lonza, Chico Lopes e Pedro
Süssekind FOLHA SP 28.12
-
Os
três últimos lançamentos da Editora 34 apontam para um caminho que a literatura
mundial vem seguindo com frequência no século 21: obras com personagens que são
escritores ou que têm relação com a literatura.
"Crossroads",
de Furio Lonza, acompanha quatro décadas na vida do protagonista, um escritor
frustrado que trabalha como jornalista. "Há trechos autobiográficos, mas o
resto é análise realista dos últimos 43 anos", afirma o ítalo-brasileiro
Lonza.
As
experiências de amadurecimento do narrador são alternadas com relatos sobre
cada decênio vivido por meio de descrições que vão do relato da mobília e de
trajes da época até a música ouvida e as drogas então usadas.
Assim
como seu personagem, Lonza valoriza sobretudo o idealismo sessentista.
"As
utopias dos anos 60 têm que continuar enquanto houver pessoas morrendo de fome,
em estado de inanição. Essa luta está exposta na metáfora final, quando os
castelos de areia são reconstruídos várias vezes", diz.
O
grande destaque da obra, no entanto, são as personagens Ana e Helena, figuras
de alta complexidade psicológica, por quem o narrador se apaixona, que irão
definir a sua personalidade.
"Os
homens são meio bobões. As personagens femininas são fortes e bem acabadas para
que haja equilíbrio entre protagonista e antagonista", explica Lonza.
NOVELA
PSICOLÓGICA
Em
"O Estranho no Corredor", primeira novela de Chico Lopes, temos
também um protagonista aspirante a escritor, assombrado pela aparição
recorrente de um figura masculina misteriosa.
Como
contraponto, no plano realista da história, aparecem personagens femininas,
como a dona da pensão e a tia do protagonista, que tentam controlar suas
paranoias.
"O
protagonista busca redimir o masculino dentro dele e a novela constrói um
enigma psicológico. Seu ponto de vista está contaminado, formando um jogo entre
o delírio e a realidade em um recorte expressionista", diz Lopes.
O
escritor diz que a função de sua literatura é promover um desacordo entre seus
personagens e a história brasileira, com intuito de desconstruir a realidade
opressora.
"A
literatura tem que inquietar, sem medo de transgressão. Deve desmistificar
psicologicamente o mundo de forma radical", avalia.
"Por
isso, quis embaralhar os dados para que o leitor não soubesse o que é delírio
ou realidade", completa.
Em
"Triz", de Pedro Süssekind, o narrador é um tradutor do russo,
ocupado com a tradução de um romance e com apostas em corridas de cavalos no
hipódromo do Rio.
Há
toques de metaliterariedade, sobretudo quando o narrador descreve passagens da
tradução ou o autor toma a voz do personagem.
"Os
dois planos narrativos fazem parte da memória do narrador, de modo que os
eventos da 'vida real' do personagem e os do livro que ele traduz se entrelaçam
e se combinam como recordações", afirma Süssekind.
CROSSROADS
AUTOR
Furio Lonza
EDITORA
34
QUANTO
R$ 39 (288 págs.)
O
ESTRANHO NO CORREDOR
AUTOR
Chico Lopes
EDITORA
34
QUANTO
R$ 30 (128 págs.)
TRIZ
AUTOR
Pedro Süssekind
EDITORA
34
QUANTO
R$ 30 (136 págs.)
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