quarta-feira, 14 de julho de 2010

Brasileiros estão entre os mais estressados do globo

FSP 14/07

Último grau de esgotamento associado ao trabalho atinge 30% da população

Sobrecarga de tarefas e medo de desemprego são as causas mais citadas pelos que perderam o controle

FSP 14/07
Os brasileiros lidam pior com o estresse do que outros povos. Por aqui, as taxas daquilo que é definido como estresse extremo são mais altas que na maioria do países.

Esse último nível de estresse, ou "burn out", caracteriza-se por um esgotamento mental intenso, geralmente associado ao trabalho.
Na população economicamente ativa do Brasil, 30% já chegaram a esse estado causado por uma pressão excessiva, segundo dados da Isma - Brasil, associação internacional que pesquisa dados sobre estresse.
Nesse quesito, o Brasil está atrás apenas do Japão, onde 70% das pessoas já perderam o controle sobre o estresse.
As altas taxas desse país são explicadas pela rotina de trabalho e pela cultura: jornada mais longa e maior dificuldade para verbalizar e expressar opiniões e emoções.
"As normas sociais são muito rígidas naquele país. Escândalos profissionais terminam em demissão e até mesmo em suicídio da pessoa envolvida", diz a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma.

ESFORÇO E RECOMPENSA
Por aqui, a dificuldade de contrabalançar as tensões do dia a dia ocorre principalmente por causa da sobrecarga de tarefas e do medo de demissão, fatores de estresse apontados com mais frequência pelos entrevistados.
O favoritismo nos ambientes profissionais, em que se leva em conta mais a relação pessoal do que o mérito do trabalho gera um sentimento de injustiça que contribui para o aparecimento do "burn out", segundo a psicóloga.
"No Brasil, em geral, não existe um equilíbrio entre esforço e recompensa. Você percebe isso quando o trabalhador vai para o exterior e é muito elogiado", diz Rossi.

NA SAÚDE
Entre quem sofre de "burn out", os índices de depressão, sentimento de incapacidade e exaustão são bem mais elevados do que no restante da população.
"Esses dados são assustadores. Vemos muitas pessoas cometendo tantos erros e com tanto descaso no trabalho, que isso pode mesmo ser sintoma de "burn out'", diz a psicóloga Marilda Emmanuel Novaes Lipp, diretora do Centro Psicológico de Controle do Stress e professora da PUC- Campinas.
Ironicamente, o problema atinge profissionais altamente motivados, idealistas e que se dedicam excessivamente ao trabalho. Sentimentos de decepção podem desencadear o estresse exagerado.
"Reconheça o que é importante e não se imponha uma carga de trabalho acima do necessário", aconselha Lipp.

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MEMÓRIA

Obra de Paulo Moura ficará como exemplo de liberdade

FSP 14/07

Morto anteontem, músico mesclou gêneros e teve trajetória incomum


A música brasileira perdeu um de seus instrumentistas mais brilhantes.
Morreu anteontem, vítima de linfoma (câncer no sistema linfático), o clarinetista, saxofonista, compositor, arranjador e regente Paulo Moura. Nascido em São José do Rio Preto (SP), ele completaria 78 anos amanhã.
Sua trajetória musical foi incomum. Filho de um mestre de banda de coreto, radicou-se com a família em 1945, no Rio de Janeiro.
Aos 19 anos estreou como solista da Orquestra Sinfônica Brasileira. Foi clarinetista da Sinfônica do Teatro Municipal carioca, mas a formação erudita não o impediu de cultivar sua intensa paixão pela música popular brasileira e pelo jazz.
"Praticamente, me criei na gafieira", dizia Moura, que na década de 1950 também tocou em bailes e emissoras de rádio, integrando as orquestras de Zacharias e Oswaldo Borba, época em que acompanhou cantores de sucesso, como Nelson Gonçalves, Dircinha Batista e Carlos Galhardo.
Já na década seguinte, frequentou o Beco das Garrafas, templo da bossa nova e do samba-jazz.
Como saxofonista do sexteto Bossa Rio, liderado por Sérgio Mendes, em 1962, tocou até no histórico concerto de bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York, ao lado de Tom Jobim, João Gilberto e Luiz Bonfá, entre outros.
Em meio a uma carreira musical tão eclética, uma das contribuições mais originais de Moura surgiu em 1976, sinalizando seu reencontro com o universo do samba e do choro.

INOVAÇÃO
Depois de tocar por alguns meses com o sambista Martinho da Vila, gravou o inovador "Confusão Urbana, Suburbana e Rural", álbum que contribuiu ativamente para reacender o interesse pelo samba-choro das orquestras de gafieira.
Esse projeto também marcou de forma definitiva sua obra. Na época voltou até a tocar em uma gafieira da praça Tiradentes, no centro do Rio, despertando a atenção de outros músicos, que iam ouvi-lo.
Desde então seu crescente interesse pela rítmica brasileira gerou outros álbuns nessa linha musical, como "Mistura e Manda" (1983), "Gafieira Etc. e Tal" (1986) e "Pixinguinha" (1988).
Ainda na década de 1980, sua prolífica parceria com a pianista Clara Sverner, registrada em três álbuns com repertório erudito e popular, abriu caminho para preciosas colaborações com outros figurões da música instrumental, como Raphael Rabello, Arthur Moreira Lima, Wagner Tiso, Nivaldo Ornelas, João Donato e Yamandu Costa, todas registradas em disco.
A associação mais recente, com o bandolinista baiano Armandinho, rendeu o CD "AfroBossaNova" (2009).
Num cenário em que ainda se insiste em criar fronteiras rígidas entre gêneros e estilos, a música do grande Paulo Moura ficará para sempre como um exemplo vital de liberdade.

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