Brasileiros estão entre os mais estressados do globo
FSP 14/07
Último grau de esgotamento associado ao trabalho atinge 30% da população
Sobrecarga de tarefas e medo de desemprego são as causas mais citadas pelos que perderam o controle
FSP 14/07
Os brasileiros lidam pior com o estresse do que outros povos. Por aqui, as taxas daquilo que é definido como estresse extremo são mais altas que na maioria do países.
Esse último nível de estresse, ou "burn out", caracteriza-se por um esgotamento mental intenso, geralmente associado ao trabalho.
Na população economicamente ativa do Brasil, 30% já chegaram a esse estado causado por uma pressão excessiva, segundo dados da Isma - Brasil, associação internacional que pesquisa dados sobre estresse.
Nesse quesito, o Brasil está atrás apenas do Japão, onde 70% das pessoas já perderam o controle sobre o estresse.
As altas taxas desse país são explicadas pela rotina de trabalho e pela cultura: jornada mais longa e maior dificuldade para verbalizar e expressar opiniões e emoções.
"As normas sociais são muito rígidas naquele país. Escândalos profissionais terminam em demissão e até mesmo em suicídio da pessoa envolvida", diz a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma.
ESFORÇO E RECOMPENSA
Por aqui, a dificuldade de contrabalançar as tensões do dia a dia ocorre principalmente por causa da sobrecarga de tarefas e do medo de demissão, fatores de estresse apontados com mais frequência pelos entrevistados.
O favoritismo nos ambientes profissionais, em que se leva em conta mais a relação pessoal do que o mérito do trabalho gera um sentimento de injustiça que contribui para o aparecimento do "burn out", segundo a psicóloga.
"No Brasil, em geral, não existe um equilíbrio entre esforço e recompensa. Você percebe isso quando o trabalhador vai para o exterior e é muito elogiado", diz Rossi.
NA SAÚDE
Entre quem sofre de "burn out", os índices de depressão, sentimento de incapacidade e exaustão são bem mais elevados do que no restante da população.
"Esses dados são assustadores. Vemos muitas pessoas cometendo tantos erros e com tanto descaso no trabalho, que isso pode mesmo ser sintoma de "burn out'", diz a psicóloga Marilda Emmanuel Novaes Lipp, diretora do Centro Psicológico de Controle do Stress e professora da PUC- Campinas.
Ironicamente, o problema atinge profissionais altamente motivados, idealistas e que se dedicam excessivamente ao trabalho. Sentimentos de decepção podem desencadear o estresse exagerado.
"Reconheça o que é importante e não se imponha uma carga de trabalho acima do necessário", aconselha Lipp.
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MEMÓRIA
Obra de Paulo Moura ficará como exemplo de liberdade
FSP 14/07
Morto anteontem, músico mesclou gêneros e teve trajetória incomum
A música brasileira perdeu um de seus instrumentistas mais brilhantes.
Morreu anteontem, vítima de linfoma (câncer no sistema linfático), o clarinetista, saxofonista, compositor, arranjador e regente Paulo Moura. Nascido
Sua trajetória musical foi incomum. Filho de um mestre de banda de coreto, radicou-se com a família em 1945, no Rio de Janeiro.
Aos 19 anos estreou como solista da Orquestra Sinfônica Brasileira. Foi clarinetista da Sinfônica do Teatro Municipal carioca, mas a formação erudita não o impediu de cultivar sua intensa paixão pela música popular brasileira e pelo jazz.
"Praticamente, me criei na gafieira", dizia Moura, que na década de 1950 também tocou em bailes e emissoras de rádio, integrando as orquestras de Zacharias e Oswaldo Borba, época em que acompanhou cantores de sucesso, como Nelson Gonçalves, Dircinha Batista e Carlos Galhardo.
Já na década seguinte, frequentou o Beco das Garrafas, templo da bossa nova e do samba-jazz.
Como saxofonista do sexteto Bossa Rio, liderado por Sérgio Mendes, em 1962, tocou até no histórico concerto de bossa nova no Carnegie Hall,
Em meio a uma carreira musical tão eclética, uma das contribuições mais originais de Moura surgiu em 1976, sinalizando seu reencontro com o universo do samba e do choro.
INOVAÇÃO
Depois de tocar por alguns meses com o sambista Martinho da Vila, gravou o inovador "Confusão Urbana, Suburbana e Rural", álbum que contribuiu ativamente para reacender o interesse pelo samba-choro das orquestras de gafieira.
Esse projeto também marcou de forma definitiva sua obra. Na época voltou até a tocar em uma gafieira da praça Tiradentes, no centro do Rio, despertando a atenção de outros músicos, que iam ouvi-lo.
Desde então seu crescente interesse pela rítmica brasileira gerou outros álbuns nessa linha musical, como "Mistura e Manda" (1983), "Gafieira Etc. e Tal" (1986) e "Pixinguinha" (1988).
Ainda na década de 1980, sua prolífica parceria com a pianista Clara Sverner, registrada em três álbuns com repertório erudito e popular, abriu caminho para preciosas colaborações com outros figurões da música instrumental, como Raphael Rabello, Arthur Moreira Lima, Wagner Tiso, Nivaldo Ornelas, João Donato e Yamandu Costa, todas registradas em disco.
A associação mais recente, com o bandolinista baiano Armandinho, rendeu o CD "AfroBossaNova" (2009).
Num cenário em que ainda se insiste em criar fronteiras rígidas entre gêneros e estilos, a música do grande Paulo Moura ficará para sempre como um exemplo vital de liberdade.
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