Hotéis "livres de crianças" ganham espaço no turismo mundial
La Vanguardia 19/07/10
Não têm berços, nem camas extras. Nem cadeirões. A piscina fica aberta 24 horas por dia num terraço com restaurante e espreguiçadeiras. Só se ouve uma agradável música de fundo. Nenhuma criança perambulando no meio da manhã. Simplesmente porque não tem nenhuma. Ninguém diria que este hotel de quatro estrelas fica em Salou. Aberto há cinco anos, foi um dos primeiros estabelecimentos da Espanha a não admitir crianças. E está lotado. A oferta de hotéis pensados só para o descanso e o lazer de adultos está em alta. Eles estão também em Benirodn, em Maiorca e nos destinos mais remotos. O rótulo “sem crianças” se estende sem complexos da Tailândia a Punta Cana. Dos Alpes a Cuba.
“Cada vez tem mais pessoas que não tem filhos, ou que os veem apenas a cada quinze dias, ou que os deixam e viajam com seu parceiro no fim de semana e querem garantir que ficarão tranquilos”, diz a diretora do hotel Magnolia de Salou, Isabel Alambillaga. O hotel, de 72 quartos duplos, não proíbe a entrada de crianças, mas não dispõe de serviços para elas. “Quando uma família nos telefona, a enviamos a outro hotel do grupo ou aos apartamentos, que são preparados e pensados para as famílias e nos quais elas vão ficar bem melhor acomodadas”, acrescenta Alambillaga. No terraço do Magnolia Salou, o casal Carmen e Miguel toma café da manhã: “Nossos filhos são mais velhos e queríamos voltar a Salou, vi este hotel pela internet, e os comentários elogiavam bastante o fato de não ter crianças, e gostei; nós queríamos ficar tranquilos”, explicam.
“As mudanças globais marcam um novo consumidor, até há pouco tempo as agências de turismo ditavam as regras do jogo, mas agora o consumidor tem acesso a muito mais informação e podem escolher inclusive sem sair de casa; o mercado está cada vez mais segmentado e é mais rico”, diz José Luis Zoreda, vice-presidente executiva da Exceltur, associação dos grupos empresariais turísticos espanhóis. “A realidade social proporciona perfis diferentes, que além disso demandam lazer diferente em momentos diferentes”, acrescenta Zoreda. De acordo com essa regra tripla, uma mesma pessoa pode viajar por motivos de trabalho com condições determinadas, pode viajar com uma mochila e dormir em albergues de montanha para fazer trilhas, viajar com a família no verão ou escapar com seu parceiro num fim-de-semana.
“A singularização é a chave para reforçar a competitividade, a oferta de estabelecimentos sem crianças entretanto não tem categoria própria, mas pode ser um mercado crescente por causa da evolução da própria sociedade”, acrescenta Zoreda. O último informe do Instituto de Estudos Turísticos (IET) do Ministério da Indústria, Turismo e Comércio constata esta tendência: uma queda de cerca de 8,7% do turismo durante 2009 (cinco milhões de visitantes a menos). A redução dos visitantes que, de forma explícita, indicam que vão sem os filhos foi menor. “O grupo de famílias sem filhos caiu apenas 1% e dos que viajam sozinhos apenas 4%”, constata o estudo, enquanto que no resto dos grupos a queda ficou em mais de 8%.
Na Espanha entretanto, são poucos os hotéis que fazem propaganda do rótulo “sem crianças”. “Quando abrimos, há cinco anos, algumas pessoas não compreenderam, mas fomos bem e nossos clientes são principalmente casais jovens ou de meia idade, e muitos repetem”, diz Alambillaga. Os folhetos e sites desses estabelecimentos indicam com os números “+16” ou “+18” que seu público é adulto. Na parte de comentários, os clientes reforçam esta ideia e a elogiam. “Cada vez mais os estabelecimentos se especializam e respondem a segmentos mais específicos, e embora já se saiba que em alguns hotéis não haverá 50 crianças na piscina, indicar isso é um valor agregado para um público concreto”, sustenta Salvador Anton, diretor da Escola de Turismo e Lazer da Universidade Rovira i Virgili (URV).
Na Espanha, este rótulo começa a ser empregado em destinos populares de praia, como o hotel Levante Club & Spa de Benidorm, “hotel exclusivo para maiores de 16 anos”, ou destinos como Maiorca e Eivissa, além de Salou. No geral, são hoteis de quatro ou cinco estrelas que oferecem todo tipo de conforto para garantir o repouso a seus clientes. Eles estão em enclaves eminentemente turísticos e também em lugares isolados.
“Nós não dizemos não aos clientes que vêm com filhos, mas queremos garantir um ambiente de tranquilidade e que o resto dos clientes não percebam que há crianças ali”, explica Raquel Frisach, da Torre del Visco, um castelo paradisíaco, “longe da correria do mundo” - diz sua propaganda – e localizado na comarca de Matarranha (Teruel). As criança jantam antes na cozinha e o hotel proporciona interfones de segurança para que os pais possam jantar tranquilamente no salão, “e eles agradecem”, acrescenta Frisach, que reconhece: “Por causa de nosso perfil e filosofia, não costumam vir muitas famílias”. Um caso semelhante é o do La Casa de la Siesta, um pitoresco e luxuoso hotel de sete quartos localizado em Vejer de la Fronteira (Cádiz). Uma noite neste estabelecimento, que não admite menores de 15 anos, oscila entre os 900 e os 1.300 euros.
No mercado “sem crianças”, o uso da internet é fundamental. Segundo o IET, em 2009 cerca de 20% mais turistas usaram a rede do que em 2008. No total, 60% dos turistas que viajaram à Espanha recorreram à internet e, destes, quase a mesma porcentagem comprou os serviços sem sair de casa. Com um clique aparecem na tela grupos como o “Eu também me irrito com crianças em restaurantes”, que conta com uma centena de usuários.
Nenhum comentário:
Postar um comentário