quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Filme revela a intimidade de Saramago

FSP 18/08

Documentário "José e Pilar", sobre amor e morte, tem making of exibido hoje na Bienal e estreia em novembro

Trechos do filme do diretor português Miguel Gonçalves Mendes farão parte dos extras do DVD


A versão do filme "José e Pilar" que será exibida hoje na 21ª Bienal do Livro de SP, às 19h -a mesma mostrada há quase duas semanas na Flip-, é dominada por imagens que não estarão no documentário do português Miguel Gonçalves Mendes a ser lançado em novembro.
O filme perscruta sutilezas do cotidiano do escritor José Saramago com a mulher, a jornalista espanhola Pilar del Río. Baseia-se em 230 horas de gravações da intimidade do casal por três anos, justo o período de feitura de "A Viagem do Elefante", penúltimo livro do Nobel português, lançado em 2008.
Segundo o diretor, a versão comercial não trará entrevistas com Saramago, morto em junho passado, que aparecem à farta na fita a ser exibida hoje, com 40 minutos de duração.

TAPA NA BUNDA
"[A cópia final] Será uma espécie de "Big Brother'", comparou Mendes, ressaltando se tratar de um filme sobre o amor do casal e não sobre sua parte mais famosa.
A edição trazida ao Brasil mescla essa intimidade a algo como um making of. Vemos Saramago dar tapinhas na bunda de Pilar, que atravessa sem cerimônia na frente do computador. Numa tomada lateral, o escritor aparece concentrado em frente ao monitor. Quando a câmera mostra a tela... Saramago está a jogar paciência.
Descobrimos que o casal se comunicava em espanhol. Vemos cenas do casamento em Castril, cidade natal dela.
Há um longo trecho sobre a vinda ao Brasil para lançar "A Viagem do Elefante", com passagens hilárias e constrangedoras de entrevistas e sessões de autógrafos. Mas, como disse o diretor na Flip, é também um filme sobre a morte. Na paisagem árida das ilhas Lanzarote, na Espanha, onde moravam, Saramago solta frases como "Gostaria de morrer lúcido e de olhos bem abertos"; "Não queria estar na pele de Pilar quando eu desapareça"; "Para mim, o ideal de vida é ser árvore" e "Medo? Não. A morte para mim é a diferença entre estar e já não estar".

Ou a declaração de amor: "Se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de lhe ter conhecido, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora". As partes exibidas hoje, mas excluídas da versão final, devem entrar nos extras do DVD do documentário, que tem como coprodutoras a brasileira O2, de Fernando Meirelles, e a espanhola El Deseo, de Pedro Almodóvar.

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Um convite à leitura

ROSELY BOSCHINI

FSP 18/08

A 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que começou no dia 12 e vai até o dia 22 de agosto, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, deverá ser a maior dentre todas as edições do evento.
Ocupa área de 60 mil metros quadrados, o equivalente a oito campos de futebol, e reúne 350 expositores do Brasil e do exterior, representando 900 selos editoriais. Com diversificada programação cultural, insere-se entre as ações da Câmara Brasileira do Livro (CBL) para a democratização da leitura e ampliação da base de leitores. A organização foi delegada à Reed Exhibitions Alcantara Machado.
Conceituados profissionais são curadores das atividades culturais, de modo a enriquecer a programação, que foca quatro temas principais: Monteiro Lobato, Clarice Lispector, lusofonia e livro digital.
Outra novidade é o Espaço Gourmet, cuja temática é "Cozinhando com Palavras". Renomados chefs que já escreveram livros ministram aulas ao público. Os espaços já tradicionais também apresentam inovações. O Salão de Ideias, por exemplo, teve seu conteúdo repensado e ampliado.
São 40 mesas, quatro por dia, nas quais escritores nacionais e internacionais discutem temas diversos com plateias de 200 pessoas.
Há, ainda, o Espaço do Professor, visando capacitar docentes a trabalhar com livros de literatura em sala de aula, e atividades infantis, para proporcionar entretenimento e incentivar o gosto pela leitura nas crianças.
Exemplos: os espaços "O livro é uma viagem", organizado pelo Instituto Pró-Livro, e "Fábulas com a Turma da Mônica", com curadoria de Mauricio de Sousa.
A 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo também é uma resposta positiva da CBL à evolução do mercado e da economia brasileira. A conjuntura positiva para o segmento já era visível na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que identificou, em sua última edição, a existência de 95 milhões de leitores no país e um índice de leitura de 3,7 títulos por habitante/ano.
De 2006 a 2008, foram lançados aproximadamente 57 mil novos títulos e impressos cerca de 690 milhões de exemplares, conforme a pesquisa Produção e Vendas do Mercado Editoria, feita pela Fipe/ USP para a CBL e o Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros).
O maior investimento em novos títulos é uma estratégia inteligente, estimulando o surgimento de autores e a produção intelectual.
Também é relevante a queda de preços dos livros, de 2004 a 2008: 24,5% no segmento de didáticos; 22,4% no de obras gerais; 38% no de religiosos; e 23,3% no de científicos, técnicos e profissionais.
Além do cenário favorável, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo é um evento que sempre estimula o surgimento de novos leitores, meta prioritária da CBL.
Dessa maneira, contribui para que o ingresso definitivo do Brasil na sociedade do conhecimento estabeleça um novo patamar de prosperidade socioeconômica, cidadania e inclusão social.

ROSELY BOSCHINI, empresária, é presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

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