Brasília é o retrato da desigualdade social que existe em todo o país, diz sociólogo
Opopular.com.br 09/08
Ficou menor a distância entre os pobres e os ricos, entre 1995 e 2008, menos no Distrito Federal
Uma análise publicada no final do mês passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a partir dos dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (Pnad) e das contas nacionais e regionais, mostra que, em praticamente todas unidades da Federação, ficou menor a distância entre os pobres e os ricos, entre 1995 e 2008.
A única exceção é o Distrito Federal. Nesse período, o índice de Gini - que mede desigualdade de renda - aumentou de 0,58 para 0,62 (quanto mais próximo de 1 maior a desigualdade). A Pnad é feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Conforme o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, a razão do aumento da desigualdade na unidade que abriga a capital do país está no pico e na base da pirâmide social. Nos últimos anos, no Distrito Federal, houve aumento de renda dos mais ricos (em Brasília, funcionários públicos com as carreiras mais valorizadas) e aumento do número de pessoas com renda extremamente baixa (migrantes). "A desigualdade aumenta porque o crescimento populacional se dá na base da pirâmide social", explicou.
Pochmann lembra que, na última década, houve recomposição dos salários do funcionalismo, mas pondera que a migração é mais responsável pela desigualdade. "Mesmo quando, nos anos 90 e no início desta década, os salários ficaram comprimidos, não tiveram reajuste e nem recuperação real, a desigualdade geral também crescia", destacou.
De acordo com o sociólogo Marcel Bursztyn, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB), o Distrito Federal ainda atrai migrantes sobretudo por conta do acesso a serviços públicos, como o atendimento médico-hospitalar. "São serviços de qualidade superior à [qualidade] dos que [eles, os migrantes] têm em suas regiões. Muita gente vem para Brasília em busca de tratamento de saúde de algum membro da família", relata.
Bursztyn diz que ainda se lembra de quando fez pesquisas de campo e encontrou famílias que chegaram ao Distrito Federal de carroça ou em ambulâncias. São pessoas, segundo ele, que percorreram mais de mil quilômetros para trazer alguém doente, necessitando de tratamento que não encontrou na sua região.
Para o acadêmico, o aumento da desigualdade da renda no Distrito Federal mostra que Brasília, em vez de ser uma "ilha da fantasia", se parece muito com o Brasil, tido como um dos países mais desiguais do mundo. "Brasília é um retrato caricatural, no qual se acentuam os traços mais visíveis. Brasília é uma miniatura do país."
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Impunidade, mãe da violência
Fonte: opopular.com.br 12/08
A violência assola o País. Nas casas, nas ruas, nos morros, nas chácaras, nos bares.
A impunidade é a mãe de todos os motivos. Como sabemos, as causas da violência são históricas e, na maioria das vezes, incorporadas às estruturas do Estado e das sociedades. Haveremos de enfrentar muitos embates até resolvermos problemas como falta de conhecimento, miséria e fome. Mas avançamos, a exemplo da Constituição de 1988, que fixou, no artigo 5º, os direitos e as garantias individuais, verdadeiros antídotos contra o arbítrio e o abuso de poder sobre indivíduos.
Uma causa de violência, que em geral escandaliza, é a psicopatia. E se o psicopata se envolve com drogas, a tragédia é maior. Talvez seja esse um dos motivos do aumento do número de crimes bárbaros ultimamente.
Medo e insegurança são sentimentos próprios dos seres humanos. Ameaçadas ou desesperadas, as pessoas perdem a razão e podem agir de forma agressiva. Cabe ao Estado e à sociedade, sistematicamente, conduzir políticas e ações que minimizem situações de risco, de tal modo que as pessoas se sintam mais seguras e menos vulneráveis.
Nesse ponto, entram as políticas de segurança e, também, de punição dos agentes nocivos à sociedade.
A qualidade social das pessoas é adquirida com a formação que recebem na vida. Pessoas que se formam espontaneamente pelas ruas, tornam-se ameaça, porque se formaram como estranhos. E como estranhos, não tiveram a oportunidade de conhecer os princípios, os fins e o direito que regem a sociedade. A formação social não é imanente, ou seja, própria da nossa natureza, mas intencional. Por conveniência moral ou social, são estabelecidos princípios e normas que devemos cumprir. Por exemplo, fazemos jejum por uma questão de princípio e não por natureza. Naturalmente, o que queremos é nos alimentar sempre.
Mas fazemos jejum porque queremos, pelo nosso entendimento, mesmo contra nosso desejo, disciplinar o corpo em benefício do espírito. Naturalmente, os indivíduos agem em benefício da sua sobrevivência, sem avaliar muito a repercussão que isso tem para o coletivo.
Se o Estado e a sociedade são tolerantes com atos, naturalmente espontâneos, que ferem os princípios e as normas vigentes, a tendência é essa força natural, nesse caso nociva, crescer e comprometer a segurança e até a soberania.
Portanto, a impunidade é causa de violência e a principal delas. Compromete o poder coercível dos costumes, dos princípios e das normas, e ofusca a dimensão objetiva da sociedade, levando a uma sensação geral de "cada um por si e Deus por todos", o que não leva à nada, senão a mais violência.
Daniel Rodrigues Barbosa é mestre em Filosofia e pró-reitor de Administração da PUC Goiás
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