segunda-feira, 8 de abril de 2013






TEXTO




Chico Alencar: Congresso de excessos.  CHICO ALENCAR, 63, é deputado federal (PSOL-RJ).  OLHA SP 08.04
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O Estado de exceção acabou no Brasil há quase 25 anos, com a promulgação da Constituição cidadã de 1988. Mas os excessos do poder público continuam, herança maldita de nossa formação patrimonialista.

Esses abusos, generalizados, são mais visíveis no Parlamento nacional. Não apenas agora, mas nos seus 190 anos de existência, em função do status "nobiliárquico" de que os eleitos se acham investidos.

Aliás, desde a colônia as câmaras municipais, pioneiras "casas de leis", eram exclusivas para os chamados "homens bons", brancos e ricos. Pobres, escravos e mulheres não entravam.

Há os repetidos desvios políticos, que, no momento, levam ao absurdo de se ter, em presidências de comissões e lideranças partidárias, parlamentares investigados por desvio de conduta ou processados por variados crimes, do racismo à fraude e ao peculato. Naturalizam-se as incoerências. O simples correr do tempo limpa reputações.

A população, por consequência, despreza ainda mais a "política" e sua expressão maior de representação, o Congresso Nacional. Desvaloriza também o seu próprio voto, sem observação da proposta política, dos financiadores de campanha e da história de vida do candidato.

O clientelismo e o fisiologismo crescem, o voto consciente diminui. No lugar dos partidos, com seus propósitos --tantas vezes enganosos--, temos as bancadas das empreiteiras, dos bancos, de religiosos sectários, do agronegócio, da bola, da bala... Democracia das corporações.

Na gestão interna dos recursos públicos, a matemática é a da soma e multiplicação, não a da divisão ou diminuição. Os princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade pouco valem.

A recente criação de novos cargos e encargos na Câmara dos Deputados vai na contramão da promessa de austeridade, reduzindo em cinco vezes a "economia" anunciada antes. O número de deputados não aumentou, mas o surgimento de novos partidos cria e diminui bancadas.

Respeito ao erário seria redistribuir as funções gratificadas já existentes. Não são poucas: há nada menos que 10.636 secretários parlamentares nos gabinetes e 1.433 cargos de natureza especial (CNE). A estrutura da Mesa Diretora é contemplada com 288 deles. Até os suplentes são agraciados com 11 CNE's cada! Tal fartura explica a disputa encarniçada por essas posições...

Também as lideranças partidárias têm aparato exagerado e desequilibrado, indo de dois a oito servidores, para os menores dos 23 partidos hoje representados na Câmara Federal, até os 80 a 124 dos médios e grandes. É prudente medida de segurança que nem todos compareçam aos gabinetes ao mesmo tempo...

"Essa é uma Casa política", ouve-se quando se quer aprovar algum "trem da alegria" ou projeto que oculte interesses menores. "Não vamos politizar a questão", diz-se, paradoxalmente, quando há questionamentos sobre acordos de bastidores ou acertos prévios garantidores de demasias. Em geral, quem já conquistou determinadas benesses não as perderá, tendo alguma força política.

O vício da fartura, oposto à austeridade imposta aos trabalhadores comuns, vai muito além da necessária estrutura para se exercer bem a função pública.

"Criar cargos não é roubar!", exclamou um parlamentar. Sim, distribuí-los por conveniências políticas difere de repartir o resultado de uma pilhagem. Mas esse "toma lá, dá cá" da política dominante, inclusive nas relações com o Executivo, implica em afronta aos reais interesses da população, carente de tantos direitos básicos.

CHICO ALENCAR, 63, é deputado federal (PSOL-RJ)

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EDUCAÇÃO »   Em prol das cotas sociais.  CORREIO BSB 08.04

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Para garantir o preenchimento das vagas reservadas aos estudantes de escolas públicas, Universidade de Brasília decide abrandar as regras das questões discursivas. No 2º vestibular de 2013, elas deixarão de ser eliminatórias
Notícia Gráfico


           
Alunos do Setor Leste, Aline, Vinícius e Vanessa acreditam que, sem a a obrigatoriedade de acertar pelo menos 20% dos itens tipo D, terão mais chances

Depois dos primeiros resultados das provas de ingresso na Universidade de Brasília (UnB) com a vigência da Lei das Cotas Sociais (veja O que diz a lei), a instituição decidiu retomar regras mais brandas em relação às questões tipo D. No 2° vestibular de 2013, essa modalidade deixa de ser eliminatória e volta a contar apenas para a classificação do candidato. Na última edição do certame, das 305 vagas destinadas aos estudantes de escolas públicas, apenas 209 foram preenchidas. No Programa de Avaliação Seriada (PAS), só 100 foram ocupadas. Em análise feita pela reitoria, os itens tipo D foram os vilões de muitos candidatos.

O modelo vigorou em três vestibulares da universidade. As questões tipo D se tornaram eliminatórias no 1° semestre de 2012. Naquela edição e nas duas seguintes, os candidatos deveriam acertar pelo menos 20% dos itens discursivos para terem as provas corrigidas. No mesmo período, essas questões passaram de duas para quatro em cada dia de prova. A decisão foi tomada para evitar que os estudantes pulassem esse tipo de avaliação tanto no vestibular quanto no PAS. No entanto, nos primeiros testes com 12,5% das vagas reservadas para os estudantes de escolas públicas, a instituição teve alto índice de oportunidades não preenchidas.

A administração central entendeu, então, que a política pública não seria efetivada caso nenhuma medida fosse tomada para reverter esse quadro. “As mudanças ocasionaram o não preenchimento das vagas em diversos cursos da universidade. Antes, sobravam apenas 2%. A UnB não estava cumprindo a política”, afirma o decano de Ensino de Graduação, Mauro Luiz Rabelo. A reserva de oportunidades aos estudantes de escolas públicas vai crescer para 50%. Para o decano, sem a alteração, mesmo com mais espaço, esse público não aumentaria dentro dos câmpus.

“Fizemos análise estatística dos resultados do PAS e do vestibular e constatamos que o causador do problema foi principalmente a barreira estabelecida nos itens tipo D”, detalhou Rabelo. O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) votou para o retorno ao modelo anterior. “Isso não interfere nos cursos de alta demanda, mas é vital nos outros. Se fizermos análise curso a curso, vários, como licenciatura em matemática, preencheram apenas uma vaga no PAS. Praticamente duplicamos o número de vagas, incluímos uma barreira, e o universo de candidatos é o mesmo”, explica.

Elaboração igual
Quem aspira a uma vaga na UnB não precisa mudar os métodos de estudo. De acordo com o diretor-geral do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), Paulo Henrique Portela, a forma de elaboração das perguntas será a mesma. “Os aspectos da construção do instrumento de avaliação não mudam. As questões ainda são contextualizadas, interdisciplinares e têm o mesmo peso”, explica o chefe do órgão que elabora os cadernos de prova. “Os tipos D são contabilizadas no escore bruto e este tem que ser sempre positivo”, alerta.

Estudante do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Vinícius Mendes, 15 anos, temia não entrar na universidade por conta das questões discursivas. “Tenho chances de passar para administração, mas já fiz a questão em simulados e ela poderia me atrapalhar”, avalia. Aline Vera, 16, quer cursar relações internacionais. “É difícil chegar nos 20%. Não é sempre que a gente consegue responder a essas perguntas”, diz. Para ela, não existe o risco de que a mudança nivele os estudantes por baixo, como sugeriram alguns diretores de escolas e cursinhos ouvidos pelo Correio. “De todo jeito, só vai entrar quem se empenhou”, afirma. Amiga dela, Vanessa Moura, 16, concorda. “Quem conseguiria passar quando era tipo D, vai entrar agora. Para nós, além das cotas, teremos essa facilidade”, argumenta. Vanessa deseja se graduar em psicologia.

"As mudanças ocasionaram o não preenchimento das vagas em diversos cursos da universidade. Antes, sobravam apenas 2%. A UnB não estava cumprindo a política"

Mauro Luiz Rabelo,
decano de Ensino de Graduação

O que diz a lei
A lei nº 12711/2012, em vigor desde agosto do ano passado, estabelece que 12,5% das vagas existentes nas instituições federais de ensino ficam reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas, pertençam a famílias com renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo ou se autodeclaram negros, pardos ou de origem indígena. No ano que vem, esse percentual vai dobrar, até atingir 50% em um prazo de quatro anos. Para se beneficiado pela legislação, os candidatos devem ter cursado o ensino médio integralmente em instituições públicas. No caso da Universidade de Brasília, em especial, a instituição decidiu ainda manter os 20% p]ara os afrodescendentes. Porém, em 2014, esta política será revista pelo Conselho Universitário (Consuni) e pode ter o percentual reduzido ou ser extinta. De acordo com o governo federal, em 10 anos, será implementado um programa de acompanhamento para avaliar a necessidade de continuação da iniciativa.


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O financiamento da cultura.  ROMÁRIO SCHETTINO.  Jornalista, vice-presidente do Conselho de Cultura do DF. CORREIO BSB 08.04
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Historicamente, como acontece com todos os setores produtivos da sociedade, grande parte dos incentivos à produção cultural é originada nos orçamentos estatais. O culto à livre iniciativa privada não existiria se não houvesse a mão protetora e reguladora do Estado. É assim que ocorre nos regimes socialistas, capitalistas, mistos e em todas as suas variações.

Portanto, falar em produção independente na área cultural não significa estar isento de influências das forças políticas e econômicas que compõem a sociedade e, por extensão, o Estado. A sociologia política já comprovou que não existe Estado sem sociedade.

Como a democracia é um regime em construção, tanto na sua forma exclusivamente representativa, quanto na tão sonhada versão participativa, sempre cabe uma discussão sobre o papel do Estado na distribuição de recursos. Tudo é possível, quando a transparência e os mecanismos utilizados são de amplo conhecimento e as oportunidades igualitariamente garantidas.

Uma das fontes de financiamento da cultura no Distrito Federal é o Fundo de Apoio à Cultura (FAC), e a forma como ele está sendo gerido é exemplar para Brasília e para o Brasil. O FAC é um dos maiores fundos de apoio à cultura no país. E isso não caiu do céu, foi uma conquista. A luta dos artistas, produtores e agitadores culturais para a aprovação da lei que instituiu 0,3% da receita líquida do GDF como fonte principal de sustentação do FAC é digna de registro e tem servido de modelo para outros estados.
A quantidade de recursos disponíveis — este ano são cerca de R$ 60 milhões — exige uma gestão tão responsável quanto eficiente. E é isso o que a Secretaria de Cultura do DF está fazendo. Mas não é fácil. O diálogo com o movimento cultural é penoso e, às vezes, incompreendido por ambas as partes. É preciso levar em conta, por exemplo, que a falta de pessoal é um fator que contribui para essas incompreensões: faltam funcionários qualificados para a constante atualização do Cadastro de Entes e Agentes Culturais (Ceac) — condição para que o proponente concorra aos recursos do FAC —, e para o acompanhamento de execução dos projetos aprovados, com avaliação cuidadosa e ágil.

O volume de projetos inscritos no FAC aumenta na medida do crescimento das verbas. É necessária e urgente a realização de concurso público para recompor os quadros da Secretaria de Cultura, que vem perdendo servidores há várias décadas. Com a entrada em vigor da nova Lei de Incentivos Fiscais, haverá necessidade de mais servidores no sistema cultural do DF.

Voltemos ao debate essencial. Como distribuir esses recursos de maneira justa e sem desperdício? O conceito embutido nos editais da secretaria para democratizar o acesso e descentralizar a distribuição deve buscar também a qualificação da produção cultural, incentivar os artistas e estimular o cidadão a participar da vida cultural de sua cidade. Mais do que isso, deve ter como meta projetar o DF no cenário nacional e internacional com criatividade e espírito crítico.

Escolher quem vai receber os recursos tem sido tarefa das três câmaras do Conselho de Cultura do DF, que é composto de 12 conselheiros — seis representantes do governo e seis do movimento cultural. Muitos resultados podem ser questionados, ninguém é perfeito. Os insatisfeitos têm o direito de recorrer ao pleno do conselho, mas uma coisa é certa: se há 10 projetos para cinco vagas, cinco serão eliminados, não necessariamente porque a proposta não tenha mérito cultural. Nenhum proponente deve se sentir apenas desqualificado e, sim, apto a preparar novo projeto para o próximo edital.

No entanto, o financiamento da cultura não se resume a essas duas leis em vigor, é fundamental que o orçamento da Secretaria de Cultura atinja novos patamares, o suficiente para recuperar e construir espaços culturais. É preciso ter políticas compatíveis com as necessidades do Museu da República, da Biblioteca Nacional, do Museu de Arte de Brasília (MAB), do Teatro Nacional Cláudio Santoro, do Cine Brasília (em reforma), do Espaço Cultural Renato Russo, da Casa do Cantador, do Centro Cultural da Ceilândia, do Espaço Cultural Itapoã, do Espaço Cultural de Samambaia e de muitos outros.

Os deputados distritais, especialmente os da Frente Parlamentar da Cultura, têm a obrigação de pensar sobre todas essas questões e, ao destinar suas emendas ao Orçamento, que o façam com a consciência de que dinheiro público não pode ser jogado apenas em eventos, é preciso investir em espaços e projetos permanentes. Bem diz o poeta TT Catalão: “Quem semeia eventos, colhe tempestades”.


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PATRIMÔNIO CULTURAL »  Palco em construção
A partir de junho, Secretaria de Cultura do DF vai administrar a maior reforma do Teatro Nacional. Orçada em R$ 96 milhões, obra vai durar 10 meses.  CORREIO BSB 08.04

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.Na proposta de reforma, está a revisão do projeto da Sala Villa-Lobos para dar mais conforto e acessibilidade à plateia
           
Os concertos da Orquestra Sinfônica serão relocados para outro local


Às vésperas de completar 32 anos ( foi inaugurada em 21 de abril de 1981), a Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro, finalmente, receberá a atenção que merece. Segundo a Secretaria de Cultura do DF, a tão esperada e divulgada obra, que até hoje não saiu do papel, tem data marcada: de 29 de julho até o final de maio de 2014, ao longo de 10 meses, o espaço passará pelo maior restauro de sua história. O orçamento previsto é de R$ 96 milhões, mas essa quantia ainda pode mudar, na etapa de elaboração dos projetos. A estimativa foi feita tomando como base os 43 mil metros quadrados de área total do teatro. “O teatro é o segundo palco da Copa”, destaca o subsecretário de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Secretaria de Cultura, José Delvinei Santos, garantindo que a reabertura do local, novinho em folha, será antes do mundial de futebol.

A última sessão de reparos foi em 1998. De lá para cá, os funcionários nunca encontraram um plano de manutenção. “O desgaste chegou a tal ponto que, para recuperar, será preciso fechar”, lamenta Delvinei. As negociações com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) começaram no início do ano passado e, em janeiro último, uma comissão de especialistas em patrimônio foi criada para diagnosticar os principais problemas a serem resolvidos. Esse estudo preliminar será entregue à empresa responsável pela licitação, que deverá ser divulgada até 15 de abril e elegerá uma empresa para prestar o serviço.

Em caixa, o Executivo local tem R$ 4,2 milhões disponíveis para a elaboração do projeto e, neste valor, está embutida uma consultoria com o escritório do arquiteto Oscar Niemeyer, criador do monumento. O Iphan ajudará nas negociações entre as partes. “Não queremos entrar em celeuma. Não há clareza em relação a como o escritório se comportará no que se refere às obras, mas eles compreendem que é preciso se adaptar a novas regras, como a lei de acessibilidade, por exemplo. A ideia não é desconfigurar”, afirma Delvinei.

Hoje, há escadas em frente às saídas de emergência e uma das medidas da obra será substituí-las por rampas. Além da questão de segurança, a palavra de ordem é resolver, de uma vez por todas, a precariedade acústica das salas. A começar pelos carpetes, que forram o piso e as paredes das salas de espetáculos: além de absorver o som, o tecido, altamente inflamável, pode ocasionar acidentes. “A acústica e o acabamento não foram pensados à época”, afirma o subsecretário, destacando que o formato da sala, a laje e o revestimento de espuma são outros fatores que atrapalham a propagação do som.
As mazelas do teatro são velhas conhecidas dos frequentadores, artistas e funcionários da casa. O maior desafio, segundo Delvinei, é atualizar a iluminação: será preciso trocar todos os refletores, mesas de operação, racks, fiação e alimentação do sistema elétrico. Os geradores e aparelhos de ar-condicionados são a diesel. As mesas de som analógicas, de operação totalmente manual, serão substituídas por modelos digitais. Quem abre as torneiras dos camarins precisa deixar um pouco de água correr, para evitar a ferrugem acumulada na tubulação, em vias de ser completamente substituída. “Traremos o teatro para o século 21”, garante o subsecretário. O plano inclui reabrir antigos espaços gourmet. Entre eles, o restaurante que ocupava o Espaço Dercy Gonçalves, no topo da pirâmide, com vista panorâmica para o centro da cidade. Atualmente, só é possível chegar até lá depois de galgar 83 degraus.

Dinheiro em caixa

A pergunta crucial é: diante de um orçamento enxuto destinado à área cultural, de onde sairá tanto dinheiro para viabilizar as obras? Segundo o subsecretário, no fim do ano passado, a pasta aprovou uma rubrica dentro dos Projetos Estruturantes do Distrito Federal, uma espécie de PAC local, com sete áreas prioritárias de atuação. Dentro da carteira que trata da conservação urbana e do patrimônio histórico e cultural conquistou recursos da ordem de R$ 36 milhões (oito milhões para a elaboração dos projetos de melhoria de 18 equipamentos culturais, 12 milhões para a execução dessas obras e os 16 milhões restantes para dar o pontapé inicial no restauro do teatro). A junta orçamentária responsável pela administração do dinheiro ainda garantiu que, assim que o momento de execução chegar, o valor poderá ser complementado.

“Quando se faz um convênio com o governo federal, o Executivo local precisa entrar com uma contrapartida, e este valor, geralmente, fica em torno de 20% do total investido”, explica Delvinei. Os R$ 16 milhões, portanto, estão nos cofres como investimento do GDF na concretização da parceria com a instância federal . A expectativa é que os R$ 80 milhões restantes venham do Fundo Nacional de Cultura (do Ministério da Cultura) ou via PAC das cidades históricas. Outra alternativa financeira é o financiamento da iniciativa privada, pela lei Rouanet: a empresa que investir no restauro será beneficiada pela renúncia fiscal.

Conforto
Neste levantamento prévio, uma alteração arquitetônica fundamental já surgiu: para aumentar o conforto e o espaço entre os espectadores, será preciso retirar três fileiras de poltronas da Sala Villa-Lobos, cuja capacidade é de 1.307 espectadores, contando as cadeiras fixas. Para não reduzir a capacidade da sala, outras soluções de disposição serão estudadas.


Trê perguntas //  José Delvinei Santos

A Sala Villa-Lobos é a única que comporta um determinado porte de espetáculos. Como ficará a rotina da cidade durante os 10 meses de restauro do teatro?
Estamos muito preocupados com isso, não queremos privar a população das produções culturais. A Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, por exemplo, estamos tentando encaminhar ao Teatro Pedro Calmon, no Quartel-general do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU). Estamos conduzindo os pedidos de pauta para lá, para o Centro de Convenções Ulysses Guimarães, na Universidade Paulista (Unip). Para os eventos menores, sugerimos o Centro Cultural Brasília (CCB). Outra alternativa seria construir um espaço alternativo: uma grande tenda climatizada. Já nos apresentaram um projeto, mas seria um investimento caro e não sabemos se as produções se adaptariam. O Estádio Nacional de Brasília será usado para shows, porque os espaços são modulares, se adequam, e não necessariamente precisam ser voltados para públicos grandiosos. Estamos mais preocupados com os espetáculos de teatro e dança.

Se o governo não conseguir fechar os acordos que espera com o governo e com a iniciativa privada, a obra será feita mesmo assim?
O Governo do Distrito Federal vai cumprir o compromisso de restauro. Temos um diálogo bom com o Governo Federal e será uma parceria significativa. Por um caminho ou por outro, as mudanças serão feitas. Já virou uma questão de saúde pública.

E a questão do alvará, como fica?
Precisamos sair da clandestinidade, não podemos ficar com a casa aberta sem estar adequada à lei. Estamos funcionando de maneira provisória porque temos o projeto de restauro. O teatro não é inseguro, apenas não tem habite-se e não está adaptado aos rigores da lei, que é de 2004, posterior à construção. Temos reuniões com o Corpo de Bombeiros e precisamos resolver isso com a ajuda deles, da Agefis, do Iphan, da Administração de Brasília. Precisamos criar uma instrução normativa que permita o diálogo entre a lei de acessibilidade e a lei de tombamento. Esse problema não é exclusividade do Teatro Nacional, se estende a toda Brasília.


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Questões legais levaram a ausências notáveis em antologia de poesia brasileira.  FOLHA SP 06.04

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Quando o Ministério da Cultura desistiu de apoiar o projeto "Poesia.Br", no início do ano passado, o poeta Sergio Cohn já tinha começado a contatar autores e herdeiros para garantir os direitos autorais dos poemas que pretendia incluir na antologia.

Nova antologia revisa marco histórico da poesia brasileira e chega até o século 21

O projeto do governo incluía, além do site, uma edição em livro a preço popular, e foi com essa ideia em vista que Cohn negociou valores.

"A meta era vender cada livro a R$ 8,90, com a caixa a R$ 89. Muitos dos autores tinham topado entrar justamente pela ideia de integrar uma edição popular. Acho que o fato de esse volume estar vivo comercialmente mostra que dá para baixar o preço do livro no Brasil", diz.

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O poeta e editor Sergio Cohn, organizador da antologia
Conseguir a autorização de autores vivos foi mais fácil que fazê-lo via editora e herdeiros, diz Cohn. Com isso, a seleção sofre ausências notáveis, em especial nos livros "Modernismo" e "1940-1950".

Faltam, por exemplo, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Cecília Meireles, por falta de consenso com os detentores dos direitos.

A editora LeYa não autorizou a publicação de poemas de Manoel de Barros. A Companhia das Letras limitou a dois os poemas de José Paulo Paes e Mauro Faustino --como tinha um padrão de mais poemas por poetas, Cohn preferiu deixá-los de fora.

"A ausência de grandes nomes enfraquece o conjunto. Os herdeiros deveriam ter vergonha na cara e participar da vida cultural do país e não apenas pensar no próprio bolso", diz Heitor Ferraz, um dos 16 poetas do volume "1990", junto a nomes como Josely Vianna Baptista, Augusto Massi e Antonio Cicero.

APRESENTAÇÕES

Entre os vivos, o único a se recusar a participar foi Carlito Azevedo. "Na época eu estava em crise com a ideia de poesia. Hoje não teria problema algum em aceitar participar", disse ele à Folha.

Para compensar as ausências, Cohn buscou mencionar os poetas cujos direitos não conseguiu e publicar trechos de poemas nas apresentações de cada edição.

Sergio Cohn e Carlito Azevedo têm em comum a atuação em duas das mais importantes revistas dedicadas à poesia nos anos 90, a "Azougue" (que virou editora em 2000) e a "Inimigo Rumor", respectivamente.

Para o crítico literário Ítalo Moriconi, destacado entre os 16 poetas do volume "1980", como Glauco Mattoso, Alice Ruiz e Arnaldo Antunes, Cohn seguiu, na seleção para a antologia, o modelo que privilegiava na revista dos anos 90 e na editora que comanda atualmente.

"São escolhas coerentes com o tipo de perspectiva assumido pela Azougue desde sempre, de questionar as opções canônicas da crítica literária dominante, particularmente a universitária, por um viés eclético, que chamei de 'vanguarda retroflexa'", diz.

A vanguarda, ele diz, aparece tanto na inclusão dos cantos ameríndios como nos poetas de influência beatnik, como Roberto Piva e Claudio Willer, resgatados por Cohn nos anos 1990 e agora presentes no volume "1960".

ALTOS E BAIXOS

O ponto alto da antologia, para todos os especialistas ouvidos pela Folha, é justamente a inclusão dos cantos ameríndios, traduzidos por nomes como Pedro Cesarino, Daniel Bueno e Antonio Risério.

"Outro ponto relevante foi acompanhar década a década a produção do século 20, que é quando a poesia brasileira se tornou mais densa", afirma o crítico literário e colunista da Folha Manuel da Costa Pinto.

Para Heitor Ferraz, essa divisão, "misturando datas e movimentos literários", é questionável. "Criou ruídos interessantes, mas discutíveis no conjunto do livro", ele diz, não sem destacar
"a seriedade do trabalho" do organizador.

Embora avalie positivamente a antologia como um todo, Costa Pinto vê como ponto fraco o volume referente ao período colonial.

"Há uma concentração excessiva num volume só, de barroco, arcadismo. São momentos independentes, e não há uma discussão de fundo sobre se existiu ou não um barroco no Brasil."

Mas, embora note ausências, como Nelson Ascher e Affonso Ávila, contemporiza. "Falar em ausências em antologias é uma crueldade. Identificar lacunas é um dever de quem lê criticamente, mas não desmerece o trabalho de quem fez", diz.

POESIA.BR
ORGANIZADOR Sergio Cohn
EDITORA Azougue
QUANTO R$ 89 (10 volumes)




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Nova antologia revisa marco histórico da poesia brasileira e chega até o século 21.  FOLHA SP 06.04

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Duas antologias nunca serão iguais, mas num ponto aquelas publicadas em território nacional vinham concordando: a história da poesia brasileira começa no período colonial, com José de Anchieta (1534-1597).

Questões legais levaram a ausências notáveis em antologia de poesia brasileira

Esse é um marco que "Poesia.Br", nova antologia organizada por Sergio Cohn, 38, desafia. O primeiro dos dez volumes que o poeta e editor da Azougue acaba de lançar em uma caixa, totalizando 1.432 páginas, aborda os cantos ameríndios.

Os estudos dessa vertente vêm de décadas passadas, mas seus resultados permaneciam fora das antologias de poesia publicadas no Brasil --uma exceção, curiosamente, é uma edição bilíngue lançada em 2003 na Itália, "Scrittori Brasiliani", organizada por Giovanni Ricciardi.

Com isso, "Poesia.Br" se firma como a seleção de maior abrangência histórica da poesia produzida no país, já que trata também, no último volume, de poetas dos anos 2000, como Angélica Freitas, Fabiano Calixto e o colunista da Folha Fabrício Corsaletti.

Os volumes intermediários abrangem o período colonial, o romantismo e o pós-romantismo, o modernismo, a poesia dos anos 1940 e 1950 e, em volumes isolados, aquela produzida, década a década, a partir dos anos 1960.

Divisão similar --sem os cantos ameríndios-- teve a coleção "Roteiro da Poesia Brasileira", lançada em 15 volumes de 2006 a 2011 pela Global, sob direção de Edla van Steen e com cada volume a cargo de um especialista.

O projeto de Sergio Cohn se destaca pela ambição: o poeta e editor dedicou seus últimos dois anos, sozinho, ao que chama de "uma cartografia da poesia brasileira".

SITE

"Poesia.Br" surgiu em 2010 de um projeto elaborado pelo Ministério da Cultura, orçado em R$ 1,5 milhão, que incluiria um portal sobre poesia e eventos. Com a troca de comando no ministério, o projeto foi cancelado, no início de 2012, sem nenhum valor desembolsado.

Cohn resolveu continuar sozinho. A ideia do site foi abortada, e, com isso, a possibilidade de ser um trabalho colaborativo. Mas o poeta diz que, justamente por ter começado a fazer o recorte com um olhar "oficial", evitou personalizar demais as escolhas.

Cada volume traz entre 15 e 30 poetas, o que obrigou Cohn, como todo antologista, a fazer escolhas difíceis. Até poetas presentes na seleção, como Ademir Assunção (anos 1990), Claudio Willer (anos 1960) e Augusto de Campos (anos 1940-1950) preferem não comentar a obra.

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CARTOGRAFIA POÉTICA
Os nomes de cada volume da antologia "Poesia.Br"

Cantos ameríndios
Araweté (trad. Antonio Risério)
Bororo (trad. Sergio Medeiros)
Kashinawá (trad. Daniel Bueno)
Marubo (trad. Pedro Cesarino)
Mbya Guarani (trad. Josely Vianna Baptista, Douglas Diegues e Guillermo Sequera)
Maxakali (trad. Rosângela de Tugny)

Colonial
José de Anchieta
Bernardo Vieira Ravasco
Gregório de Matos
Manuel Botelho de Oliveira
Manuel de Santa Maria Itaparica
Frei José de Santa Rita Durão
José Basílio da Gama
Claudio Manuel da Costa
Inácio José de Alvarenga Peixoto
Tomás Antônio Gonzaga
Manoel Inácio da Silva Alvarenga
Domingos Caldas Barbosa

Romantismo e pós-romantismo
Gonçalves Dias
Bernardo Guimarães
Álvares de Azevedo
Junqueira Freire
Casimiro de Abreu
Fagundes Varela
Sousândrade
Castro Alves
Machado de Assis
Olavo Bilac
Cruz e Souza
Alphonsus de Guimaraens
Pedro Kilkerry
Augusto dos Anjos
Raul de Leoni
Gilka Machado

Modernismo
Mário de Andrade
Ronald de Carvalho
Menotti del Picchia
Guilherme de Almeida
Ascenso Ferreira
Carlos Drummond de Andrade
Vinicius de Moraes
Mário Quintana
Solano Trindade
Gerardo Mello Mourão
João Cabral de Melo Neto

1940/50
Lêdo Ivo
Fernando Ferreira de Loanda
Alphonsus de Guimaraens Filho
Paulo Bomfim
Geir Campos
Carlos Pena Filho
Gilberto Mendonça Teles
Walmir Ayala
Haroldo de Campos
Augusto de Campos
Décio Pignatari
Ferreira Gullar
Reynaldo Jardim
Mário Chamie
Wlademir Dias-Pino
Max Martins
Paulo Mendes Campos
Thiago de Mello
Moacyr Félix
Lara de Lemos

1960
Celso Luiz Paulini
Rubens Rodrigues Torres Filho
Roberto Piva
Claudio Willer
Eduardo Alves da Costa
Lindolf Bell
Orlando Parolini
José Carlos Capinam
Torquato Neto
Armando Freitas Filho
Leonardo Fróes
Sebastião Uchoa Leite
Hilda Hilst
Dora Ferreira da Silva
Orides Fontela
Adélia Prado

1970
Chacal
Charles
Cacaso
Francisco Alvim
Bernardo Vilhena
Eudoro Augusto
Afonso Henriques Neto
Ana Cristina Cesar
Waly Salomão
Rogério Duarte
Duda Machado
Paulo Leminski
Régis Bonvicino
Antonio Risério
Nicolas Behr
Xico Chaves

1980
Glauco Mattoso
Braulio Tavares
Maria Rita Kehl
Italo Moriconi
Claufe Rodrigues
Alice Ruiz
Arnaldo Antunes
André Vallias
Frederico Barbosa
Paulo Henriques Britto
Fernando Paixão
Alexei Bueno
Iacyr Anderson Freitas
Marco Lucchesi
Age de Carvalho
Floriano Martins

1990
Claudia Roquette-Pinto
Josely Vianna Baptista
Augusto Massi
Heitor Ferraz
Fabio Weintraub
Antonio Cicero
Eucanaã Ferraz
Rodrigo Garcia Lopes
Ademir Assunção
Guilherme Zarvos
Alberto Pucheu
Caio Meira
Renato Rezende
Claudio Daniel
Ricardo Aleixo
Tarso De Melo

2000
Ana Martins Marques
André Dick
Angélica Freitas
Bruna Beber
Camila do Valle
Danilo Monteiro
Douglas Diegues
Eduardo Sterzi
Ericson Pires
Fabiano Calixto
Fabrício Corsaletti
Leonardo Gandolfi
Luis Maffei
Marcelo Montenegro
Micheliny Verunschk
Rodrigo Petronio




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