segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Para Marisa Monte, simplicidade aproxima álbum da 'vida real'. Cantora defende despojamento de seu recém-lançado disco FOLHA SP 06.11

-

Simplicidade foi assunto recorrente durante a entrevista coletiva virtual que Marisa Monte realizou na manhã de ontem, via webcam, para falar sobre seu novo disco - "O Que Você Quer Saber de Verdade"- para cerca de 50 jornalistas de todo o Brasil e de Portugal.

Respondendo a perguntas lidas por seu assessor, em certo momento comentou: "A possibilidade de se comunicar com simplicidade, acho que é uma característica minha. Quando estou falando, procuro que me entendam, procuro ser direta."

Falando sobre criatividade, assumiu o risco de um excesso de simplicidade se tornar banalidade. "É claro que você não se sentir desafiada e não querer ir além não é legal, mas não acho que zona de conforto seja necessariamente uma coisa negativa", afirmou a cantora.

A busca pela simplicidade, ela explicou, "vem do desejo de estar no dia a dia com todo mundo. Você só ganha com isso, porque isso te aproxima das pessoas, te aproxima da vida real."

>>>

Cinema. Fica Itinerante chega a Planaltina de Goiás. O POPULAR/GO 05.11

-

Os filmes premiados no 13º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) serão exibidos em Planaltina de Goiás, dentro do programa Fica Itinerante, nos dias 9, 10 e 11 de novembro, às 14 e 16 horas, no auditório da Universidade de Brasília (UnB), Campus Planaltina, e às 20 horas, na Casa de Cultura (Casarão). A entrada é gratuita.

O Fica Itinerante é um projeto que viaja o País com os filmes premiados no Festival. A iniciativa visa atender a toda comunidade de Goiás e outros estados brasileiros, no período de julho a novembro, com agendamento prévio.

>>>

Bravíssimo!. Projetos levam o ensino da música erudita a jovens de comunidades carentes, que sonham em seguir carreiras em orquestras. CORREIO 06/11

-

Udson Douglas Teixeira e Bruno Araújo com os aprendizes da Estrutural: sonhos musicais

A inclusão social pela música é uma tendência mundial. Hoje, boa parte das favelas brasileiras abriga projetos cujo trabalho ajuda a criar perspectivas inusitadas para crianças e jovens carentes. A maioria desses programas não faz distinção entre os estilos e investe, principalmente, no popular. Poucos são focados na música erudita. Mas o papo que relega esse gênero aos guetos “elite” e “inacessível” encontrou o caminho do silêncio. Violinos, flautas, Mozart e Beethoven também podem salvar vidas. Delicadeza não é sinônimo de fragilidade e, em muitos casos, tem tanta força que consegue resultados surpreendentes. O Correio fez um mapeamento dos projetos de música erudita focados na inclusão social por todo o Distrito Federal; encontrou quatro experiências que tiraram crianças e jovens da rua e revelaram sonhos até então desconhecidos. Abaixo, as experiências desenvolvidas por gente que enxerga a música como caminho revelador.

Doce Estrutural

Udson Douglas Teixeira tem 14 anos e nunca havia tocado ou visto de perto um violino até o ano passado, quando descobriu o Reciclando Sons. Morador da Estrutural, o garoto se revezava entre a escola, o negócio de reciclagem de madeira do pai e a televisão. Trocou tudo por Bach. Em menos de dois anos, Douglas é capaz de tocar trechos inteiros (e bastante complicados) do Concerto para dois violinos, obra do compositor alemão. “Esse projeto foi uma das melhores experiências da minha vida. Se não estivesse fazendo isso, estaria em casa vendo tevê. Aqui na Estrutural, tem muita criança que não tem o que fazer e vai pra rua.”

Douglas é uma revelação do Reciclando Sons e um exemplo da filosofia de Rejane Pacheco, coordenadora do projeto. “Devido às dificuldades dele no dia a dia, ou vai ou racha. Aqui, não dá para ver se vai dar certo. Eles têm que ser os melhores porque a gente quer que sejam os futuros professores da comunidade”, explica. O projeto nasceu em 2001 e atende hoje a 100 crianças graças ao patrocínio da Bancobrás, Comitê SOS Cidadania da Câmara dos Deputados e da empresa Memora.

As aulas são diárias e divididas em estágios que vão da musicalização à profissionalização. Nessa última etapa, o aluno se torna também monitor e, eventualmente, tem direito a bolsa. Bruno Araújo, 22, conseguiu deixar o supermercado no qual trabalhava para monitorar crianças do Reciclando. Começou com o canto, passou pelo violino e hoje toca violoncelo. A meta é o contrabaixo. “A música erudita trabalha a concentração, a subjetividade. As crianças acabam desenvolvendo a razão, a emoção e a psicomotricidade. Isso pode trazer uma transformação de vida e ajuda a se tornar um cidadão melhor”, acredita o rapaz, estudante de pedagogia e morador da Estrutural.

Contato: reciclandosons@yahoo.com.br.

Cordas em São Sebastião

Aos sábados, Joaldo Kassai troca a sala do Teatro Nacional por uma varanda em uma pequenina creche em São Sebastião. Ali, chova ou faça sol, o violoncelista da Orquestra Sinfônica recebe um grupo de 25 crianças e adolescentes para aulas de cordas. Eles são os melhores alunos do projeto Música das Esferas e começaram a aprender violino e violoncelo há três meses com a missão de formarem, no futuro, uma pequena orquestra. Até julho deste ano, os alunos estudavam apenas flauta. Graças ao Sesi, parceiro no projeto, as cordas chegaram a São Sebastião.

Isabel Campos, 9 anos, é uma das mais jovens do Música nas Esferas. Já passou pela flauta e, finalmente, chegou a violino. Ainda tem dificuldade em não cruzar os pés enquanto arrisca os acordes de Asa branca e a cara séria denuncia a maneira como encara o instrumento. “Desde criança, tenho esse sonho de tocar, então veio essa oportunidade e comecei”, conta a menina, filha de um porteiro e uma dona de casa. “O mais difícil é pegar o arco na postura certa.” Isabel tem o direito de levar o violino para casa durante a semana. Estuda diariamente e faz acrobacias para não deixar a irmã mais velha brincar com o instrumento. “Não deixo ninguém pegar”, avisa.

Em casa, Alessandra Araújo, 13 anos, dedica pelo menos duas horas ao violino todos os dias. Aluna da sétima série, filha de uma monitora e órfã de pai, ela vê no instrumento uma porta para o futuro. “Ainda não sei o que quero ser, mas tenho vontade de fazer faculdade de música e ter a chance de tocar em uma orquestra”, conta a adolescente, que caminha quase 30 minutos, todos os sábados, para assistir às aulas. Às vezes, as aulas a céu aberto sofrem com o barulho da rua. É comum a música alta que vem de um quintal vizinho, mas as crianças ficam tão concentradas que nem parecem se importar.

No cantinho do teatro

Mylla Medeiros, 20 anos, não sabia que podia comprar um violino por R$ 300. Descobrir foi uma revelação. Trabalhou como menor aprendiz e fez curso de massagem para conseguir clientes. Ainda contou com a ajuda de um amigo, mas conseguiu. Com o violino na mão, começou a desenhar o sonho de tocar o instrumento. Do salário de aprendiz, tirava os R$ 40 para aulas particulares e, aos poucos, trocou o sonho de ser médica pela música.

As aulas particulares começaram a pesar no orçamento doméstico — Mylla precisa ajudar a mãe, que está desempregada — e ela quase viu a faísca se apagar quando conheceu o Viva Arte Viva, programa de aulas e oficinas de música gratuitas da Orquestra Filarmônica, bancado pela Associação dos Amigos das Artes de Brasília Brasil. Uma vez por semana, Mylla tem aulas gratuitas com o violista Mario Romanini, integrante da sinfônica do Teatro Nacional. “Passei dois anos tentando entrar para a Escola de Música de Brasília (EMB) por sorteio. Aí comecei o estudo com o professor Mario e consegui entrar pelo teste”, revela Mylla. “Cresci no Rio de Janeiro numa família muito pobre e nunca tive oportunidade de conhecer outras coisas. Em Brasília, comecei a ir às apresentações gratuitas da orquestra, mas eu achava que violino era muito caro. Me apaixonei, tanto pelo instrumento quanto pela vida de violinista.”

Mylla só lamenta não ter descoberto o projeto mais cedo. “Se minha mãe tivesse me levado quando eu tinha 6 anos, hoje estaria formada. Estou correndo atrás do tempo perdido porque quero ser violinista.” As aulas com Romanini acontecem no Teatro Nacional e são em grupo, mas as alunas consideram particular. Mylla tem a companhia de Caroline Sodré, 22, e Anna Gabriella Costa Campos, 18, que também encontraram refúgio para o sonho no Viva Arte Viva. “Muita gente não sabe que é um instrumento acessível e que tem projetos com aulas particulares gratuitas, coisa raríssima”, diz Carolina. Contatos: ofb@ofb.org.br Fone: 3223-2845 site: www.ofb.org.br

Escola de dois professores

O maestro Emílio de Cézar começou timidamente, em parceria com o Instituto Batucar do Recanto das Emas. Agora, deu um salto. Numa esquina do Itapoã, no Paranoá, ele inaugurou a Escola de Música Maestro Emílio de Cézar, um prédio de três andares, que, neste mês, começa a receber 120 crianças para aulas de música. Montada com apoio do Centro de Integração Social da Família e da Criança (Cisfac), a escola tem como público alvo os jovens em situação de vulnerabilidade e já conta com 100 instrumentos entre cordas, teclado e guitarra. No corpo docente, apenas o maestro e a esposa. “Essa escola é um sonho antigo meu”, avisa Emílio. “Acreditamos que outras pessoas virão nos ajudar. Por enquanto fizemos tudo só com doações.”

O maestro acredita que o conhecimento musical tem o poder de incluir qualquer cidadão e a música erudita é uma porta para oportunidades profissionais. “É um campo de trabalho importante. Vamos fazer música, seja ela clássica, erudita seja popular. Claro, não vamos ter logo no início meninos tocando como em uma orquestra profissional. Isso leva tempo. Mas a música é um elemento aglutinador de tudo e traz o trabalho em grupo, o respeito mútuo, a disciplina e não é um bicho de sete cabeças.” Para saber mais, acesse www.cisfac.org.br.

A pequena Isabel Campos passou da flauta para o violino: dom de menina

Sorteio ou teste

A Escola de Música de Brasília (EMB) é uma instituição pública e tem cursos que vão da iniciação musical à formação profissional. Para conseguir uma vaga, é preciso participar de um sorteio ou fazer um teste. Esse último só funciona se o aluno já tiver estudado algum instrumento. As seleções acontecem mediante edital, geralmente no início do ano.

>>>

MÚSICA »Patrimônio renovado. Três anos após o início das obras, o Espaço Cultural do Choro abre as portas ao público na próxima quinta-feira, com show para convidados CORREIO 06/11

-

Reco do Bandolim em frente à nova sede, que será inaugurada com apresentações de Armandinho Macedo, Banda Mantiqueira e grupo Choro Livre

A próxima quinta-feira vai ser um dia de celebração para a música em Brasília. Quase três anos depois do início das obras, finalmente, a sede do Espaço Cultural do Choro abre oficialmente as portas ao público. No prédio, concebido pelo genial Oscar Niemeyer, já vinha funcionando, desde o começo do ano, a Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello.

Localizado no Setor de Divulgação Cultural — no Eixo Monumental, próximo ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães —, o espaço, construído numa área de 3 mil metros quadrados, é integrado pela sala de concertos e a escola de choro. Na área externa vai funcionar um café, instalado no centro de convivência, cercado pelas árvores, que foram preservadas.

A inauguração (para convidados) será com o show que reunirá o grupo brasiliense Choro Livre, o bandolinista e guitarrista baiano Armandinho Macedo e a paulistana Banda Mantiqueira, liderada pelo saxofonista e flautista Proveta. Um dia antes, Armandinho subirá ao palco da antiga sede do Clube do Choro, marcando o encerramento das atividades da sala, que futuramente vai acolher o Centro de Memória e Referência da entidade.

O convite a Armandinho para tomar parte da festa de abertura do Espaço Cultural do Choro é justificado por Henrique Santos Filho, o Reco do Bandolim, presidente do Clube do Choro e líder do Choro Livre. “Temos uma gratidão muito grande por Armandinho. Quando assumi a presidência do clube, em 1993, a antiga sede estava desativada e servia de abrigo para moradores de rua. Foi então que ele e Raphael Rabello vieram a Brasília e fizeram um show na Sala Villa-Lobos, cuja renda foi revertida para a restauração do clube, que depois passaria a funcionar regularmente.”

Reconhecido nacional e internacionalmente, o Clube do Choro passa a contar com uma sala de concerto, que tem capacidade para acolher 400 espectadores. Da estrutura fazem parte a plateia, que receberá 105 mesas de quatro lugares; o palco de 75m2 ; o mezanino, onde funcionará a cabine de som, luz e vídeo; e um camarote destinado às autoridades e convidados especiais. No subsolo, há dois camarins, ligados à sala por elevador. A cozinha fica anexa à sede.

Totalmente climatizada, a sala de concertos recebeu projeto acústico criado pelo professor da Universidade de Brasília (UnB) Conrado Silva De Marco. “Ele buscou colocar a acústica da sala em condições de receber os equipamentos eletrônicos de última geração: mesa de som, amplificadores e sistema de iluminação”, anuncia Reco do Bandolim, entusiasmado.

Salas de aula

A Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, em pleno funcionamento desde março, possui oito salas de aula com capacidade para 30 alunos, 10 salas menores para a prática de instrumentos, uma sala maior para o ensino de teoria, e outra destinada à reunião dos professores. Todo o complexo é dotado de sanitários e outros equipamentos.

“Setecentos e noventa e cinco alunos estão matriculados atualmente na Escola de Choro, nas aulas de violão de seis e sete cordas, bandolim, cavaquinho, violino, viola caipira, flauta, saxofone, gaita e pandeiro. As aulas são ministradas por 20 professores, sendo cinco coordenadores das áreas de teoria, cordas, sopros e percussão”, detalha Reco. As aulas são de segunda a sexta-feira, das 8h às 21h. No último sábado de cada mês, é realizado “um aulão” de prática de conjunto, que proporciona a criação de grupos dentro da escola.

Cada aluno recebe oito aulas por mês, pelas quais paga mensalidade de R$ 70. Entre os matriculados, 25% são bolsistas, pessoas de famílias de baixa renda, que recebem ensinamento gratuito. “Mais de 30 formados na Escola de Choro tornaram-se profissionais da música e hoje integram grupos de choro, com atuação em palcos da cidade”, comemora o presidente do clube.

Grupo que costuma acompanhar músicos de outras regiões, que participam dos projetos do Clube do Choro, o Choro Livre tem entre seus integrantes instrumentistas formados na Escola de Choro: Henrique Neto (violão sete cordas), Rafael dos Anjos (violão seis cordas) e Márcio Marinho (cavaquinho). Atualmente, eles são professores da instituição.

“O Choro Livre, com o apoio de órgãos como o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Cultura, o Ministério do Turismo e a Secretaria de Cultura do Distrito Federal, tem viajado para o exterior, estabelecendo relação com outras culturas e levando música a outros países”, lembra Reco do Bandolim. Em abril, o grupo esteve na China, durante a visita da presidente Dilma Rousseff àquele país.

>>>>

JAZZ »

Delicada flor. Pernambucana radicada em Brasília, Camilla Inês surpreende interpretando standards em disco de estreia. Camilla começou a chamar a atenção depois de incluir no MySpace três músicas que gravou em um CD demo CORREIO 07.11

Camilla Inês canta desde menina, mas demorou a enxergar a música como profissão da qual pudesse viver. Essa visão só mudou em 2007, quando ela gravou um CD demo com três faixas — os standards In a sentimental mood, Speak low e You call it madness. A intenção era ter uma amostra para apresentar a programadores de casas noturnas com música ao vivo. Sem qualquer pretensão, ela incluiu a gravação no MySpace. E o retorno que isso teve, nem Camilla esperava: “Até me arrependi depois que postei. Tive receio de que não gostassem, do que pensariam daquela brasileira cantando em inglês… Mas coloquei no domingo e na quarta recebi e-mail do pessoal do Jazz masters, da rádio Território Eldorado, de São Paulo, pedindo para divulgar o CD. Mal sabiam que eu só tinha três músicas (risos)”.

E não ficou nisso. Quando levou o demo para mostrar a um amigo que trabalhava na Livraria Cultura de Recife — onde Camilla morava à época —, ele pôs para tocar no “aquário” em que ficam os discos de jazz. O encarregado de compras da loja ouviu e demonstrou interesse em ter o CD à venda. “Ele perguntou onde eu tinha gravado. Eu disse: ‘Na rua da Concórdia, ali na esquina’. Aí queria saber se tinha código de barra, quantas unidades eu teria… E eu só tinha aquele (mais risos).” Não satisfeito, o rapaz convidou Camila Inês para fazer uma temporada de shows no auditório da livraria. Daí para um disco “de verdade”, foi um pulo. A cantora conheceu o baterista Misael Barros e o convidou para produzir. Ele apresentou-a ao tecladista Ed Staudinger e o trio partiu para definir o que seria Jazzmine.

O disco de estreia da cantora chama a atenção, primeiro, pelo esmero da embalagem, que traz no projeto gráfico referências à era do rádio e CD imitando um vinil — com direito a sulcos e faixas separadas. Depois, surpreende pela qualidade do conteúdo, conhecidos exemplares do jazz reinventados por uma intérprete segura e com arranjos modernos, que mesclam influências e preferências do trio de produtores. “Ed tem muito de soul, de black music; Misael é mais voltado para o jazz, música brasileira… E eu entrei com minha linguagem do cool jazz”, explica a cantora, feliz por ver seu trabalho alçar voo, literalmente —- músicas de Jazzmine vêm sendo tocadas nos aviões da TAM e da TAP.

Lado A

Um detalhe que pode frustrar o ouvinte é a curta duração. São apenas sete faixas. Aos clássicos Speak low, Tenderly, In a sentimental mood, My funny Valentine e Cry me a river, ela adicionou a bossanovista Eu a brisa e uma inédita, Indecisão, composição de Veralúcia Sampaio, mãe de Camila. “A ideia era essa, deixar um gosto de quero mais”, brinca Misael. Por isso mesmo, Jazzmine é identificado no rótulo como “lado A”, dando a entender que o outro lado está por vir. Já a decisão ousada de gravar músicas conhecidas nas vozes de grandes intérpretes é fruto da intuição: “Essas músicas são referências. Embora eu ouça muito música brasileira, o jazz é o que mais me arrebata. Não consigo definir…”.

Os pais de Camilla, os pernambucanos Veralúcia e Francisco Olbert, já falecido, mudaram-se para Brasília em 1982. Trouxeram as duas filhas pequenas e o gosto por música. Compunham frequentemente. “Eu, minha irmã, Vera, e minha mãe éramos as intérpretes”, conta Camilla Inês. O casal, no entanto, nunca se arriscou a fazer disso profissão, e a filha pensava o mesmo: “Eu cantava, mas não tinha um cunho profissional naquilo, eu não me sentia amadurecida”. O que não a impedia, no entanto, de mostrar seus dotes vocais em público, inclusive nos tempos em que morou nos Estados Unidos e na Europa. Até que ela voltou a morar em Recife e aconteceu o tal CD demo, que mudaria seus planos. “A coisa tomou outro rumo, comecei a fazer shows, a promover o CD. A outra perspectiva, de cantar na noite de Recife, ficou encostada. O que eu pensava que ia cair no ridículo, caiu no gosto.”

Presente e futuro

» De volta a Brasília desde 2009, Camilla Inês, ao mesmo tempo em que divulga Jazzmine, integra grupo de músicos de um projeto que leva o jazz para apresentações nas casas das pessoas. “Já fazemos isso em São Paulo e Recife e adaptamos a ideia a Brasília, criando o Lá em Casa tem Jazz (laemcasatemjazz@gmail.com), pois lugares para tocar estão raros. E, também, a essência do jazz é essa, de garagem. Em um ambiente em que as pessoas podem bater papo e curtir a música, fica melhor, mais intimista”, diz. O próximo disco também já ocupa a cabeça da cantora, que quer tirar da gaveta composições dos pais. “Será mais autoral, quero gravar músicas deles e de novos compositores”, antecipa.

JAZZMINE

Primeiro disco da cantora pernambucano-brasiliense Camilla Inês. Sete faixas, produzidas por Camila Inês, Misael Barros e Ed Staudinger. Lançamento independente. Preço médio: R$ 25.

>>>>

A regulação pela justiça social » José Graziano da Silva. Representante regional da FAO para América Latina e Caribe. Em janeiro de 2012, assume o cargo de diretor-geral da organização CORREIO 07.11

-

Coordenar a transição de um ciclo de desenvolvimento a outro é uma das equações políticas mais difíceis na vida de uma sociedade. Lançada em janeiro de 2003, com o batismo político de Fome Zero, a política brasileira de segurança alimentar cumpriu esse papel no país ao juntar, sob um amplo guarda-chuva de ações com forte ênfase no socorro à fome, a recuperação do poder de compra do salário mínimo e a geração de empregos.

Ampliar o poder de compra das famílias mais pobres, especialmente seu gasto alimentar, por meio de transferência condicionada de renda e, simultaneamente, promover reformas favoráveis à sua inserção produtiva, foi o amálgama geral do programa. Essa combinação contribuiu para desarmar resistências — nunca negligenciáveis na inauguração de um novo ciclo; foi eficaz em gerar resultados rápidos reclamados pela demanda emergencial da sociedade e arrebanhou legitimidade política em distintas camadas da população.

O governo pôde, então, tomar iniciativas de alcance mais estrutural, dando autonomia progressiva a políticas setoriais — caso do fomento à agricultura familiar, por exemplo — que fortaleceram as linhas de passagem rumo a uma nova dinâmica de crescimento inclusivo. A consistência dessa travessia pode ser condensada em números: entre 2003 e 2010, a desnutrição infantil recuou 61% no país.

O que faz da experiência brasileira um marco inspirador não é apenas a notável abrangência e a rapidez das respostas obtidas, mas é sobretudo a revelação das interações virtuosas entre o combate à fome e novas dinâmicas de crescimento. Um exemplo é a demanda cativa de R$ 1 bilhão anuais perante a agricultura familiar criada pela aquisição obrigatória de 1/3 da alimentação escolar da produção local. Políticas desse tipo podem ser adaptadas à realidade de outros países, reproduzindo seu impulso emancipador nas comunidades locais com desdobramentos importantes na segurança alimentar de toda a sociedade.

Na América Latina e Caribe, por exemplo, a FAO e o governo do Brasil já compartilham com oito países a experiência da compra de produtos da agricultura familiar para a merenda escolar. O Brasil não reinventou a roda na luta contra a fome. Mas ampliou seu poder de torque ao articular programas bem-sucedidos dentro e fora do país, bebendo na fonte, principalmente, do New Deal que ajudou os Estados Unidos — e o mundo — a superar a grande depressão.

O sucesso brasileiro comprovou, ademais, que a ação social do Estado continua sendo uma importante força redefinidora da matriz do crescimento, na transição de um ciclo econômico para outro. A recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), em 2003, constituiu-se no fórum de repactuação dessa nova hegemonia democrática.

O que se seguiu não foram iniciativas pontuais desprovidas de sentido estratégico. Mudanças estruturais de dimensão histórica foram acionadas ao longo do processo. O conjunto devolveu ao mercado interno de massa a centralidade que permitiu ao país sustentar o crescimento, em meio à contração do comércio e do emprego mundial. Hoje, podemos dizer aquilo que, nos anos 90, era um anátema quase impronunciável: a sociedade só controla o seu desenvolvimento quando é capaz de regulá-lo com políticas públicas democraticamente articuladas por um Estado indutor, em parceria com uma sociedade civil organizada e a participação ativa da iniciativa privada.

É o que o Brasil continua a fazer, como demonstra a IV Conferência do Consea que, este ano, tem a participação prevista de mais de 2 mil delegados de todo o país e mais de 100 internacionais. Entre eles, integrantes do Frente Parlamentar contra a Fome da América Latina e Caribe.

Incorporar um leque ecumênico de forças à luta contra a fome também é o que faz a FAO com a reforma e a ampliação do Comitê de Segurança Alimentar Mundial, um congênere planetário do Consea. A construção da segurança alimentar no plano global pode ajudar à superação de uma crise que carece justamente de uma agenda capaz de superar um círculo vicioso paralisante feito de consumidores que não compram, fábricas que não produzem e bancos que não emprestam.

A crise mundial precisa de respostas rápidas que propiciem uma recuperação da demanda, bem como de agendas consensuais que ergam linhas de passagem para substituir a desordem financeira por um ciclo de expansão regulado pela justiça social. A luta contra a fome pode ser um dos pilares dessa travessia.

>>>>>

Chico Buarque cutuca ferida do espanto ao envelhecer. Espetáculo mostra todas as músicas do novo álbum e surpreende com rap. FOLHA SP 07.11

-

Muitas conversas acontecem paralelamente em "Chico", novo show de Chico Buarque, que estreou anteontem em Belo Horizonte e chega a São Paulo em março.

O confronto do homem com o avançar da idade é a principal delas e já amarrava o respectivo álbum do cantor.

A abertura com "O Velho Francisco" mostra que ele está interessado em aprofundar o embate com o que ainda o espanta em envelhecer.

A música, de 1987, tem a função de cutucar essa ferida no espetáculo, somando forças às novas "Essa Pequena", "Tipo um Baião" e "Barafunda", de igual teor.

Mas esse Chico logo se mistura e se confunde com os outros muitos que ele foi -todos amarradinhos no roteiro polpudo de 31 números.

Ocupam grande espaço o "tradutor da alma feminina" ("Ana de Amsterdan", "O Meu Amor", "Teresinha", "Sob Medida") e o compositor de cinema, de teatro e de balé ("Baioque", "Geni e o Zepelin", "Valsa Brasileira", "Choro Bandido").

O Chico político quase não comparece. Surge só de relance no momento mais surpreendente do show: motivado pela versão de "Cálice" que Criolo vem mostrando em shows, Chico criou um rap.

Ao ouvir a versão atualizada de sua antiga letra, feita pelo rapper, Chico revela sua impressão: "Era como se o camarada dissesse/ 'Bem-vindo ao clube, Chicão/ bem-vindo ao clube'/ Valeu, Criolo Doido/ Evoé, jovem artista/ Palmas pro refrão/ do rapper paulista".

O diálogo é com Criolo, mas também com o Chico de anos atrás, que anunciou "a morte da canção" -e o rap é a negação desse gênero.

Mas a canção segue muito viva no espetáculo.

Os arranjos originais de "Chico" foram reformados. Mais vazios, deixam espaço para as canções se mostrarem. E se revelam mais bonitas em cena, sem a orquestração pesada à la anos 1990 que as derrubaram no álbum.

>>

MELCHIADES FILHO. Rock Brasília. FOLHA SP 07.11

-

BRASÍLIA - A onda da "faxina" chegou a seu teste de estresse. Uma coisa é trocar ministros. Outra, bem mais complicada, é substituir um governador, movimento que necessariamente implica desmantelar toda uma construção política.

Já são mais do que suficientes os motivos para o afastamento imediato de Agnelo Queiroz (PT-DF).

Como antecipou a Folha, o governador é alvo de inquérito no STJ. Sob seu comando se instalou no Ministério do Esporte a quadrilha que maquiava convênios e se apropriava de dinheiro de programas sociais _escândalo responsável pela queda de Orlando Silva (PC do B).

Agnelo criou o Segundo Tempo, o plano de estímulo à prática esportiva em áreas carentes que serviu de fachada para o desvio de verbas.

Não só deu guarida aos criminosos, mas com eles estabeleceu relação de intimidade. Chamava de "mestre" um dos ongueiros encarregados de pilhar os cofres do ministério, conforme revelaram gravações telefônicas autorizadas pela Justiça.

Mais: alguns de seus principais assessores no governo do DF têm ligação com entidades ou pessoas atoladas nas fraudes no Esporte.

Acossado por tantas evidências, Agnelo passou recibo na semana passada. Exonerou cerca de 70 delegados de polícia, em uma clara manobra para desarticular as investigações em curso _e tentar controlá-las daqui em diante.

Não fossem duas peculiaridades, o quadro já seria idêntico ao que, há quase dois anos, derrubou o governador José Roberto Arruda.

A primeira é que o PT faz cara de paisagem, mesmo sendo Agnelo, egresso do PC do B, um "cristão novo" no partido. Em 2009, o DEM se desvencilhou rápido de Arruda.

A segunda é que estamos longe da próxima eleição, saída natural para uma crise dessas proporções.

Agnelo pode tentar resistir no cargo, mas apenas reforçará a ideia de intervenção federal na capital.

Um comentário:

Luis disse...

Pq o Gurgel esta aliviando para o Agnelo? Ele era tão bravo no caso Arruda e agora e tão manso no caso Agnelo. Srº procurador, pq dois pesos e duas medidas? contra o Arruda, tudo. Contra o Agnelo, nada.