quinta-feira, 3 de novembro de 2011

MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA » A voz do quilombo. O compositor e escritor Nei Lopes abre hoje a programação do projeto Conexão África Brasília. Nei Lopes: "Determinadas correntes religiosas demonizam a cultura afro brasileira e isso é muito sério" Correio BsB 03.11

-

É de Irajá, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, de onde vem Nei Lopes, músico, historiador e escritor, que deixou de lado os carnavais no Salgueiro e na Vila Isabel para se aventurar em um bloco de rua em Piraí, município localizado no Vale do Médio Paraíba, também no Rio. Cantor e compositor, Nei é um dos responsáveis pela exaltação da cultura negra na música popular brasileira, com seus textos e canções com temática afro. Com todo o seu samba na veia, Nei Lopes vem a Brasília para abrir o projeto Conexão África Brasília, hoje, na Sala Cássia Eller, da Funarte. A programação também conta com shows das cantoras brasilienses Cris Pereira, Ligiana Costa, Renata Jambeiro; da goiana Camilla Faustino e da carioca Zezé Motta, que encerra o evento dia 25.

Ao lado de Wilson Moreira, Nei Lopes deixou na história um dos álbuns mais importantes da música brasileira: Ao povo em forma de arte. O trabalho, com um repertório centrado na africanidade, impulsionou projetos literários. “Comecei exatamente refletindo sobre o samba e depois enveredei para outros caminhos, com ensaios, ficções. Nos meus romances, o universo do samba se entrecruza muito bem com o universo da história, da África, e eu acho isso saudável”, comenta.

O compositor carioca observa que o brasileiro não consome literatura nacional. De acordo com Nei, nas relações dos livros mais vendidos não há títulos brasileiros, mas, agora, acontece algo interessante: o aumento da venda das obras paradidáticas. O motivo seria a Lei nº 10639/03, que institui o ensino da história da África e dos africanos no currículo escolar. “Vivemos num momento de muitas influências de determinadas correntes religiosas que demonizam a cultura africana e a cultura afro-brasileira e isso é muito sério. Dentro das próprias escolas públicas há resistência”, argumenta o vencedor do Jabuti (2009), com História e cultura Africana e afro-brasileira, na categoria paradidáticos.

Quilombo

Insatisfeito com os rumos que as escolas de samba estavam tomando no início da década de 1970, o mestre Candeia decidiu fundar o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo. “O espetáculo, as questões mercantilistas se sobrepuseram à valorização das comunidades”, lembra Nei Lopes, sobre o período pós-golpe de 1964 e em plena ditadura.

“O Quilombo foi uma entidade do movimento negro que tinha uma faceta de escola de samba em um determinado momento porque, durante o resto do tempo, se dedicava a projetos de inserção, tendo a cultura negra como meio condutor. E isso foi muito bom, pena que durou pouco. O Quilombo foi criado em 1975 e terminou em 1978, com a morte prematura do Candeia. Ele era uma liderança muito forte e ainda tentamos manter alguma coisa, mas não conseguimos”, constata.

As transformações chegaram a um ponto em que faltam negros nas agremiações. De acordo com Ancelmo Gois, a Beija-Flor quer mostrar a influência da cultura africana em São Luís, em 2012, mas não tem contigente necessário. Para Nei Lopes, “a presença do negro ficou simbólica”. “O samba como um universo de cultura negra foi desconstruído e os meios de comunicação têm uma culpa muito grande sobre isso. Eles o reduzem como um gênero músical que toca somente durante o carnaval. Não há uma valorização do samba como arte de permanência e de efervescência durante o ano inteiro”, completa.

Música negra brasileira

Pouco antes da segunda apresentação em Brasília, amanhã, às 18h, Nei Lopes participará de um bate-papo sobre a influência da cultura negra na atual produção musical brasileira com o DJ Pezão. “A influência da música africana já se diluiu porque ficou brasileira. A grande matriz da nossa música na África está na Angola e no Congo, mas também há a vertente que está na África Ocidental, que tem muita força na Bahia. Essa marca ficou sendo a mais forte e está aí até hoje, nos axés da Ivete Sangalo, no ritmo de Timbalada, no som de Carlinhos Brown. É uma africanidade que está mais perceptível”, adianta o cantor carioca.

-

'Xingu' abre hoje festival em Manaus. Começa hoje o 8º Amazonas Film Festival (www.amazonasfilmfestival.com.br), em Manaus, com 33 filmes. "Xingu", de Cao Hamburger, abre o evento às 19h30. Entre os destaques, estão os longas inéditos "A Separação", de Asghar Farhadi, e "Late Bloomers", de Julie Gavras, entre outros. Folha SP 03.11

>>>

Brasil avança menos que outros Brics em desenvolvimento humano. Segundo indicador da ONU, melhorias são mais rápidas em emergentes como China, Índia e Rússia. O Brasil progrediu em expectativa de vida, escolaridade e renda, e alcançou nível que os EUA tinham há 40 anos Folha SP 03.11

-

O Brasil tem avançado em alguns pontos nas áreas de saúde, escolaridade e renda, mas a passos mais lentos do que outros emergentes, como Rússia, Índia e China.

É o que mostra relatório divulgado ontem pela ONU sobre o Índice de Desenvolvimento Humano de 187 países.

O chamado IDH tenta medir e comparar o nível de desenvolvimento das nações com base em indicadores de expectativa de vida, escolaridade e renda per capita.

Pode variar de 0 a 1 _quanto mais alto, maior o nível de desenvolvimento do país.

Em 2011, o IDH brasileiro atingiu 0,718, e o país avançou uma posição no ranking da ONU, para o 84º lugar.

O resultado reflete expectativa de vida de 73,5 anos; 7,2 anos de estudo em média (para os com 25 anos); 13,8 anos de escolaridade esperados para mais jovens e renda per capita anual de US$ 10.162 (ajustada pelo custo de vida).

Segundo relatório divulgado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o IDH brasileiro cresceu a uma média anual de 0,69% de 2000 a 2011. O resultado está ligeiramente abaixo da expansão de 0,70% de países de desenvolvimento humano elevado, grupo ao qual pertence o Brasil.

Esse desempenho relativo é, no entanto, inferior ao dos demais Brics (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia e China). Os IDHs de Rússia, China e Índia subiram a uma velocidade bem maior que a da média dos grupos dos quais fazem parte, na última década.

O relatório da ONU não detalha o período em questão, mas um dos fatores que pode ter influenciado na diferença entre ritmos é o crescimento econômico nos últimos 11 anos, bem menor no Brasil.

"Esses países são os verdadeiros emergentes. O nível de água está subindo, mas eles sobem com velocidade ainda maior", afirma o economista Marcelo Neri, da FGV-Rio.

Quanto maior o nível de desenvolvimento de um país, mais lento tende a ser o ritmo de avanço do seu IDH porque a base de comparação vai se tornando mais elevada.

Por isso o ideal é que as comparações sejam feitas entre países do mesmo grupo. As divisões são: muito elevado; elevado; médio e baixo.

COMPARAÇÕES

Rússia e Brasil fazem parte do grupo de nações de desenvolvimento humano elevado. Já China e Índia são de desenvolvimento médio.

Apesar do avanço recente, o nível de desenvolvimento do Brasil no ano passado é inferior ao que países avançados como Noruega, EUA e Japão possuíam há 40 anos.

Milorad Kovacevic, chefe de estatísticas do Relatório de Desenvolvimento Humano 2011, ressalta que "é mais difícil para países grandes como China e Brasil atingirem padrão de vida mais alto do que para países pequenos".

Dez nações da América Latina (Chile, Argentina, Uruguai, Cuba, México, Panamá, Costa Rica, Venezuela, Peru e Equador) têm posições melhores que a do Brasil e indicadores de expectativa de vida e escolaridade mais altos.

O Brasil registra progresso nos dados de expectativa de vida, escolaridade média e renda. Já o número de anos esperados de estudo recua.

Técnicos do PNUD não sabem a causa, mas pode estar associada à maior oferta de trabalhos que não exigem escolaridade avançada.

Nenhum comentário: