Livro investiga ícones visuais do mundo. O historiador de arte britânico Martin Kemp lança trabalho sobre 11 imagens reconhecidas por várias culturas. Recém-publicado na Inglaterra, volume analisa a hélice do DNA, Jesus Cristo, Che e a garrafa da Coca-Cola FOLHA SP 22.11
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Numa era de profusão desenfreada de imagens, o historiador de arte britânico Martin Kemp procurou reduzir a iconografia ao essencial.
O que, afinal, uma hélice de DNA, uma garrafa de Coca-Cola e a "Monalisa" têm em comum? Nada, nos diz Kemp, mas os três ultrapassaram o conceito de imagem para se tornarem ícones.
Em seu novo livro, "Christ to Coke: How Images Become Icone" (de Cristo à Coca: como imagens se transformam em ícones, em tradução livre), recém-lançado na Inglaterra, Kemp retraça a história cultural de 11 desses emblemas, de Jesus Cristo -o "ícone dos ícones"- à formula de Einstein; de Che Guevara ao símbolo do coração.
No final da semana passada, Kemp falou à Folha por telefone. Atencioso, diz que não conhece São Paulo, mas fez questão de elogiar uma doutoranda brasileira. "É uma das melhores pesquisadoras da minha equipe."
Folha - Como nasceu o livro?
Martin Kemp - A ideia surgiu em 2003, quando fui convidado pela revista "Nature" a escrever um ensaio sobre a história visual da dupla hélice do DNA. Me dei conta de que aquela imagem havia ultrapassado seu primeiro uso e era usada em conteúdos médicos, comerciais. Comecei a estabelecer paralelos com a história de outras imagens, tentar refazer o caminho que cada uma delas percorreu.
Como definir uma imagem icônica?
O termo "ícone" vem do grego, "eikon" (imagem), e surgiu aplicado às imagens de devoção. A palavra também é usada para designar as imagens que adornavam as igrejas do Ocidente. Mas a mídia moderna tende a aplicar sem muito critério alguns termos, como "gênio" e "ícone", e a fazer com que eles percam sua força.
Existem falsos ícones?
Como eu coloco no livro, Elvis Presley, Marilyn Monroe ou Muhammad Ali são ícones em seus respectivos domínios e para minha geração. Mas o termo "ícone" vai sendo usado para celebridades passageiras ou muito locais e fica desgastado. Pelé é certamente um ícone, mas Tevez não é.
Se eu tiver que dar uma definição, diria que imagens ícones são as que atingiram um nível de reconhecimento excepcional e generalizado e que carregam consigo séries de associações variadas ao longo do tempo e de culturas variadas.
Como o senhor estabeleceu a lista de 11 ícones analisados no livro?
A ideia não era fazer um "top 11", mas juntar imagens em diferentes formatos: pinturas, símbolos, fotos. Aliás, a escolha na categoria "fotos" foi mais difícil do que em qualquer outra. Havia "Hasteamento da Bandeira em Iwo Jima", de Joe Rosenthal, ou o tiro no soldado espanhol, de Robert Capa. Mas foi preciso fazer escolhas.
Na definição de um emblema comercial, havia o símbolo da Nike ou o "M" do McDonald's, mas a garrafa de Coca-Cola, com seu logo gravado em letra cursiva, para mim se impôs, entre outras coisas, pelo tempo que perdura. E veja que eu não gosto de Coca-Cola.
No prefácio, o sr. menciona o viés ocidental do material
Tem a ver com as minhas áreas de estudo, mas também reflete uma realidade moderna: o Ocidente e a mídia ocidental dominaram a produção e a disseminação global de imagens.
Na China, a pintura mais importante é um enorme painel de Zhang Zeduan, feito entre o século 11 e o século 12. Com o crescimento da China e a sua transformação em potência global, pode ser que o painel de Zeduan assuma uma proeminência na iconografia.
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Bethânia canta Chico, e Lulu Santos revisita os anos 60
Um espetáculo totalmente dedicado ao cancioneiro de Chico Buarque faz parte da farta lista de planos que Maria Bethânia pretende concretizar no próximo ano. FOLHA SP 22.11
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Embora também calcado na obra de Chico, ainda não é esse o show que Bethânia faz hoje no Via Funchal.
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Menos abrangente, ele faz parte do Circuito Cultural Banco do Brasil, projeto que estreou em Curitiba (PR) no fim de semana e chegou ontem a São Paulo. E, daqui, segue para Ribeirão Preto (SP), Goiânia (GO) e Recife (PE).
Além de Bethânia cantando Chico, o projeto traz o repertório de Michael Jackson visitado por Sandy (que se apresentaria na noite de ontem em São Paulo) e as canções de Roberto e Erasmo Carlos recriadas por Lulu Santos (que toca amanhã). A direção é de Monique Gardenberg.
A estreia curitibana acabou por se tornar o ensaio geral dos três artistas, que mal haviam passado os números antes com a diretora.
Bethânia foi a mais prejudicada. Trabalhou menos ainda que os outros, interrompida pela morte da irmã, Nicinha, há um mês.
O efeito foi sentido em cena. A cantora teve que recorrer a teleprompters no chão do palco para colar a maior parte das letras. E, presa a eles, foi-se embaralhando na interpretação. Bethânia não conseguiu ser Bethânia.
O roteiro, com 29 músicas, optou por focar quase apenas a produção de Chico dos anos 1960 e 1970.
No mais, a intérprete pinçou os clássicos do jovem Chico Buarque -muitos dos quais ela mesma lançou. Mesmo tropeçando nas letras, chegou a brilhar em "Cala a Boca, Bárbara", "Tira as Mãos de Mim" e "Valsinha". Fez "Cálice" e "Olhos nos Olhos" com perfeição.
No show que repete amanhã em São Paulo, Lulu Santos também faz um recorte temporal na obra de Roberto e Erasmo.
Trata especificamente do período da Jovem Guarda, só saindo dos anos 1960 em "Sou uma Criança, Não Entendo Nada" (1974). E pretende acrescentar "Ilegal, Imoral ou Engorda" (1976).
De resto, faz uma festa aos primórdios do rock nacional. Mas acrescentando, em alquimia pop, pitadas de funk carioca, blues, fado, tango e samba-reggae ao que, originalmente, era "rockzinho" puro, simples e ingênuo.
Lulu, que tem um álbum inédito gravado, pretende engavetá-lo por um tempo e se dedicar, em 2012, a viver apenas de cantar Roberto e Erasmo. O negócio ficou sério.
A programação completa do Circuito Cultural Banco do Brasil está disponível no site bit.ly/ooxvwa.
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FOTOGRAFIA » O sonho de um museu no planalto
Bernardo Vilhena: "A escolha do museu em Brasília se deve ao modernismo" Correio BsB 22/11
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O poeta e letrista carioca Bernardo Vilhena alimenta um sonho longe das praias ensolaradas do Rio: planeja criar em Brasília o Museu da Fotografia Brasileira. “A escolha da capital do país, em minha imaginação, se deveu ao modernismo que inspirou a cidade, à famosa luminosidade do céu do Planalto Central e ao clima seco, que contribui enormemente para a conservação do objeto fotográfico.”
A ideia de Vilhena vem ao encontro das ações da ministra da Cultura, Ana de Holanda, e do governador Agnelo Queiroz. No último dia 7, foi anunciada uma parceria entre a pasta e o Governo do Distrito Federal, com o objetivo de construir dois novos museus na capital até a Copa do Mundo de 2014, e mais três posteriormente. Todos farão parte do programa Esplanada dos Museus.
Ficou decidido que caberá ao GDF fornecer terrenos para a instalação dos museus, enquanto o ministério ficará responsável pela captação de recursos e pelo estabelecimento de parcerias para a construção das unidades. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional será consultado para se manifestar sobre a viabilidade do empreendimento.
Há muito Vilhena sonha com seu projeto. De acordo com ele, o Museu da Fotografia abriria espaço para cursos, exposições e a manutenção de arquivos. “Penso num espaço que possa contar a história do Brasil a partir do momento em que o país, ao olhar para o centro, e não apenas para o litoral, se redescobriu e experimentou um crescimento que hoje aumenta sua responsabilidade diante de outras nações.” O poeta acrescenta: “Temos assistido à ocupação, cada vez maior, da fotografia no espaço dos museus. Então, por que não idealizar um local dedicado exclusivamente a essa arte, baseado em memória, conectividade e interatividade?”.
Sobrinho e primo de museólogas, que influenciaram em sua formação, Vilhena fez curso de fotografia no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, e se envolveu com quatro fotógrafos, os quais tomou como mestres e amigos: Antônio Penido, Lauro Escorel, Douglas Lynch e Afonso Beato. Com eles, aprofundou o aprendizado da técnica, da estética e da história da fotografia. Segundo ele, o fato de o curso ter sido realizado no MAM lhe deu a possibilidade de enxergar através das paredes do museu e aprender toda a movimentação em torno de uma exposição, desde sua montagem até a repercussão por ela causada.
Vilhena vê o Brasil intimamente ligado ao surgimento da fotografia no mundo e lembra que Hercule Florence, um dos pioneiros da arte fotográfica, morava em Campinas (SP), quando, em 1833, registrou seu invento baseado no processo de reprodução — positivo e negativo. Ao referir-se ao período imperial, extrai de lá o fato de Dom Pedro II ter sido fotógrafo e dono de uma expressiva coleção de retratos, o que influenciou outros integrantes da corte.
Poeta e agitador cultural
O carioca Bernardo Vilhena, aos 62 anos, tem dado importante contribuição à arte e à cultura brasileira, em diferentes áreas. Fundador e editor das revistas Ponte e Malasarte, integrou o grupo poético Nuvem Cigana, ao lado de Chacal, Ronaldo Bastos e Ronaldo Santos, entre outros, pelo qual lançou os livros Retrato de Época e Poesia Marginal Anos 70 . Em 1975, publicou o livro O rapto da vida e participou da antologia 26 Poetas Hoje, coordenada por Heloisa Buarque de Holanda. Como letrista, é parceiro de Ritchie no clássico Menina veneno; e, com Lobão, das músicas Vida bandida, Essa noite não e Chorando no campo. Há três anos promove a Copa Fest, festival de música instrumental realizado no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Foi curador do projeto Live P.A, no Centro Cultural Banco do Brasil, que trouxe a Brasília artistas como Nina Becker, Moreno Veloso, Pedro Sá, Cibelle, Dado Villa-Lobos, Cláudio Zolli, China e Sílvia Machemte.
Duas perguntas - Bernardo Vilhena
Como e quando surgiu a ideia da criação do museu da fotografia?
Surgiu há quase quatro anos, no início do renascimento do Rio de Janeiro, quando circulavam várias ideias de criação de museus de todo tipo. Fui consultado a esse respeito e me lembrei de um antigo projeto meu intitulado A Fotografia através da Família e as Famílias através da Fotografia. A proposta era fazer duas mostras paralelas: uma reunindo antigas fotografias de família — uma velha prática de uma época em que fotógrafos profissionais percorriam cidades do interior, visitando fazendas e oferecendo seus serviços — entre o fim do século 19 e o início do 20. A qualidade dessas cópias é impressionante, resiste ao tempo, aos modismos e às comparações com as novas tecnologias. A outra era garimpar fotógrafos amadores com qualidade profissional. Esse projeto tinha, ao mesmo tempo, caráter de preservação e de apuro estético. Acredito que possa ter sido o marco zero do que poderia vir a ser o Museu da Fotografia do Brasil.
O que falta para a ideia ser desenvolvida?
Arregaçar as mangas e começar a trabalhar em cima do projeto. Desenvolver, planejar e viabilizar. Existem várias coleções espalhadas por museus não especializados, que carecem de conservação, classificação e, sobretudo, exposição. Já imaginou o excitamento que pode causar entre os arquitetos de todo o mundo projetar um museu da fotografia em Brasília?
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MINISTÉRIO PÚBLICO » Código Florestal a caminho do Supremo. Relator do código no Senado, Jorge Viana apresentou o documento ontem. Correio BsB 22/11
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O relatório do Código Florestal foi apresentado ontem na Comissão de Meio Ambiente do Senado como um documento de consenso, mas, antes mesmo de ser submetido ao colegiado, acabou rejeitado pelo Ministério Público Federal (MPF). O subprocurador Mário Gisi avisou que, se o código for aprovado nos moldes do parecer do senador petista Jorge Viana (AC), o MPF recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a revisão de alguns pontos. Segundo ele, o código não atende, “em sua integralidade”, o que a Constituição estabelece em relação ao meio ambiente. “Alguns pontos vão necessitar de revisão pelo Judiciário.” Entre os tópicos criticados pelo Ministério Público Federal, estão o que prevê uma faixa de recomposição, que varia de 15 metros a 100 metros, dependendo da largura do rio, e a anistia a desmatamentos oriundos de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo em áreas rurais até 22 de julho de 2008.
Viana também trouxe em seu relatório a novidade de criar mecanismos “jurídicos e econômicos” para incentivar os produtores a preservar e a recuperar o meio ambiente. O relatório não especifica como serão os pagamentos, mas atribui a responsabilidade ao governo. No campo das sanções, os produtores que não se adequarem às regras serão proibidos de obter crédito rural. O relator indica ainda a instituição de medidas protecionistas para restringir “importações de bens de origem agropecuária ou florestal produzidos em países que não observem normas e padrões de proteção do meio ambiente compatíveis com as estabelecidas pela legislação brasileira”.
Apesar do viés “macroambiental” que o senador petista tentou imprimir em seu parecer, o relatório não agradou ao MPF. Em audiência realizada ontem, na Procuradoria-Geral da República (PGR), integrantes do órgão foram unânimes em relação à necessidade de mudanças no texto. Na avaliação do subprocurador-geral Mário Gisi, a proposta do senador petista é melhor que o código aprovado pela Câmara, mas está longe do ideal. “Houve algumas melhorias, mas ainda estamos entendendo que está aquém do que se podia esperar de um projeto que pretende tratar da questão do meio ambiente e da produção econômica do Brasil como sustentável”, afirmou Gisi.
Supremo
Especialista em meio ambiente, o procurador da República Rodrigo Lines destacou que o relatório de Viana mantém o código injusto. “Premia quem desafiou a lei e pune quem a cumpriu”, disse. “O Congresso vai perder uma ótima oportunidade de ter um bom Código Florestal. E isso vai acabar indo para o Supremo Tribunal Federal, como tem ocorrido com vários projetos aprovados pelo Legislativo”, completou Lines.
O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, considera razoável a maior parte das modificações apresentadas por Viana. Ele alertou, porém, durante a audiência na PGR, que o governo não aceitará retrocesso em relação a novos desmatamentos e que o texto final deverá contemplar, em primeiro lugar, o meio ambiente. “Se não houver preservação ambiental, não haverá sustentabilidade”, disse.
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