quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Canto negro. Hoje, às 20h, a cantora Cris Pereira sobe ao palco da Sala Cássia Eller (Funarte, Eixo Monumental; 3322-2025) para dar continuidade ao projeto Conexão África Brasília, homenageando o poeta baiano Dorival Caymmi. CORREIO BSB 10.11

No repertório, os sucessos É doce morrer no mar e Saudades da Bahia (com novo arranjo), e canções menos conhecidas, como Preta do Acarajé.

“Sou apaixonada pela música dele desde muito cedo e, por isso, ainda que meu trabalho tenha raízes fincadas no samba, eu me permiti um mergulho mais profundo em um repertório diferente, com baladas, cirandas, afoxés e outros sotaques que as canções dele trazem. Já fizemos essa apresentação no Sesc Garagem e no Clube do Choro. Foi tão bom que achamos que seria uma oportunidade de refazê-lo”, comenta Cris, que está em estúdio, preparando seu primeiro CD, previsto para março do ano que vem. Com direção musical do violonista e arranjador Lucas de Campos, o show conta com a presença dos músicos Victor Angeleas (bandolim), Pablo Fagundes (gaita), Oswaldo Amorim (contrabaixo acústico), Leander Motta (bateria) e Guto Martins (percussão). Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos. (Maíra de Deus Brito)

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LANÇAMENTO » Brasília sempre viva. Num minucioso estudo que ultrapassa a sociologia, o pesquisador João Gabriel revela a força cultural da cidade CORREIO BSB 10.11

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Quando o baiano João Gabriel Lima Cruz Teixeira iniciou a pesquisa que resultaria em seu terceiro livro solo, Brasília 50 anos: arte e cultura (Editora UnB), ele pensava em responder a uma interrogação antiga sobre a capital do país. “Dizia-se muito, naquela época, que, apesar de jovem, a cidade já havia se tornado celeiro de talentos, nas artes e nos esportes. Daí tive a ideia de montar um projeto para mostrar se isso era verdade mesmo. Mas verifiquei que não teria indicadores sociais suficientes para comprovar isso”, diz o pesquisador. Ele, com dois pós-doutorados em sociologia da arte, firmou o trabalho em cima de conversas com personalidades culturais nascidas ou formadas na cidade e reflexões sobre o relacionamento entre sociedade e suas representações artísticas. O estudo será lançado hoje, às 17h30, na livraria do Centro de Vivência da Universidade de Brasília.

“Comecei a entrevistar pessoas de destaque da cultura daqui. E comecei a chamá-las de ‘excelências’, em contraste com as excelências da Esplanada dos Ministérios. Eles, os artistas, se distinguem pela contribuição que dão à cidade no sentido de renová-la, de atribuir a ela uma autoestima”, continua João Gabriel, residente em Brasília desde 1980. No ano seguinte, a convite da UnB, associou-se ao Departamento de Sociologia da instituição.

Variedade

Para o autor, o lugar que ajudou a compor a trajetória de nomes como Cássia Eller, Ney Matogrosso e Zélia Duncan nunca teve problemas de identidade. Pelo contrário: a variedade geográfica sempre jogou a favor da cultura local. “Diziam que Brasília era uma cidade sem gente, sem calor humano. São coisas que chamo de maledicências, ditas por gente que não gosta de Brasília ou que tem preconceito. Independentemente do que digam, se a capital deu ou não certo, ela tem vida própria”, analisa.

Escrevendo também sobre a sua própria experiência no Planalto Central, João Gabriel fala sobre outros assuntos: a solidão, os espaços vazios produzidos por um plano urbanístico de curvas e retas generosas, o ar místico que sempre envolveu o cotidiano das pessoas e a condição de síntese de um estado que representa um país inteiro. “Esse livro é um pleito de gratidão, mostrando que, a despeito de tudo que se fala dessa cidade, ela continua aberta. É patrimônio cultural do país”, constata.

Trechos do livro

“Associada à mitologia fundadora de Brasília, conta-se que a professora e diretora de teatro Dulcina de Moraes, quando ainda residindo no Rio de Janeiro, depois de haver tentado infrutiferamente a transferência de sua escola de teatro para Brasília, teria recebido “passes” da senhora Aida Ferreira, genitora da atriz Bibi Ferreira, que era médium. (…)”

“Entre outras narrativas acerca das artes cênicas envolvendo Dulcina de Moraes, conta-se, por exemplo, que, no teto do referido prédio, mais precisamente no seu quinto andar, há uma mandala com a figura de um triângulo, versos inscritos e cristais. (…)”

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PATRIMôNIO CULTURAL » Brasileirinho. O Espaço Cultural do Choro abre as portas da nova sede e renova o papel de difusor da boa música. A paulistana Banda Mantiqueira mostra o vigor do latin jazz: segunda vez na cidade CORREIO BSB 10.11

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A música de Brasília está em festa com a inauguração do Espaço Cultural do Choro. Com a assinatura de Oscar Niemeyer, o prédio — construído no Setor de Divulgação Cultural (Eixo Monumental) — passa a ser, a partir de hoje, além da mais nova referência arquitetônica da capital, um centro de preservação e difusão do gênero tido como gênese da MPB.

Para celebrar a data, foi elaborada uma programação bem equilibrada com a participação de grupos responsáveis por trabalhos com características próprias: o brasiliense Choro Livre, que terá como convidado especial o bandolinista e guitarrista baiano Armandinho Macedo; e a paulistana Banda Mantiqueira. Os shows de hoje serão só para convidados.

Na abertura, apresenta-se o Choro Livre, o mais antigo conjunto regional da cidade. Com quatro discos lançados e carreira internacional, o grupo é liderado por Reco do Bandolim (presidente do Clube do Choro) e tem, em sua formação, Henrique Neto (violão sete cordas), Rafael dos Anjos (violão seis cordas), Márcio Marinho (cavaquinho) e Valério Xavier (pandeiro).

Convidado do Choro Livre, Armandinho tem íntima e fundamental ligação com o Clube do Choro. Na primeira metade dos anos 1990, ele e o violonista Raphael Rabello (que dá nome à Escola de Choro) fizeram um show na Sala Villa-Lobos. A renda obtida foi destinada à entidade, que pôde estruturar sua antiga sede e, em seguida, deu início às atividades artísticas. O bandolinista integrou todos os projetos realizados naquela sala, a partir de 1997. “Participar do show de inauguração do Espaço Cultural do Choro é algo revestido de simbolismo. Minha relação com o Clube do Choro é histórica. Aqui, venho e sempre recebo acolhida carinhosa do público, o que me faz sentir em casa. Dessa vez, estarei ao lado do renovado Choro Livre, que tem como líder meu amigo fraterno Reco do Bandolim e é formado por jovens músicos cuja evolução acompanho desde o começo da carreira deles”, comemora. Armandinho retornou terça-feira do Reino Unido, onde tomou parte do Celtic Festival, na Irlanda.

Latin jazz

Outra atração, a Banda Mantiqueira fará, hoje, no Espaço Cultural do Choro a segunda apresentação em Brasília e mostrará o seu latin jazz. A primeira foi há 10 anos, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, na companhia do compositor e violonista Guinga. Nailor Azevedo, o Proveta (clarinetista, saxofonista, compositor e arranjador e criador do grupo), porém, tocou duas vezes no Clube do Choro — uma delas, na companhia de Henrique Cazes.

Com 20 anos de carreira, integrada por 14 músicos, a Mantiqueira recebeu influência de grandes nomes do jazz e da música instrumental brasileira, entre os quais Louis Armstrong, Miles Davis, Charlie Parker, Dizzy Gillespie, John Coltrane, Ron Carter, Moacir Santos, Raul de Souza, Laércio de Freitas, Heraldo do Monte e Edson Machado. Individualmente, os músicos exercem intensa atividade em estúdios de gravação.

Embora toque mais em São Paulo, a Mantiqueira tem se apresentado em outras cidades brasileiras e no exterior, participando de festivais de jazz na Europa e nos Estados Unidos. De sua discografia, constam três álbuns. O primeiro de 1997 é totalmente instrumental, mas os dois seguintes, lançados em 2000 e 2005, tiveram a participação das cantoras Luciana Souza Mônica Salmaso, respectivamente. “Com o Aldeia, nosso primeiro CD, fomos finalista do Grammy, na categoria latin jazz”, lembra Proveta.

“Fizemos vários concertos com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e, dessa parceria, surgiu a possibilidade de gravarmos um CD ao vivo na Sala São Paulo, sob a regência do maestro John Neschling, e com a participação de Mônica Salmaso. Com sambas e choros de mestres do gênero, saiu pela Biscoito Fino”, conta Proveta.

Casa de aconchegos

Construído numa área de mais de 2 mil metros quadrados, o Espaço Cultural do Choro possui sala de concertos com capacidade para receber 420 espectadores. Da estrutura, faz parte o mezanino, onde ficam a cabine de som, luz e vídeo. Há ainda um camarote para autoridades e convidados especiais. Os músicos terão dois camarins ligados à sala por elevador. Na entrada do prédio, fica o Centro de Convivência, com café. O Ministério da Cultura, por meio do Fundo Nacional da Cultura, financiou a aquisição dos equipamentos de som, iluminação, vídeo, computadores e mobiliário.

Programe-se

Hoje, às 20h, shows de Choro Livre, Armandinho e Banda Mantiqueira, só para convidados. Amanhã, às 21h, Pepe Cisneros de Cuba e, no sábado, Traditional Jazz Band. Ingressos R$ 20 e 10 (meia). Não recomendado para 14 anos

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A feira possível. O principal evento literário de Brasília começa amanhã, apesar da falta de recursos e de planejamento. Entre as atrações estão o francês Philippe Davaine e o camaronês Boniface Ofogo CORREIO BSB 10.11

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Assim como no ano passado, a feira ocupará o Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade até o dia 20

A 30ª Feira do Livro de Brasília ocupa a partir de amanhã o Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade com uma edição reduzida, abalada pelas brigas políticas que estremeceram a Câmara do Livro do Distrito Federal e os efeitos do corte de verbas. Mais uma vez, não foi fácil montar a feira. A Câmara do Livro ainda não tem em mãos os R$ 250 mil de uma emenda parlamentar. A programação foi montada com o dinheiro obtido da venda dos estandes e da boa vontade resultante de uma peregrinação por sete embaixadas em busca de parceria, além de uma contribuição da Petrobras. “A maior dificuldade que tivemos com a feira foi a liberação de recursos”, constata Íris Borges, curadora do evento.

A Secretaria de Cultura ficou de fora do evento, mas o Governo do Distrito Federal contribuiu com apoio para publicidade e desconto de 80% no aluguel do Pavilhão de Exposições. Nem mesmo a secretaria de Educação, que em outras edições teve participação importante com a inclusão de alunos da rede pública nas atividades da feira, participou desta 30ª edição.

Hamilton Pereira, secretário de Cultura, avisa que está concentrado em fazer “políticas públicas” e que a feira é evento do setor privado. Pereira lançou este ano o Plano do Distrito Federal do Livro e da Leitura e pretende, em 2012, realizar uma Bienal do Livro com editoras de todo o Brasil e do exterior. “Nós temos o plano do livro, estamos procurando dar conta da reestruturação interna do setor público, dentro de limites muito severos do ponto de vista orçamentário.”

Homenagem

Este ano, a feira tem como patronesse a jornalista e escritora Dad Squarisi, colunista do Diversão&Arte, e homenageia o autor Ronaldo Cagiano. Será uma edição concentrada na literatura infantojuvenil. A lista de convidados tem quantidade significativa de autores e ilustradores, o que ajuda a configurar um perfil, ainda que tímido, para a 30ª edição. Marina Colasanti, Bartolomeu Campos de Queirós, Laura Muller, Nicolas Behr, Margarida Matriota, Ilan Brenman, Tino Freitas, Lucília Garcez e Carlos Maltz integram a lista de brasileiros.

Entre os estrangeiros, os convidados são praticamente desconhecidos em solo brasileiro. Muitos deles nem sequer publicaram em português e quase todos foram escolhas das embaixadas dos respectivos países. Como os organizadores da feira não contavam com orçamento suficiente para permitir margens de negociação, precisaram aceitar as propostas. “Com todas as dificuldades, estamos conseguindo fazer a feira possível”, avisa Íris.

Entre os 65 estandes do evento, apenas 19 são realmente de livrarias. Os outros foram ocupados por lojas ou instituições que aproveitam para realizar campanhas de divulgação e vender suas publicações. De acordo com Íris, o cenário é reflexo do mercado livreiro de Brasília. A curadora também tentou trazer para a feira as livrarias de rede instaladas na cidade. “Mas é difícil para eles quebrarem o padrão do funcionamento. Não podem montar um estande simples, precisam montar com o padrão da loja e não têm infraestrutura para fazer isso”, explica.

30ª Feira do Livro de Brasília

Abertura amanhã, às 19h30, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Visitação até 20 de novembro, diariamente, das 10h às 22h.

Destaques da programação

Instituto Cervantes

» O instituto participa da feira pela primeira vez com programação que inclui lançamentos de livros, contação de histórias em espanhol, oficinas de jogos e palestras destinadas a educadores e profissionais da área do livro.

Philippe Davaine e Lenny Werneck

» O ilustrador francês trabalhou com a escritora brasileira em Onde está você, Iemanjá? e se apaixonou pelo Brasil. O livro conta a história de uma menina que sai em busca de Iemanjá na noite de ano-novo. Davaine ilustrou o livro. Na França, o artista ilustrou edições importantes de clássicos como Poil de carrotte (Jules Renard) e Cyrano de Bergerac (Edmond Rostand).

Boniface Ofogo

» Nascido na República de Camarões e radicado na França, Ofogo é autor de O leão Kandinga e outros livros infantis, a maioria sobre afro-descendência, tema que deve guiar a conversa durante o encontro com leitores na Feira do Livro.

Laura Muller

» Especialista em livros sobre sexo para crianças e adolescentes, a autora é rosto frequente em programas de televisão destinado a jovens. Psicóloga e educadora sexual, ela mantém três colunas sobre o tema em jornais de São Paulo e publicou 500 perguntas sobre sexo do adolescente.

Eloisa Cartonera

» Formado por uma cooperativa de autores e leitores do bairro Boca, de Buenos Aires, o grupo recolhe papéis juntados por catadores de rua, recicla e imprime livros que vão desde clássicos até autores contemporâneos. Para a feira, os argentinos prepararam oficinas e palestras, além de um bom estoque da produção própria.

Marina Colasanti

» Autora de mais de 30 livros e ganhadora do Prêmio Jabuti do ano passado por Passageira em trânsito, a escritora tem vasta bibliografia destinada ao público infantojuvenil.

Quatro perguntas - Hamilton Pereira A Secretaria de Cultura lançou este ano o Plano do Livro e da Leitura (PLL), mas cancelou uma bienal de poesia e quase não se envolveu com a Feira do Livro. Por quê?

A feira é uma iniciativa louvável, merece todo respeito, mas é uma ação da sociedade, do setor livreiro. Estamos dando uma modesta contribuição na forma de serviços. A Bienal de Poesia não saiu porque os responsáveis não captaram o dinheiro. O que faço é política pública. Suspendi um evento e propus um projeto estruturante que é o PLL. Dentro desse projeto está inserida a Bienal do Livro, com editoras locais e nacionais.

Por que criar um novo evento em vez de investir, reforçar e criar parcerias com o que já existe?

Porque a feira é um evento do setor privado.

Mas as editoras também são do setor privado…

Não tenho o menor problema com as editoras. Não queremos atrapalhar o negócio de ninguém, mas temos o direito, como poder público, de propor, dentro do Plano do Livro e da Leitura, um evento diferente da proposta da feira. Não temos nada contra a feira.

Mas houve tempo em que havia uma parceria que gerava atividades como a visita de autores às escolas públicas, a leitura dos livros desses mesmos autores pelos alunos. A feira era uma iniciativa do setor privado mas com grande aproveitamento do setor público….

Isso é um problema da Secretaria de Cultura e do GDF. Nós trabalhamos no sentido de estabelecer pontes para que os promotores da feira dialoguem com as secretarias de Turismo, Educação e Cultura. Esse é o nosso papel. De mediador. Não temos orçamento para a Feira do Livro. E a Câmara do Livro tinha pendências com relação à Secretaria de Educação.

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QUADRINHOS - Antologia de Glauco é lançada hoje em SP

"Glauco - Geraldão Espocando a Cilibina!" (Almedina, R$ 77, 304 págs.) é lançado hoje, das 18h30 às 21h30, na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915, tel. 0/xx/11/3814-5811). Organizado por Toninho Mendes, o livro reúne trabalhos feitos pelo cartunista Glauco (1957-2010) entre 1987 e 1988. FOLHA SP 10.11

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Com Claudia Raia, montagem de "Cabaret" em SP arrebata público FOLHA SP 10.11

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Houve uma proliferação de musicais em São Paulo, mas até agora ninguém tinha ousado enfrentar um dos melhores espetáculos no gênero: "Cabaret". A tarefa coube a Claudia Raia, que capitaneia a versão em cartaz na cidade, materializando uma obsessão de sua vida: encarnar a dançarina Sally Bowles.

"Cabaret" estreou em 1966 na Broadway, com enorme sucesso. Da primeira montagem, fez parte, inclusive, a grande atriz e cantora austríaca Lotte Lenya, intérprete de Brecht no tempo da República de Weimar (1919-1933) -a mesma época, aliás, em que se passa a trama do musical.

Aqui, a montagem é bastante bem-sucedida. O diretor José Possi Neto fez um trabalho eficiente, que arrebata o público, embora suas opções tendam ao convencional, quando não ao acadêmico. A versão em português das letras coube a Miguel Falabella, que achou boas soluções para a maioria delas (em particular, "Mein Herr").

O cenário da peça é terrivelmente banal. A ocultação da orquestra no fundo do palco é uma solução lastimável e privou o musical de um charmoso elemento cênico. Em compensação, o figurino de Fabio Namatame, a partir de arquétipos da lingerie, é espetacular. O fascinante papel de MC (mestre-de-cerimônias do Kit Kat Club) coube a Jarbas Homem de Melo, que, com sua voz e seu físico vigorosos, produziu um tipo mais agressivo, mais sexualizado e com menos sutilezas do que o projetado pelo genial Joel Grey. Apesar do tom histérico, a excepcional performance de Melo domina o espetáculo.

Claudia Raia criou uma Sally Bowles deliciosa, mais madura e inclinada ao patético. Incrível atriz cômica que é, Raia resolve melhor os momentos de ironia e malícia do personagem. Como cantora, não faz feio, mas ainda tem o que aprimorar. Como dançarina, está irresistível.

Certamente, à medida que a temporada avançar, a atriz encontrará a unidade entre as várias faces do seu personagem. O que não lhe falta é paixão nem carisma. Sua presença eletriza a plateia -e suas pernas magníficas deixam todo mundo boquiaberto.

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CONTARDO CALLIGARIS - Homofobia e homossexualidade. Experiência mostra que indivíduos homofóbicos sentem excitação diante a de estímulos homossexuais FOLHA SP 10.11

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Desde o fim do ano passado, em São Paulo, assistimos a uma série de ataques brutais contra homossexuais ou homens que seriam homossexuais aos olhos de seus agressores.

No fim de 2010, por decreto da Presidência da República, foi estabelecida a finalidade do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (parte da Secretaria de Direitos Humanos).

Mais recentemente, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união entre pessoas do mesmo sexo como unidade familiar. Não me surpreende que uma explosão de homofobia aconteça logo agora, pois, em geral, o ódio discriminatório aumenta de maneira diretamente proporcional aos avanços da tolerância.

Funciona assim: quanto mais sou forçado a aceitar o outro como igual a mim, tanto mais, num âmago que mal reprimo, eu o odeio e quero acabar com ele. Mas por que eu preferiria que o outro se mantivesse diferente de mim? Por que não quero reconhecê-lo como igual? O termo de homofobia, inventado no fim dos 1960, designa, mais que um preconceito, uma reação emocional à presença de homossexuais (ou presumidos homossexuais), num leque que vai do desconforto à ansiedade, ao medo e, por fim, à raiva e à agressão.

Numa entrevista na "Trip" de outubro (http://migre.me/6563w), apresentei a explicação clássica da homofobia do ponto de vista da psicanálise: "Quando as minhas reações são excessivas, deslocadas e difíceis de serem justificadas é porque emanam de um conflito interno. Por que afinal me incomodaria meu vizinho ser homossexual e beijar outro homem na boca? De forma simples, o que acontece é: 'Estou com dificuldades de conter a minha própria homossexualidade, então acho mais fácil tentar reprimir a homossexualidade dos outros, ou seja, condená-la, persegui-la e reprimi-la, se possível até fisicamente, porque isso me ajuda a conter a minha'".

Exemplo: se eu sinto (e não quero sentir) atração por um colega de classe do mesmo sexo, o jeito, para me convencer que não sinto atração alguma, é chamar esse colega de veado, juntar um grupo que, como eu, odeie homossexuais e esperar o colega na saída da escola para enchê-lo de porradas.

Um amigo me perguntou se essa interpretação da homofobia não era sobretudo uma forma de vingança: você gosta de agredir homossexuais pelas ruas da cidade? Olhe o que isso significa: você mesmo é homossexual. Gostou? O amigo continuou: "Isso não é bonito demais para ser verdade?".

Pois bem, anos atrás, pesquisadores da Universidade da Georgia selecionaram 64 homens que (na escala Kinsey) se apresentavam como sendo exclusivamente heterossexuais. Todos foram testados por uma entrevista (clássica, o IHP) que estabelece o índice de homofobia, de 0 a 100. Com isso, foram compostos dois grupos: os não homofóbicos (IHP de 0 a 50) e os homofóbicos (IHP de 50 a 100).

Nota: chama-se pletismógrafo um instrumento com o qual se registram as modificações de tamanho de uma parte do corpo. Pois bem, todos vestiram um pletismógrafo peniano, graças ao qual qualquer ereção, até incipiente e mínima, seria medida e registrada. Depois disso, todos os 64 foram expostos a vídeos pornográficos de quatro minutos mostrando atividade sexual consensual entre adultos heterossexuais, homossexuais masculinos e homossexuais femininos.

À diferença do que aconteceu com o grupo de controle (ou seja, com os não homofóbicos), a maioria dos homofóbicos teve tumescência e ereção significativas diante dos vídeos de sexo entre homossexuais masculinos. Confirmando a interpretação da psicologia dinâmica: indivíduos homofóbicos demonstram excitação sexual diante de estímulos homossexuais.

Existe a possibilidade de que a excitação manifestada pelos homofóbicos seja efeito, por exemplo, de sua vontade de quebrar a cabeça dos protagonistas dos vídeos -existe, mas é remota (porque os 64 indivíduos da amostra passaram todos por um questionário que mede a agressividade, e ninguém se mostrou especialmente agressivo).

Para quem quiser conferir, a pesquisa, de Henry E. Adams e outros, foi publicada no "Journal of Abnormal Psychology" (1996, vol. 105, n.3), com o título "Is Homophobia Associated with Homosexual Arousal?" (a homofobia é associada à excitação homossexual?) e é acessível na internet: http://migre.me/656Z4.

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