terça-feira, 29 de novembro de 2011

Literatura. A editora dos brasileiros. José Olympio completa oito décadas de existência privilegiando as letras nacionais O popular/GO 29.11

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José Lins do Rego (à direita) e Graciliano Ramos: dois autores nacionais editados pela José Olympio

Um dos endereços mais agitados do Rio de Janeiro nos anos 1930 e 1940 era a Rua do Ouvidor, 110. Ali, onde funcionava a Livraria José Olympio, reunia-se, especialmente aos sábados, aquela que seria considerada a nata da literatura brasileira, autores como José Lins do Rêgo, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Marques Rebelo, entre vários outros. O ponto em comum era a amizade e o reconhecimento que todos compartilhavam com o paulista José Olympio (1902-1990), cuja editora representou o grande estímulo para os jovens talentos. E hoje, quando a casa editorial completa exatamente 80 anos, o direcionamento continua privilegiando a escrita nacional.

"Quando o grande interesse estava focado na literatura francesa, José Olympio apostava nos autores nacionais e foi responsável, por exemplo, pelo lançamento da geração de 1930", comenta Maria Amélia Mello, que está na editora desde 1985 e hoje é sua atual diretora.

Modesto filho de português que começou a vida lavando vidros numa farmácia, José Olympio mudou-se para o Rio depois de ter comprado e vendido a biblioteca de Alfredo Pujol em São Paulo. Na capital carioca, logo se estabeleceria ao lançar toda a obra dos romancistas, poetas, críticos relevantes e até do pintor Portinari, que foi capista da editora e teve por ela lançado, logo após a morte, um livro de poemas.

Seu mérito foi dar o devido apoio a escritores que, mesmo já publicados por outra casa, ainda viviam no obscurantismo. Augusto Frederico Schmidt, por exemplo, descobriu Graciliano Ramos lendo o relatório do então prefeito da remota Palmeira dos Índios, Alagoas, e dele publicou o livro de estreia, Caetés . Mas foi na J.O. que se tornou conhecido nacionalmente.

Caminho idêntico foi percorrido por José Lins do Rego, cujo Menino de Engenho só se tornou um best-seller quando editado por Olympio - o cuidado editorial, aliás, refletia-se na capa e ilustrações, do artista Santa Rosa. E há ainda o exemplo de Rachel de Queiroz, que se tornou comentada a partir de seu terceiro livro, Caminho de Pedras , o primeiro sob a chancela da editora carioca.

Concurso

Uma das histórias mais famosas aconteceu em 1938, quando a Livraria José Olympio promoveu um concurso literário. Luis Jardim e Guimarães Rosa foram os finalistas. No júri, Graciliano Ramos desempatou a favor de Jardim, mas não estava certo da decisão - afinal, reconheceu uma certa irregularidade nos contos de Rosa, com alguns excelentes e outros nem tanto. Por conta da dúvida, Graciliano escreveu uma crônica, em que justificava seu voto e incentivava o perdedor a sair do anonimato.

Guimarães Rosa preferiu o silêncio e apenas nove anos depois é que foi apresentado ao autor de Vidas Secas . Humilde, Rosa reconheceu que alguns contos realmente não apresentavam a devida qualidade. Aliás, em 1946, ao publicar Sagarana, ele excluiu exatamente os três textos mais criticados por Graciliano e aperfeiçoou os demais, principalmente a obra-prima A Hora e a Vez de Augusto Matraga .

E não era apenas na ficção que as edições da José Olympio se destacava. Sob a direção de Gilberto Freyre (cujo Casa-Grande & Senzala foi lançado por Schmidt em 1933, mas atingiu notoriedade na J.O. a partir da 4.ª edição), foi criada a coleção Documentos Brasileiros e a inauguração, em 1936, aconteceu justamente com Raízes do Brasil , de Sérgio Buarque de Holanda.

Há também dissabores - na recente reedição de Graciliano: Retrato Fragmentado (Editora Globo), ao traçar o perfil de seu pai, Ricardo Ramos lembra que, em 1955, quando a editora mudara de comando, a obra de Graciliano não era mais devidamente reeditada. "A Casa mudara de rumo. Apegara-se a figuras públicas, adiara os escritores em que investira", escreveu Ricardo, que levou a obra do pai para a Martins Fontes.

Era o prenúncio de uma queda que culminaria em 1975, quando, depois de dificuldades financeiras, a J.O. foi encampada pelo BNDES. Por conta disso, diversos de seus autores tiveram de procurar outros selos editoriais. O ressurgimento aconteceu em 2001, com a aquisição da marca pelo Grupo Record, de Sérgio Machado. Com isso, aos poucos, antigos escritores acabaram voltando e hoje a José Olympio tem em seu catálogo obras de Ariano Suassuna, Ferreira Gullar, Rachel de Queiroz, José Cândido de Carvalho, Augusto Meyer, entre outros.

Sob a direção de Maria Amélia, novos selos foram lançados como a Sabor Literário, de 2006, que reúne textos raros, encontráveis então apenas em sebos. E os projetos continuam: para 2012, a obra de Gullar será reeditada com novo projeto gráfico; crônicas pouco conhecidas de Lins do Rego e Rachel de Queiroz ganharão volumes próprios, e Movimentos Modernistas no Brasil, de Raul Bopp, ganha reedição. "E provavelmente o novo Ariano, O Jumento Sedutor ", diz Maria Amélia.

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LITERATURA » Poesia de útero. Diva no teatro, Dina Brandão lança o primeiro livro solo de poesia. Umberto Eco é professor de semiótica, crítico literário e romancista. Entre seus principais livros estão "O Nome da Rosa" e o "Pêndulo de Foucault".

Correio BSB 29.11

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Desde 1977, Dina Brandão estava prenhe de um rebento que se alimentou e cresceu em seu útero até irromper hoje ao mundo. O filho poético, batizado de Do amor e seus descabelos, corre solto, livre das entranhas, e enche o leitor de possibilidades com versos, missivas, ensaio e o que a autora chama de plano de voo. Conhecida e respeitada no DF pelo exercício de atriz (para muitos, é uma diva), ela lança o primeiro livro solo depois da parceria com Vicente Sá em Ironia dos deuses, naquele distante 1977. “Foi uma obra feita bem no clima mimeógrafo, eu datilograva as poesias na máquina Olivetti de meu pai, depois recortávamos e colávamos tudo artesanalmente. Vendemos tudo na noite de autógrafos”, ri Dina.

Trinta e quatro anos depois, o nascimento de Do amor e seus descabelos obedece a outros procedimentos. Dina Brandão juntou as economias e pagou do bolso a edição caprichada e vistoriada pelo seu olho clínico. O livro tem belíssimas ilustrações de Tânia Botelho, prefácio do jornalista Fernando Marques e orelha de Vicente Sá: “Quem viu não esquece jamais. Uma pequena poetisa-bailarina de cabelos esvoaçantes a passear de mãos dadas com a poesia pela grama do Elefante Branco e pelas quadras de Brasília dos anos 1970”, escreve o amigo.

O que Vicente Sá viu em certa medida está espalhado pelas páginas de Do amor e seus descabelos, que é lançado hoje, às 19h, no Café Savana (116 Norte), numa noite em que Dina Brandão promete estar como seus versos: “Ontem desaguei um temporal./ Inundei minha casa, as ruas, as quadras./ Saí encharcando de lágrimas/ O cerrado do Planalto Central”.

O livro segue entre poemas numa viagem pelo tempo lúdico de Dina Brandão e recai em missivas sem destinatário, prosas poéticas sobre amores de todas as naturezas: “Ganhei também umas mangas bem madurinhas que chupei com uma boca tão gostosa de atrair abelhas fora de órbita, disputando o melaço que eu deixava escorrer pelos braços, e o queixo amarelo de tanta manga!”.

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Não amar nem sempre quer dizer odiar, diz Umberto Eco. The New York Times 29.11

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Nos últimos anos eu escrevi sobre o racismo, a construção psicológica do inimigo e a função política da expressão de ódio pelos "outros" ou do desprezo pelo conceito de diversidade. Eu acreditava já ter dito tudo o que havia a dizer sobre essa questão, mas em uma conversa recente com o meu amigo Thomas Stauder, surgiram algumas questões novas --bem, pelo menos para mim elas eram novas. Foi aquele tipo de conversa após a qual a gente não consegue se lembrar exatamente quem disse o que, mas que foi marcada por uma concordância quanto às conclusões.

As pessoas tendem, com uma tolice bastante pré-socrática, a enxergar o amor e o ódio como dois opostos --alternativas mutuamente necessárias e simétricas. Ou seja, se nós não amamos uma determinada pessoa, temos necessariamente que odiá-la, e vice-versa. Obviamente, no entanto, existem infinitos estágios intermediários situados entre esses dois polos. Mesmo se utilizarmos os termos metaforicamente, o fato de eu adorar pizza, mas não ser louco por sushi, não significa que eu odeie sushi --eu simplesmente gosto menos de sushi do que de pizza. O fato de eu adorar alguém não significa que eu odeie todas as outras pessoas; o oposto do amor pode tranquilamente ser a indiferença. Eu amo os meus filhos, e sou indiferente em relação ao motorista de táxi que me buscou duas horas atrás.

Mas o fato concreto é que alguns tipos de amor são isoladores, exclusivos. Se eu me encontrar loucamente apaixonado por uma mulher, eu esperarei que ela ame a mim e não a outros (ou pelo menos não da mesma forma). De forma similar, uma mãe sente um amor intenso pelos seus filhos e deseja que eles a amem de uma maneira especial, e ela jamais sentir-se-á compelida a amar os filhos de outras pessoas com a mesma intensidade. Portanto, da sua maneira própria, o amor é egoísta, seletivo e possessivo.

É claro que existe aquele mandamento que nos diz para “amar” os nossos vizinhos – todos os sete bilhões de seres humanos – da mesma forma que nós amamos a nós próprios. Mas, na prática, esse mandamento apenas nos obriga a não odiar ninguém; ele não significa que nós tenhamos que amar um desconhecido da mesma maneira que amamos os nossos pais ou os nossos netos.

Eu amo o meu neto mais do que, digamos, um caçador de focas que eu jamais conheci pessoalmente. Isso não significa que para mim não teria a menor importância se um homem que mora do outro lado do mundo morresse, mas o fato que é que em qualquer circunstância eu ficaria mais abalado com a morte da minha avó do que a de um desconhecido.

Por outro lado, o ódio pode ser coletivo. Na verdade, especialmente sob regimes totalitários, ele tem que ser necessariamente coletivo. Quando eu era criança, o Partido Fascista me perguntou se eu odiava todos os filhos de Albion (Grã-Bretanha), e todas as noites Mario Appelius recitava no rádio o seu ritual "Que Deus amaldiçoe os ingleses". É isso o que desejam os ditadores e os populistas – e também as facções religiosas fundamentalistas –, já que o ódio por um inimigo comum une as pessoas e faz com que todas elas sintam o mesmo ardor.

O amor aquece o coração em relação a apenas algumas poucas pessoas selecionadas. Já o ódio aquece o coração em relação a todos os que estão do nosso lado, e é capaz de mobilizar um grupo contra milhões de indivíduos: uma nação, um grupo étnico, pessoas que têm a cor da pele diferente ou aquelas que falam outra língua. Um italiano racista pode odiar albaneses, romenos ou ciganos. Umberto Bossi, o líder do partido italiano Liga Norte, detesta todos os italianos do sul (e ao considerarmos que o salário dele é pago, em parte, pelos impostos cobrados dos sulistas, tal fato é realmente uma obra prima de malignidade, na qual o ódio se integra ao prazer de atormentar ainda mais os atormentados). Quando era primeiro-ministro, Silvio Berlusconi deixou claro que detestava juízes e pediu ao povo italiano que fizesse o mesmo – e que detestasse também todos os comunistas, mesmo que isso significasse conjurar imagens destes indivíduos que não existem mais.

Portanto, o ódio não é individualista, mas sim generoso e inclusivo, englobando multidões inteiras de uma só vez. Somente nos romances nos dizem que é bonito morrer por amor; e geralmente o herói que mais deve ser imitado é aquele que sucumbe ao derrotar o vilão – o inimigo odiado.

A história da nossa espécie é mais marcada por ódio, guerras e massacres do que por atos de amor, que são intrinsecamente menos confortáveis e também bastante cansativos quando ousam transcender o círculo imediato do nosso egoísmo. A nossa queda pelos prazeres do ódio é tão natural que os líderes manipuladores não encontram nenhum empecilho para estimulá-la. Por outro lado, em determinadas ocasiões, ao que parece, nós somos encorajados a amar apenas por intermédio de personagens fictícios e repulsivos que têm o hábito desconcertante de beijar leprosos.

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Umberto Eco

Umberto Eco é professor de semiótica, crítico literário e romancista. Entre seus principais livros estão "O Nome da Rosa" e o "Pêndulo de Foucault".

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Campo. Comissão de Agricultura vai discutir sistema de pastagem irrigada. (...) desenvolvido pelo pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, Luis César Dias Drumond, que foi convidado para o debate. De acordo com os parlamentares, o projeto desenvolvido pelo acadêmico, além de ambientalmente sustentável, apresenta também viabilidade econômica. Isso porque possibilita a produção de leite pelos pequenos produtores rurais, utilizando-se para isso do sistema de irrigação de pastagem conhecido como “fertirrigação”. Agência Câmara 27.11

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POLÍTICA CIENTÍFICA. UnB lança observatório do conhecimento. Site criado pelo Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação com laboratório da Faculdade de Arquitetura mostra quem são os pesquisadores dos campi, onde estão, o que estão produzindo e com quem se relacionam. unb 25.11

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A Universidade de Brasília lança nesta segunda-feira 28 mapa na internet com informações sobre os pesquisadores da instituição em atividade atualmente. O projeto vai possibilitar que qualquer cidadão saiba quem são eles, conheça as pesquisas de cada um e as parcerias desenvolvidas para viabilizar a produção do conhecimento.

Batizado de Observe UnB, o site disponível no Portal da UnB é um projeto do Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação (DPP) em parceria com o Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade (Lacis), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. O mapa desenvolvido em sete meses de trabalho traz informações de 2.174 pesquisadores que possuem currículo Lattes, plataforma usada como base para o sistema. O currículo Lattes é um banco de dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que oferece informações sobre os pesquisadores brasileiros.

É a primeira vez que dados da produção dos professores de uma universidade são cruzados para criar um sistema amplo de como eles se relacionam entre si. “O nosso principal objetivo é estimular o aumento de parcerias e colaboração nas pesquisas da universidade”, conta Célia Ghedini, diretora de desenvolvimento institucional e inovação do DPP.

Em uma das interfaces do site, o usuário poderá interagir com uma árvore com as conexões entre pesquisadores e entre pesquisadores e os departamentos onde estão lotados. “O sistema mostra todos os autores que publicaram junto com aquele pesquisador e que constam em seu currículo Lattes”, explica. Ao clicar no nome de um dos professores no Observe UnB será possível visualizar todas essas parcerias.

Célia destaca que a cooperação acadêmica é um dos quesitos mais valorizados nas avaliações da Coordenação de Apefeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Além disso, a professora explica que atualmente o processo de busca de novas parcerias é muito mais difícil. “Para que um pesquisador novo na universidade conheça as principais áreas de atuação e parcerias dos colegas ele precisa garimpar currículo por currículo”.

MAPEAMENTO – Outro recurso será um mapa da UnB com a localização de todas as unidades acadêmicas, com desmembramentos sobre institutos, faculdades, departamentos. Cada um deles aparece indicado com uma seta igual às usadas no Google Maps. Clicar em uma delas significa abrir uma lista com o nome de todos os pesquisadores lotados naquele local. Com mais um clique, o usuário poderá visualizar uma janela com os principais dados daquele pesquisador constantes no Lattes, incluindo a formação acadêmica e a produção bibliográfica.

Por fim, duas listas darão acesso a gráficos de barra que enumeram a quantidade de publicações divididas por categorias em cada unidade acadêmica e programa de pós-graduação. Quem acessar a ferramenta poderá saber o número de trabalhos apresentados em eventos científicos, artigos publicados, artigos aceitos para publicação, livros publicados ou organizados, capítulos de livros publicados, textos em jornais ou revistas e demais tipos de produção bibliográfica. “É uma ferramenta importantíssima também para o gestor que vai ter acesso a um diagnóstico instantâneo da pesquisa na universidade”, destaca Célia.

As ferramentas acessíveis ao público a partir de segunda-feira fazem parte de uma primeira versão do site. “A ideia é que o sistema seja ampliado”, conta Célia. Outro recurso que será incluído nos próximos meses será um indicador numérico associado a cada pesquisador. “Ele vai ser calculado a partir do tamanho da produção acadêmica do próprio pesquisador e dos seus parceiros e permitirá conhecer a relevância do trabalho dele”, explica. As informações sobre os grupos de pesquisa do CNPq, uma busca por áreas do conhecimento e dados sobre as produções dos alunos também estarão nas versões futuras.

A empreitada aproveitou a experiência do Lacis na criação do Observatório de Resíduos – que mapeou cooperativas de catadores de Brasília – e do Observatório de Conhecimento para Inovação na Cadeia Produtiva da Indústria da Construção. “Criamos os sites para potencializar o surgimento de soluções inovadores nas pesquisas do laboratório”, conta a professora Raquel Naves Blumenschein, coordenadora do Lacis.

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COMPORTAMENTO » Em Brasília, elas são maioria. Segundo censo do IBGE, as mulheres representam 52,31% dos moradores do DF. A alta mortalidade de jovens do sexo masculino e a maior longevidade feminina são fatores que ajudam a explicar a discrepância Correio BSB 28.11

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Kelly e Cristiane, ambas solteiras, confirmam: veem muito mais mulheres nas baladas

A feminilidade brasiliense está nas curvas sensuais dos monumentos de Niemeyer, no traçado delicado do Plano Piloto idealizado por Lucio Costa e também nas estatísticas. As mulheres representam 52,19% da população de Brasília, de acordo com dados do censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os números mostram que o Distrito Federal é a segunda unidade da Federação com o maior percentual de pessoas do sexo feminino — perde apenas para o Rio de Janeiro, onde as mulheres representam 52,31%. Nos bares, comércios e, principalmente, nas casas noturnas da cidade, é fácil perceber que elas são maioria.

A discrepância entre a quantidade de homens e mulheres também fez crescer o número de solteiros na capital federal. Em 2000, 975.067 brasilienses estavam à procura da cara-metade. Hoje, já há 1,2 milhão de solteiros em Brasília e eles representam 57,3% da população. Se forem incluídos os viúvos, divorciados e separados, o total de pessoas disponíveis na capital federal chega a 66,48%. Os números são facilmente traduzidos por queixas, que vêm especialmente do lado feminino.

A estudante de arquitetura Cristiane Maia, 24 anos, está sozinha há mais de um ano. Para ela, as estatísticas são inquestionáveis. “Quando eu saio à noite com as minhas amigas, a sensação que temos é de que só tem mulher na balada”, comentou Cristiane. Amiga da estudante, a secretária Kelly Abrantes, 24 anos, faz coro às reclamações. “É cada dia mais difícil encontrar homens solteiros. E sempre percebo que, na tentativa de se destacar, algumas mulheres apelam e acabam caindo na vulgaridade”, brincou Kelly.

A engenheira eletricista Cecília Francisco, 32 anos, tem uma profissão predominantemente masculina. Ainda assim, ela confirma a sensação de que há mais mulheres do que pessoas do sexo masculino na capital federal. “O pior de tudo é que faltam homens de qualidade no mercado”, apontou Cecília, com bom humor. A colega de profissão Jaqueline Godoy, 34, diz que muitas vezes vale mais a pena sair com as amigas casadas do que se aventurar em um local de paquera. “Em Brasília, tem muita mulher independente e isso assusta os homens. Mas sou muito bem resolvida com o fato de ser solteira”, acrescentou Jaqueline, que no momento da entrevista, na última sexta-feira, estava acompanhada de um grande grupo de amigas comprometidas.

As estudantes de psicologia Bruna Bonato e Fernanda Santos, ambas de 21 anos, também sentem a falta de homens na capital federal. “É visível. É só andar na rua para perceber isso”, comentou Bruna. “É tão verdade, que o meu namorado é de Belo Horizonte”, contou Fernanda. As duas estiveram na última sexta-feira em um bar da Asa Sul, ao lado de várias colegas.

As explicações para o alto percentual de pessoas do sexo feminino em Brasília são variadas. A primeira não é um fenômeno exclusivo da capital federal: a grande mortalidade de jovens do sexo masculino. Do total de pessoas que morreram no Distrito Federal nos últimos 10 anos, 57,2% eram homens. Brasilienses do sexo masculino morrem muito mais do que as mulheres, especialmente entre 20 e 24 anos. Nessa faixa etária, 80,8% dos mortos eram homens. A violência urbana e os acidentes de trânsito são as principais causas da grande mortalidade entre rapazes.

Saúde

O economista Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), lembra ainda que a expectativa de vida é maior entre as mulheres. Principalmente porque os homens têm menos cuidados com a saúde. “A tendência é que houvesse um equilíbrio entre os sexos, mas os homens morrem mais cedo, especialmente os jovens. Os mais velhos também se cuidam menos”, justifica o economista.

Aos 78 anos, Maria Helena Côrtes Paiva se alimenta com parcimônia e faz hidroterapia. Como fraturou uma vértebra recentemente, teve que abrir mão das caminhadas, mas não ficou sedentária. A moradora da 305 Sul ficou viúva há quatro anos, mas pretende viver ainda por muitos anos para acompanhar o crescimento dos cinco netos. Ela conta que, entre os casais de amigos que conviviam com ela e o marido, os homens morreram antes. “Faço parte de um grupo de caridade que só tem mulheres viúvas. Não conheço nenhum viúvo, acho que hoje as mulheres se cuidam mais e vivem por mais tempo.”

Ilda Ferreira Magalhães, 85 anos, é outro exemplo da longevidade feminina. Em 2004, seu marido faleceu aos 77. Ela já superou a idade que o esposo tinha quando morreu e se cuida para ultrapassar os 90 anos. “Faço caminhadas diárias, gosto de comidas leves e como muitas frutas. O segredo é não ficar parada” revela.

Entre os idosos, a quantidade de mulheres é ainda mais expressiva. Há 12.105 brasilienses do sexo feminino com idade entre 80 e 89 anos e apenas 7.237 homens nessa faixa. Entre a população com mais de 90 anos, há 2.228 mulheres e 1.052 homens. Já em meio às crianças de zero a nove anos, os meninos são maioria. Essa estatística comprova que a alta mortalidade masculina é a principal causa da discrepância entre os sexos em Brasília.

Júlio Miragaya explica que os homens só são maioria em unidades da federação que têm uma economia primária fortalecida. “Regiões com atividade industrial ou outras como a mineração têm a população masculina maior. Isso acontece em Mato Grosso e em Rondônia, por exemplo, para onde migram homens em busca de emprego nessas áreas”, comenta o diretor da Codeplan.

A especialista em geografia das populações Rosa Ester Rossini, professora do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a força do funcionalismo público em Brasília é outra explicação para a maioria feminina. “Em geral, há uma preferência ostensiva pela escolha dos homens nas contratações. As mulheres se impõem muito mais nos concursos públicos, já que não existe nenhuma diferenciação por sexo na hora de fazer as escolhas”, explica a especialista.

População carcerária

As mulheres são maioria em todas as cidades do Distrito Federal, menos em São Sebastião. Lá, existem 48.481 moradores do sexo feminino e 52.178 homens. Uma das explicações para o fenômeno é o fato de a população do presídio da Papuda estar incluída na cidade. Entre os municípios brasileiros com maior número de moradores do sexo masculino, a maioria tem grandes penitenciárias. Entre as regiões administrativas, o Plano Piloto (54,3%) concentra, proporcionalmente, mais habitantes do sexo feminino, seguido pelo Cruzeiro (53,6%) e pelo Guará (53,1%).

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Fotolivros focam a angústia dos latinos. Volume cataloga 150 parcerias de escritores e fotógrafos e compõe perfil de arte em anos de repressão. Cortázar, Neruda e Borges estão entre os autores que emprestaram textos às publicações de fotos Folha SP 28.11

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Do "umbigo de pedra" de Macchu Picchu à "alucinação na ponta dos olhos" de São Paulo ou ao "mundo de fantasmas" de Santiago, a fotografia não é a mesma quando sublinhada por palavras.

Juntos em tempos de transformação política e social, artistas e escritores como Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Roberto Piva e Pablo Neruda emprestaram prosa e verso a imagens em livros hoje raros ou já quase desaparecidos.

Enquanto grassavam as ditaduras e regimes de exceção, a produção dos chamados fotolivros deu vazão à angústia da América Latina -da Cuba de Fidel Castro ao Chile de Augusto Pinochet, passando por um Brasil do milagre econômico, que só fez aumentar a disparidade entre classes.

São esses frutos estranhos desses tempos, imagens de contundência ímpar, que estão reunidos em "Fotolivros Latino-americanos", volume lançado pela Cosac Naify que cataloga 150 desses livros.

Nos últimos quatro anos, uma equipe de pesquisadores, entre eles o fotógrafo britânico Martin Parr, vasculhou prateleiras empoeiradas de Buenos Aires a Havana em busca de exemplares que ajudassem a recompor essa história fragmentada.

"Existe uma forte relação entre escrita e fotografia na região", diz Parr. "É uma junção em que o texto tem o mesmo peso que as fotos."

Julio Cortázar, autor de "O Jogo da Amarelinha", faz rara incursão na fotografia em "Último Round", livro de 1969 em que repensa imagens turísticas da América Latina como um mosaico perverso de injustiças e contradições.

Não por acaso, Cortázar dizia que a fotografia, tal qual o conto, é um gênero que precisa "ganhar por nocaute", não por pontos corridos.

Quem dá uma surra com imagens é o chileno Sergio Larraín. Em "El Rectángulo en la Mano", ele parece rever vanguardistas russos como Aleksandr Ródtchenko para retratar a miséria das ruas.

Nesse resgate, também reaparece a maior obra-prima da coleção. "Amazônia", raro ensaio colorido de Claudia Andujar sobre índios na floresta, teve a primeira edição quase extinta pelo regime militar, que não deixou que cópias chegassem às livrarias.

"Esse é um dos livros mais importantes da história da fotografia", afirma Horacio Fernández, editor de "Fotolivros Latino-americanos". "Poucas pessoas conhecem a obra."

Destino parecido tiveram algumas obras editadas durante a ditadura chilena, muitas sobrevivendo só como fotocópias desbotadas.

Na contramão de raridades que ressurgem exumadas agora, há também um amplo registro dos livros de propaganda política, em especial volumes cubanos.

"Cuba", de 1966, tentou ser uma espécie de revista "Life" da ilha, com fotos coloridas de belas mulheres torrando na praia sob um sol incerto.

FOTOLIVROS LATINO-AMERICANOS

AUTOR Horacio Fernández

EDITORA Cosac Naify

QUANTO R$ 149 (256 págs.)

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21% dos casais nos EUA se conheceram pela internet. Folha SP 28.11

A Internet está em alta para o amor. Pesquisa recente de Stanford mostra como o ambiente famíliar e mesmo a escola vêm perdendo importância como lugar onde as pessoas encontram sua princesa ou príncipe encantado. Mesmo amigos, vizinhos ou o trabalho também perdem espaço.

Para se ter uma ideia, entre 2007 e 2009, 22% dos casais heterossexuais nos EUA conheceram-se online. Para os casais gays, o número é ainda mais impressionante: 60%. Texto completo: bit.ly/ab2Gwr.

Mas será que dá para confiar nos perfis das pessoas em busca de um relacionamento? Outro estudo revelou que 81% mentem sobre a idade, altura ou peso no seu perfil.

Só que as mentiras não são tão grandes. As mulheres dizem em média que são 4 kg mais magras. Os homens, 1 kg. Mas eles aumentam a altura, ainda que só em 1,25 cm na média. Sobre a idade, as pessoas tendem a ser sinceras.

As mentiras são contidas porque a ideia de procurar alguém pela internet é justamente provocar um encontro real. Com medo de rejeição total, muita gente exagera, mas no limite do que acredita ser tolerável para os pretendentes.

Isso tem um efeito colateral interessante. Depois de falsear o próprio peso, algumas pessoas passam a se esforçar na realidade para alcançar o peso virtual. É como se o perfil fosse a projeção de um objetivo a ser alcançado.

Ainda não existem estudos parecidos no Brasil, mas com o país avançando em termos de inclusão digital, dá para imaginar que possivelmente caminhamos na mesma direção. O amor está na rede.