sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
EUA tentam emplacar biblioteca 'sem livros'
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Usuários poderão usar seus próprios equipamentos ou
tomar aparelhos emprestados na biblioteca pública que será aberta no condado de
Bexar, no Texas. VALOR ECONÔMICO 08/02/2013
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Um condado do Texas vai abrir nos próximos meses uma das primeiras
bibliotecas públicas dos Estados Unidos completamente virtuais, um tipo de
banco de informações onde as pessoas poderão acessar livros fazendo o download
em seus próprios equipamentos ou pegando emprestado esses aparelhos
eletrônicos.
O ambicioso projeto do condado de Bexar, que inclui a cidade de San
Antonio, está sendo acompanho de perto por bibliotecários céticos. Alguns
advertem que muitos títulos populares ainda não estão disponíveis em versões
digitais para bibliotecas e são frequentemente mais caros que suas versões em
papel. Outros dizem que experiências semelhantes acabaram com as pessoas pressionando
para preservar os livros impressos.
Nelson Wolff, principal político do condado de Bexar, é um bibliófilo que
tem cerca de mil primeiras edições de livros em sua coleção particular. Ele não
possui um leitor eletrônico. Mas disse que concluiu - motivado em parte ao ler
a biografia do cofundador da Apple Steve Jobs - que a tecnologia está mudando
rápido demais para se fazer investimentos em conhecimento impresso.
Ele sugeriu que Bexar eliminasse a presença dos livros. O condado não
conta com um sistema integrado de bibliotecas, mas decidiu abrir uma instalação
digital para atender seus moradores em áreas com cobertura precária de
bibliotecas. "Eu sou o tipo de pessoa que gosta de ter o livro nas
mãos", disse Wolff. "Mas também admito que sou meio um
dinossauro."
O lugar, que será aberto nos próximos meses perto da Prefeitura de San
Antonio, terá cerca de 10 mil títulos e 150 leitores eletrônicos para os
clientes consultarem, incluindo 50 para crianças. A biblioteca permitirá aos
usuários acessarem os livros remotamente e contará com 25 laptops e 25 tablets
para uso interno, assim como 50 computadores. Terá também sua própria
cafeteria.
A equipe também vai ajudar os usuários com questões técnicas, mas não
contará com assistentes de pesquisa. Autoridades do condado, que estimam um
custo inicial de US$ 1,5 milhão para o projeto, acreditam que o custo total
será mais baixo que o de montar uma biblioteca tradicional, e analisam abrir
novas unidades.
O plano da biblioteca não gerou muitas críticas por parte da população,
mas criou tensão entre as autoridades de San Antonio.
"Não estamos prontos para ir em direção às chamadas bibliotecas sem
livros", diz Ramiro Salazar, diretor da biblioteca pública de San Antonio,
que disse ter ficado surpreso ao ser informado dos planos do condado pela
imprensa local. "Nossa experiência mostra que a demanda por livros
impressos continua existindo e, na verdade, está crescendo."
Algumas faculdades começaram com as bibliotecas completamente digitais,
incluindo a Universidade do Texas, em San Antonio, que foi uma das primeiras a
tornar-se 100% digital em 2010 com a sua Biblioteca Aplicada de Engenharia e
Tecnologia.
Mais de 75% das bibliotecas públicas dos EUA oferecem alguns livros
digitais e 39% emprestam leitores eletrônicos a seus usuários, de acordo com a
Associação Americana de Bibliotecas. Mas a ideia de migrar completamente para
os livros digitais tem avançado lentamente, em parte porque editores temerosos
de perder vendas com as versões impressas estão cautelosos em oferecer às
bibliotecas novos títulos no formato digital e cobram mais delas por livros
digitais que podem ser emprestados.
As bibliotecas do condado de Douglas, que atendem mais de 300 mil pessoas
nos subúrbios de Denver, no Estado do Colorado, compilaram uma lista de títulos
populares, seus preços e sua disponibilidade no formato digital para informar a
colegas bibliotecários e ao público sobre as dificuldades para migrar para os
livros digitais. Um relatório do mês passado mostrou que metade dos 20 livros
que encabeçam a lista da Amazon.com não é oferecida pelas editoras às
bibliotecas que emprestam os títulos a seus usuários.
Os livros disponíveis custam significativamente mais que as edições
físicas: o líder de vendas "50 Tons de Cinza" custa US$ 47,85 em dois
grandes fornecedores de livros digitais para bibliotecas, a 3M e a OverDrive,
frente aos US$ 9,57 cobrados pelo mesmo livro impresso na distribuidora Baker
& Taylor, segundo o condado.
"Um dos maiores desafios que a maioria das livrarias enfrenta hoje,
especialmente com livros digitais, é que os orçamentos foram mantidos ou
reduzidos e a maioria dos usuários não entende porque nós não podemos oferecer
esses títulos", disse Maureen Sullivan, presidente da Associação Americana
de Livrarias.
A 3M e a OverDrive reconhecem que preço e disponibilidade permanecem sendo
questões para as bibliotecas, mas dizem que a situação melhorou notoriamente
nos últimos dois anos.
Wolff, do Condado de Bexar, disse que o esforço no Texas enfrenta
desafios, como o custo de substituir os leitores eletrônicos danificados. Mas
ele diz acreditar que uma biblioteca que oferece apenas livros digitais
precisará de menos espaço físico. "Nunca estivemos neste negócio
antes", disse. "Mas acreditamos que esse é um jeito viável de trazer
mais livros para as pessoas."
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