sábado, 16 de fevereiro de 2013



Remédio para a ansiedade afeta peixesDroga que chega aos rios e mares pelo sistema de esgoto torna os animais vorazes e antissociais, afirmam cientistas suecos. Segundo estudo, a eliminação de medicamentos traz riscos à natureza e à saúde humana       
Percas expostas ao moderador de ansiedade: os peixes passaram a caçar sozinhos e a comer mais rapidamente. CORREIO BSB 15.02.13
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O medicamento é ingerido, exerce sua função no organismo do doente e é excretado pelo corpo. A partir daí, essas drogas passam pelas estações de tratamento de esgoto e são descarregadas em cursos d’água. O processo se repete em todos os cantos do mundo, diluindo uma enorme quantidade de substâncias sintéticas em rios e lagos e, possivelmente, chegando de volta às residências. As consequências desse ciclo sobre a saúde humana e o meio ambiente ainda são desconhecidas, mas pesquisadores da Universidade de Umea, na Suécia, conseguiram mostrar que o processo certamente causa impacto na natureza. Os especialistas investigaram as reações de peixes expostos a um moderador de ansiedade bastante consumido naquele país e se surpreenderam com a alteração no comportamento dos animais, o que os levou a concluir que a eliminação de remédios na água pode levar a impactos ecológicos inesperados.

O trabalho foi apresentado ontem durante o encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), maior sociedade científica do mundo e editora da revista Science, que também traz um artigo sobre o trabalho na edição de hoje. Tomas Brodin e sua equipe expuseram um grupo de peixes percas a doses de oxazepam correspondentes às encontradas em águas de áreas densamente povoadas na Suécia. Os animais foram comparados a cobaias que não entraram em contato com a droga. De acordo com o estudo, mesmo pequenas quantidades da substância diluída fizeram com que os bichos passassem a comer mais rapidamente e a correr riscos desnecessários.

As percas normalmente vivem e caçam em grupo, uma estratégia desenvolvida pela espécie para garantir a sobrevivência. No entanto, os peixes que tiveram contato com a droga se mostraram destemidos e menos sociais, deixando seus grupos para procurar alimento por conta própria — um comportamento que os torna mais vulneráveis a predadores. E as esquisitices observadas pelos cientistas não pararam por aí. Ao encontrar alimento, as percas intoxicadas comeram muito mais rapidamente que seus pares. “Mudanças no comportamento alimentar podem perturbar seriamente o equilíbrio ecológico. Vamos analisar quais as consequências que isso pode trazer. Nas águas onde os peixes começam a comer de forma mais eficiente, a composição de espécies pode ser afetada e levar a efeitos inesperados, como o aumento do risco de floração de algas”, conta Brodin.

             
A equipe da Universidade de Umea: resultados surpreendentes




Preocupação
A oxazepam é uma droga usada no tratamento psiquiátrico da ansiedade em seres humanos. Ela não é modificada ao deixar o organismo, e resíduos de seu consumo muitas vezes acabam em ecossistemas aquáticos próximos a usinas de tratamento de esgoto. As substâncias sintéticas que repetem esse processo são chamadas de poluentes de preocupação emergente e também abrigam produtos de beleza, drogas ilícitas, hormônios, pesticidas e aditivos industriais. “São produtos processados que surgiram com a modernidade e representam uma grande preocupação, tanto isoladamente quanto em interação”, descreve Cristina Brandão, coordenadora do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), que não participou do estudo.

Segundo ela, a utilização de organismos aquáticos no estudo se justifica principalmente pela dificuldade de avaliar esse impacto na saúde humana. Isso porque o ser humano recebe esse tipo de substância por diferentes vias, como ingestão e respiração, tornando difícil isolar somente os efeitos da água. “A preocupação existe exatamente por se observar efeitos em animais, inclusive em mamíferos. Embora não tenhamos evidências ou dados para afirmar os efeitos sobre a saúde humana, esses indicadores em animais são um alerta para começarmos a estudar. Não temos informações para dizer sim ou não.”

Brandão considera que é necessário um investimento grande em estudos que possam identificar quais são os limites dessas substâncias para os ambientes naturais, já que, em sua opinião, a proteção das espécies aquáticas pode prot eger também o ser humano. Ela também ressalta que, mesmo fora das práticas rotineiras de tratamento da água, existem tecnologias avançadas para a remoção desses compostos nas rotas mais importantes de chegada, os esgotos. “Não são as que estão sendo comumente utilizadas, nem no Brasil nem no mundo, mas elas existem e são capazes de remover esses compostos”, afirma.





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CONGRESSO »Rato na web, demissão no SenadoDuas estagiárias são demitidas após publicarem foto de roedor morto na gráfica da Casa e fazerem comentário sobre Renan Calheiros


Fachada da gráfica do Senado: estagiárias fotografaram o animal nas dependências do edifício. CORREIO BSB 15.02.13




O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), assumiu o cargo há duas semanas e, desde então, é um dos alvos preferidos dos internautas brasileiros. Nas redes sociais, os insatisfeitos com a eleição do cacique do PMDB divulgam uma petição contra o senador, que, na manhã de ontem, já somava 1,5 milhão de assinaturas. Apesar de não comentar a mobilização popular, a direção do Senado está incomodada com a avalanche de críticas a Calheiros. Tanto que duas estagiárias da Casa foram demitidas, na semana passada, depois de postarem mensagens com comentários sobre o senador alagoano. As jovens estudantes, uma delas sobrinha do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF ), Joaquim Barbosa, receberam a punição depois de publicarem nas redes sociais que Renan Calheiros seria um “problema” para o Senado. A demissão das estagiárias repercutiu entre funcionários da Casa: servidores que haviam compartilhado críticas, abaixo-assinados ou qualquer outro comentário sobre a eleição do presidente do Senado se apressaram em apagar qualquer vestígio das publicações.


O episódio que levou à demissão das duas jovens aconteceu no último dia 6. As estudantes estagiavam no Serviço de Administração da Secretaria de Recursos Humanos do Senado durante o período matutino. Na manhã daquela quarta-feira pré-carnaval, as estagiárias e os colegas foram surpreendidos com a presença de um rato no meio do setor, que fica no prédio da Gráfica do Senado. Em meio à correria causada pelo roedor, uma copeira matou o animal com a ajuda de um calendário de papelão. O cadáver do bicho ficou por alguns minutos no chão, e as duas jovens decidiram fotografá-lo. Uma delas postou a imagem no Facebook com uma legenda que dizia: “E a gente que achou que o nico problema aqui fosse o Renan Calheiros”. A colega, que é filha da irmã de Joaquim Barbosa, publicou a foto com comentário semelhante.


As duas estudantes demitidas estão assustadas com a polêmica e com receio de aparecer. A sobrinha de Barbosa, que estuda direito e era estagiária do Senado havia quase dois anos, não quis comentar a decisão. Ela deletou sua conta no Facebook logo depois de ser demitida. Mas a colega decidiu contar ao Correio os detalhes do episódio, com a condição de ficar no anonimato. Depois de deixar o Senado naquela manhã, Karen (nome fictício) recebeu um telefonema do chefe, que pedia explicações sobre a foto publicada na rede social. O responsável pelo Serviço de Administração de RH marcou então uma reunião com as duas estagiárias para a manhã seguinte. “Quando a gente chego u, o chefe colocou a foto que havíamos postado na internet sobre a mesa e, em cima, pôs a carta de demissão para assinarmos. Levei um susto, não imaginei que fossem tomar uma medida tão radical. Não fizemos nenhuma associação do senador Renan Calheiros ao rato. Acho que foi um mal-entendido”, comenta Karen. “Vários servidores do Senado compartilharam o abaixo-assinado contra o Renan nas redes sociais, eu mesma havia feito isso semanas antes”, acrescenta a estudante de administração.


Segundo Karen, ela também teve reuniões na Diretoria de Recursos Humanos. “Eles explicaram que a nossa demissão era uma determinação da Diretoria-Geral. Alguém imprimiu a foto que postamos na internet e saiu mandando para a chefia. Disseram que o Renan era quem pagava nosso salário e que a gente não podia falar mal dele. Mas eu respondi que quem pagava nosso salário era o povo, e não o senador”, lembra a estagiária demitida. Elas recebiam R$ 820 mensais, além de R$ 130 de ajuda para transporte. Cerca de 2 mil estudantes trabalham como estagiários do Senado Federal. As duas jovens faziam despachos de pedidos de aposentadoria e de solicitações de adicionais de especial ização. Karen entrou no Senado em setembro do ano passado. Já a estudante de direito, sobrinha de Joaquim Barbosa, foi contratada em maio de 2011. Antes de chegar ao setor de Recursos Humanos, ela havia realizado estágio no Arquivo do Senado.

“Indisciplina”

A Secretaria de Comunicação Social do Senado divulgou nota em que classificou a atitude das estagiárias como um “ato de indisciplina”. “Nesse contexto, a administração tem o dever de agir de acordo com o termo de compromisso assinado pelas estagiárias. Nos termos da lei, o estágio não cria vínculo empregatício e o desligamento não se condiciona à abertura de processo disciplinar”, explicou o Senado. “Além do conteúdo ofensivo da matéria, vale registrar que as estudantes postaram-na durante o horário de expediente, utilizando ferramentas de trabalho”, diz outro trecho da nota oficial.
A assessoria de imprensa do presidente do Senado, Renan Calheiros, informou que ele não tinha conhecimento das demissões e que o caso só poderia ser tratado na Diretoria-Geral. A assessoria do presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, informou que ele não comentaria o episódio, mas confirmou o parentesco com a estagiária demitida. Nos próximos meses, o Supremo deve analisar a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, contra Renan Calheiros. O senador é acusado dos crimes de peculato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos. Segundo o MPF, Calheiros apresentou ao Senado notas frias para explicar a origem de recursos usados para custear despesas pessoais.


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