segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
A abertura dos Jogos Olímpicos do Rio
Coluna Econômica do Luis Nassif - 15/02/2013 - www.luisnassif.com.br
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No carnaval da Bahia, o cineasta norte-americano Spike Lee perguntou à
Marta Suplicy, Ministra da Cultura, como estava sendo planejada a abertura dos
Jogos Olímpicos Brasileiros.
Lembrou, em 2008, a abertura dos Jogos Olímpicos da China foi entregue ao
diretor de cinema Zhang Yimou (“Lanternas Vermelhas”, “Nenhum a Menos”, “Herói”
e “O Clã das Adagas Voadoras”). Investiram-se US$ 100 milhões em um espetáculo
marcante, que lançou a imagem da nova China para o mundo. Foram convocados
especialistas em danças, fogos de artifícios e mostrou-se, em um espetáculo
inesquecível, os muitos séculos de civilização chinesa. O espetáculo foi
assistido por 4 bilhões de pessoas.
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Depois, em 2012, a abertura dos Jogos Olímpicos de Londres ficou sob
responsabilidade de Danny Boyle, premiado diretor de filmes como "Quem
Quer Ser um Milionário?", "Trainspotting - Sem Limites",
"127 Horas", "Extermínio", entre outros.
Iniciou-se com um filme de dois minutos com imagens do rio Tâmisa, cenas
da vida contemporânea britânica, música de conjuntos de rock. Depois, uma
exposição do desenvolvimento econômico e social da Inglaterra até os anos 1960.
De acordo com uma descrição da época, “inicialmente o estádio foi
transformado numa imensa área rural com uma representação do famoso monte
Glastonbury Tor. Aos poucos, a área verde deu lugar às enormes chaminés de
fábricas representando as modificações causadas no país pela Revolução
Industrial. Os hinos informais dos quatro países do Reino Unido foram cantados:
"Jerusalém" (cantada por um coro ao vivo no estádio), complementada
por performances filmadas de "Danny Boy" (na Calçada dos Gigantes,
Irlanda do Norte), "Flor da Escócia" (no Castelo de Edimburgo,
Escócia) e "Pão do Céu" (na Praia de Rhossili, País de Gales)”.
***
Algo surpreso, Lee ouviu de Marta que até agora nada tinha sido pensado em
relação aos Jogos Olímpicos do Rio. Pois está na hora de se começar a pensar na
cara do Brasil.
Em Salvador, Spike Lee foi conferir os meninos do Olodum, que participaram
do celebérrimo vídeo de Michael Jackson. Hoje, adultos musculosos, luzidios e
cada vez mais musicais. Na abertura, ele colocaria o Olodum. Mas não poderia
deixar de fora os maracatus pernambucanos, o forró nordestino, a chula gaúcha,
menos ainda as Escolas de Samba do Rio, os batuques mineiros, a São Paulo
cosmopolita.
O personagem central teria que ser o povo com suas cores regionais,
celebrando a inclusão de um país que se redescobriu. Por certo haverá espaço
para a tecnologia, para os setores modernos, para a eterna sofisticação da
bossa nova, para Villa e Jobim.
Mas, de alguma forma, terá que ser mostrado ao mundo a cara do Brasil,
nosso modo de ser afetivo, descolado, colocando para desfilar, de braços dados,
descendentes de árabes e judeus, de chineses e japoneses, de russos e
americanos.
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Visão do alto
O projeto AfroReggae completa 20 anos de ações para afastar
a favela da criminalidade e do tráfico
Bloco AfroReggae durante o aniversário dos 100 anos do
Bondinho do Pão de Açucar, em outubro de 2012. CORREIO BSB 18.02
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Ele sabia que não seria mais um. “Eu não conseguia ser. Não conseguia me
adaptar ao mundo. Sempre tive medo de botar a camisa por dentro das calças, ser
obrigado a usar cinto e ter uma vida normal”, é o que diz José Júnior, um dos
fundadores e coordenador geral do AfroReggae, ONG modelo no Brasil e no
exterior, que há 20 anos se dedica a afastar jovens e adultos da criminalidade
e do tráfico, por meio da arte, cidadania e educação.
Caminhar pelas favelas lhe deu uma visão do alto. Hoje — de bermudas e
camiseta —, José Júnior transita com autoridade de herói social, ao lado de fãs
e parceiros ilustres do AfroReggae: Madonna, Rolling Stones (com quem tocaram
na praia de Copacabana), David Byrne e Spike Lee são apenas alguns. Também Caetano
Veloso e Regina Casé, apresentados pelo poeta, mestre e guru Waly Salomão,
quando tudo ainda era começo. “E um cara que mudou a nossa vida e a gente a
dele, que é o Luciano Huck. Fazemos 10 anos de parceria. Nossa relação é rara,
a gente se vê três ou quatro vezes por semana”, detalha o coordenador.
Maestro do time que decidiu entrar em Vigário Geral, uma das favelas mais
perigosas do Rio, José Júnior chegou decidido a transformar a imagem e a
realidade da chacina que matou 21 moradores inocentes, após ação de 30
policiais. No dia 1° de junho de 1994, a favela seria tratada de outra forma.
Em lugar do medo, instalaram-se as primeiras oficinas da ONG: percussão, dança
afro e reciclagem de lixo, dando vida ao primeiro Núcleo de Cultura do
AfroReggae.
No dia a dia, 350 profissionais trabalham dentro do complexo social e
integram a corrente que, até ano passado, acumulou 75 projetos calcados em
arte, educação e cidadania, a exemplo dos grupos artísticos AR21, Afro Circo,
Afro Reggae, Afro Samba, Párvati, Trupe de Teatro, Orquestra AfroReggae e Bloco
AfroReggae, que puxou mais de 800 mil foliões pelas avenidas mais disputadas do
carnaval carioca. Atualmente condensado em 30 projetos, com orçamento anual de
R$ 20 milhões e marca associada a duas empresas e uma Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público (Oscip), o AfroReggae profissionaliza e reinsere
jovens e adultos no mercado de trabalho, além da agir intensivamente na
mediação de conflitos por meio de projetos de arte e cultura.
Histórico de sucesso
De barraco a Centro Cultural AfroReggae Vigário Legal — inaugurado em 1997
com Tony Garrido, Falcão (O Rappa) e Cidade Negra —, a ONG acumula vitórias:
criou o primeiro espetáculo e CD, o Nova cara; entrou em turnê europeia
visitando mais de 20 cidades; criou o Conexões, circuito de shows gratuitos em
favelas, com a mesma estrutura e artistas da zona sul (Marisa Monte, Gilberto
Gil, Titãs e dezenas de outros).
“A gente sempre quis trabalhar com jovens em situação de crime, ligados ao
tráfico. Fugimos do grande frisson da época, que era lidar com meninos de rua e
era onde existia financiamento”, lembra José Júnior, que sob sua batuta
articulada e sua intuição, impulsionou a construção da primeira sede em 1996,
após encontrar Luis Inácio Lula da Silva e entender que precisava de um lugar
para chamar de nosso.
No calendário de ações e lançamentos, o AfroReggae comemora a inauguração
do escritório de representação da ONG em São Paulo, primeiro fora do Rio, além
da parceria com o clube paulista de futebol Corinthians, para criar uma
academia de MMA no Complexo do Alemão. Na segunda quinzena de março, estreiam
no GNT a série Mulher de bandido, com histórias reais de ex-primeiras damas do
tráfico e, finalmente, encontram espaço para celebrar 20 anos de história com
final feliz: milhares de jovens longe do crime e mais perto de uma vida melhor.
A gente sempre quis trabalhar com jovens em situação de crime, ligados ao
tráfico. Fugimos do grande frisson da época, que era lidar com meninos de rua e
era onde existia financiamento
José Júnior, coordenador do AfroReggae
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Literatura
Peripécias de sírio que filmou Lampião são tema de
‘Benjamin Abrahão’
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Livro: Benjamin Abrahão – Entre Anjos e Cangaceiros
Autor: Frederico Pernambucano de Mello
Editora: Escrituras
Páginas: 320
Quanto: R$ 45
FOLHA SP 17.02
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O livro Benjamin Abrahão – Entre Anjos e Cangaceiros é resultado de uma
longa obsessão do historiador recifense Frederico Pernambucano de Mello, 65.
Desde os anos 1970 ele investiga sistematicamente a vida do aventureiro árabe
Benjamin Abrahão (1901-1938). “É uma espécie de cachaça de pesquisador”,
brinca.
Não é difícil entender o vício, ainda hoje sem sinais de ressaca. Embora
não seja dos personagens mais conhecidos, Abrahão teve ligação direta com dois
dos maiores mitos nordestinos do século 20: padre Cícero e Lampião. Repleta de
momentos audaciosos e de verdadeiras tragédias, a vida dele daria água na boca
de qualquer biógrafo.
Ele desembarcou no Recife em 1915, ainda garoto, fugindo do alistamento
militar obrigatório e da crise econômica em seu país, a Síria. Tinha em
Pernambuco uns parentes, dedicados ao comércio. Dois anos depois, impressionou
o padre Cícero, ao mentir que nascera em “Belém, na terra de Jesus”, e foi seu
secretário em Juazeiro do Norte (CE). Após a morte do mítico sacerdote em 1934,
dedicou-se então ao mais ambicioso de seus planos: filmar e fotografar Lampião
e seu bando. A vida de Abrahão teve um fim abrupto em 1938, aos 37, quando foi
assassinado com 42 facadas no sertão de Pernambuco. O crime nunca foi
totalmente esclarecido.
A relação entre o sírio e o rei do cangaço foi tema do filme Baile
Perfumado (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, do qual Mello foi
consultor. “Abrahão foi um aventureiro. Era um homem repleto de falhas, de
poucos escrúpulos. Se fosse um herói não despertaria o meu interesse”, conta.
Um dos lendários golpes de Abrahão ocorreu em 1929. Para reforçar o
faturamento de seu armazém, espalhou aos quatro cantos que o padre Cícero daria
sua última bênção aos romeiros. A cidade foi invadida por fiéis, recepcionados
pelo fiel secretário do padre e seu estoque de santinhos, escapulários e
terços.
Isso, porém, era quase nada perto do que ele esperava faturar com Lampião,
celebridade internacional nos anos 1930. Abrahão acompanhou o bando em meados
de 1936, quando registrou, em fotos e filmes, a mais completa iconografia da
história do cangaço. “Os filmes têm uma riqueza extraordinária. A sorte dele
foi que Lampião era muito vaidoso, gostava de ser exibir”, conta o historiador.
Mas pouco depois um revés afastou a chance de fortuna. O governo Getúlio
Vargas apreendeu o material em 1937, por “atentar contra os créditos da
nacionalidade”. O filme só voltou a circular em 1954, após a morte de Getúlio.
O material está hoje na Cinemateca Brasileira.
Durante suas pesquisas, Mello adquiriu o equipamento de filmagem e uma
caderneta, escrita em árabe, em que Abrahão detalhava o convívio com os
cangaceiros. Um dado em especial aplacou outra obsessão de Mello e de tantos
outros historiadores --descobrir a real altura de Lampião. O rei do cangaço
podia ser o gigante do sertão, mas, segundo o cinegrafista, não media mais do
que 1,74 m.
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