quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
LANçAMENTO »A poética fluída de O
livro de água
Silvana Rezende e Karina Rabinovitz
fazem poesia para ver, imagens para ler.
CORREIO BSB 14.02
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As páginas de O livro de água escorrem
pelas mãos como um fluído. São poemas visuais. Talvez, “floemas”, como Karina
Rabinovitz escreve em uma das folhas fluídas, soltas e flutuantes que compõem a
obra feita em parceria com a artista visual Silvana Rezende. Juntas, as duas
criadoras desenvolvem trabalhos que extravasam os suportes tradicionais,
misturando a linguagem poética da escrita com intervenções urbanas, como a
Caixinha com bilhetes poéticos, instalada em pontos de ônibus de Salvador, e
Poesia atravessada (na garganta da cidade), poemas em faixas de pedestres.
O livro de água sucede o delicado
projeto Poesinha em caixinha de fósforos (2012), todo artesanal e confeccionado
um a um. A nova obra da dupla de criadoras segue o formato do livro-objeto e expande-se
para uma exposição, em cartaz até 17 de março, no Museu de Arte Moderna da
Bahia (MAM). “As palavras e as imagens se conjugam: palavras atravessadas por
imagens, atravessadas por palavras. A isso se propõem as artistas; promover uma
experiência renovadora, contemplativa, onde as palavra e as imagens alçam voo”,
avalia a artista e curadora Stella Carrozzo.
São 88 poemas em páginas soltas,
escritos à mão e oito páginas com imagens de videoarte. Os poemas foram
fotografados, em papéis e lugares diversos, numa trajetória por ilhas,
experimentos, pesquisas e muitas trilhas. “O livro e a exposição são a mesma
coisa, em espaços diferentes. A proposta é ver poemas, ler imagens, manusear
páginas soltas de um livro, que se refaz ao contato físico e, com isso,
observar a composição de diferentes expressões artísticas utilizadas para criar
as obras”, destaca Karina.
É difícil dissociar o poema escrito das
cores e tipos impressos no papel. Sem rigor geométrico e formal, a poética
escorre por essa interface de encontro entre as sensibilidades de Karina
Rabinovitz e Silvana Rezende. “O que quero são essas insignificâncias/ E
aprender a fazer de ruínas, rudimento” é um poema que surge em letra tremida,
como se estivesse boiando numa corrente em vazão. “Água e poesia se fazem mais
que necessárias. São partes da vida, e as realocações, as captações, os
movimentos e cores, os mistérios, a ludicidade compõem esse livro de água
expandido, derramado e transparente”, escreve Milena Britto, professora de
literatura da Universidade Federal da Bahia, sobre o trabalho de Karina
Rabinovitz e Silvana Rezende, duas criadoras baianas que merecem a atenção do
país.
O LIVRO DE ÁGUA
De Karina Rabinovitz e Silvana Rezende,
88 páginas. Informações: karina.rabinovitz@gmail.com ou www.karinarabinovitz.blogspot.com.
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LITERATURA » Cada poema é um mundo
Mariana Ianelli lança O amor e
depois, sétimo livro de poesia
É preciso fé para escrever um poema.
Tal qual no sacerdócio, se não houver a crença no intangível, todo o resto fica
comprometido. E não há nada mais intangível que as palavras quando usadas para
traduzir o sentir. CORREIO BSB 14.02
-
É um pouco assim que se deve chegar a O
amor e depois, o sétimo livro de Mariana Ianelli, 33 anos e certamente um dos
expoentes da jovem poesia paulistana. Neta do pintor Arcângelo Ianelli, mestre
em literatura, crítica literária e duas vezes finalista do Prêmio Jabuti,
Mariana faz da poesia um instrumento de compreensão do mundo e do humano, mas
se engana quem estiver em busca do óbvio.
A poetisa não é moderna, não tem medo
de falar de sensações e não é direta. “Depois da b ruma que seduz o erro/Depois
da grande decepção e do escrúpulo/Mesmo que te doendo como um animal/Perdido,
arremessado no vazio de um campo,” escreve. Nem sempre o tema do poema se
apresenta e, assim como a autora durante o processo da escrita, o leitor
precisa de fé para mergulhar no universo subjetivo. Se os versos não revelam de
imediato, eles fisgam pela delicadeza. “Acho que todo escritor, todo poeta,
para escrever, antes lê as coisas ao seu redor. O que depois aparece para a
crítica como tema, motivo poético ou característica marcante de um livro nem
sempre são aspectos que moveram o autor ou que ele teve a intenção de
priorizar”, explica Mariana. “Vejo, por exemplo, leituras de O amor e depois
mencionando o tema do amor, o que para mim não deixa de ser intrigante, porque,
na verdade, à parte o poema-título, o amor não está presente ali senão como um
consentimento maior, algo ligado a um sentido de esperança diante das coisas
destruídas, dev astadas, aparentemente extintas.”
Episódios bíblicos
Para ela, cada poema traz um mundo, daí
a dificuldade de eleger temas. Mas Mariana reconhece que se deixou mover por
algumas ideias, imagens e sentimentos. As paisagens da Patagônia, os diários de
Etty Hillesim, certos episódios bíblicos e o fato de ter acompanhado o fim de
uma geração com a morte dos avós e tios-avós estimularam o movimento lírico da
autora. A poesia tem seus mistérios, e Mariana aceita o fato, mas não sem
alguma dor. Para ela, escrever é um trabalho difícil, minucioso, de muita
paciência e atenção. Planejamentos e prazos não entram no processo criativo e,
às vezes, isso complica a vida real. “Muitas vezes, vamos por um caminho e só
quando nos perdemos é que o poema se mostra. Empenho o melhor do meu tempo
nesse trabalho, não importa se o fruto disso será descartado depois, porque faz
parte da escrita, da honestidade de quem escreve, sabe r descartar e admitir
que nem sempre estamos à altura da poesia, ou seja, dessa força que ultrapassa
o literário, que nos transporta, que nos coloca no lugar do surpreendente, do
comovente, do inefável”, garante.
Neta de um pintor que ajudou a
construir a história da abstração geométrica no Brasil, Mariana sempre se
alimentou de imagens para construir seus versos. Os interiores do ateliê do
avô, as memórias de pinturas e os escritos críticos de Arcângelo Ianelli
ecoaram vibrações que aparecem em poemas como Katia e seus brinquedos, Fazer
silêncio e Vibrações. “Os pés descalços na claridade líquida/De um jardim em
chão de mosaico”, escreve Mariana, que também adotou a crítica literária como
espaço de trânsito entre a poesia e a reflexão. Agora, ela se aventura pela
crônica, gênero que pratica desde 2010 no site Vida breve. O livro deve sair em
abril próximo. A crônica é uma paixão recente, mas a poesia é antiga. Mariana
pub licou o primeiro livro, Trajetória de antes, em 1999 .
Na época, não havia tantos blogs,
concursos e eventos literários destinados à poesia como hoje. As redes, a
poetisa avalia, trouxeram um ar de coletividade para um processo geralmente
condenado à solidão e fortaleceram relações motivadas exclusivamente pelo fazer
poético. “E eu me vejo nesse espaço de silêncio, em que o livro deve falar
sempre mais e melhor do que a minha pessoa, e me vejo nesse outro tempo, de um
caminho lento, de descobertas que continuam sendo para mim tão genuínas como
foram há 14 anos.”
Trecho
Como quem pesca
Esperar ainda é pouco.
Mais é esperar como quem pesca
Absorto entre dois céus —
Um barco fadado às trevas,
Feito para ser levado ao fundo
E o mar, desmesurado, não leva…
Serena e soberana fera
Que vem lamber as mãos de um homem
P or um instante e por obséquio.
O amor e depois
De Mariana Ianelli. Iluminuras, 112
páginas. R$ 38.
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Livro revelou intrigas e complôs dentro do Vaticano
O escândalo que ficou conhecido como
"Vatileaks" (numa referência ao WikiLeaks) emergiu em janeiro de
2012, quando a rede de TV italiana A7 divulgou cartas enviadas pelo atual
núncio nos EUA, Carlo María Viganò, a Bento 16, nas quais denunciava
"corrupção, prevaricação e má gestão" na administração vaticana.
Em maio, centenas de novos documentos
secretos vieram à tona com a publicação do livro "Sua Santidade - As
Cartas Secretas de Bento 16", do jornalista Gianluigi Nuzzi, mostrando
complôs e intrigas na Santa Sé. FOLHA SP 14.02
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Alguns documentos mostram confrontos
travados sobre o problema do Banco do Vaticano em cumprir normas internacionais
de transparência. O presidente do banco, Ettore Gotti Tedeschi, foi retirado do
posto.
As acusações de vazamento dos
documentos recaíram principalmente sobre o mordomo de Bento 16, Paolo Gabriele.
Ele confessou o roubo de documentos, justificando que "queria provocar um
choque para colocar a igreja no bom caminho".
O mordomo foi condenado a 18 meses de
prisão, mas em dezembro o papa foi pessoalmente anunciar seu indulto. Banido do
Vaticano, começou ontem a trabalhar num hospital infantil.
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A chegada dos novos tempos
Há uma frase fundamental de Abraham
Lincoln: “Nada é mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”.
Vale para o Brasil de hoje, para a
política e para a economia.
Democracia é o ambiente mais
favorável às políticas de inclusão, ao acesso dos diversos grupos aos
benefícios da cidadania. São processos lentos, porém irreversíveis. E foi assim
com o Brasil, depois de um século 20 amplamente dominado por regimes
autoritários ou modelos políticos anacrônicos e excludentes.
Coluna Econômica de Luis Nassif - 12/02/2013
Blog: www.luisnassif.com.br
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A transição custou caro ao país.
Perdeu-se o rumo nos anos 80, a economia foi vítima de uma inflação renitente,
nos anos 90 a carência de informações permitiu uma gigantesca transferência de
recursos da economia real e das políticas sociais para juros.
Mas, aos trancos e barrancos, foi-se
firmando o rumo para a estabilidade política e para a consolidação de novos
valores democráticos. A política brasileira caminha para se encontrar no
centro.
***
No plano das eleições presidenciais,
por exemplo, o jogo encaminha-se para três personagens forjados na democracia:
Dilma Rousseff, pleiteando a reeleição; Aécio Neves, como candidato do PSDB; e
Eduardo Campos, como candidato do PSB.
Dos três, o único a radicalizar o
discurso tem sido Aécio, muito mais por pressão da mídia do eixo Rio-São Paulo
– e dos maus conselhos de FHC – do que por vocação própria. Quando cair em si e
voltar a ser Aécio, poderá aspirar a recuperar o espaço perdido para Eduardo
Campos.
Os três candidatos empunham bandeiras
de gestão e praticam uma política de alianças e coalizão partidária.
O candidato que representava o
obscurantismo mais atroz – José Serra – já faz parte de um passado que,
espera-se, não volte mais.
***
Seja no estado de São Paulo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará, Sergipe e na União, governantes de
todos os partidos já aderem a um conjunto de novos valores políticos altamente
democráticos:
1.
O primado da gestão para controle dos atos de Estado. Esse modelo será
aprofundado com a Lei da Transparência.
2.
Políticas sociais inclusivas. Recorde-se que, no choque de gestão de
Minas, a ponta mais vulnerável era a questão social. O mesmo ocorria em São
Paulo. A consagração de políticas como o Bolsa Família mostrou que o
atendimento das demandas dos mais pobres é ponto central de legitimação das
políticas públicas.
3.
As parcerias Eduardo Campos-Lula, em Pernambuco, Anastasia-Dilma, em
Minas, Alckmin-Haddad-Dilma, em São Paulo, enterra o clima de ódio que marcou a
política brasileira pós-redemocratização, polarizada entre o PSDB e o PT
paulistas, os dois principais agentes da política nacional.
4.
Cooperação federativa. Hoje em dia há uma boa estruturação de
associações de secretários estaduais das diversas áreas, associação de
municípios, conferências nacionais, permitindo troca de experiências e aprofundamento
do modelo federativo.
Anos atrás, o PT era conhecido por sua
intransigência, incapacidade de montar alianças ou abrir mão de poder nos
locais em que governava. Na presidência, Lula – e, agora, Dilma – montaram um
governo mais amplo do que o partido, consolidando um espaço socialdemocrata que
ficou vago quando FHC afastou o partido das ruas.
***
No PSDB, governantes totalmente
infensos a qualquer política de alianças e de distribuição de poder, ouvindo a
sociedade civil – como Geraldo Alckmin –
começam a rever posição.
A nova mídia - 1
Ponto central dessas mudanças é o
crescimento da Internet e dos diversos polos de irradiação de opinião. A
democracia se acelera quando os diversos grupos de interesse têm acesso aos
mesmos meios de disseminação das suas bandeiras. No pós-redemocratização, o
jogo político foi dominado pela presença avassaladora das mídias paulista e
carioca pautando as políticas públicas e definindo um conjunto restrito de
atores.
A nova mídia – 2
Nesse jogo, apenas o mercado financeiro
tinha voz permanente. Nem industriais, nem ruralistas, muito menos movimentos
sociais, estados fora do eixo, tinham voz. Temas centrais de modernização –
como inovação, gestão, políticas de segurança – passaram ao largo das grandes
discussões midiáticas. E criaram-se imagens totalmente dissociadas da
realidade, como a de um José Serra gestor competente.
A nova mídia – 3
A Internet passa a ser a mesma
plataforma por onda transitam tanto as informações dos grandes grupos como dos
blogs mais distantes. Mas um bom argumento tem condições de se espalhar através
de redes sociais, permitindo o surgimento de novos veículos fazendo o
contraponto. Muitos se assustam com o caos atual da Internet, com milhares de
informações circulando, grupos se digladiando.
A nova mídia – 4
Os cientistas sociais sustentam que o
excesso de manifestações políticas, longe de prenunciar o caos, na verdade
ampliam a democracia, ao permitir um debate mais rico e com mais personagens. O
mesmo acontecerá com a Internet. A grande quantidade de informações permite o
aparecimento de novos veículos, cujo diferencial será o de agregar as
informações existentes e fomentar a participação dos leitores.
A nova mídia – 5
Hoje em dia, um fato só se torna
notícia depois que um jornalista entrevista um personagem e escreve ao seu
modo. Nesse modelo de produção, o jornal (e o jornalista) são não apenas os
intermediários, mas os donos da informação. Eles podem selecionar quais informações
dar, quais as que jogará fora, quais aqueles que irá valorizar. No novo tempo,
as informações serão construídas colaborativamente.
A nova mídia – 6
Grupos especializados montarão suas
redes, para discussões amplas; governos, empresas, ONGs, associações, se
prepararão para gerar suas próprias notícias. Não haverá mais a necessidade de
se ouvir uma fonte e colocar uma declaração em aspas – muitas vezes fora do
contexto – para levantar a opinião de uma empresa sobre determinado tema. A
posição estará em notícias publicadas em seus próprios sites.
Blog: www.luisnassif.com.br
)))))))))))))))
Editorial F.S.P.: Passo a passo
É positiva a disposição do governo
federal de rever os critérios para a concessão ao setor privado de projetos
para modernizar a combalida infraestrutura nacional. FOLHA SP 14.02.13
-
O desafio, porém, continua gigantesco.
Segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib),
o país necessitava de R$ 922 bilhões em investimentos entre 2011 e 2015.
Desse total, R$ 424,5 bilhões estão
relacionados com o setor de petróleo e gás, e o restante, com transportes,
logística, energia, telecomunicações e saneamento. O primeiro passo para
atingir tais marcas parece ter sido dado: afrouxar as amarras ideológicas que
impediam o governo do PT de encetar parcerias efetivas com empresas.
Já houve concessões anteriores, sempre
propagandeadas como algo diverso das privatizações tucanas. No segundo mandato
do presidente Lula, algumas rodovias foram licitadas sob a premissa central de
pedágio barato. A realidade se mostrou implacável: maus projetos, baixa
rentabilidade e ineficiência de órgãos públicos inviabilizaram os
investimentos.
Em 2012 anunciou-se um pacote de
concessões de rodovias e ferrovias. Mas a atitude autossuficiente de fixar
taxas de retorno em nível abaixo do necessário, de 5% a 6% ao ano, mostrou que
o viés ideológico seguia atuante.
Vencido pelo pragmatismo eleitoreiro
-em 2014 a presidente Dilma Rousseff precisará ter algo de positivo a mostrar
no campo dos investimentos-, o Planalto agora proclama aceitar taxas de retorno
entre 10% e 15%, nível mais próximo do padrão internacional. Mas isso só poderá
ser conferido quando novos editais forem divulgados.
A reação inicial dos investidores foi
favorável, pois houve avanço real. É discutível, contudo, se ele terá sido
suficiente para reacender o ânimo empresarial e acelerar os investimentos, pois
não faltam obstáculos institucionais para concretizar as melhores intenções.
O primeiro deles é a má qualidade dos
projetos, que só agora começa a ser enfrentada, com a esperada coordenação dos
trabalhos pela recém-criada Empresa de Planejamento e Logística.
Alinhar os vários órgãos públicos
envolvidos é crucial para evitar atrasos, pois são muitas as etapas a vencer
-licenças ambientais, requisitos das agências reguladoras de cada setor,
análises do Tribunal de Contas da União.
Há a expectativa de que as novas
medidas intensifiquem o investimento nos próximos anos. Para isso, também será
fundamental manter a estabilidade econômica, com controle inflacionário, juros
baixos e austeridade fiscal.
Nessa seara, o governo tem sido no
mínimo ineficiente. Sua gestão errática da economia turva a perspectiva do
empresário com uma nuvem de incertezas que há muito deveria estar dissipada no
Brasil.
-
Ives Gandra da Silva Martins: Bento 16
Bento 16, em gesto de profun- da
humildade e desapego, renunciou ao pontificado, sentindo que suas forças
físicas não lhe permitiam mais conduzir a Santa Sé. Desprendido que sempre foi
das coisas terrenas, julgou ser melhor para a igreja que um novo pontífice seja
escolhido. FOLHA SP 14.02.13
Ao contrário do poder humano, que quem
o detém luta para nunca perdê-lo, o poder na Igreja Católica é só o de servir,
o que impõe a quem esteja no lugar de Pedro a disponibilidade total, porque o
poder não é um bônus, mas um ônus, carregado de responsabilidade e dedicação.
Bento 16 talvez tenha sido, em 2.000
anos de história da igreja, o pontífice mais culto e o que mais escreveu. Sua
obra é mais variada e mais abrangente que a de todos os demais pontífices.
Filósofo, teólogo e humanista, foi profundo e persuasivo em todos os seus
escritos.
Não sem razão, ainda cardeal, foi
eleito como um dos dois únicos sacerdotes da Academia de Ciências do Vaticano
--à época em que o brasileiro Crodowaldo Pavan era um dos 80 membros do
sodalício--, que contava também com 29 Prêmios Nobel entre os seus acadêmicos.
Suas encíclicas, todas elas, sem exceção, mostram o perfeito conhecimento de
todos os problemas da realidade mundial a partir do homem, apresentando sábias
soluções e exortando os homens de boa-fé a procurarem os verdadeiros e
permanentes valores da humanidade.
Após o papado de um pontífice da
exuberância e da fantástica capacidade de comunicação que foi o de João Paulo
2º, o mundo conheceu a reflexão e o aprofundamento na atualidade da mensagem da
Igreja Católica graças ao humanismo e à santidade de Bento 16.
Passou-se da expansão da obra do
pontífice anterior à consolidação da modernidade da mensagem católica pregada
em todos os espaços. João Paulo 2º lançou um novo estilo de abraçar o mundo
inteiro com sua presença e seu carisma. Bento 16 consolidou tal abraço
universal, com a clareza de suas lições, reflexões e evangelização, atingindo a
todas as classes sociais, como vimos no Brasil, em 2007, e nas diversas
Jornadas Mundiais da Juventude, a que milhões de jovens compareceram para
ouvi-lo.
Prova dessas meditações é o seu
excepcional livro sobre Cristo (em três volumes). Ao descrever Sua vida narrada
pelos quatro Evangelhos, descobre e desvenda facetas novas e surpreendentes de
Seu magistério, em demonstração de que, apesar de decorridos mais de 2.000 anos
desde a fundação da igreja, há sempre muito a descobrir.
É interessante notar que, depois que a
Igreja Católica Apostólica Romana perdeu os Estados Pontifícios, quando do
pontificado de Pio 9º, foi então que sua força espiritual tornou-se mais
intensa e todos os papas que o sucederam, sem exceção, marcaram a história da
humanidade com a força das suas encíclicas e de suas lições. Leão 13, por
exemplo, com a "Rerum Novarum", promoveu a verdadeira revolução
social, sem ódios, nem rancores.
Bento 16 deixa um fantástico legado de
escritos serenos, tendo sempre sabido enfrentar, com prudência e sabedoria, os
humanos problemas que todas as instituições enfrentam, respondendo, com
serenidade, a críticas e ataques e estimulando a santidade da esmagadora
maioria dos sacerdotes, em todas as nações.
O gesto de renúncia mostra quão sábia
foi a sua eleição pelo Colégio Cardinalício, pois exibe para o mundo o que deve
ser o vice-Cristo na Terra: condutor de almas e de homens, com desprendimento e
amor, ação e oração. E esse legado, no gesto de profunda humildade, servirá,
inclusive, de orientação para os 118 cardeais a quem caberá, sob a inspiração
do Espírito Santo, a responsabilidade de escolher o novo pontífice. Sem saber
quem será, sei apenas que conduzirá santamente a igreja de Cristo.
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 77,
advogado, é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra
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