segunda-feira, 2 de julho de 2012
A falta que fazem os políticos
cultos. Hélio
Rocha é jornalista e escritor e colunista do POPULAR. O POPULAR 29.06
-
‘Quando morreu, em agosto de 1990, o político
Afonso Arinos (foi ele deputado, senador e ministro das Relações Exteriores), o
Jornal do Brasil publicou um artigo sobre ele de autoria do jornalista Heráclio
Salles, que tinha notável texto. Um trecho do artigo: “O mais
representativamente alteado na paisagem geral do Brasil, como José Bonifácio,
no primeiro Império, Joaquim Nabuco, no segundo, e Rui Barbosa, na primeira
República, e tal título cabe a homens raros, como Afonso Arinos.”
A comparação de Salles mostra a dimensão política e
cultural de Afonso Arinos (1905-1990), que se destacou tanto exercendo mandatos
em uma época em que os quadros políticos do Brasil acolhiam homens cultos em
considerável quantidade, ao contrário de hoje, em que são raros. Afonso Arinos
foi um grande tribuno, num período em que a política brasileira tinha bons
oradores, que hoje também fazem parte da raridade. Escreveu obras jurídicas,
políticas, históricas e um excepcional perfil de Roma, cujo título é uma
anagrama perfeito: Amor a Roma.
Afonso Arinos deixou também uma lei importante,
contra a discriminação racial no Brasil, brilhou em missões no exterior e as
suas qualificações culturais o projetam como modelo e exemplo.
É preciso ser culto para ser político? A rigor não,
mas os cultos têm a visão melhor, são respeitosos em relação aos compromissos
com a ética, compreendem melhor as expectativas do cidadão. É pena que não se
possa contar hoje com políticos cultos como no tempo de Afonso Arinos, quando
também dois homens dotados de boa cultura foram presidentes, Getúlio Vargas e
Juscelino Kubitschek. Vargas foi eleito para a Academia Brasileira de Letras,
Juscelino Kubitschek integrou a Academia Mineira de Letras e foi candidato à Academia
Brasileira de Letras, perdendo para o goiano Bernardo Élis, à cuja posse
compareceu, sendo muito aplaudido pelos presentes à cerimônia.
Em Goiás, que teve na época governadores cultos
como Pedro Ludovico, que dominava muito bem o idioma francês, e Coimbra Bueno,
o melhor dos exemplos foi Alfredo Nasser, notável orador e que elaborava
excelentes artigos para os jornais.
Entre os políticos desse tempo incluíram-se até
escritores, como Dario Cardoso, Francisco de Britto, Waldir de Castro Quinta e
Celestino Filho, todos estes integrantes da Academia Goiana de Letras.
Fazem falta também, atualmente, políticos com o dom
da oratória. E hoje eles teriam até alcance muito maior, pois o Senado, a
Câmara dos Deputados e as Assembleias Legislativas dos Estados contam com
equipamento para transmissão das sessões para TV. Bons oradores levariam
vantagem sobre os outros no horário de propaganda, pela mídia eletrônica, das
campanhas eleitorais.
Políticos cultos iriam influenciar os organismos
político-administrativos e o Parlamento no sentido de maior apoio à cultura e à
educação, de modo geral, contribuindo assim para substanciais avanços nessas
áreas. Seriam, portanto, sob todos os aspectos, bem-vindos à cena política.
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O novo Código Penal e o
enriquecimento ilícito. O POPULAR 29.06
-
A Comissão do Senado de Reforma do Código Penal
ateve-se à necessidade de dar cumprimento a tratados e convenções
internacionais firmados pelo Brasil, seja prevendo expressamente direitos, como
o das celas individuais para o cumprimento das penas privativas de liberdade,
seja criminalizando comportamentos, como o enriquecimento ilícito. Especial
destaque merece a previsão de título próprio, no Código Penal, para incluir os
crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes contra os direitos
humanos, dando tipificação interna às condutas sujeitas à competência do
Tribunal Penal Internacional, objeto do Tratado de Roma.
Não obstante os brilhantes trabalhos, um merece
especial relevo: tornou-se crime um servidor público ter patrimônio que não
seja direta e objetivamente compatível com sua renda. Se isso ocorre, ou seja,
um servidor público aparenta possuir bens cuja aquisição não se compatibiliza
com seus ganhos (públicos), presume-se que tais são fruto de crime, corrupção,
prevaricação, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, peculato, advocacia
administrativa, etc.
Não se permite sequer a dúvida; ser o servidor um
empresário nas hipóteses permitidas, ser herdeiro, estar usufruindo de bens
financiados ou alguma outra hipótese qualquer que divirja da presunção de
cometimento de crime.
A despeito de ter sido aprovada, por maioria, essa
redação no pré-projeto encaminhado ao Senado, vale destaque recente decisão
proferida pelo Tribunal Constitucional Portugal (Acórdão 179/2012, relator
conselheiro José da Cunha Barbosa), em que aquela Corte analisou idêntica
proposição legislativa, culminando por declará-la inconstitucional por vários
motivos.
Dentre os motivos elencados para retirá-la do mundo
jurídico português, encontram-se a presunção de inocência, direito ao silêncio,
recusar a colaborar na sua incriminação, preceitos esses escritos na
Constituição portuguesa e na Convenção Europeia de Direitos Humanos.
No Brasil, há preceitos semelhantes na Constituição
Federal, na Convenção Americana de Direitos Humanos e no Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos, que certamente deverão ser analisados pelo
Judiciário caso seja, de fato, essa sugestão legal aprovada e sancionada.
É indiscutível que todos pretendemos evitar a
ocorrência de desvio de função dos servidores públicos, mas é também interesse
geral e para o futuro que respeitemos os direitos fundamentais de cada cidadão,
qualquer seja ele.
Pedro Paulo Guerra de Medeiros é advogado
criminalista, colaborador da Comissão de Juristas do Senado para Reforma do
Código Penal, conselheiro e corregedor-adjunto da OAB-GO
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O mundo e a prosa de Cora
Estórias da Casa Velha da Ponte, obra indicada ao
Vestibular da UEG, retrata imaginário de Cora Coralina e uma boa forma de
entendê-lo é visitar o museu que foi sua casa e inspirou seus contos. O POPULAR/GO 30.06
-
Cora Coralina: livro adotado no vestibular da UEG
Em época de Festival Internacional de Video e
Cinema Ambiental, a moradora mais famosa que a cidade de Goiás já teve costuma
ficar ainda mais em evidência. Cora Coralina é uma das grandes atrações dos
turistas que visitam a antiga Vila Boa, Patrimônio Cultural da Humanidade, e
sua antiga residência, a casa velha da ponte, é o museu mais procurado por quem
chega à cidade para passear. Lá, as pessoas encontram um ambiente intocado, da
mesma forma como sua antiga ocupante deixou ao morrer, em 1985. Os objetos
pessoais da escritora, seus potes de doce, seus versos estão espalhados por
todos os recintos do imóvel. Para quem vai prestar o próximo vestibular da
Universidade Estadual de Goiás (UEG), uma visita à casa da autora pode também
ser muito útil.
Entre as obras literárias indicadas pela
instituição, está o livro Estórias da Casa Velha da Ponte, livro de contos que
Cora homenageia o lugar em que nasceu e que inspirou seus primeiros escritos. A
obra, publicada pela Global Editora, reúne 18 narrativas breves, em que o
talento de prosadora da poetisa mais famosa do Centro-Oeste se revela em um
estilo com humor, permeado de uma sabedoria da terra. São causos em que a
autora mescla uma ludicidade muito própria, recordando antigas conversas de
gente que já não existe mais, de ditados populares que se mostram certeiros,
das fartas histórias e lendas da antiga capital. A tradição oral é valorizada
como matéria-prima principal deste livro, que pode ser considerado um trabalho
afetivo de Cora.
Estórias da Casa Velha da Ponte foi publicado
postumamente, no ano da morte da escritora, mas ele vinha sendo feito desde sua
juventude. Cora Coralina, em várias ocasiões, se mostrou receosa em divulgar todo
o seu trabalho. Os pesquisadores que se debruçaram sobre seu legado encontraram
versos e textos que permaneceram inéditos por muito tempo. Parte dos contos que
estão no livro indicado para o vestibular da UEG foram trabalhados, esquecidos
e retomados pela escritora no decorrer de décadas. Um de seus textos mais
célebres, Tragédia na Roça, veio a público ainda em 1910, quando ela tinha
apenas 21 anos de idade, e foi recebido com certa euforia pela crítica. Foi na
mesma época em que Cora se casou com Cantídio Tolentino e saiu da cidade de
Goiás.
Este momento, em que ela se muda para São Paulo, é
importante para entender sua carreira. Cora, já nas primeiras décadas do século
passado, era tida como uma escritora talentosa e chegou a ser elogiada por
nomes como Monteiro Lobato, recebendo sondagens sobre a possibilidade de
participar da Semana de Arte Moderna de 1922. O casamento, no entanto, a
impediu de investir mais na literatura e seus escritos permaneceram
praticamente desconhecidos até os anos 1970, quando o nome de Cora Coralina
surgiu como um talento bissexto. Interessante notar nesse itinerário é que a
autora narra, em 1910, uma história de cunho regionalista no momento em que
Hugo de Carvalho Ramos, conterrâneo dela da cidade de Goiás, talvez nem pensasse
em lançar seu clássico Tropas e Boiadas, de 1917, um marco dessa estética
literária do interior brasileiro.
Visitar o Museu Casa de Cora, na cidade de Goiás,
é, portanto, uma oportunidade para entender o pioneirismo da autora ao falar do
universo a sua volta, algo que, alguns anos depois, inspiraria Hugo de Carvalho
Ramos, o maior prosador goiano do século 20, referência para escritores como
Bernardo Élis e José J. Veiga. No imóvel estão os cômodos divididos
rusticamente, o grande quintal com variado pomar, a bica d’água que passa
debaixo da residência antes de desaguar no Rio Vermelho que passa pertinho da
janela do quarto, a senzala desativada que um dia abrigou escravos vivendo em
condições insalubres. Toda essa vivência, adicionada à contação de histórias de
parentes e amigos da família, deram a Cora um jeito único de ver a vida e de
reproduzi-la no papel.
Com linguagem simples, mas não simplória, Cora vai
elencando uma série de imagens simbólicas de um tempo e um lugar que ficaram no
passado, em que as coisas e as pessoas pareciam mais simples, brincando com as
maledicências e as qualidades de quem conheceu. É interessante notar ainda que
ela faz questão de homenagear a sua casa e seus moradores, revelando hábitos,
rituais e segredos de sala e cozinha. Nisso, ela expressa cheiros e texturas
especiais, como a fumaça do fogão a lenha, o odor das comidas temperadas e dos
doces ainda quentes, misturando a lembranças de ouvir dizer e de contar.
Estórias da Casa Velha da Ponte é um registro de Goiás, mas também, ainda que
em prosa, da poética que faria de Cora Coralina conhecida em todo o Brasil.
Visitar seu espaço pode ajudar os vestibulandos a compreender melhor como a
obra foi criada e desenvolvida.
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Judiciário
Corregedora defende divulgação de salários. O
POPULAR GO 30.06
-
Brasília – A corregedora do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), ministra Eliana Calmon, defendeu ontem que o Poder Judiciário
siga o exemplo do Executivo e publique imediatamente os salários dos seus
servidores, inclusive dos altos dirigentes, magistrados e ministros. Líder de
uma campanha nacional pela transparência e moralização da Justiça, ela disse
que a divulgação deverá ocorrer em todas as instâncias e alcançando não apenas
o salário principal dos magistrados, mas também “os muitos penduricalhos”.
“A Justiça deve fazer o mesmo (que o Executivo) de
forma imediata”, afirmou a ministra. Ela disse que recebeu ordem expressa do
presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), Ayres Brito, para
operacionalizar o quanto antes a medida. “Ele está absolutamente seguro e não
abre exceção”.
Eliana disse ter recebido apelos de diversos
magistrados e servidores contrários à divulgação e que, por isso, “quase como
advogada do diabo”, levou as ponderações a Ayres Britto, que foi muito claro.
“O ministro está absolutamente convicto de que tem de ser assim”, garantiu.
Alguns magistrados, segundo ela, alegaram razão de segurança, mas ela disse que
a resposta do presidente foi taxativa: “Essa não é uma questão de segurança, a
divulgação é um dever do Judiciário”.
Ela lembrou que a ministra Carmen Lúcia, do STF,
antecipou-se e já divulgou seu contracheque. “E nós (os demais magistrados)
estamos fazendo exatamente o mesmo. Cabe à corregedoria então cumprir as ordens
da presidência”. Ela deu a declaração em entrevista na qual fez um balanço de
suas principais realizações à frente da Corregedoria, cujo mandato termina em
setembro. Ela será substituída pelo ministro Francisco Falcão, do STJ.
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Ensino a distância: Caminhões
viram laboratórios
móveis de cursos técnicos públicos. Uol notícias 28.05
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Manuscrito inédito de Charles
Chaplin é encontrado em filmoteca na Itália
Um manuscrito inédito do ator, cineasta e escritor
britânico Charles Chaplin (1889-1977), que trazia anotações sobre um projeto
inspirado no dançarino Vaslav Nijinsky (1890-1950) e que nunca chegou a ser
realizado, foi encontrado pela Filmoteca da cidade de Bolonha, na Itália. Uol
notícias 28.05
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Descem
As políticas de saúde e educação vão de mal a pior
para 66% e 54% da população, respectivamente. Os ministros Alexandre Padilha
(foto) e Aloizio Mercadante, que comandam as duas pastas, podem ir preparando
as orelhas. COLUNA Luiz Carlos Azedo CORREIO BSB 30.06
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A nova face do poder judiciário
Juíza de de direito do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal, mestre em direito pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), pós-graduada em Teoria da Constituição, Direito do Trabalho e Direito
Civil pela Cesap-UniCEUB, doutoranda em Ciências Jurídicas e Sociais pela
Universidad del Museo Social Argentino CORREIO
BSB 25.06
-
O Poder Judiciário contemporâneo enfrenta a
articulação de um direito positivo, conjuntural, evasivo, transitório, complexo
e contraditório, numa sociedade de conflitos crescentes, envolta na
globalização econômica e, por isso, impõe-se a diversificação do Judiciário
para atender às necessidades de controle da norma positiva. De outro lado,
inúmeras críticas têm sido feitas recentemente à atuação do Poder Judiciário no
Brasil; contudo, carece esse poder de melhores instrumentos de trabalho. A
legislação nacional, além da técnica deficiente, é hoje de produção igualmente
caótica, bem como deficientes são os instrumentos disponíveis ao Judiciário,
porque já não se aceita a verdadeira liturgia do processo, o amor desmedido
pelos ritos, que quase passaram a ter fim em si mesmos.
O Judiciário, nos tempos atuais, não pode se propor
a exercer função apenas jurídica, técnica, secundária, mas deve exercer papel
ativo, inovador da ordem jurídica e social, visto que é chamado a contribuir
para a efetivação dos direitos sociais, procurando dar-lhes sua real densidade
e concretude. O juiz deve estar atento às transformações do mundo moderno, porque,
ao aplicar o direito, não pode desconhecer os aspectos sociais, políticos e
econômicos dos fatos que lhe são submetidos.
Cabe ao juiz exercer a atividade recriadora do
direito através do processo hermenêutico, bem como adaptar as regras jurídicas
às novas e constantes condições da realidade social e, com responsabilidade,
deve buscar as soluções justas aos conflitos, sempre com a observância dos
princípios constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade.
O modelo pós-positivista vigente investe na
juridicidade dos princípios ante a insuficiência da concepção jurídica
normativista-legal diante da dinâmica da realidade social em contínua mutação e
complexidade. Verifica-se que, de um lado, há o direito instituído formalmente
e, de outro, a normatividade que emerge das relações sociais, o que leva à
necessidade de novas condições sociais e teóricas para orientar a cognição do
direito e a atuação de seus operadores.
Nesse contexto, percebe-se a emergência de novos
movimentos sociais e de novos sujeitos de direito neles constituídos, em
decorrência do surgimento de novos conflitos e da ocorrência de um efetivo
pluralismo jurídico. Trata-se de uma crise decorrente do esgotamento dos
fundamentos que atinge todas as instituições sociais, não sendo diferente com
relação à Ciência do Direito e ao Sistema Judiciário, que não podem mais
servir-se do referencial da cultura legalista que os construíram.
Portanto, esse processo oportuniza o espaço de
crítica sobre o próprio pensar e o agir dos juízes e assegura condições para o
debate aberto sobre o direito e a Justiça. Cuida-se de um apelo ao poder
criativo dos juízes e, também, à renovação das instituições para abertura de
novos espaços públicos e condições para o debate e para a construção de novos consensos,
no sentido da plena concretização dos Direitos de Cidadania e do fortalecimento
da cultura de Direitos Humanos.
REFERÊNCIAS
FARIA, José Eduardo. Justiça e conflito: os juízes
em face dos novos movimentos sociais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992.
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. O Judiciário frente
à divisão de poderes: um princípio em decadência? Revista USP, São Paulo, n.
21, p. 12-41, 1994.
GOMES, Luís Flávio. A dimensão da magistratura no
Estado Constitucional e Democrático de Direito: independência judicial,
controle judiciário, legitimação da jurisdição, politização e responsabilidade
do juiz. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997.
SADEK, Maria Tereza; ARANTES, Rogério Bastos. A
crise do Judiciário e a visão dos juízes. Revista USP, São Paulo, n. 21, p.
34-45, 1994.
SANTOS, Boaventura de Sousa; MARQUES, Maria Manuel
Leitão; PEDROSO, João. Os tribunais nas sociedades contemporâneas. Revista
Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 11, n. 30, p. 29-62, fev. 1996.
SOUSA JÚNIOR, José Geraldo. Para uma crítica da
eficácia do direito. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editora, 1984.
VASCONCELOS, Pedro Carlos Bacelar de. Teoria geral
do controlo jurídico do poder público. Lisboa: Cosmos, 1996.
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As situações em que o dano moral
pode ser presumido. www.stj.jus.br 01.07
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Carga tributária
Impostos indiretos poderão ficar visíveis em notas
fiscais. www.senado.gov.br 01.07
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Voz de menina
Atravessando seis décadas com uma performance
impecável, Ângela Maria comemora 83 anos com casas lotadas, álbum recém-lançado
e plateia renovada. CORREIO BSB 01.07
-
Há poses que só uma dama sabe fazer. Quando fica em
pé diante da câmera fotográfica, Ângela Maria estica a coluna vertebral, prende
a respiração, gira os braços à la Carmem Miranda e abre um sorriso
irresistível. Por um instante, parece que não está mais no salão de luxuoso
hotel à beira do lago. É possível imaginá-la no palco, correndo a voz, como uma
menina traquina, a espichar as notas musicais, no tempo e no espaço, e
pronunciar, a perder de vista, a palavra “Babalu”, título de uma de suas
interpretações imortais.
— Quer saber a verdade? Não aguento mais cantar
Babalu.
Por onde Ângela Maria vai é aquela agonia. Todo
mundo quer ouvir Babalu. Se puder, com repeteco no bis. Até nesta entrevista,
havia um fio de esperança de ouvir uma palinha, à capela, daquelas de arrepiar
a espinha.
— Foi uma coisa engraçada essa canção. Estava em
Copacabana quando encontrei, por acaso, o pianista Waldir Calmon, que estava
gravando um disco de 33 rotações. Ali, ele propôs que eu desse uma canjinha em
duas músicas, uma delas era Babalu, que eu conhecia de ouvido. Trouxeram a
letra em espanhol e comecei a ensaiar, com aquele passeio vocal todo. Quando
disse vamos gravar, o maestro riu. Já estava tudo registrado de primeira.
Babalu é só
um capítulo na história da cantora exímia, dona de 115 discos gravados e 60
milhões vendidos. Uma voz que caminhou pelas letras e melodias de mestres da
MPB — de Herivelto Martins a Caetano Veloso, de Ary Barroso a Chico Buarque.
— Não esqueçam Tom e Vinicius. Meu último disco, Eu
voltei, tem Roberto Carlos num repertório maravilhoso, que foi elogiado pela
crítica nacional. Quero gravar um álbum só com canções de Chico Buarque,
Caetano e Gil.
Exigente, Ângela Maria sempre ouve, com cautela, as
composições antes de gravá-las. Gosta de pesquisar a discografia dos antigos e
pescar pérolas esquecidas, deixando o ouvinte surpreso e inebriado com a
regravação. Alguns dos sucessos tiveram tanta identificação que é quase
impossível dissociá-los da voz dela. Gente humilde, de Chico Buarque, é um desses
temas “tão Ângela Maria”.
— Tomei como um hino meu. Essa música fala muito
mais de mim, da minha origem no subúrbio do Rio. A minha mãe tinha uma casa
avarandada, onde cuidava das plantas e dos bichinhos…
Mulher à frente de seu tempo, a Sapoti (quem a
apelidou com o nome do fruto doce e apetitoso foi o presidente Getúlio Vargas)
enfrentou de cabeça erguida uma sociedade conservadora, que sempre esticou o
olho para vigiar as suas relações afetivas e escolhas pessoais. Antes de optar
pela carreira artística, ficou diante da reprovação da família de princípios
evangélicos, que não reconhecia o ofício da filha.
— Diziam que, naquele meio, as pessoas não
prestavam. Não liguei para isso. Se eles não prestam, presto eu. Hoje, ser
cantora é muito fácil. Aliás, nem precisa saber mais cantar. Descobri que
existe uma máquina que corrige a desafinação. A pessoa entra, no estúdio, sem
saber nada e sai cantando.
A vida de Ângela Maria dá um livro. De tão forte,
inspirou o samba-enredo da Rosa de Ouro, que venceu o carnaval de 1994. A
cantora também é mote de documentário em produção pelo Canal Brasil. Hoje, no
palco onde pisa, é reverenciada por várias gerações. Os antigos aparecem, mas
os meninos e as meninas marcam presença bonita na plateia. Vinda da era de ouro
do rádio, na qual foi rainha em 1954 e ajudou a construir, com o dinheiro
arrecadado da campanha, um hospital para artistas, ela atravessou o tempo.
Chegou à era dos downloads, da pirataria, da fragmentação do mercado
fonográfico, com o cetro e a coroa em mãos.
— É uma guerra fria. E eu estou nesta guerra.
Seus súditos, não há dúvida alguma para ela, zelam
por sua memória diariamente. É um público que tem se renovado diante de uma voz
que não tem idade.
— A prova, meus queridos, é que estou com 60 anos de carreira e 83 de idade, que,
aliás, não aparento, com a imprensa aqui, interessada e carinhosa comigo. Por
onde vou, sou cercada de respeito. Sabe de uma coisa? Eu sou de todas as
épocas. Sou do agora, dos 1950, 1960, 1970, 1980, 1990, 2000.
Três amigos
Ângela
Maria tem acompanhado a novíssima geração de intérpretes. Gosta, em especial,
de duas Paulas: a country Fernandes e a soul Lima. Ao contrário do passado,
quando o estilo Sapoti influenciou diversas cantoras, não consegue ver nessa
safra nenhuma identificação com sua forma de cantar (“São autênticas”). Quando
viajava o Brasil de cabo a rabo para fazer programas de rádio, tinha o séquito
de fãs. Uma delas, que ia ao estúdio desde os 5 anos, transformar-se-ia num
mito da canção.
— Elis
Regina sempre disse que começou
a carreira me imitando. Nunca gravamos juntas, mas
chegamos a cantar num programa de televisão.
Dessa era
do rádio, hoje, ela faz tríade com Agnaldo Timóteo e Cauby Peixoto, dois
companheiros de vida, com os quais gravou dois discos. Cauby esteve com ela, na
última quarta-feira, para receber honraria do Congresso Nacional. Agnaldo foi o
seu motorista quando chegou ao Rio, vindo de Belo Horizonte, incentivado pela
intérprete. Na capital, quando teve a primeira chance de mostrar o vozeirão,
com um empurrãozinho dela, foi contratado imediatamente pela gravadora Odeon.
— Depois,
ele me levou de carro em casa e, ao sair, me entregou a chave. Na hora,
perguntei por que me devolvia. Ele falou: “Agora, somos colegas”, ri.
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EXPOSIÇÃO
Programação especial homenageia Ziraldo
De hoje a 31 de julho, o Cinesesc (r. Augusta,
2.075; tel. 0/xx/11/3087-0500) recebe "Ziraldo 80", programação em homenagem
aos 80 anos do artista. As atividades, que envolvem exposição fotográfica,
encenações e exibições de filmes, são gratuitas. Informações no site
www.sescsp.org.br.
. FOLHA SP 01.07
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Documentário sobre Jobim ganha
exibição
No dia 3/7, às 20h, a Folha promove a exibição
gratuita de "A Música segundo Tom Jobim", longa de Nelson Pereira dos
Santos, na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (av. Dr. Cardoso de
Melo, 1.450). Inscrições pelo tel. 0/x/11/3224-3473 ou pelo e-mail
eventofolha@grupofolha.com.br. FOLHA SP 01.07
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Orquestras são arma contra
pobreza, diz criador de El Sistema
Rede de ensino de onde saiu Gustavo Dudamel teve
início dentro de uma garagem, com só 11 participantes
Maestro José Antonio Abreu afirma que, sem projeto
social, violência na Venezuela seria ainda mais grave. FOLHA SP 01.07
-
O maestro José Antonio Abreu trabalha em um
escritório dentro de um shopping center banal no centro de Caracas, a poucos
passos de uma das mais movimentadas ruas da cidade venezuelana.
Na tarde em que conversamos, o movimento nas ruas
era intenso. No entanto, durante o curto percurso que nos separava do
estacionamento, fomos acompanhados por três seguranças ostensivamente armados.
Assim é Caracas, uma das cidades mais violentas do
mundo. O índice de homicídios na Venezuela é três vezes superior ao do Iraque e
quatro vezes mais alto que o do México. Em média, 53 pessoas são mortas por dia
ali.
Essa desanimadora estatística ocupa meus
pensamentos quando chego para o encontro com Abreu, 73.
O economista e maestro tem uma revolucionária
filosofia que, desde 1975, gira em torno da ideia de que educação intensiva e
gratuita de música erudita para os mais pobres cidadãos pode influenciar
positivamente na solução de problemas sociais.
Mais de 380 mil crianças matriculadas em programas
nacionais de música confirmam a hipótese de Abreu. Delas, 80% provêm de
famílias de baixa e média renda.
VIOLÊNCIA
Dos 2 milhões de alunos que o programa formou desde
sua criação, muitos se tornaram, além de músicos, advogados, professores,
médicos e funcionários públicos.
No entanto, um dos grandes paradoxos do El Sistema,
apelido pelo qual o programa criado por Abreu na Fundación Musical Simón
Bolívar se tornou conhecido, é que não importa seu sucesso, não importa que
tenha criado músicos de imenso sucesso como o maestro Gustavo Dudamel, não
importa o número de países ricos que procurem imitá-lo: os índices de
criminalidade continuam a subir em seu país natal.
Abreu concorda que essa é uma estatística
"extremamente grave". Mas aponta indícios que parecem provar que, sem
a extensa rede de núcleos (como são chamadas as escolas musicais comunitárias),
orquestras e coros do programa, a situação poderia ser ainda mais sinistra.
"O Banco Interamericano de Desenvolvimento, o
governo da Venezuela e a Corporação Andina de Fomento supervisionam
constantemente os projetos da fundação", diz, "porque investiram
muitos recursos".
"Sempre que um estudo de avaliação de impacto
é realizado, os resultados são unânimes. As crianças participantes do programa
conquistam resultados acima da média na escola e demonstram grande capacidade
de ação comunitária coletiva. As orquestras e corais ajudam na criar um senso
de solidariedade. O envolvimento se torna uma arma contra a pobreza, a desigualdade,
a violência e o abuso de drogas."
VALORES
Abreu é uma figura humilde que dedicou a vida ao
que define como "um projeto de desenvolvimento humano".
"A ideia me ocorreu porque percebi que, na
Venezuela, a educação musical não incluía orquestras para jovens, e eu percebia
que as crianças que participavam de orquestras desenvolviam uma percepção mais
humana do papel na sociedade."
O projeto foi iniciado com apenas 11 crianças em
uma garagem local -origens humildes que se tornaram famosas e contrastam
fortemente com as cenas vistas, por exemplo, no Royal Albert Hall, 30 anos mais
tarde, mas sua convicção quanto à possibilidade de promover transformação
social via música já era absoluta desde o começo.
"Eu tive certeza já no nosso primeiro
ensaio", ele diz, com um brilho forte em seus olhos castanhos. "Disse
àqueles primeiros 11 integrantes que estávamos criando o início de uma rede que
transformaria a Venezuela em potência musical e socorreria as crianças de baixa
renda."
Alguns dias mais tarde, em conversa com Frank di
Polo, violinista e líder original da orquestra, perguntei se ele se lembra
daquele momento. "É claro", responde, rindo. "O maestro Abreu
sabia desde o começo o que estava criando e o que poderíamos realizar."
El Sistema, apesar do apelido, não é um
"sistema" de educação musical, mas, como insiste Abreu, "uma
concepção com respeito à função da música na sociedade".
Formado por uma vasta rede de escolas, orquestras e
corais que agora se estende pelas 23 províncias da Venezuela, o programa
envolve em média três adultos para cada criança matriculada.
Não importa quem vença a eleição presidencial
venezuelana em outubro -Hugo Chávez ou Henrique Caprilles-, é inconcebível que
o apoio ao programa seja retirado. Sete governos venezuelanos sucessivos, de
todos os matizes políticos, deram apoio a El Sistema, cobrindo cerca de 90% de
seu orçamento operacional.
Um dado importante é que as verbas vieram sempre
dos departamentos de assistência social, e não dos departamentos de cultura.
Isso seguramente se deve à aguçada visão política
de Abreu, cujo corpo franzino e modos de Madre Teresa ocultam uma formidável
inteligência estratégica.
"O elemento fundamental que vem determinando o
apoio recebido são os resultados que conquistamos. El Sistema se provou eficaz
no campo social", diz. "Para os venezuelanos, a educação musical é
hoje um direito constitucional e legal."
>>>>
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