terça-feira, 10 de julho de 2012



Egan, divulgando na Flip seu O torreão (Intrínseca), reforçou as experimentações no procedimento de escrita dos seus trabalhos, em que a relação do homem com a tecnologia surge como motivo dramático e terreno de novas possibilidades no planejamento de histórias. Em A visita cruel do tempo (Intrínseca), polifônico relato sobre memória que abocanhou o Pulitzer 2011, há um capítulo inteiro em slides de Power Point.

Dois meses atrás, a americana escreveu um conto para a revista New Yorker, “Black box”, numa série de tuítes. “Uso estruturas radicais como o Power Point quando a história não pode ser contada de outra maneira”, explicou a autora, que, apesar do interesse em gadgets e afins, só escreve à mão.

Jogos de poder
O desengano com causas nacionalistas alimentou o papo entre Dany Laferrière, haitiano radicado no Canadá, e Zoé Valdés, cubana que mora na França. Aos dois, o exílio permitiu liberdade que não tinham nos países de origem, como escrever sobre sexo, por exemplo. “O que me interessa é descrever o desejo, principalmente da mulher”, contou. Laferrière vê as relações sexuais como palco de confronto de identidades e jogos de poder. “A religião existe porque o sexo existe. Desde o início, foi classificado como diabólico, porque representa transgressões sociais”, opinou o autor de Como fazer amor com um negro sem se cansar (Editora 34).

Em conferência solo, “Música para malogrados”, lendo dois longos textos que refletem sobre o espaço que ocupa na literatura, o catalão Enrique Vila-Matas expressou sua escrita de hiperlinks na forma de ensaio: apropriação e reflexão de referências, citações e sentimentos de outros escritores, como Thomas Bernhard, para engendrar o próprio estilo, caótico e em constante fluxo de autocrítica. “No que se refere à literatura, tudo já acabou”, sentenciou.

Celebrando o fracasso como resposta ao cenário mercadológico dos livros, o espanhol também rabiscou um exame de si mesmo e da sua obra, distinguindo recepção, bastidores e ansiedades de História abreviada da literatura portátil (1985), do lançamento Ar de Dylan (ambos Cosac Naify), “o mais pessoal de todos os meus livros”.

Enumerando tópicos com obstinação e prosa elástica, Vila-Matas se fez perguntas (“Por que voltei à Paraty?”, “Hamlet esteve em Paraty?”) e reuniu, numa sentença, uma máxima que todos os escritores presentes na Flip, como convidados ou independentes que brandiram seus livros nas ruas de pedra, poderiam ecoar em coro: “Escrever o tempo todo. Escrever, escrever sempre. Amanhã e depois de amanhã”.

O repórter viajou a convite do Itaú Cultural

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