terça-feira, 10 de julho de 2012
RELIGIÃO »
Áreas pobres do DF têm mais evangélicos. CORREIO
BSB 09.07
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Greve expõe crise nas
universidades
Paralisação de professores e servidores, que dura
mais de 50 dias, mostra como está o ensino superior público. Grevistas
reivindicam melhores condições nos câmpus e questionam o estado das
instituições para manter o padrão de excelência pelo qual eram
conhecidas.CORREIO BSB 09.07
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Direito à cultura
» RENATO ZERBINI RIBEIRO LEÃO
Membro do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
da ONU; professor do UniCEUB. CORREIO BSB 09.07
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No domingo 1º de julho, a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
outorgou ao Rio de Janeiro o título de Patrimônio Mundial na categoria Paisagem
Cultural Urbana. Título merecidíssimo: a capital fluminense ostenta uma beleza
singular, fruto de uma conspiração arquitetônica entre natureza e concreto.
O significado de patrimônio cultural compreende
monumentos, grupos de edifícios e lugares que têm valor histórico, estético,
arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. É certo que a cidade do
Rio de Janeiro ostenta todos esses conceitos, inegavelmente inseridos em
invejável cenário natural. O importante é que esse reconhecimento deverá nutrir
à cidade uma série de políticas públicas destinadas a manter seus ícones mais
valorizados, como, entre outros, o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Floresta da
Tijuca, o Aterro do Flamengo, o Jardim Botânico e a Praia de Copacabana. Tais
políticas deverão surtir efeitos sobre a cidadania em geral.
Os lugares incluídos na Lista de Patrimônio Mundial
são aprovados sobre suas qualidades, como os melhores exemplos possíveis da
riqueza e da diversidade do patrimônio cultural e natural do planeta. Pulula,
ademais, a responsabilidade que se incumbe em sua proteção e transmissão às
gerações vindouras. É uma tarefa cidadã, que compete não apenas aos cariocas,
mas aos brasileiros e à cidadania mundial: a garantia e a transmissão de um
legado humano.
O título recorda à cidadania a existência de um
direito cultural. Sobretudo, se vislumbrado desde a perspectiva dos direitos
humanos. O Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU (CDESC),
em sua Observação Geral nº 21, diz que os direitos culturais são parte integrante
dos direitos humanos e, como os demais, universais, indivisíveis e
interdependentes. Sua promoção e respeito cabais são essenciais para manter a
dignidade humana; para a interação social positiva de indivíduos e comunidades
em um mundo caracterizado pela diversidade e pluralidade cultural.
O CDESC define a cultura como conceito amplo e
inclusivo que compreende todas as expressões da existência humana. A expressão
“vida cultural” faz referência explícita ao caráter da cultura como um processo
vital, histórico, dinâmico e evolutivo, que tem um passado, um presente e um
futuro. Em consequência, o conceito de cultura não deve ser entendido como uma
série de expressões isoladas ou compartimentadas, senão como um processo
interativo, por meio do qual os indivíduos e as comunidades, mantendo suas
particularidades e finalidades, dão expressão à cultura da humanidade.
Esse conceito leva em conta a individualidade e a
alteridade da cultura como criação e produto social. Por isso, o comitê
considera que a cultura abrange, entre outras coisas, as formas de vida, a
linguagem, a literatura escrita e oral, a música e as canções, a comunicação
não verbal, os sistemas de religião e de crenças, os ritos e as cerimônias, os
esportes e jogos, os métodos de produção e a tecnologia, o entorno natural e o
produzido pelo ser humano, a comida, o vestuário e a moradia, assim como as
artes, os costumes e tradições, pelos quais indivíduos, grupos e comunidades
expressam sua humanidade e o sentido dado a sua existência, configurando uma
visão do mundo que representa seu encontro com as forças externas que afetam
suas vidas. A cultura reflete e configura os valores do bem-estar e a vida
econômica, social e política dos indivíduos, dos grupos e das comunidades.
Para o CDESC, a plena realização do direito de toda
pessoa a participar na vida cultural requer a existência dos seguintes
elementos, à luz da igualdade e da não discriminação: a) a disponibilidade é a
presença de bens e serviços culturais que todo mundo possa desfrutar e aproveitar;
b) a acessibilidade consiste em dispor de oportunidades efetivas e concretas
para que os indivíduos e as comunidades gozem plenamente de uma cultura que
esteja ao alcance físico e financeiro de todos, nas zonas urbanas e rurais; c)
a aceitabilidade implica que as leis, políticas, estratégias, programas e
medidas adotadas para o desfrute dos direitos culturais devem ser formuladas e
aplicadas de tal forma que sejam aceitáveis para as pessoas e as comunidades;
d) a adaptabilidade se refere à flexibilidade e pertinência das políticas, dos
programas e das medidas adotadas em qualquer âmbito da vida cultural,
respeitando a diversidade cultural das pessoas e comunidades; e) a idoneidade
se refere à realização de um determinado direito humano de maneira pertinente e
apta a um determinado contexto ou a uma determinada modalidade cultural.
O Rio de Janeiro regozija-se por seu merecido
galardão. Por ele, todos os brasileiros e as brasileiras celebram com justa
alegria. O Brasil, por ser um Estado parte do Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais da ONU, deve observar contundentemente os
pilares para o fiel cumprimento de suas obrigações internacionais no tocante ao
direito à cultura.
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LITERATURA »
Entre provocações e surpresas
Décima edição da Flip termina com casa cheia para
Jonathan Franzen, Jennifer Egan e Ian McEwan e bons discursos de autores menos
conhecidos, como Teju Cole. CORREIO BSB 09.07
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Jonathan Franzen fez da lona o divã: longas pausas
e sorrisos agridoces
Ian McEwan lançou Serena: "Talvez todos os
romances sejam de espionagem"
"A década após o 11 de setembro foi um triste
fracasso para nós" Teju Cole, autor de Cidade aberta
Paraty (RJ) — Paraty ficou ainda mais cheia a
partir de sexta-feira, não apenas pela chegada de leitores atraídos pelas
atrações principais da 10ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), mas
também pelos visitantes em época de férias ou na breve parada do fim de semana.
Na Tenda dos Autores, aliás, uma espécie de turismo de ideias se deu dos
microfones em direção à plateia. E muitos dos escritores, guias de viagem nesse
percurso, trouxeram na bagagem atrevimentos, medos e, pelo menos num caso único
e marcante, um rosário de chateações.
O norte-americano Jonathan Franzen, autor do
best-seller Liberdade (Companhia das Letras), publicado nos EUA em 2010 e aqui
no ano passado, ganhou a noite de sexta para si. Sozinho, ainda que com
mediação presente, o romancista, de sorrisos agridoces, gestos hesitantes e
respostas que demorou a formular, basicamente repisou as digressões de sempre.
Sobre sua desconfiança em relação ao Twitter, a mídia como meio desumano na
vida cotidiana, a raiva de ter aguentado George W. Bush oito anos no poder e,
claro, os pássaros que tanto gosta de observar — ele garantiu que viu muitos em
Paraty.
Entre as piadas ruins (“lame jokes”) que admitiu
ter feito, Franzen parecia tentar esconder algo, mas acabava fazendo
confissões. Era um pouco como o personagem central de Liberdade, Walter
Berglund, descrito como raro exemplar de homem bom na América. “Ser escritor
envolve estar na posição de gerenciar o material da própria vida. Sobre tudo
que as pessoas dizem, você pensa, ‘devo usar isso?’ Em um momento, meu
casamento ia muito mal. Era tão leal à relação que disse: ‘Vou parar de
escrever’. Cheguei a isso. Simplesmente existindo como escritor, poderia
machucar alguém. Isso é muito protestante da minha parte”, disse ele.
Olhar pessimista
A qualidade e o ritmo das mesas de debate, sempre
com dois ou mais escritores esgotando temas que concernem ao que escrevem,
provou várias vezes, na sexta e no sábado, que o formato de stand up depressivo
e autodepreciativo de Franzen pode ser frustrante. Teju Cole, americano de pais
nigerianos, conversou com Paloma Vidal, argentina criada no Brasil, horas antes
de Franzen fazer da lona seu divã.
A dupla não falou para um público tão grande, mas
trouxe ótimos conceitos sobre a relação do autor com os espaços físicos que o
cercam, sejam eles familiares ou estranhos. “Uma escavação dos aspectos
psicológicos dos lugares”, resumiu ele, sobre o romance Cidade aberta
(Companhia das Letras), lançado na Flip. É ambientado no ano de 2006, em Nova
York. Mas passa longe de ser “uma carta de amor” à cidade. A época, pelo
contrário, é de medo e pessimismo. “A década após o 11 de setembro foi um
triste fracasso para nós. Quando tivemos desafios e dificuldades, nós punimos
os outros”, lamentou. Na palestra seguinte, veio uma declaração ainda mais
forte. Do poeta sírio Adonis para o atual presidente dos EUA: “Obama é uma
máscara negra num rosto branco”. A plateia não teve reação.
No sábado, o público lotou as mesas de conversa com
autores mais populares — Ian McEwan e Jennifer Egan, os cartunistas Angeli e
Laerte —, mas talvez o melhor do dia tenha vindo de escritores menos
conhecidos, que verbalizaram alguns dos discursos mais cerebrais da festa.
McEwan veio à Flip em 2004. E agora retornou com Serena (Companhia das Letras),
seu novo romance, publicado primeiro aqui — chega às livrarias da Inglaterra
apenas no mês que vem.
A personagem que dá título ao livro é uma jovem
contratada do serviço secreto britânico, nos anos 1970. Apaixonada por
literatura, mas formada em matemática, ela vive indecisa, cativa de ambiguidades
em que se meteu por questões de lealdade. “Talvez todos os romances sejam de
espionagem. Somos donos da narrativa da nossa existência. Serena é praticamente
uma celebração do romance. Um desejo de acreditar num certo tipo de história de
amor e uma reflexão do processo em que liberamos e retemos informações”,
comentou o autor.
Egan, divulgando na Flip seu O torreão
(Intrínseca), reforçou as experimentações no procedimento de escrita dos seus
trabalhos, em que a relação do homem com a tecnologia surge como motivo
dramático e terreno de novas possibilidades no planejamento de histórias. Em A
visita cruel do tempo (Intrínseca), polifônico relato sobre memória que
abocanhou o Pulitzer 2011, há um capítulo inteiro em slides de Power Point.
Dois meses atrás, a americana escreveu um conto
para a revista New Yorker, “Black box”, numa série de tuítes. “Uso estruturas
radicais como o Power Point quando a história não pode ser contada de outra
maneira”, explicou a autora, que, apesar do interesse em gadgets e afins, só
escreve à mão.
Jogos de poder
O desengano com causas nacionalistas alimentou o
papo entre Dany Laferrière, haitiano radicado no Canadá, e Zoé Valdés, cubana
que mora na França. Aos dois, o exílio permitiu liberdade que não tinham nos
países de origem, como escrever sobre sexo, por exemplo. “O que me interessa é
descrever o desejo, principalmente da mulher”, contou. Laferrière vê as
relações sexuais como palco de confronto de identidades e jogos de poder. “A
religião existe porque o sexo existe. Desde o início, foi classificado como
diabólico, porque representa transgressões sociais”, opinou o autor de Como
fazer amor com um negro sem se cansar (Editora 34).
Em conferência solo, “Música para malogrados”,
lendo dois longos textos que refletem sobre o espaço que ocupa na literatura, o
catalão Enrique Vila-Matas expressou sua escrita de hiperlinks na forma de
ensaio: apropriação e reflexão de referências, citações e sentimentos de outros
escritores, como Thomas Bernhard, para engendrar o próprio estilo, caótico e em
constante fluxo de autocrítica. “No que se refere à literatura, tudo já
acabou”, sentenciou.
Celebrando o fracasso como resposta ao cenário
mercadológico dos livros, o espanhol também rabiscou um exame de si mesmo e da
sua obra, distinguindo recepção, bastidores e ansiedades de História abreviada
da literatura portátil (1985), do lançamento Ar de Dylan (ambos Cosac Naify),
“o mais pessoal de todos os meus livros”.
Enumerando tópicos com obstinação e prosa elástica,
Vila-Matas se fez perguntas (“Por que voltei à Paraty?”, “Hamlet esteve em
Paraty?”) e reuniu, numa sentença, uma máxima que todos os escritores presentes
na Flip, como convidados ou independentes que brandiram seus livros nas ruas de
pedra, poderiam ecoar em coro: “Escrever o tempo todo. Escrever, escrever
sempre. Amanhã e depois de amanhã”.
O repórter viajou a convite do Itaú Cultural
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