sábado, 13 de março de 2010

Entrevista – FSP 13/03

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Parques são para isso, diz Júlio Medaglia

Para o maestro Júlio Medaglia, a iniciativa do novo espaço do parque Villa-Lobos é "maravilhosa".
Os parques, na opinião dele, também deveriam receber mais concertos ao vivo. (TB)


FOLHA - O que o sr. achou do espaço?
JÚLIO MEDAGLIA -
É uma ideia maravilhosa, apesar de estar 50 anos atrasada.
Finalmente, se deram conta de que esses parques são feitos para esse tipo de lazer. Um tipo de lazer que as pessoas não vão encontrar na televisão e no rádio. Tem centenas de orquestras tocando em pequenos teatros para 20 pessoas, enquanto há parques maravilhosos na cidade e uma população muito carente desse tipo de informação. [São gravações], mas poderia haver orquestras [ao vivo] também.

FOLHA - O espaço é adequado?
MEDAGLIA -
Se o pessoal for competente, eles sabem fazer direitinho. Estou cansado de fazer esse tipo de concerto aqui e no exterior. Eu já regi lá [no parque Villa Lobos] e foi muito agradável.

FOLHA - E o barulho dos pássaros, não atrapalha?
MEDAGLIA -
Não, pelo contrário. Deixa as coisas ainda mais bonitas.

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A agricultura familiar e a falta de leitura

A relevância econômica e social da agricultura familiar brasileira e estrangeira, assim identificadas, está fartamente documentada e reconhecida nas estatísticas e na boa literatura técnico-científica. Quando o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes (foto), questionou a propriedade da utilização da expressão "agricultura familiar", em um artigo intitulado “Agricultura Familiar: uma leitura apressada”, creio que na verdade foi um ato falho, uma confissão, ele fazia uma auto-crítica. O artigo é de Carlos Mielitz.

Em 24/02/2010, em artigo publicado no jornal Valor Econômico (Agricultura familiar: uma leitura apressada), o Ministro da Agricultura, Sr. Reinhold Stephanes, questionou a propriedade da utilização da expressão “agricultura familiar” para este segmento de produtores diferenciando-os dos empresários rurais. Como o próprio Ministro reconhece, o meio rural brasileiro é extremamente heterogêneo, devendo-se por isto mesmo aceitar que para mais de 85% dos estabelecimentos a agricultura é mais que um negócio, é uma forma de vida, portadora de história, sociabilidade própria e relação particular com a natureza. Portanto não é “apenas” a gestão familiar, embora esta faça muita diferença. Uma leitura apressada, pobre e errada é tentar uniformizar toda esta diversidade por meio dos produtos que geram.

Felizmente, também não é verdade que nos países avançados se verifique apenas a existência de “propriedades mais eficientes e tecnificadas”. Os crescentes problemas ambientais e de saúde criados pela “moderna tecnologia agrícola”, a importância na geração de empregos e de serviços ambientais, a preservação de modos de vida e valores culturais associados a cada região e suas formas de exploração agrícola levam a que os governos dos países “mais avançados” como diz o Ministro valorizem, protejam e estimulem seus agricultores familiares.

É falsa a oposição que sugere o Ministro entre produção, produtividade, integração mercantil e agricultura familiar. Os dados do último Censo Agropecuário divulgados no ano passado mostram que esta é responsável pela maior parte dos alimentos consumidos diretamente pelos brasileiros e adicionalmente por parte relevante das exportações. Nestas culturas sua produtividade iguala-se ou supera àquela dos estabelecimentos empresariais. Este desempenho significativo só foi possível justamente pelo reconhecimento das especificidades de suas necessidades, adequando-se as políticas de desenvolvimento rural à diversidade dos produtores e não os igualando pelos produtos que produzem através das políticas apenas agrícolas. Observe-se que esta mudança na institucionalidade pública brasileira já era prevista e amparada na Constituição de 1988 e na lei agrícola de 1991. Em 1996, fruto da pressão dos movimentos sociais rurais, criou-se o Ministério Extraordinário de Política Fundiária, transformado em 2000 no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Enquanto existia apenas o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento este segmento de produtores sempre foi alijado das políticas públicas.

Embora cause estranheza ao Ministro, desde 2006 a categoria social e produtiva dos Agricultores Familiares está reconhecida em lei federal aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República. Se existe este reconhecimento “dentro e fora do governo” como diz o Ministro, no mínimo é para cumprir-se o que determina a lei, apesar de que, reconheça-se, esta nem sempre tem sido uma preocupação do Ministro Stephanes, pois a lei também exige a atualização dos índices de produtividade agrícola que ele recusa-se a fazer. O que temeria o produtivo agronegócio brasileiro? Ou aí sim se trata de uma birra ideológica, a serviço do atraso?

Por fim, após anos desta discussão quando parecia que a convivência entre os dois Ministérios encaminhava-se para um reconhecimento e aceitação das especificidades, uma coexistência se não sem diferenças e tensões, pelos menos respeitosa, por que o Ministro Stephanes volta a tencionar as relações? O que pretende com isto? Mostrar-se um porta-voz aguerrido do setor mais belicoso e conservador do meio rural visando as próximas eleições? Levantar a poeira de velhas arengas para acobertar outros verdadeiros problemas que continuam intocados?

A relevância econômica e social da agricultura familiar brasileira e estrangeira, assim identificadas, está fartamente documentada e reconhecida nas estatísticas e na boa literatura técnico-científica. Quando o Ministro intitulou seu artigo de “Agricultura Familiar: uma leitura apressada” creio que na verdade foi um ato falho, uma confissão, ele fazia uma auto-crítica.

CARLOS MIELITZ Eng. Agrônomo, Doutor em Economia.
Professor
do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

FONTE: WWW.CARTAMAIOR.COM.BR

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