sábado, 29 de janeiro de 2011

Livro reúne bastidores da música brasileira

Fonte: folha.uol.com.br 29/01


Cristina Granato lança coletânea com imagens íntimas de cantores

Fotógrafa carioca flagrou Chico Buarque sem camisa e Caetano Veloso trocando de roupa no camarim

Velha conhecida no meio musical, a fotógrafa carioca Cristina Granato, 48, se define como "figurinha fácil" na noite do Rio de Janeiro. Há 30 anos, ela registra bastidores de shows e lançamentos de discos da MPB.
Seu trabalho não é exatamente jornalístico. Granato ganha a vida como free-lancer, contratada pelos próprios músicos ou gravadoras para cobrir eventos.
A natureza dessa profissão se reflete em duas características fundamentais de suas fotos, reunidas no livro "Cristina Granato - Um Olhar na Música Popular Brasileira", lançado esta semana.
A primeira delas é que seus flagrantes nunca são embaraçosos para os artistas: eles transitam numa vertente oposta à dos paparazzi. Os personagens fotografados geralmente aparecem sorrindo e abraçados.
A segunda característica advém dessa postura "de confiança" para com as celebridades, aliada a um talento social muito particular. Como quase nenhum outro fotógrafo, ela tem acesso aos camarins e é amiga de muita gente da área.
E teve o mérito de estabelecer uma ligação tão direta com seu objeto que consegue arrancar dos artistas uma intimidade e naturalidade acessíveis apenas aos amigos próximos. Este é o lado mais valioso das fotos que produz.
Assim desnudados aparecem Chico Buarque sem camisa e suado após uma partida de futebol, Caetano Veloso trocando de roupa no camarim e Cássia Eller sentada num vaso sanitário. Há três décadas fazendo isso, seus registros ganharam também um verniz histórico. Muitos dos fotografados já se foram, como Cazuza, Renato Russo, Tom Jobim e Dorival Caymmi.
O resultado final é uma espécie de celebração dos bons momentos da música brasileira e sobretudo da carreira de Granato.
O lançamento do livro, neste mês, no Rio, não deixou dúvidas sobre o entrosamento da fotógrafa com eles.
Houve shows de João Donato, Erasmo Carlos, Roberto Menescal, Arlindo Cruz, Fernanda Abreu, Frejat e Jards Macalé. Todos tocando sem cobrar cachê. Difícil imaginar outro fotógrafo com estofo para reunir um time assim.

CRISTINA GRANATO - UM
OLHAR NA MÚSICA POPULAR
BRASILEIRA


AUTORA Cristina Granato
EDITORA Aeroplano
QUANTO R$ 85 (292 págs.)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Compositor ocupa lugar único na música popular brasileira

Fonte: folha.uol.com.br 27/01

SUA FIGURA CABOCLA INDICAVA INTEGRIDADE, NOBREZA E DISTINÇÃO

Nelson Cavaquinho era um rei. Um rei vadio que vagava por lugares decadentes, em um Rio de Janeiro de costas para o mar, com suas ruas estreitas e bares apinhados de vagabundos, com quem dividia, além da bebida, sua música e solidão.
Um andarilho bêbado que bem poderia ser tomado por um mendigo, não fosse tudo em sua figura cabocla de cabelos brancos indicar integridade, nobreza e distinção. Toda a força da música de Nelson Cavaquinho nasce dessa contradição. Da possibilidade de haver beleza nesse conjunto, a princípio, tão estranho e desagradável.
Seu violão beliscado, que parece ser tocado com um alicate, sua voz rascante e seu pouco fôlego, que determina o intervalo melódico dividindo os versos em lugares inesperados. Tudo está a ponto de se quebrar.
Muitas de suas músicas não se resolvem, ou melhor, se resolveriam se quisesse, na primeira parte, sempre mais nítida. Quando alcançam a segunda parte, parecem esquecer de onde partiram. Tomam um caminho surpreendente, que mantém a melodia em suspensão, obrigando seu retorno à primeira parte, fazendo a canção girar em círculos.
Perdemos a referência. Como se Nelson fosse despertado de seu cochilo, para retomar sua patrulha desorientada das ruas. Sem saber de onde e por que veio, nem para onde está indo.
Essa falsa incapacidade técnica, aliada a um profundo amadorismo, posiciona Nelson em um lugar único na música popular brasileira. Mas podemos, se quisermos, mesmo com sua enorme especificidade, identificá-lo com a face menos luminosa do samba. Dos sambas de cadência lenta, tristes.
Característica presente em sua música que o faz se alinhar a outros compositores. Mais claramente, a outros dois grandes artistas devedores de sua poética: Batatinha (1924-1997), compositor que pode ser considerado seu duplo baiano, e Cartola (1908-1980), seu grande parceiro.
Mas também em relação a eles Nelson se mantém original. Batatinha e Cartola, cada qual à sua maneira, procuram driblar a tristeza.
Batatinha, com seu acesso direto aos sentimentos, tratando-os pelo nome, negociando uma saída. E Cartola, protegido de sua enorme sabedoria e experiência, refugiando-se na beleza possível de sua vida dura.
Diferente dos dois, Nelson aceita a derrota. Não teme o sofrimento nem pensa torná-lo suportável. Encara a tragédia como natural.
Em texto sobre Nelson, Nuno Ramos diz que "ele é nosso contato imediato com aquilo que deu profundamente errado em nós". Desse encontro sem esperança, ansiedade ou promessa de redenção, forjou sua música inigualável. Tão bela e perturbadora como nunca, antes ou depois, se viu.


ROMULO FRÓES é cantor e compositor.

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Cavaquinho é o pai do "samba triste"

Fonte: folha.uol.com.br 27/01


Autor de "Juízo Final" e "Folhas Secas" chegou ao grande público em gravações de Nara Leão e Beth Carvalho

Centenário do músico não inspira hoje muito mais que enredo da Mangueira e CD-tributo com 20 vozes da MPB


Em "Quando Eu Me Chamar Saudade", um de seus tristíssimos sambas, Nelson Cavaquinho (1911-1986) dizia preferir receber "as flores em vida". Que depois da morte e do tempo passado, ele acabaria esquecido. "Por isso é que eu penso assim: se alguém quiser fazer por mim, que faça agora."
Ao que parece, o Brasil levou o pedido a sério. No centenário de nascimento do autor de clássicos como, entre tantos, "Luz Negra", "A Flor e o Espinho", "Juízo Final", "Palhaço", "Folhas Secas" pouca coisa está sendo planejada em seu nome.
São raras as exceções.
A mais importante vem da Estação Primeira de Mangueira, escola do compositor, que dedica a ele o enredo deste ano: "O Filho Fiel, Sempre Mangueira".
Também perto do Carnaval sai um álbum com gravações inéditas de sua obra por 20 artistas da MPB.
Organizado pelo produtor Thiago Marques Luiz para a pequena Lua Music, vai reunir sambistas (Beth Carvalho, Alcione, Fabiana Cozza, Lecy Brandão, Teresa Cristina, Benito di Paula) e cantores de outros universos (Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Ângela RoRo, Cida Moreira).
"Ninguém ainda se debruçou sobre Nelson Cavaquinho como ele mereceria", diz Paulinho da Viola. "Pode haver um livrinho ou outro, mas nada que conte um décimo do que foi a vida dele."
Antes de conhecer Nelson pessoalmente, em meados dos anos 1960, Paulinho sabia de suas músicas e do "folclore" em torno de sua figura.
Algo que ele chama de "comportamento libertário, desprendido de muitas regras sociais sob as quais todos nós vivíamos". "Era o verdadeiro hippie", conclui.
Parceiro de Nelson e seu amigo até o fim da vida, Eduardo Gudin concorda com o adjetivo. "Sim, ele era hippie. Vivia o momento. Era uma pessoa muito simples, quase infantil em alguns aspectos. Intuitivo, um violão muito bruto. E saíam melodias dignas de Tom Jobim."
Gudin aponta a vaidade como outra característica do compositor. Lembra das vezes em que o levou à rodoviária, às 5h30 da manhã, "para pegar o [ônibus] Cometa de volta ao Rio".
"Ele cumprimentava o motorista: "Ô, menino, não está me conhecendo? Nelson Cavaquinho! E aqui está Eduardo Gudin, que também grava na Odeon". Ele sentia que, onde chegava, as pessoas o viam como uma entidade."

IMPULSOS
Desde que começou a compor, ainda nos anos 1940, Nelson recebeu dois impulsos fundamentais para que suas canções ganhassem lugar nos ouvidos do país: as gravações de Nara Leão, na década de 1960, e as de Beth Carvalho, a partir de 1973.
Sua obra já era reconhecida antes disso, sobretudo nas vozes de Cyro Monteiro e Dalva de Oliveira, ainda nos anos 1940. Mas, ali, Nelson lidava com a própria obra de maneira descompromissada.
Segundo relato de amigos, vendia parcerias para gerentes de hotel em troca de uma cama para dormir, de bebida.
Uma vez, Cartola lhe contou que viu um desconhecido tocando "Devia Ser Condenada", parceria dos dois, dizendo-se o autor do samba. Nelson respondeu: "Eu vendi a minha parte". Perdeu o parceiro para sempre.
Foi a gravação de "Luz Negra" por Nara Leão, em seu álbum de estreia, em 1964, que jogou luz no compositor trágico que Nelson era.
Musa da bossa nova, Nara vivia uma fase de pouca identificação com os rumos que o movimento tomara até ali. E foi buscar repertório no universo do samba.
Salto de popularidade ainda maior aconteceria a partir do lançamento de "Folhas Secas", entregue por Nelson ainda inédita para Beth Carvalho. A partir dali, a cantora defenderia sambas do autor em quase todos os seus álbuns, totalizando hoje mais de 40 gravações.
"É o maior compositor do mundo", diz Beth, que, em 2001, dedicou um álbum inteiro ao compositor. "Era o Nelson Rodrigues da música. Vivia e falava de assuntos muito trágicos sem nunca, jamais cair no ridículo. E, ao mesmo tempo, era uma pessoa engraçadíssima."
Entre as histórias que Beth coleciona está a do sonho que Nelson teve, segundo o qual morreria naquele mesmo dia, às 3h da madrugada. Acordou e eram 15 para as três. Antecipou o relógio para meia-noite. "Nessa você não me pega!"
Não queria morrer. Medo de ser esquecido, talvez.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

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Congresso paga aposentadoria a 658 ex-parlamentares e 602 viúvas

Fonte: folha.uol.com.br 25/01


Desativado em 1997, modelo de pensões custará R$ 88 milhões neste ano aos cofres públicos

Antigo regime permitia solicitar o benefício depois de oito anos de mandato; foi trocado por novo plano em 1999


O Congresso vai gastar neste ano R$ 88 milhões para o pagamento de aposentadorias e pensões a ex-parlamentares, seus parentes e ex-servidores que ainda recebem benefícios pelo extinto IPC (Instituto de Previdência dos Congressistas).
O modelo, desativado em 1997, concede privilégios que foram extintos pelo Legislativo após mudança de sistema.
Estão vinculados ao regime 583 ex-deputados, 75 ex-senadores e 602 viúvas de congressistas, além de ex-servidores, cujo número não foi informado pelo Congresso.
Sozinho, o Senado gasta, mensalmente, R$ 938,2 mil com o pagamento aos beneficiários do IPC.
O antigo modelo concedia vantagens como requerer aposentadoria proporcional após oito anos de mandato, com direito a 25% do valor total de seu salário -com o mínimo de 50 anos de idade.

NOVO PLANO
Em 1999, o Instituto de Previdência dos Congressistas foi substituído pelo Plano de Seguridade Social dos Congressistas.
Nesse modelo, que ainda está em vigor, um ex-deputado ou senador recebe o benefício de acordo com regras do regime do previdenciário dos servidores públicos federais.
O parlamentar tem a opção de aderir ou não ao sistema do Congresso -e não pode acumular a aposentadoria da Casa com o salário.
Em 2011, o Legislativo vai gastar R$ 1,8 bilhão com o pagamento de aposentadorias e pensões. O valor teve crescimento de R$ 4 milhões, se comparado com o Orçamento de 2010.
O aumento acontece principalmente porque os benefícios são vinculados aos salários dos congressistas.
Em dezembro do ano passado, deputados e senadores elevaram seus próprios salários de R$ 16,5 mil para R$ 26,7 mil -em um reajuste que corresponde a 61,8%.

BRECHA
Os congressistas têm o prazo de 30 dias, depois de assumirem o mandato, para pedir adesão ao plano. Todos descontam a contribuição na folha de pagamento.
Em dezembro, a Mesa Diretora da Câmara abriu exceção para que 12 deputados pudessem aderir ao plano anos depois de terem assumido os mandatos.
O ex-deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), por exemplo, pediu para ingressar retroativamente desde fevereiro de 1999 -embora tenha apresentado formalmente o pedido somente em fevereiro de 2007.
Os órgãos técnicos da Câmara se posicionaram contra, como previsto pelas regras do plano.
Os deputados recorreram à "brecha" para não perder os benefícios da Previdência do Congresso -uma vez que o valor aumentou em consequência do reajuste nos salários dos congressistas.
A Câmara alega que permitiu as adesões porque não terá prejuízo financeiro, já que os deputados descontam o valor proporcionalmente aos salários e retroativo à data de adesão solicitada.

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Galeno Amorim quer livros mais baratos para a "cesta da classe C"

Fonte: folha.uol.com.br 25/01


Novo presidente da Biblioteca Nacional assume com a missão de ampliar o acesso à leitura

Afilhado político de Antonio Palocci (PT), jornalista foi secretário em Ribeirão e criou o Plano Nacional do Livro

Alçado ao governo federal pelo padrinho político Antonio Palocci (PT) ainda no primeiro governo Lula, o jornalista e escritor Galeno Amorim volta ao cenário nacional com uma missão: fazer os livros "caberem na cesta da classe C" brasileira.
Ele foi anunciado na última sexta-feira como o novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Secretário da Cultura de Ribeirão Preto entre 2001 e 2002, durante a gestão de Palocci como prefeito, Galeno foi um dos criadores da Feira do Livro de Ribeirão e ficou conhecido por ter inaugurado 80 bibliotecas.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.



Folha - Quando veio o convite para assumir a Biblioteca?
Galeno Amorim
- Veio desde que a ministra [Ana de Hollanda] foi escolhida. Sou da área, criei o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) [criado em 2006, o Plano coordena a implantação de programas de leituras e de bibliotecas no país].

A Biblioteca Nacional fez 200 anos e sofre com excesso de livros e um espaço desgastado. O que pretende fazer?
Será feita uma obra muito grande de reforma em um prédio de apoio à Biblioteca Nacional, que fica na região do cais [do porto de Santos]. Vou me reunir com a atual direção, me inteirar dos planos, para então anunciar.

Quais suas prioridades?
A grande novidade é que a Biblioteca Nacional também terá a responsabilidade sobre a política pública do livro. Hoje, isso é concentrado no Ministério da Cultura.
A prioridade maior é buscar formas de ampliar o acesso aos livros e outros materiais de leitura, no sentido de revitalizar as bibliotecas no Brasil afora, de trazer programas que incentivem a edição de livros mais baratos que caibam na cesta da classe C e buscar ampliar os índices nacionais de leitura.

Qual é o índice atual?
Um estudo recente que fiz, chamado "Retratos da Leitura no Brasil" (2008), indica que são 4,7 livros lidos por brasileiro por ano. Em 2011, deve ter um índice novo.

E como ampliar o acesso ao livro? Com mais bibliotecas?
Ampliar o acesso significa não só contribuir para a abertura de novas bibliotecas, o que vem sendo feito, mas também fortalecer e revitalizar as existentes. Até março, o ministério deve ter uma definição dos orçamentos para cada uma das áreas, e aí será possível estabelecer metas.

Como funcionará o Instituto Brasileiro do Livro e Leitura?
O Instituto deve concentrar toda a parte da política pública de livro, literatura e bibliotecas do Ministério da Cultura. Ele terá uma atribuição distinta daquela que tem a Fundação Biblioteca Nacional, que é mais voltada à gestão da própria biblioteca.

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Mário de Andrade reabre hoje com festa

Fonte: folha.uol.com.br 25/01


Biblioteca fundada em 1925 estava fechada para reforma desde 2007

Instituição possui o segundo maior acervo do país, com 3,3 milhões de itens como livros, mapas e periódicos

Quando chegarem à sala de atualidades, onde acontecerá a reinauguração da Biblioteca Mário de Andrade na tarde de hoje, os convidados serão recebidos pelo semissorriso do poeta modernista que criou as bases da política pública de cultura da cidade de São Paulo.
O retrato do poeta Mário de Andrade (1893-1945) que está pregado na entrada da sala de chão brilhante e janelas com vista para a praça Dom José Gaspar tem sentidos que ultrapassam os da mera homenagem.
Andrade foi, ao lado do crítico literário Sérgio Milliet (1898-1966) e do poeta Paulo Duarte (1899-1984), um dos idealizadores do Departamento de Cultura de São Paulo, criado em 1935.
Foi essa instituição que, ao definir os livros como um dos eixos de sua atuação, transformou a biblioteca paulistana nesse raro bem que a cidade terá agora de volta.
Após anos de goteiras, cupins e descaso, o segundo maior abrigo de livros do país -só atrás da Biblioteca Nacional, no Rio - renascerá com 3,3 milhões de itens.
O prédio, inaugurado em 1943, foi fechado para uma ampla reforma em 2007.
A biblioteca circulante, que passara anos "vivendo de favor" em outros endereços, havia sido reaberta em julho de 2010. Mas foi guardada para hoje a festa com pompa, autoridades e shows.

FICHÁRIOS
Na última sexta-feira, era grande o corre-corre para que nada ficasse fora do lugar. Havia de tudo no prédio: de andaimes e furadeiras a tesouras para recortar os papelinhos que ordenam os velhos fichários de A a Z.
Apesar de inadequado ao silêncio que se espera de uma biblioteca, o burburinho pré-festa não parecia perturbar os visitantes, que, desde julho, circulam por um dos espaços do vasto edifício.
A biblioteca circulante está aberta a quem deseja folhear periódicos ou pegar emprestado algum dos 42 mil títulos disponíveis.
Na última sexta-feira, na larga mesa de madeira renovada depois do restauro, "O Livro de Areia", de Jorge Luis Borges (1899-1986), descansava sozinho, enquanto, ao seu lado, um volume sobre neurociência cognitiva era devorado por um jovem.
Já o mezanino, com vista para a rua da Consolação, se mostrava um refúgio perfeito para quem, à espera da chuva que as nuvens anunciavam, buscava "um minuto de paz", como descreveu a leitora que folheava um atlas.

CLASSIFICADOS
A diretora da Mário de Andrade, Maria Christina Barbosa de Almeida, diz que a biblioteca circulante tem recebido, diariamente, cerca de 700 pessoas.
"Estamos conquistando, além dos leitores habituais, um público de pequenos comerciantes da região", diz.
Para atrair os novos frequentadores, a biblioteca oferece, por exemplo, títulos sobre marketing e administração de empresas. Outra estratégia é abrir as portas às 8h30. "Assim, quem entra às 9h no emprego tem tempo de dar uma passadinha por aqui antes", explica ela.
De acordo com Almeida, às segundas-feiras, quando o Centro Cultural São Paulo está fechado, o movimento é maior: "Vem muita gente ler o jornal do final de semana para procurar emprego".
Agora, será possível, após ler o jornal, cruzar a biblioteca circulante e pisar no mármore da entrada principal. Ali, a estátua "A Leitura", de Caetano Fraccaroli, impassível, reitera o sonho modernista de Mário de Andrade.

domingo, 23 de janeiro de 2011

CLÓVIS ROSSI

O resgate da elite

Fonte: folha.uol.com.br 23/01



ESTRASBURGO- O leitor Heli Roberto da Silva escreve para descrever a reação de sua filha de 18 anos quando Fátima Bernardes anunciou, no "Jornal Nacional" do dia 14, que "os alunos que moram nas cidades do Estado do Rio afetadas pela enchentes poderão se inscrever no Sisu acessando em lan house, de graça".
A reação da filha: "pai, esse povo [o do governo] tá brincando. Acessar internet em lan house como, se em algumas cidades a energia elétrica nem foi totalmente restabelecida, os telefones funcionam precariamente e a pessoas de lá têm, no momento, outras prioridades?".
Comentário do pai, técnico em contabilidade de 46, morador de Formiga (MG): "Noto com preocupação o descrédito das autoridades políticas. A sociedade não acredita mais na mediação política entre ela e os meios de solução dos problemas que a afligem. Há uma tendência crescente e, quem sabe, até majoritária de que sozinhos resolveremos nossas mazelas e carências".
Heli lembra "o protagonismo assumido pelos voluntários nos trabalhos de socorro, resgate e assistências às vítimas da catástrofe da região serrana do Rio", o que, acha ele, "é o exemplo acabado e eloquente de que o Estado brasileiro, se é que um dia existiu, está falido, despreparado, mal gerido, incapaz de reagir rapidamente a uma situação extrema".
O leitor passa a resgatar o sentido de "elite" e lamenta que "a esquerda tenha amaldiçoado e deturpado o vocábulo, a ponto de transformá-lo em anátema. Pergunta Heli: "Se elite é o melhor que uma sociedade ou um grupo é capaz de produzir, onde está nossa elite? Por que os melhores não se sentem atraídos para o serviço público? É ela quem deve nos representar, nos conduzir, apontar caminhos e discutir soluções, liderar o debate, os grandes temas. Está faltando política".
Tem razão, Heli. Está faltando política e está sobrando politicalha. O mundo político, quintessência da elite, está a serviço dele próprio.

sábado, 22 de janeiro de 2011

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RECURSOS PÚBLICOS

Café e sabão nos segredos da Abin

Fonte: correioweb.com.br 22/01

Auditoria do TCU indica que despesas prosaicas da agência de inteligência com cartão corporativo foram classificadas como "sigilosas" sem necessidade e aponta indícios de uso indevido

A compra de café, açúcar, produtos de limpeza e de escritório com cartões corporativos do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foram colocadas em sigilo sob a justificativa de “proteção da sociedade e do Estado”. A aquisição de itens corriqueiros foi condenada por uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), concluída no ano passado. A análise revela que despesas do dia a dia da agência e da própria Presidência ficaram escondidas com base na legislação, ainda que não houvesse, segundo o tribunal, necessidade ou embasamento legal.

A Secretaria de Administração da Presidência entrou com recurso no TCU pedindo reexame das contas em outubro de 2010. O processo está em análise. Os gastos sigilosos também serão alvo de investigação da Procuradoria da República no DF. Ontem, o Correio mostrou que os gastos confidenciais da Abin cresceram 66% ano passado em relação a 2009: de R$ 6,8 milhões para R$ 11,2 milhões. Ao todo, os pagamentos secretos do governo consumiram R$ 32 milhões no último ano, segundo a ONG Contas Abertas.

O TCU fiscalizou R$ 3,4 milhões, correspondentes aos gastos com cartões entre dezembro de 2008 e abril de 2009. Foram pesquisados dados de todas as unidades gestoras vinculadas à Presidência. Também foram analisadas prestações de contas de viagens à Cúpula da América Latina e do Caribe, na Costa do Sauípe (BA), e ao Fórum Social Mundial, em Belém (PA).

O monitoramento aponta que, em fevereiro e abril de 2009, parte dos gastos lançados como sigilosos não se referia a despesas secretas. “A natureza dos gastos se repete no decorrer dos meses, estando relacionada a hospedagem, alimentação, combustível, material de expediente, de limpeza, serviços de telecomunicações, entre outros. Esses gastos não se confundem com os de caráter sigiloso e, portanto, não justificam a omissão do CPF do suprido”, diz o texto. Segundo uma fonte do alto escalão do GSI, foram identificados abusos nos gastos secretos da Abin. Os cartões, distribuídos de forma descentralizada nos estados, são usados para todo tipo de uso. Os saques, por exemplo, servem para pagar informantes. Porém, não há controle.

Em duas viagens presidenciais analisadas, as equipes de segurança e de acompanhamento do presidente gastaram R$ 930,8 mil. Ficou constatado que servidores do GSI — não identificados no relatório — excederam em dois dias a estada em Belém, consumindo um extra de R$ 13,3 mil. A cidade foi sede do Fórum Social Mundial em 2008. O gabinete negou irregularidades e informou que foram adquiridos pacotes por agências. O tribunal determinou que cabe à Secretaria de Controle da Presidência confirmar se os servidores voltaram na data prevista. Caso a permanência tenha se estendido, o TCU considera o acréscimo indevido.

A auditoria manteve sob sigilo as informações referentes às despesas da Presidência que comprometem a segurança nacional. “Na confecção do relatório, manteve-se o devido cuidado quanto a evitar revelações prejudiciais ao interesse público”. Entre os dados excluídos estão o contingente das equipes que acompanham as autoridades e familiares, os locais habituais de hospedagem, o consumo alimentar típico e as especificações técnicas (principalmente de blindagem) dos veículos utilizados.

Improbidade
A investigação do Ministério Público Federal no DF vai verificar irregularidades no uso do cartão e se todas as determinações recomendadas pelo TCU nos últimos anos foram cumpridas. Caso algum servidor não tenha restituído o erário em caso de irregularidade descoberta, por exemplo, o MPF deverá levar a questão ao âmbito judicial. Em última hipótese, poderá enquadrar algum portador do cartão no crime de improbidade.

No fim de dezembro, a instituição solicitou ao TCU a listagem completa dos processos relacionados à utilização dos cartões da Secretaria de Administração da PR nos últimos 10 anos. O MPF deu 20 dias para que o TCU respondesse à solicitação, mas, como o tribunal entrou em recesso entre dezembro e janeiro, a demanda ainda está tramitando. Procurado pela reportagem, o GSI informou que não se manifesta sobre assuntos sigilosos.

Sauípe estendido
Outro caso de diárias estendidas sem justificativa, apontado pelo TCU, ocorreu na Cúpula da América Latina e do Caribe, em 2009. Catorze pessoas vinculadas à Secretaria de Assuntos Federativos da Presidência permaneceram em hotel na Costa do Sauípe, na Bahia, além do que havia sido autorizado. A justificativa é que ocorreram reuniões extras. Entretanto, os técnicos afirmam que não há registro de autorização para a despesa e nem ata assinada do encontro.

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RUY CASTRO
Fonte: folha.uol.com.br 22/01


País esnobe

RIO DE JANEIRO - Em 2011 teremos o centenário de muita gente boa da música brasileira -compositores e letristas a quem devemos tanta beleza e alegria na área do samba, do Carnaval, da valsa, do samba-canção, até do fox. Tais efemérides deveriam se estender pelo ano todo, com shows sobre eles por cantores novos e velhos, debates entre especialistas, lançamento e relançamento de seus discos e, quem sabe, biografias e documentários.
Mas, como aconteceu com Noel Rosa e outros que fizeram cem anos em 2010, esses artistas só serão lembrados no próprio dia do aniversário e, mesmo assim, por iniciativa de fãs devotados. Eis alguns.
A 1º de fevereiro, será o dia de Pedro Caetano, autor das obras-primas do samba "Foi uma Pedra que Rolou", "Onde Estão os Tamborins?" e "É Com Esse Que Eu Vou", e co-autor de "Caprichos do Destino", "Sandália de Prata", "A Dama de Vermelho", "Eu Brinco", "A Felicidade Perdeu seu Endereço". No dia 7, será a vez de José Maria de Abreu, cuja obra vai de valsas como "Boa Noite, Amor" à modernidade de "Alguém Como Tu" e à irresistível euforia de "Pegando Fogo".
Em março, teremos os cem anos de dois favoritos de Carmen Miranda: no dia 14, o de Synval Sylva ("Adeus, Batucada", "Ao Voltar do Samba", "Coração", "Gente Bamba"); no dia 19, o de Assis Valente ("Minha Embaixada Chegou", "E Bateu-se a Chapa", "Uva de Caminhão", "Recenseamento", "E o Mundo Não se Acabou", muitas mais). E, a 23 de maio, será a vez do letrista Mario Rossi, parceiro de Roberto Martins no samba "Beija-me" e no fox "Renúncia", e de Marino Pinto no bolero (sim!) "Que Será?" ("Da luz difusa do abajur lilás/ Se nunca mais vier a iluminar/ Outras noites iguais...").
Isto apenas entre os aniversariantes que serão esnobados no 1º. semestre. Mas, até o fim do ano, o Brasil promete superar-se e esnobar Nelson Cavaquinho.

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RECURSOS PÚBLICOS

Café e sabão nos segredos da Abin

Fonte: correioweb.com.br 22/01

Auditoria do TCU indica que despesas prosaicas da agência de inteligência com cartão corporativo foram classificadas como "sigilosas" sem necessidade e aponta indícios de uso indevido

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O Brasil deve investir mais em energia nuclear?

Fonte: folha.uol.com.br 22/01


NÃO

Potencial hidroelétrico não está esgotado

JOSÉ GOLDEMBERG

A opção de geração de eletricidade com energia nuclear foi estimulada pelos governos de vários países que não tinham muitas outras opções, como nos casos da França, do Japão, da ex-União Soviética e dos Estados Unidos, que desejavam se libertar da dependência da importação de gás e petróleo.
Ela teve sua época de ouro durante a década de 1970, mas, a partir de 1985, praticamente estagnou no mundo todo; hoje, ela representa aproximadamente 15% da eletricidade usada no mundo; apenas em alguns países, como França e Japão, representa fração maior.
Os demais 85% provêm de outras fontes, como carvão, energia hidroelétrica e, mais recentemente, as energias renováveis (vento, energia solar e biomassa).
Quais as razões para tal? Em primeiro lugar, as preocupações com a segurança dos reatores nucleares, que foi seriamente abalada com os acidentes de Three Mile Island (nos Estados Unidos) e Chernobyl (na ex-União Soviética).
Com outras tecnologias para produzir eletricidade também ocorrem acidentes (como incêndios ou ruptura de barragens em reservatórios de usinas hidroelétricas), mas acidentes nucleares que espalham radioatividade podem ser muito mais graves, como se viu em Chernobyl, onde até hoje centenas de quilômetros quadrados em torno da usina estão interditados.
Questões não resolvidas sobre como armazenar o "lixo nuclear" contribuem para o problema.
Em segundo lugar, custos. Energia nuclear é tecnologia complexa e cara, e ficou ainda mais cara e deixou de ser competitiva em relação a outras fontes de energia com os gastos para melhorar o desempenho e a segurança dos reatores nucleares. De modo geral, só empresas estatais constroem reatores nucleares, ou empresas privadas com fortes subsídios governamentais.
Finalmente, as visões ultrapassadas do "Brasil grande" de que o domínio da energia nuclear era o "passaporte para o futuro", como se ela fosse a única capaz de fazê-lo.
O Brasil, há 35 anos, no governo Geisel, se viu diante desses dilemas e quase embarcou num projeto de se tornar um país "nuclear", com dezenas de reatores nucleares.
Felizmente, o bom senso prevaleceu, porque os cientistas brasileiros, por meio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, alertaram o governo de que o país tinha outras opções melhores para produzir a energia elétrica de que necessitava. Sem esses alertas, a usina hidroelétrica de Itaipu não seria construída, pois os recursos seriam desviados para usinas nucleares, como nos confidenciou em 1992 o general Costa Cavalcante, que, em 1975, era presidente da Eletrobras.
Passados 35 anos, a situação não mudou muito. O país ainda tem amplas oportunidades de produzir energia elétrica a partir de fontes renováveis e não poluentes, como a energia hidroelétrica, cujo potencial ainda está longe de estar esgotado, além de outras opções, como bagaço de cana, em São Paulo, e energia eólica, no Norte do país.
O fato de as usinas nucleares não emitirem "gases de efeito estufa" pode ser uma vantagem na Inglaterra, onde energia elétrica é gerada com carvão, mas não no Brasil, onde as energias renováveis também não emitem esses gases.
Não há, portanto,razões para investir mais em energia nuclear no Brasil, a não ser para acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos dessa área.


JOSÉ GOLDEMBERG, 82, doutor em ciências físicas pela USP, é professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da mesma universidade. Foi reitor da USP (1986-89), secretário da Ciência e Tecnologia da Presidência da República e ministro da Educação (governo Collor) e secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2002-2006).

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

ELIANE CANTANHÊDE

Fonte: folha.uol.com.br 21/01



Haja estômago!

BRASÍLIA - Continuando aquela nossa aulinha básica de aritmética, daquelas comuns em revistas de palavras cruzadas:
Se um sujeito recebe R$ 24 mil desde o regime militar e para todo o sempre por ter sido governador permanente do Paraná por apenas 39 dias (afora as interinidades), quanto vale o dia de trabalho do distinto no final das contas?
Se um presidente da Assembleia Legislativa assumiu o governo de Mato Grosso por dez dias e um outro por 33, e ambos passaram a ganhar uma pensão de R$ 15 mil mensais desde então e até a morte -ou seja, por 20, 30, 40 anos ou mais-, quanto os dois custam ao Estado ao longo da vida? Sem contar os demais salários, verbas de representação e eventuais comissões.
Se a vice-governadora assumiu interinamente durante as viagens do governador do mesmo Estado e com isso conquistou uma pensão vitalícia de R$ 15 mil mensais, quanto cada viagem do titular vai custar aos cofres públicos durante as décadas seguintes?
Se um quinto cidadão consegue acumular numa só vida duas pensões vitalícias, num total de R$ 40 mil por mês, por ter sido governador de Mato Grosso (antes da divisão do Estado) e de Mato Grosso do Sul (depois), a dúvida é mais abstrata: onde é que nós vamos parar?
Isso, no entanto, é só o fio da meada, porque estamos falando de três Estados e de apenas alguns casos de cada um. Vamos imaginar os 26 Estados mais o Distrito Federal, um mandato de quatro anos para cada governador, todos os vice-governadores e presidentes de Assembleias e todas as interinidades dos últimos, por exemplo, 40 anos. Sem esquecer as viúvas que continuaram embolsando a pensão para todo o sempre, claro.
Não há máquina de calcular capaz de fechar essa conta nem um ser humano capaz de entendê-la. Ou melhor, de digeri-la. Porque isso não é mais questão de cérebro; é de estômago mesmo.

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Reforma agrária, uma agenda atual

ROLF HACKBART

Fonte: folha.uol.com.br 21/01

Recente pesquisa do Incra mostrou que a política de acesso à terra é importante investimento em renda, cidadania e justiça social


Hoje, existem 8.763 assentamentos de reforma agrária no país em que vivem 924.272 famílias. O governo Lula incorporou 48,4 milhões de hectares de terras, assentando 614.092 famílias. Também foram criados 3.551 novos assentamentos nos últimos oito anos.
Em 2003, o orçamento geral do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foi de R$ 1,5 bilhão. Em 2010, saltou para R$ 4,5 bilhões. Minha afirmação de que a reforma agrária está colocada na agenda nacional sob os aspectos econômico, ambiental e social foi corroborada com a recente pesquisa sobre qualidade de vida, produção e renda nos assentamentos.
Em dados objetivos, a pesquisa demonstrou que a política de acesso à terra é um importante investimento em renda, emprego, cidadania e justiça social.
Coordenada pelo Incra e executada com o apoio das Universidades Federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Pelotas (UFPEL), a pesquisa aplicou um questionário a 16.153 famílias em 1.164 assentamentos de todos os Estados, mais o Distrito Federal.
Essas informações servirão, dentre outros objetivos, para conhecer a realidade dos assentamentos, orientar as prioridades do próximo plano plurianual e referenciar estudos e reformulações das políticas de reforma agrária.
Comparando as condições de vida das famílias em relação à situação anterior ao assentamento, para 64,86% delas o acesso à alimentação melhorou. A mesma aprovação se dá em relação à moradia (73,50%), à renda (63,08%) e à saúde (47,28%). Dentre os 216 produtos pesquisados, leite, milho e feijão se destacam na formação da renda da maioria das famílias.
A produção agropecuária representa a maior fatia na composição da renda, acima de 50%, derrubando a velha falácia de que os assentamentos são improdutivos.
A alfabetização dos assentados alcança 84%, mas o maior desafio está nos ensinos médio e superior, com acesso inferior a 10%. Pelo menos 70% das moradias possuem mais de cinco cômodos, 79% informaram acesso suficiente à água e 76% possuem energia elétrica.
Os primeiros resultados da pesquisa reafirmam o conjunto de políticas públicas desenvolvidas durante o governo Lula e que terão continuidade na gestão Dilma Rousseff, a exemplo do acesso à energia e da comercialização da produção pelos assentados por meio do Programa Nacional de Aquisição de Alimentos, além das compras de merenda escolar.
Ademais, os assentamentos refletem a realidade socioeconômica das regiões em que estão inseridos.
Portanto, a política de reforma agrária deve ser parte integrante do modelo de agricultura que queremos para o país. A geração de renda nos assentamentos, o ordenamento fundiário e a regularização ambiental são, a meu ver, os principais focos de atenção para o próximo período.
Trata-se do desenvolvimento rural sustentável, que tem no seu principal meio de produção, a terra, um fator de distribuição da renda e de redução da pobreza no Brasil.


ROLF HACKBART é economista e ocupa a presidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desde 2003.

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Arquitetos tentam criar "gramática de museus" no país

Fonte: folha.uol.com.br 21/01


Sócios no escritório Brasil Arquitetura, Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci constroem agora seis novos centros

Projeto mais ambicioso, o Cais do Sertão Luiz Gonzaga, pretende oferecer "experiência concentrada do sertão"

No marco zero de Recife, à beira do mar, um prédio novo deve ser anexado a um antigo galpão, deixando embaixo um enorme vão livre para que a torre Malakoff não perca a vista que tem para o mar.
Do lado de fora, o Cais do Sertão Luiz Gonzaga, projeto da firma Brasil Arquitetura que começa agora a sair do papel, lembra o Masp, obra de Lina Bo Bardi na avenida Paulista. Dentro, um córrego artificial irriga salas de exposição, como no Sesc Pompeia, da mesma arquiteta.
Não espanta que Marcelo Ferraz, homem por trás desse novo museu dedicado à memória do sertão, tenha passado 15 anos ao lado de Bardi em projetos museológicos.
Também esteve ao lado de Oscar Niemeyer na adaptação do antigo edifício Castello Branco, em Curitiba, hoje transformado em museu com formato de olho gigante a mirar o centro da cidade.
Agora com o sócio Francisco Fanucci, está tocando outras cinco obras do tipo depois dos prêmios que recebeu com o Museu do Pão, na cidade gaúcha de Ilópolis, e o Museu Rodin, em Salvador.
Juntos no escritório de nome patriótico, a dupla tem se especializado em museus num momento em que o Ministério da Cultura parece dar continuidade à política um tanto ufanista de gestões anteriores de levar uma construção desse tipo a cada um dos municípios do país.
Ferraz chegou a trabalhar no MinC a convite do ex-ministro Gilberto Gil, mas deixou o posto um ano e meio depois. Não sem antes batalhar no Instituto Brasileiro de Museus, órgão interno do ministério, pela expansão de instituições com foco em memória local por todo o país.
"Esses museus não têm nada a ver com a ideia de museu de 200 anos atrás, aqueles que armazenam coisas", resume Ferraz. "Eles devem contar histórias, têm um papel importante a cumprir na sociedade contemporânea, que não é o de falar a língua da Igreja nem a da escola."
De fato, os projetos que executa agora exaltam aspectos imateriais, ligados a noções de identidade local.
Enquanto o mais ambicioso deles tenta criar uma "experiência concentrada de sertão", partindo da figura de Luiz Gonzaga, outros concretizam questões históricas que marcaram de algum modo aquele ponto no mapa.
No lugarejo de Andaraí, na Bahia, um museu vai relembrar a história da mineração ali. Em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, o Museu do Trabalho e do Trabalhador deve narrar o histórico da luta sindical. No meio do pampa, ruínas de uma enfermaria da Guerra do Paraguai também viram museu.
"Museus são portadores da identidade de cada lugar", diz Fanucci. "Eles se reportam sempre a uma experiência humana muito forte."

MODERNIDADE AGRESTE
E no plano das formas arquitetônicas, essa experiência roça cânones modernistas que a dupla parece ter herdado de Lina Bo Bardi. Não são formas puras, mas uma modernidade agreste, que não disfarça contrastes entre erudito e popular nem as fortes marcas do tempo.
Todos parecem incorporar ruínas, como a enfermaria no pampa, casebres de garimpeiros e até um engenho de cana-de-açúcar, aos traços arrojados do concreto armado, o vidro estrutural e uma preocupação extrema com a integridade dos materiais.
"Tudo depende da preexistência de circunstâncias históricas, culturais, topográficas", diz Fanucci. "Cada projeto tem sua gramática própria", acrescenta Ferraz. "Mas não existe ainda uma língua fechada dos museus."

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

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Servidores querem órgão para fiscalizar tribunais de contas

Fonte: folha.uol.com.br 20/01


Nesta semana Folha mostrou que ministros do TCU usam dinheiro público para viajar a Estados de origem

Funcionários cobram do Congresso aprovação de emenda constitucional que cria conselho de controle dos tribunais


Servidores dos tribunais de contas do país vão pressionar o Congresso pela aprovação de PEC (proposta de emenda constitucional) que cria um conselho nacional para fiscalizar as atividades destes tribunais.
A ideia é fiscalizar sobretudo ministros e autoridades que integram os órgãos.
A Fenastc (Federação Nacional dos Servidores dos Tribunais de Contas do Brasil) informou que a criação de um conselho poderá evitar irregularidades como a revelada nesta semana pela Folha.
Reportagem mostrou que ministros do TCU (Tribunal de Contas da União) usam dinheiro público para viajar para seus Estados de origem, na maior parte das vezes em feriados e finais de semana.
"Nós, servidores, lutamos por uma instância capaz de corrigir defeitos, aprimorar o sistema, corrigir vícios e atos de corrupção", diz o presidente da federação, Marcelo Henrique Pereira.

TRAMITAÇÃO
A PEC tramita desde 2007 no Senado, em análise pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Depois de passar pela comissão, a proposta ainda segue para o plenário da Casa para ser votada em dois turnos.
Pelo texto, seria criado um conselho nos moldes do CNJ (Conselho Nacional e Justiça) e do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público).
O órgão seria integrado por 17 membros indicados pelo próprio tribunal, Ministério Público e órgãos externos -nomeados pelo presidente da República após aprovação do Senado.

FUNÇÕES
Os membros do conselho proposto teriam como principal função controlar a atuação administrativa e financeira dos tribunais.
Além disso, teriam a atribuição de cobrar deveres funcionais de ministros, conselheiros, auditores e membros do Ministério Público junto aos tribunais de contas.
"Em um Estado democrático não se concebe conjuntos orgânicos imunes a qualquer fiscalização. Todo e qualquer poder, órgão, deve estar sujeito a alguma forma de controle para garantir a transparência", afirma o ex-senador Renato Casagrande (PSB-ES), autor da PEC.
O texto da proposta também estabelece que o conselho terá um corregedor-geral para receber reclamações e denúncias contra membros e órgãos dos tribunais de contas do país.

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REFORMA AGRÁRIA

A monocultura conquista o MST

Fonte: correioweb.com.br 20/01

Assentamentos cultivam mamona e girassol, usados pela Petrobras na fabricação de biocombustível

Inspirado no ideário comunista de garantir ao homem do campo um pedaço de chão para sobreviver sem se curvar ao capitalismo moderno, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) está passando para o outro lado do balcão. O governo conseguiu inserir assentamentos do Nordeste e do Sul do país no processo produtivo do biocombustível. No lugar das policulturas voltadas para a subsistência e a agricultura familiar, terras conquistadas graças a processos de reforma agrária tornam-se aos poucos grandes culturas de mamona e girassol. A parceria existe em pelo menos quatro estados do Nordeste, mas o MST pressiona para que a Petrobras amplie os contratos de compra da produção das sementes para outros estados. Paraíba e Pernambuco seriam os próximos da fila.

A monocultura tão criticada por militantes do MST tornou-se realidade nos assentamentos, pois a Petrobras e empresas que revendem o óleo beneficiado para a estatal compram com facilidade a produção. E em vez de se dedicarem à venda do feijão ou do milho que cultivavam, os produtores têm optado pelo dinheiro certo que a produção de oleaginosas tem garantido. Além de comprar a safra, a Petrobras oferece assistência técnica aos produtores dos assentamentos.

Maria Sheila Rodrigues, da Cooperativa de Trabalho das Áreas de Reforma Agrária do Ceará (Cooptrace), entidade ligada ao MST, conta que, dos 7 mil hectares distribuídos entre os 3.239 agricultores filiados, 6.800 são destinados ao cultivo da mamona e 190 ao do girassol. Assentados que optam por “consorciar”, termo usado para a combinação das culturas, plantam algum feijão entre as fileiras da planta espinhosa usada na produção do biocombustível, mas a quantidade é pequena e não é nem mesmo calculada, segundo Maria Sheila. “Temos contrato de compra e venda com a Petrobras. O quilo da mamona sem casca é R$ 1. No feijão e no milho, não tem critério de preço, na mamona é garantido. Não temos controle de quanto é produzido de alimento, pois quase tudo é consumido pelas famílias.”

Adaptação fácil
Atraídos pelo mercado certo do biocombustível e pela garantia de renda, pois as plantas resistem mais às intempéries, os assentados modificam o modo de trabalho. De acordo com os agricultores, há projetos de reestruturação produtiva, de análise de solo, estudos para financiar matéria orgânica para aumentar a produção de oleaginosas e, consequentemente, a renda dos trabalhadores. No Ceará, a estimativa é de que 33 mil assentados atuem na produção de biocombustível.

Enquanto os assentamentos do Ceará são cobertos pelo verde da mamona, em Sergipe o amarelo dos girassóis avança sobre a cultura de alimentos nas cooperativas ligadas ao MST. Lucas de Oliveira, que atua na Cooperativa Regional dos Assentados da Reforma Agrária do Sertão de Sergipe (Coprase), afirma que os homens do campo se acostumam ao cultivo dos girassóis. Ele conta que alguns produtores ainda plantam feijão para a subsistência, mas a possibilidade de sobreviver da venda das sementes da oleaginosa tem movimentado os agricultores porque a planta se adaptou bem à seca. “Temos dois contratos com a Petrobras, de assistência técnica e de comercialização de grãos. Estamos na segunda safra. Temos que adaptá-la ao plantio de milho e feijão, mas os agricultores estão gostando porque o girassol tem uma certa resistência à seca. Para a região, é perfeito.”

O presidente da União das Associações Comunitárias do Interior de Canguçu (Unaic), André Santos, afirma que a entidade ainda não tem parceria com a Petrobras e vende a produção de mamona, girassol e soja para empresas que beneficiam as sementes no estado, o Rio Grande do Sul. Os agricultores aguardam a parceria com a Petrobras para eliminar os intermediários e receber valor de preço final nas vendas.

A Petrobras informou que as parcerias com as cooperativas fazem parte do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, que tem como uma das diretrizes os “selo combustível social”. A estatal, no entanto, pontua que não há “vinculação contratual” com os assentamentos. A Petrobras Biocombustível informa que faz parte da estratégia do programa orientar os assentados a diversificar a produção agrícola, dando informações técnicas sobre o plantio “consorciado” das oleaginosas com o cultivo de feijão e milho.

Fonte limpa
Biocombustível é o nome dado a fontes de energia geradas a partir de vegetais. No Brasil, a cana-de-açúcar, a soja, a mamona e a semente de girassol estão entre as plantas mais comuns na geração de biocombustível, que substitui o petróleo como fonte de energia, considerada uma energia limpa.

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Qualidade de vida em São Paulo

Fonte: folha.uol.com.br 20/01



ODED GRAJEW

A finalidade última das ações individuais ou coletivas e das políticas públicas deveria ser a busca pelo bem-estar dos habitantes da nossa cidade


Ao longo de muitos anos, a variação do PIB (Produto Interno Bruto) tem sido usada para medir o progresso nos países e nas comunidades. Sabemos atualmente que esse indicador é totalmente insatisfatório para avaliar a qualidade de vida e que o crescimento econômico, da forma como tem sido produzido, ao esgotar os recursos naturais e aquecer o planeta, pode inviabilizar a sobrevivência da espécie humana.
Outros indicadores surgiram (como o IDH) e, mais recentemente, vários países têm procurado estabelecer índices para medir felicidade, bem-estar, bem viver ou qualidade de vida da população. O estabelecimento desses índices se tornou fundamental para qualquer comunidade e governo que procura melhorar a vida das pessoas.
Foi nesse sentido que a Rede Nossa São Paulo criou o Irbem - Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município. Preferimos o bem-estar à felicidade por acharmos a felicidade uma responsabilidade mais pessoal do que do governo ou da comunidade.
Nossos grupos de trabalho, após pesquisarem os vários indicadores criados no mundo para medir qualidade de vida e consultarem vários especialistas, elegeram 25 áreas a serem avaliadas, entre as quais: valores pessoais, acessibilidade para pessoas com deficiência, estética, assistência social, cultura, educação, esporte, habitação, infância, juventude, lazer e modo de vida, meio ambiente, mobilidade, relações humanas, religião e espiritualidade, saúde, segurança, sexualidade, terceira idade e trabalho.
Na sequência, foram relacionados diversos itens que comporiam cada área. Em lazer e modo de vida, por exemplo, foram considerados: tempo dedicado ao lazer; frequência de viagens; contato com a natureza; atividades físicas; leitura de jornais, livros e revistas; saída com amigos; visita a familiares; e ida a clubes ou espaços de lazer.
Posteriormente, mais de 36 mil pessoas selecionaram por meio de um questionário os itens que consideram, em cada área, os mais importantes para sua qualidade de vida, determinando, num processo participativo inédito em relação a outros indicadores internacionais, a composição final do Irbem.
A cada ano, na véspera do aniversário da cidade de São Paulo, a Rede Nossa São Paulo promove uma pesquisa -aplicada pelo Ibope- com a população paulistana, perguntando: "Qual é o grau de satisfação, numa escala de 1 a 10, com os itens considerados mais importantes para o bem-estar?".
A pesquisa de 2011 está sendo apresentada no dia de hoje em um evento público. A íntegra desse levantamento, com todas as áreas e com todos os itens pesquisados, está disponível no site www.nossasaopaulo.org.br.
Em relação ao ano passado, a satisfação das pessoas melhorou ligeiramente, mas ainda está abaixo da média em 73% dos itens.
A qualidade de vida para a população de São Paulo ainda está longe de ser satisfatória. A finalidade última das ações individuais ou coletivas e das políticas públicas deveria ser a busca pelo bem-estar das pessoas.
O Irbem promove o conhecimento sobre os fatores mais importantes para o bem-estar das pessoas e dá oportunidade para que os gestores públicos orientem suas ações para melhorar a qualidade de vida da população. Afinal de contas, é para isso que foram eleitos.


ODED GRAJEW, 66, empresário, é coordenador-geral da secretaria-executiva da Rede Nossa São Paulo, fundador e presidente emérito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, idealizador do Fórum Social Mundial, idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq (1990-1998). Foi assessor especial do presidente da República (2003).

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Previsões para 2011

Como fazemos todos os anos, o The Herman Group e a TDC publicam sua previsão anual. A maioria das previsões se encaixa, perfeitamente, no ambiente atual de trabalho do Brasil e algumas poucas estão mais ligadas as condições econômicas e políticas dos Estados Unidos.

1. Recrutamento e seleção serão intensificados. Já podemos notar que as grandes organizações estão procurando um número cada vez maior de novos funcionários. Em breve, no decorrer de 2011, as pequenas e médias empresas entrarão nessa briga por talentos. Muitas empresas, que eliminaram suas áreas de recrutamento, irão utilizar pessoal interno para a área de recrutamento com o objetivo de eliminar custos de "headhunters".

2. A taxa de desemprego ainda estará em patamares relativamente altos. Estima-se que, em 2011, a taxa de desempregos ainda permaneça acima dos 8%. O desafio das empresas é que a maioria das pessoas desempregadas não tem as habilidades necessárias para o preenchimento das vagas.

3. O desenvolvimento da força de trabalho terá sua importância aumentada. Na medida em que as comunidades percebem a disparidade entre as habilidades desejadas com as que as pessoas possuem atualmente, o desenvolvimento da força de trabalhará ganhará uma importância maior. O governo federal irá criar uma legislação para auxiliar neste processo.

4. Mais empresas se voltarão para a tecnologia para gerenciar processos e manter controle sobre relacionamentos. As empresas fornecedoras de software verão seus negócios crescerem. As empresas terão como desafio treinar seu pessoal para a utilização destes novos sistemas.

5. Mais empresas terão mulheres em cargos executivos. Com o aumento da porcentagem de mulheres nas faculdades e universidades, o mundo está formando mais mulheres capacitadas e qualificadas que poderão crescer nas organizações até atingir cargos importantes.

6. Os níveis de crescimento corporativo dependerão da região. Os Estados Unidos e a Europa ficarão atrás da Ásia e da América do Sul em termos de crescimento de empregos e lucros. Adiar decisões sobre desemprego e políticas habitacionais dificultarão a expansão.

7. As empresas que não restauraram os incentivos sobre vendas, terão que fazê-lo em 2011. Ao reconhecer a desvantagem competitiva, as empresas além de restaurarem os incentivos sobre vendas nos níveis anteriores, irão buscar formas inovadoras para incrementar estes programas com incentivos não financeiros apoiados nas circunstâncias sociais dos indivíduos.

8. A revogação da lei "Don't Ask-Don't Tell terá ampla repercussão. Esta lei, que permite que os gays prestem serviço militar, abrirá portas para o reconhecimento de "parcerias domésticas". Mais empresas admitirão estas parcerias, como a união civil, e terão de arcar com gastos e benefícios maiores.

9. As empresas prestarão mais atenção na retenção de pessoas. Taxas de rotatividade mais altas e a maior dificuldade em recrutar as pessoas ideais desafiarão, novamente, as organizações. Assim, por uma questão de necessidade, elas serão forçadas a cuidar da retenção de seus talentos.

10. O aumento do ambiente regulatório provocará a necessidade de recrutar advogados trabalhistas. Com o constante aumento das fiscalizações do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, assim como em função de regras excessivas, as empresas não terão outra opção senão promover seus advogados trabalhistas para níveis mais altos, ou então buscá-los no mercado.
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Copyright 2006 by the The Herman Group. Reprodução permitida desde que com citação da fonte. Artigos de Roger Herman e Joyce Gioya, Business Futurists e consultores associados da TDC Capacitação Profissional.