sábado, 27 de fevereiro de 2010


Susto
Elevador despenca e deixa feridos

Segundo informações oficiais, nove pessoas, entre elas um bebê, desciam no Bloco A da Esplanada dos Ministérios, quando o equipamento caiu de uma altura de 10 metros


A Esplanada dos Ministérios foi cenário de um acidente que, por sorte, não passou de um grande susto. Por volta das 14h, nove pessoas, entre elas um bebê, pegaram um elevador no térreo do Bloco A, onde funciona o Ministério do Esporte e outros órgãos do governo federal, mas não chegaram ao destino. Entre o 4º e o 6º andar, segundo as vítimas, o equipamento despencou e parou apenas no subsolo do prédio. De acordo com o Corpo de Bombeiros, porém, a queda ocorreu a partir do 2º andar, de uma altura de 10 metros. As vítimas foram levadas para o Hospital de Base de Brasília (HBDF) e, até o fechamento desta edição, apenas uma continuava internada, com achatamento de uma vértebra.

Quem estava no elevador conta que, no momento da queda, as luzes do equipamento continuaram acesas e, cerca de dois minutos depois, brigadistas iniciaram o socorro. “A sensação foi a de um acidente aéreo”, comentou uma das vítimas, Samira Marcos, 24 anos. Ela estava no elevador com o marido, Yakari Kuikuro, que carregava a filha do casal, de 10 meses, no colo. A criança não se feriu.

Do lado de fora do elevador, a mãe de Samira aguardava para subir em uma próxima viagem. Míriam Marcos acompanharia a filha, diretora do Instituto de Memória da Cultura Indígena, em uma reunião na Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Ao ouvir um grande estrondo e o choro da neta, ela correu para o subsolo do prédio. Apesar do susto, Samira não teve ferimentos graves. Ficou apenas com uma luxação e arranhões nas pernas. Para proteger a pequena Maytsairu das consequências do impacto, o marido dela, Yakari (ambos são indígenas), acabou caindo de joelhos sobre o piso e também teve ferimentos leves.

Quem também estava no hall do prédio era José Sebastião Araújo, funcionário de uma secretaria instalada no local. Ele ouviu um barulho semelhante à explosão de uma bomba e correu para o subsolo. “As pessoas estavam em estado de choque, assustadas e tremendo. Não conseguiam falar”, relata. Por volta de 14h30, ambulâncias do Corpo de Bombeiros transferiram o grupo para o Hospital de Base. O resgate reuniu curiosos e um grande contingente de servidores que trabalham nas proximidades. As portas do edifício foram fechadas e só funcionários com crachá podiam circular.

A última vítima a ser socorrida foi Maria Isabel Oliveira, que trabalha como assessora de gabinete de um ministério. Ela não percebeu os efeitos do acidente de imediato, já que conseguia caminhar após a queda do elevador. Mas, com o passar do tempo, sentiu dores nas pernas e foi levada, imobilizada e de maca, para o hospital. Até o fechamento desta edição, ela havia se cansado de esperar por atendimento no Hospital de Base e teria seguido para casa. Porém, teria percebido um inchaço na perna e procurado a emergência do Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Não há mais informações sobre seu estado de saúde.

No fim da tarde, o primeiro a ser liberado do HBDF foi o motoboy Douglas Carvalho Sobrinho, 23 anos. Ele fazia a entrega de convites no local. Segundo Douglas, o elevador balançou antes de cair e um pouco de poeira entrou pelas frestas. “Não deu tempo de pensar em nada. Estou tremendo até agora”, ressaltou. Ele foi medicado e ganhou atestado médico para descansar por três dias.

Vértebra atingida
Três funcionárias da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) também estavam no elevador. O estado mais grave era o de Fernanda Lattarulo Campos, 25 anos. Ela sofreu achatamento de uma vértebra e deverá usar colete ortopédico por cerca de quatro meses. A expectativa é que ela fosse transferida para o Hospital das Forças Armadas (HFA) ainda durante a noite de ontem. Uma de suas colegas, Naiá Schurmann Brilliager, sofreu luxação no tornozelo e sente dores pelo corpo, mas já foi liberada do hospital. A terceira funcionária da Senad, identificada apenas como Sirjane, também teve dores musculares e já deixou o HBDF.

O elevador foi interditado para que fosse realizada a perícia pela Polícia Civil. O resultado do laudo deve sair em até 15 dias. Ontem à tarde, os peritos concluíram que o cabo que movimenta o elevador não se rompeu. A 5ª Delegacia de Polícia (área central de Brasília) abriu inquérito para apurar o acidente. Em nota, o condomínio do Bloco A manifestou-se sobre o acidente. O texto menciona a substituição dos quatro elevadores, em dezembro último, destaca que o fato será elucidado pela perícia e afirma que ninguém se feriu gravemente. Na nota, consta ainda que nove pessoas estavam no elevador, mas o Correio teve acesso a informações a respeito de oito vítimas.

Empresa aponta modernização


A AMG Inteligência e Elevadores, responsável pela instalação dos equipamentos no Ministério do Esporte, só vai se pronunciar oficialmente após ter acesso ao laudo da perícia realizada ontem pela Polícia Civil. O gerente comercial da empresa, Edmilson Rodrigues, disse que tentar definir as causas do acidente antes disso seria “algo precipitado”. “Temos que aguardar o laudo conclusivo para saber o que aconteceu”, disse.

Segundo Rodrigues, cerca de 600 elevadores foram modernizados pela AMG no Distrito Federal e nunca houve qualquer acidente como de ontem. “É a primeira vez que isso acontece. Não é normal”, afirmou. No ministério, o trabalho de modernização está sendo realizado há quatro meses e ainda não foi concluído.

O gerente disse que o fato de o elevador ter ficado intacto é um bom sinal. “Prova que os itens de segurança funcionaram. Se o piso não foi comprometido, é porque o elevador não bateu na mola, ou seja, o freio de segurança funcionou bem”, comentou. “Para quem está dentro (do elevador), não é uma sensação boa, é terrível. Mas temos que agradecer a Deus por não ter sido mais grave”, completou.

O episódio de ontem foi o mais perigoso registrado no local, mas os elevadores do Bloco A da Esplanada dos Ministérios vêm dando dor de cabeça, segundo os usuários, desde o começo do ano. Em dezembro, a AMG começou a reforma, que incluiu a troca dos cabos e da caixa do elevador. Desde então, quem trabalha ou frequenta o prédio coleciona pequenos incidentes. José Sebastião Araújo, funcionário do local, disse que ficar preso entre os andares é frequente. “Acontece quase que diariamente”, alerta.

Mas o pior episódio foi descrito por Maria Eunice Oliveira, funcionária da Presidência da República que trabalha no prédio. Na sexta-feira de carnaval, ela e mais 11 pessoas seguiam para o térreo, quando este mesmo elevador despencou. Porém, neste dia, não chegou a ferir ninguém, e, antes de tocar o solo, parou entre dois andares. O grupo esperou cerca de 10 minutos até ser resgatado por bombeiros. A funcionária destaca que, segundo a empresa responsável, os elevadores estão em fase de testes. “É preciso interditar esses equipamentos. Estão fazendo experiências com a vida dos outros?”, questiona.
Fonte: Correioweb 27/02

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Arte contemporânea devassada

Num livro instigante, pesquisa traça, por meio de entrevistas com artistas brasileiros, os rumos da produção atual


Mal começa, a entrevista envereda para território tenso. Nas oito linhas destinadas à pergunta, uma sucessão de afirmações especula sobre as dificuldades e choques nas relações humanas e a repercussão nas artes visuais. O artista plástico Tunga não vacila e responde: “Não vejo enunciado na sua pergunta. (…) A sua pergunta já se responde.” O entrevistador não se intimida e desenvolve o raciocínio na pergunta seguinte. O artista prossegue: “Você está me dizendo isso (…)”. Mais adiante, afirma: “Você parte de pressupostos com os quais não necessariamente concordo.” É um dos momentos mais saborosos e, sem dúvida, aquele que mais justifica a escolha do pesquisador Felipe Scovino para o formato do livro Arquivo contemporâneo.

Realizado em 2008, com a Bolsa de Estímulo à Produção Crítica da Funarte, e recém-publicado pela editora 7Letras, o livro compila 13 entrevistas em forma de pergunta e resposta com artistas brasileiros contemporâneos nas quais Scovino se propôs a investigar que ideias e conceitos norteiam a produção brasileira atual.

Professor do departamento de artes visuais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o autor queria entender que caminhos tomou a arte brasileira após a dissolução do neoconcretismo(1). “Eu julgava que havia poucos estudos. Essa profusão de ideias da arte brasileira está muito baseada numa visão estrangeira sobre nossa produção. Estabeleci duas vertentes: uma de artistas brasileiros que começaram a produzir entre anos 1960 e 1970 e uma segunda leva, que seriam os artistas que tiveram um amadurecimento entre anos 1990 e 2000”, conta.

Para a primeira parte, Scovino entrevistou Antonio Dias, Tunga, Waltercio Caldas, Carlos Vergara, Artur Barrio, Anna Bella Geiger e Cildo Meireles como representantes de uma geração imediatamente posterior ao neoconcretismo. “É uma geração que, claro, tem laços com os neoconcretos, mas tende a criar um campo experimental e autônomo frente às experimentações que Hélio (Oiticica) e Lygia (Clark) fizeram no neoconcretismo.”

Da geração seguinte o autor entrevistou Ernesto Neto, Adriana Varejão, Cao Guimarães, os integrantes do coletivo Chelpa Ferro, Ricardo Basbaum e Raul Mourão. “Quando chegamos aos anos 1990 e 2000 é engraçado porque a lembrança deles do neoconcretismo é muito vaga. O Neto talvez seja o artista que se difere, mas para a Adriana isso (o neoconcretismo) não vai estar presente no trabalho”, constata Scovino, que montou a lista de entrevistados baseado na proximidade geográfica — todos são artistas residentes no Rio de Janeiro — e no conhecimento das obras. “Escolhi por ter uma proximidade intelectual por conta de meus trabalho no terreno acadêmico e pelo fato de ter assistido ao vivo as obras desses artistas.”

O formato de entrevista com pergunta e resposta, em vez de perfis críticos teve a intenção de privilegiar a fala dos artistas. Scovino acha pobre a quantidade de publicações que privilegiam a voz do artista no mercado editorial. O formato pergunta-resposta permite uma complementação da obra, mas nunca uma explicação. O autor repudia a ideia de buscar na fala do artista os atalhos para a compreensão dos trabalhos. “O importante é atentar para como essa escrita cria uma conversa com o trabalho plástico do artista”, avisa.

O trunfo de Arquivo contemporâneo está exatamente em ler o que os artistas mais significativos da cena contemporânea brasileira — ainda que faltem expoentes de outras regiões do país — pensam sobre os mais variados temas que não os conceitos referentes a suas obras. Assim, é revelador ler Ernesto Neto a especular sobre a utopia da felicadade na sociedade brasileira ou Cildo Meireles lamentando as últimas gestões conturbadas da Bienal de São Paulo e Adriana Varejão comemorando a colonização portuguesa no Brasil.

No sentido inverso, o autor também se beneficiou das entrevistas para pensar sobre sua própria pesquisa. “No caso do Tunga foi uma entrevista tensa, mas foi a primeira vez que me questionei sobre as perguntas que fazia, ele me fez pensar na posição de entrevistador, que, às vezes, é muito cômoda. Foi interessante, ele me colocou à deriva e me tirou da posição segura de entrevistador.”

1 - Mais emoção
O neoconcretismo foi um movimento comandado por artistas cariocas nas décadas de 1950 e 1960 em oposição ao concretismo, que reunia principalmente artistas de São Paulo. Os cariocas pregavam a presença de mais emoção e expressão na arte abstrata geométrica que dominava o ateliê dos artistas na época. Ao contrário dos cariocas, adoradores da forma em detrimento da emoção, os neoconcretos defendiam a subjetividade e a interação com o público. Os maiores nomes do neoconcretismo foram Lygia Clark e Helio Oiticica.

Lei trecho do livro na internet


O que eles dizem

Tunga
“O que você está chamando de arte contemporânea é um fenômeno que acontece dentro da sociedade ocidental, num circuito determinado de cultura, que envolve museus, colecionadores, críticos, imprensa, etc. Isso é, a rigor, um grão perto daquilo que é o exercício da subjetividade da sociedade ocidental contemporânea. Falar do homem e da existência a partir desse pequeno grão me parece restrito…”

Ernesto Neto
“A essência do valor da existência humana, do que é a vida, de como construímos uma sociedade, continua sendo a mesma: extremamente egoísta e baseada no lucro. A questão é mudar o paradigma. As escolas de samba são um bom exemplo dessa possibilidade. As pessoas trabalham o ano inteiro para em um dia acontecer a concretização. Tem um dado de fantasia, de querer um sonho. É outra utopia, que não é a social, de querer uma sociedade mais justa. É uma utopia de felicidade. À sociedade está faltando sonhar.”

Adriana Varejão
O mercado internacional estava funcionando de uma maneira tão absurda que existia fundo de investimento em arte. Nesse sentido, artistas com uma carreira mais extensa estavam com suas obras cotadas em valores baixos, comparando com os artistas novos. Não havia lógica. Por isso, acho que a crise econômica pela qual estamos passando normalizará esses valores e o mercado parará com a histeria, e as pessoas passarão a adquirir arte pelas razões certas.”

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Ipea: Brasil forma muitos engenheiros nas faculdades, mas poucos trabalham na profissão

De cada 3,5 engenheiros formados no Brasil, apenas um está formalmente empregado em ocupações típicas da profissão. Isso mostra que o país tem um número suficiente de engenheiros para dar conta dos novos postos que devem surgir com o crescimento econômico. No entanto, é necessário que aumente a proporção de profissionais dedicados às áreas específicas da engenharia, para que o país dê conta de acompanhar os cenários mais otimistas.


A avaliação é do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e consta da sexta edição do boletim Radar: Tecnologia, Produção e Comércio Exterior. Segundo o Ipea, o estudo foi motivado pela possibilidade de não haver número suficiente de engenheiros no país para dar conta da demanda que deverá surgir com o crescimento econômico. Isso, assinala a instituição, poderia resultar em um "apagão de mão de obra qualificada", caso a economia venha a crescer a taxas mais altas ou por causa de mudanças tecnológicas, principalmente em alguns setores, como o do pré-sal.

De acordo com o Ipea, a demanda tem superado o aumento de oferta de mão de obra no mercado. O ponto que mais preocupa seria a baixa proporção de formados que estão formalmente empregados em ocupações típicas da profissão.

Para realizar o estudo, o Ipea identificou o requerimento técnico por engenheiro - quantidade de profissionais com essa competência requerida tecnicamente para atender a um determinado nível de produção - para formação do PIB (Produto Interno Bruto). Além disso, projetou a quantidade de engenheiros potencialmente necessários a cada ano, entre 2009 e 2022.

Em 2008, o estoque de graduados em engenharia foi de cerca de 750 mil, enquanto o requerimento técnico por esses profissionais foi de 211.713 profissionais. No ano anterior, o total de graduados foi de 188.654 e em 2006, 174.183.

Três cenários distintos, em relação ao crescimento do PIB - 3%, 5% e 7% ao ano - foram analisados. As projeções levaram em conta apenas empregados em ocupações identificadas como próprias de engenheiros, arquitetos e outros profissionais correlatos e pondera que há muitos diplomados em engenharia que exercem outras ocupações e não foram incluídos no estudo.

Baseadas nos números de pessoas que concluíram os cursos de engenharia, na produção e na construção no Brasil, além da projeção dos formandos, o Ipea estima que em 2015 haverá 1,099 milhão de engenheiros disponíveis no mercado.

O estudo constata também que, à primeira vista, a disponibilidade de engenheiros seria suficiente para enfrentar a demanda, desde que o crescimento do PIB se mantenha em 3% ao ano e a proporção entre formados, na comparação com os formalmente empregados, caia para três por um - atualmente, de cada 3,5 engenheiros formados apenas um está empregado formalmente em ocupações típicas.

No patamar três por um, a demanda estaria em 1,001 milhão de profissionais em 2015. Número abaixo dos 1,099 milhão de engenheiros que deverão estar atuando no mercado, segundo o Ipea.

Caso o crescimento do PIB fique a 5% ao ano, serão necessários 1,155 milhões de profissionais - número ligeiramente maior do que o previsto (1,099 milhão). E, com crescimento de 7% ao ano, serão necessários 1,462 milhão de engenheiros.

Já a projeção para 2022 aponta que haverá 1,565 milhões de engenheiros em ocupações típicas - número suficiente para dar conta da demanda caso o PIB cresça 3% ou 5% ao ano. Mas para isso será necessário que se aumente a proporção de profissionais dedicados a atuar nas ocupações típicas de engenharia, e de cada dois formados, um esteja dedicado a elas.

Caso se mantenha o quadro atual - de 3,5 formados, um atua em emprego típico-, a demanda será de 1,861 milhão de engenheiros, para o caso de um PIB com crescimento de 3% ao ano; e de 2,48 milhões de engenheiros para o caso de se registrar crescimento do PIB em 5% ao ano.

Na proporção de 3 para um, ficarão bem próximas a demanda e a oferta de profissionais no ano de 2022, serão necessários 1,595 milhão de engenheiros para um mercado que deverá ser de 1,565 engenheiros, caso de o PIB cresça 3% ao ano. Caso cresça 5% serão necessários 2,125 milhões de engenheiros; e 3,405 milhões, caso o PIB tenha crescimento anual de 7%.

Fonte: Agência Brasil Brasília 24/02

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