domingo, 21 de fevereiro de 2010


Livro aborda mudanças de capital no Brasil

Uma das maiores sociólogas do país, a professora Barbara Freitag, do Departamento de Sociologia da UnB, lançou este ano o livro Capitais migrantes e poderes peregrinos: o caso do Rio de Janeiro. A obra é fruto de um projeto de pesquisa integrado, desenvolvido na universidade com apoio do CNPq, sobre os impactos das mudanças de capital no Brasil. A publicação já está disponível na Livraria do Chiquinho, na entrada do ICC Norte.  Fonte: UnB.br 19/02

E MAIS:
- Capitais migrantes e poderes peregrinos: o caso do Rio de Janeiro. Bárbara Freitag. Editora Papirus. 1ª Edição. 400 páginas. R$ 59. A obra fala sobre os impactos que a mudança da capital para Brasília causou no Rio de Janeiro.
- A elite dirigente do governo Lula. Maria Celina D’Araujo. Editora CPDOC/FGV. 1ª Edição. 140 páginas. R$ 29. A autora traça o perfil dos funcionários que ocupam os altos cargos da administração pública no governo Lula.
- O senso prático. Pierre Bourdieu. Editora Vozes. 1ª Edição.  470 páginas. R$ 73. O sociólogo critica a razão teórica e destaca a importância do pensamento primitivo, ou lógica prática, que é a qual recorremos para colocar ordem no mundo, quando diferenciamos masculino e feminino, ou leste e oeste.
- Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina. Florestan Fernandes. Global Editora. 4ª Edição. 140 páginas. R$ 25. O livro reúne três ensaios do sociólogo sobre a crise estrutural pela qual atravessou a América Latina na década de 70 causada pelo capitalismo dependente.
- Para onde vai o mundo? Edgar Morin. Editora Vozes. 1ª Edição. 70 páginas. R$ 18. O autor faz uma análise de para onde está indo a humanidade. Fonte: UnB.br 19/02
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CARLOS HEITOR CONY

A graça do Carnaval de graça
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COMO SE não bastassem os problemas que já temos, surge mais um na temática -e na problemática- nacional: a competição relativa "ao melhor Carnaval do mundo". Cariocas, baianos e recifenses não entregam o ouro ao bandido e garantem promover inter muros a melhor festa popular do universo.
Não sou entendido na questão (na realidade, não entendo nada de nada), mas meto minha colher neste angu cívico: guardadas as proporções, acredito que todos têm razão. Em Recife, o Carnaval é Carnaval simplesmente, a animação começa e termina na própria animação. O recifense não considera o seu Carnaval uma missão, uma boa ação existencial, uma bacanidade suplementar. Faz o Carnaval como a chuva que chove. A adjetivação passa à margem.
Na Bahia, o Carnaval é empolgação e não existem aparelhos específicos para se medir alegria, emoção e festança. Visualmente, é o mais popular de todos, mas há uma adversativa: cheira a compromisso -alegre sem dúvida, mas compromisso. Saudável, mas compromisso. Parece que participar do Carnaval baiano conta ponto em alguma esfera não terrestre, como se fosse uma boa ação de escoteiro.
Anos atrás, voltando de uma viagem, fiquei pasmo quando soube que um trio elétrico executara a "Ave Maria", diante de uma multidão em transe. Taí: esse é um tipo de desvirtuamento pior e mais equivocado do que a zorra dominante no Carnaval do Rio.
Não sei se me entendem, mas é como uma criança de dois anos aplicando na Bolsa de Valores: não tem nada a ver, ainda que jogue certo.
E passemos ao Carnaval mais polêmico, que é o do Rio. Há muito o Estado tomou conta da chamada folia momesca e isso é considerado um mal. E é mesmo. Tal como aconteceu com a própria sociedade humana, em sua gênese de sociedade, houve um instante em que a estrutura pessoal, familiar ou tribal sentiu que a barra pesava demais e criou a estrutura do Estado -ou seja, um organismo para gerir a confusão, aumentando-a.
De início, o Carnaval carioca era mais ou menos como o de Recife e o da Bahia, na base do eu-sozinho, e assim viveu durante muitos anos. Mas o volume de interesse e o peso de investimentos obrigaram o carnavalesco a apelar para a estrutura maior da própria sociedade, ou seja, o Estado, o governo. O Carnaval então mudou, não de grau, mas de gênero. Virou outra coisa, outra festa. E aí entra a peçonha do meu juízo.
A carga existencial que cada folião coloca em seu Carnaval independe da organização do Estado, mas pode sobreviver apesar dela e até mesmo contra ela. Digo isso porque, em anos passados, vi o choro de um velho dirigente da Mangueira ao saber que sua escola havia ganho: há muitos anos que esse folião não faz folia, ou seja, não exerce seu nobre mister. Foi compositor antigamente, foi passista e malandro do morro. Hoje, é um burocrata do samba que não chora por nenhum motivo na vida. A não ser quando a Mangueira ganha. O que acontece de tempos em tempos nos últimos tempos.
A emoção desse carnavalesco é tão digna quanto outra qualquer. E para ficarmos com a Mangueira, cito outro exemplo: a jovem divorciada que rodou a baiana e quis sair no Carnaval. Botou um biquíni em cima do corpo e foi pular por aí. Quando deu por si, estava numa das alas da Mangueira. Pensou que fosse a Portela e pulou do mesmo jeito. Bancou aquele personagem que fazia prosa e não sabia. Ela fez, sem saber, o melhor Carnaval.
Neste ano, para glória dos entendidos, o Carnaval de rua começa a retornar sem ainda aquela espontaneidade dos blocos antigos. Guardadas as proporções, são eventos programados, com seus cartolas, suas leis específicas, com apelos que nada têm de carnavalescos. Fazem blocos até para ajudar os sobreviventes do terremoto do Haiti. Ou prestam homenagens, merecidíssimas aliás, a importantes celebridades de nossa vida artística ou cultural.
Ainda dá para passar. Mas o bloco antigo era diferente. Lembro de um, no Méier, em que o cidadão estava fazendo a barba e um pequeno bloco entrou pela casa adentro. O sujeito não resistiu ao apelo, saiu de pijama mesmo, navalha na mão, o rosto ensaboado. Foi preso por causa da navalha, mas considerou-se o preso mais feliz do mundo.
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FSP 19/02 

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