quarta-feira, 29 de maio de 2013
Justiça pela qualidade
na educação.
Autor(es): Priscila Cruz
O Estado de S. Paulo - 29/05/2013
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Em qualquer sociedade do século 21, são inúmeras as
demandas sociais, econômicas e culturais. Aqui, no Brasil, não é diferente.
Apesar de muitos progressos, ainda temos enormes desafios pela frente.
De fato, é muito difícil falar em prioridade. Entretanto,
não há estratégia mais vigorosa e sustentável para melhorar a vida dos
brasileiros e elevar o patamar do País em diversas áreas do que garantir o
direito da população a uma educação pública de qualidade.
Se existe uma área capaz de ir muito além de seus
resultados diretos, essa área é a educação. Seu impacto na saúde, na segurança,
no crescimento econômico, na redução da pobreza e das desigualdades e até na
felicidade das pessoas está consagrado nas mais recentes e robustas pesquisas
nacionais e internacionais.
Esse entendimento, aliás, existe há muito tempo em nosso
país. Mais de 80 anos atrás, os chamados "Pioneiros da Educação Nova"
assim abriram o seu Manifesto, de 1932: "Na hierarquia dos problemas
nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação".
Além de entendermos todos os bons impactos da educação de
qualidade na nossa vida, é preciso reconhecer que a educação básica é um direito
constitucional - e que, portanto, se devem assumir claramente o dever e a
responsabilidade de fazer com que esse direito seja cumprido.
Pois bem, então, de quem é a responsabilidade pela educação
no País?
A nossa Constituição federal diz que é um dever do Estado e
da família, com a colaboração da sociedade. Ao Estado cabe garantir o direito
dos alunos ao acesso, à permanência e à conclusão dos estudos, em sistema
público gratuito, com equidade e qualidade.
Os três Poderes fazem parte do Estado. No entanto, o
primeiro que vem à mente do cidadão é o Poder Executivo (principalmente o
Executivo federal). Depois, o Poder Legislativo e, com sorte, o Poder
Judiciário. Porém todos os três Poderes têm o dever constitucional de garantir
o direito à educação.
O Sistema de Justiça é espaço essencial para garantirmos
condições mais justas de vida e de desenvolvimento dos brasileiros e do Brasil.
Seus operadores - juízes, promotores, defensores públicos - são a chave para a
garantia do direito à educação de qualidade para todos os brasileiros, tanto
por se tratar de um direito humano fundamental quanto por ser essencial ao
exercício dos demais direitos.
Ao lado do Executivo e do Legislativo, o Sistema de Justiça
tem, portanto, a missão contemporânea de combater o maior erro histórico do
nosso país: o descaso para com a educação. Por séculos, milhões de pessoas
tiveram sua realização pessoal e sua capacidade de contribuir para uma
sociedade melhor sacrificadas.
Em recente lançamento do livro Justiça pela Qualidade na
Educação, publicação organizada pelo Movimento Todos Pela Educação e pela
Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores
Públicos da Infância e da Juventude (ABMP), o relator especial da Organização
das Nações Unidas para o Direito à Educação, dr. Kishore Singh, observou, de forma iluminada, que "o
direito à educação não é um ideal ou uma aspiração, mas um direito legalmente
executável".
O trabalho da Justiça, portanto, deve ser o de garantir que
o direito à educação seja efetivado em suas diversas dimensões, com foco em
soluções estruturantes - ainda que os pleitos específicos ou individuais também
mereçam atenção. É preciso que o mundo jurídico e o educacional se encontrem e
se articulem com o propósito de elevar a qualidade da educação para o aluno,
pois ainda é muito comum que o desconhecimento mútuo leve a decisões judiciais
que prejudicam a educação e ações educacionais fora dos limites legais.
Em 2001, o Sistema de Justiça mobilizou-se em torno da
Justiça pela Educação, um apoio sem o qual o Brasil não teria dado o grande
salto rumo à universalização do ensino fundamental, a etapa obrigatória na
época. E isso significou um avanço importante: em 2012, chegamos a 98,2% de
crianças e jovens de 6 anos a 14 anos na escola.
Não há dúvida, no entanto, de que a mobilização pela
qualidade da educação é a maior necessidade contemporânea brasileira, uma vez
que, mesmo tendo avançado nesse sentido nos últimos anos, esse avanço ainda é
lento.
Portanto, a ideia de aproximar mais as duas áreas - a da
educação e a do Direito - para buscar ajudar o Brasil a dar esse imprescindível
novo salto educacional não significa a judicialização da educação. Ao
contrário, a ideia é fazer com que, juntas, essas áreas possam ajudar-se no
entendimento sobre a questão da qualidade da educação, mais especificamente da
garantia da aprendizagem dos alunos, e assim fazer com que a área educacional
avance de maneira mais acelerada e persistente nos próximos anos.
O Poder Executivo, o Legislativo e o Sistema de Justiça
podem, juntos, estabelecer uma estrutura de ações e articulações necessárias
para a obtenção de resultados, com responsabilidades bem definidas de cada um
dos entes envolvidos, buscando a efetivação do direito à educação de qualidade
para todos.
A questão não é simples. Existem muitos consensos na área
educacional, mas também muitas divergências. A aprendizagem dos alunos desde os
primeiros anos na escola," no entanto, é um consenso e um direito deles,
que deve ser assegurado.
Devemos ter em mente que não será qualquer educação que
efetivará os direitos das crianças e dos jovens. Nem garantirá a
sustentabilidade social e econômica do Brasil./ Diretora executiva do Movimento
Todos Pela Educação
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Dicas de português
por Dad Squarisi .
dadsquarisi.df@dabr.com.br.
CORREIO BSB 29.05
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Recado
“Quem cala consente.”
Povo sabido
Língua afiada
Nossa Senhora! Apesar da pane no site do MEC, o Enem bateu
recorde. Mais de 7 milhões de estudantes se inscreveram no novo jeito de entrar
na universidade. Com o sucesso, uma condição se impõe — pronunciar a palavra
com respeito aos ouvidos. Recorde joga no time de concorde e acorde. São todas
paroxítonas. A sílaba tônica é cor sim, senhores.
Sem limite
A tecnologia avança. Sofisticação e perfeição se dão as
mãos e apresentam criações até há pouco inimagináveis. É o caso da tevê. Depois
de LCD, LED e 3D, pinta novidade na praça. Trata-se de aparelhos com
ultradefinição. A imagem por eles transmitida ultrapassa a perfeição. Ufa! A
notícia despertou a curiosidade de gregos e troianos.
Questões pipocaram a torto e a direito. Uma delas: a grafia
do mais recente objeto de desejo. Com hífen? Sem hífen? Ulta- obedece à regra
que abarca a maior parte dos prefixos. Pede o tracinho quando seguido de h ou
de a (letras iguais se rejeitam). No mais, é tudo coladinho como unha e carne:
ultra-humano, ultra-avançado, ultradefinição, ultrarregrado, ultrassatisfeito.
Manhas latinas
Guarde isto: o latim dispensa hifens e acentos. Por isso,
Corpus Christi se escreve assim — latinamente.
Em tempo
A maior dor de cabeça do governo? É a dor no bolso dos
brasileiros. Trata-se da inflação. O preço dos alimentos está pela hora da
morte. Com os mesmos reaizinhos, compra-se cada vez menos. Tão grave situação
levou muitos a tomar decisão inédita — parcelar o valor registrado pelo caixa
do supermercado.
E daí? Alexandre Tombini, presidente do Banco Central,
anunciou medidas. “Vamos agir tempestivamente”, disse diante de câmeras e
microfones. Viva! O homem pode estar perdido na busca de saídas para a rebeldia
dos preços. Mas sabe o significado de palavras. Tempestivamente pertence à família
de tempo. Quer dizer em tempo, dentro do prazo.
Muitos confundem o vocábulo com temperança. Aí, metem os
pés pelas mãos. Falam em “pessoa intempestiva” para classificar a criatura de
pavio curto. Bobeiam. O adjetivo não tem relação com temperamento. Tem, isto
sim, com oportunidade, prazo. Ação intempestiva quer dizer fora do tempo
próprio, inoportuna.
Dizem por aí
Dilma chamou a trapalhada com o Bolsa Família de “boato
falso”. Ouvintes ficaram intrigados. A questão: boato falso é pleonasmo? Não.
Boato, segundo o Aurélio, é “notícia anônima que corre publicamente sem
confirmação”. Pode ser falsa ou não.
Que vista!
Os brasilienses dizem que têm o céu mais bonito do mundo.
Os nova-iorquinos são mais modestos. Afirmam que, em cinco dias, têm o pôr do
sol mais bacana de Europa, França e Bahia. Entre 26 e 30 de maio, bola de fogo
se vislumbra entre edifícios e… deslumbra. Ao divulgar o fato, o repórter
vacilou na hora do plural. Como é mesmo? É assim: pores do sol.
Por falar nisso…
Pôr do sol ensina ensina duas lições. Ambas remetem à
reforma ortográfica:
1. Pôr e pôde (passado do verbo poder) são as únicas
palavras que conservam o acento diferencial. As demais ficaram livres e soltas
— sem lenço, sem documento, sem agudos e sem circunflexos: Ontem ele não pôde
pôr os livros na estante. Hoje pode.
2. Compostos com mais de duas palavras (ligadas por
conjunção, preposição, pronome) perderam o hífen: pôr do sol, pé de moleque,
tomara que caia, bicho de sete cabeças, maria vai com as outras e por aí vai.
A regra tem duas exceções. Uma: não abrange vocábulos
pertencentes aos reinos animal e vegetal (joão-de-barro, cana-de-açúcar,
castanha-do-brasil, castanha-do-pará). A outra: manteve o tracinho em
pé-de-meia, água-de-colônia, cor-de-rosa.
Leitor pergunta
Quando posso usar o pra?
Anamaria Leopoldo, BH
A preposição pra — assim, sem acento — é forma descontraída
de para. Abuse dela em textos informais — os que usam sandálias, camiseta e
bermuda. Em textos formais, os que vestem terno e gravata, deixe-a pra lá.
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Por que produtividade
baixa?
Diferentes indicadores revelam que o nível e a taxa de
crescimento da produtividade brasileira são modestos para padrões
internacionais e avançaram pouco nas últimas décadas. Esse padrão está por trás
do crescimento médio anual do PIB per capita de 1,2% entre 1980 e 2012. VALOR
ECONÔMICO 29.05
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Por que a produtividade é baixa? Ao menos seis explicações
complementares nos ajudam a compreender o porquê. A primeira está associada às
limitações internas das empresas, ou aos constrangimentos à produtividade
relativos ao "chão de fábrica". Trata-se de restrições ao desempenho
decorrentes, dentre outras, de gestão deficiente, pequeno engajamento em
pesquisa, desenvolvimento e inovação, acanhados investimentos em tecnologias da
informação, novas tecnologias e treinamento profissional, e baixa qualificação
da força de trabalho - nada menos que 27% da população em idade para trabalhar
é analfabeta ou analfabeta funcional.
A segunda explicação está associada aos constrangimentos à
produtividade relativos àquilo que fica do lado de fora do "chão de
fábrica", ou produtividade sistêmica. Referem-se aos problemas externos às
empresas que interferem, direta ou indiretamente, no desempenho individual e
coletivo e nos retornos dos investimentos. Incluem-se nessa categoria, os
elevados custos e restrições associados aos impostos, burocracia e juros e às
deficiências dos serviços públicos e das infraestruturas. Instabilidade
macroeconômica, insegurança jurídica, problemas de coordenação entre esferas de
governo e internas aos próprios governos, legislações que desestimulam a
competição, elevada presença de oligopólios e monopólios em vários setores,
cultura que desencoraja a meritocracia e limitada abertura da economia para o
resto do mundo também contribuem para constranger a produtividade sistêmica.
A terceira explicação é a contínua transferência de
recursos de setores de produtividade mais alta para setores de produtividade
mais baixa. Enquanto a participação da indústria no PIB passou de 33,4% para
14,4% entre 1980 e 2011, a participação dos serviços passou de 45,2% para
67,1%. O problema é que a produtividade média na indústria é 36% maior que nos
serviços. No comércio, hotéis e restaurantes, o maior segmento do setor de
serviços em termos de emprego, o hiato de produtividade em relação à indústria
passa de 500%. Muito além da realocação de emprego entre setores, a maioria dos
novos empregos gerados na economia está concentrada em setores de baixa
produtividade. De fato, no início da década de 2000, o setor de serviços
respondia por 26,6% dos novos postos formais de trabalho criados no setor
privado. Em 2012, aquela participação já havia passado de 74%.
A quarta explicação é a baixa produtividade média das micro
e pequenas empresas. A produtividade dessas empresas é substancialmente menor
que a de congêneres do mesmo ramo, mas que operam em escalas produtivas
maiores. O problema é que nada menos que 99% do total de empresas formais são
micro e pequenas e 76% delas estão no setor de serviços.
A quinta explicação está associada à pobreza e à desigualdade
de renda. Evidências empíricas mostram que pobreza e má distribuição de renda
explicam baixa produtividade por meio de diversos canais de transmissão,
incluindo limitado acesso dos pobres a crédito, tecnologias, mercados, educação
de qualidade e qualificação profissional, e limitada ou nenhuma participação
das atividades econômicas da população pobre em cadeias produtivas e nas
exportações. Evidências empíricas também mostram que a melhoria da distribuição
de renda tende a ser acompanhada por mudanças na composição da demanda por
consumo e pela maior probabilidade de obtenção de consensos em torno de agendas
de políticas públicas mais sustentáveis, que são críticas para o aumento dos
investimentos e da produtividade.
Por fim, a sexta explicação está associada às elevadíssimas
discrepâncias de produtividade entre as empresas e entre setores de atividade.
O problema é que a interdependência entre as empresas só faz crescer através de
cadeias de produção, terceirização e aquisição de toda sorte de serviços e
infraestruturas, de forma que o desempenho de um fornecedor ou componente de
uma determinada cadeia produtiva impacta, direta ou indiretamente, o desempenho
dos demais componentes daquela cadeia de produção. Por isso, a elevada
discrepância de produtividade individual não é neutra do ponto de vista
coletivo. Empresas mais dependentes de cadeias produtivas, como é o caso
daquelas da indústria manufatureira em geral, estão mais expostas às
produtividades de terceiros que empresas da área de mineração, por exemplo, o
que ajuda a explicar as diferenças de remuneração do capital e de
competitividade entre os setores.
Como as causas da baixa produtividade do Brasil são
variadas e complexas e as soluções requerem a participação de todos, para se
avançar será necessária a construção de uma agenda concreta de ações, além de
muita coordenação entre os envolvidos para implementá-la com sucesso. Na medida
que o avanço da produtividade pode proporcionar enormes benefícios em termos de
crescimento econômico sustentado, competitividade internacional e geração de
bons empregos e renda, parece-nos razoável sugerir que essa agenda deveria ser
elevada à condição de prioridade nacional.
Jorge Arbache é assessor da presidência do BNDES e
professor da Universidade de Brasília. Este artigo não representa
necessariamente as visões do BNDES e de sua diretoria. jarbache@gmail.com.
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