quinta-feira, 6 de junho de 2013


Academia Sudoestina de Letras - 1
(Martiniano J. Silva, escritor, advogado, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, UBEGO, mestre em História Social pela UFG, professor universitário; martinianojsilva@yahoo.com.br) DIÁRIO DA MANHà 06.06

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Em dois de maio de 1976, publiquei no jornal O Popular, de Goiânia, em página inteira, um artigo com o título acima epigrafado, que agora, 37 anos depois, ouso republicar, à guisa de verificar se estaria atualizado, mereceria sua permanência.  Quem me dera saber escrever! O certo, contudo, é que, sabendo ou não, ouso prosseguir, inclusive meio desconfiando, querendo rever e avaliar o que escrevi. O texto a seguir teria alcançado os seus objetivos? Mineiros, Jataí, Rio Verde, Santa Helena, Quirinópolis, Caçu, Serranópolis e outras cidades do Sudoeste de Goiás teriam, hoje em dia, alimentando-lhes a alma e o espírito, a instituição descrita e anunciada no texto?  O possível leitor, se o escriba o tiver, dirá,sobretudo se conhecer a região.  Desejo que o meu escrito coincida em gênero e grau com o que escreveu o notável Mario de Andrade (1893-1945), em cartas a Manoel Bandeira (125), assim:

“Se escrevo é primeiro porque amo os homens. Tudo vem disso pra mim. Amo e por isso é que sinto esta vontade de escrever, me importo com os casos dos homens, me importo com os problemas deles e necessidades. Depois escrevo por necessidade pessoal. Tenho vontade de escrever e escrevo (isto é pro caso dos versos.) Mas mesmo isto psicologicamente pode ser reduzido a um fenômeno de amor, porque ninguém escreve para si mesmo a não ser um monstro de orgulho. A gente escreve pra ser amado, pra atrair, encantar etc.”   

O nome é bonitão, poético: ACADEMIA SUDOESTINA DE LETRAS.  Deseja-se criá-la, fundá-la. De outra parte, sabe-se que existem por aí os xenófobos, inveterados, dispostos à crítica, sempre pejorativa e maledicente, à criação e fundação de entidades culturais, particularmente às academias. Chamem-nas de velharias, trastes, ou coisa antiga. Parece que o substantivo não lhes cheira muito bem. Paciência meus caros, pois há também os contrários a essa tese, os que estimam as academias de letras, decerto por verem nelas, até hoje, uma das formas mais evidentes de se cultuar as artes. A esse grupo, chamaria de xenófilo, ou xenófilos, por demonstrarem simpatias a uma tradição no ele tem de válido e bom. E com essa conotação, gostaria de pertencer a esse grupo. Ser xenófilo.

A bem dizer, a fundação de entidades culturais chamadas academias ou não, resta de ser uma questão indispensável e necessária com realce num Estado como o de Goiás onde o fenômeno cultura preciso ser acordado, estimulado, conscientizado. Eis o porquê do autor destas linhas se propor agora em transformar a Academia Mineirense de Letras (agora também de Artes), em “Sudoestina de Letras”. Quer dizer: uma entidade cultural para atender a toda uma região, grandona sim senhores. Explique-se que poderia ser um atrevimento, quase uma petulância, o que talvez não passe de uma ousadia impulsionada pela coragem e o destemor. Trata-se de uma ideia que não poderá servir como salvo-conduto para projeção de alguns. E não é uma ideia nova. Sempre imaginava uma entidade cultural com a participação de todo o Sudoeste de Goiás. Ora, existem muitas co-irmãs por aí, em pleno funcionamento. E quantos valores apareceram! E quanto serviço prestaram! Poderá não ser uma explosão cultural, radical, contrária ao passado como ocorreu com a Semana de Arte Moderna em São Paulo nos idos de 1922. Lá já se tivera um classicismo literário-artístico, um romantismo, um realismo, um parnasianismo, um simbolismo. Lá tivera também um desenvolvimento econômico social-político, com alguns reflexos noutras unidades do país. E aqui, tudo isso tem acontecido, de certa forma, sem, contudo, ter alcançado a maioria do povo para uma consciência grupal sobre a arte.

Significa que as tendências literárias ou estéticas, também chamadas escolas, existiram no tempo e no espaço, mas o Sudoeste, como de resto o Brasil Central – não raro as exceções – não tomou conhecimento. Ou o que se quer dizer , num resumo, é que tivemos mesmo em Goiás uma boa literatura, uma pintura, uma pintura, uma música, uma história etc., mas não se teve nem se tem um movimento crítico consciente sobre tudo isso. A bem dizer, não se conhece nem a obra de Bernardo Élis, que é nome nacional. Por isso, o sudoestino, antes de tudo, precisa conhecer em maior profundidade, nessa nova fase de sua vida, alÉm da história e a arte do seu Estado, também o que seja literatura do país em todas as suas inclinações e pendores. Que passe a estudar nas entrelinhas, através dessa entidade a nascer, que haverá de promover a cultura, os novos ismos literários que andam tão assanhados por aí, a partir do que se convencionou chamar de clássico, o romantismo, o concretismo, um praxismo e os tais estruturalismos, para sugar o melhor de todo esse barulho. Para isso, necessita estar unido. Unido por uma agremiação literária que defenda de toda forma as questões culturais, tendo como ideia central, conhecer tudo, estudar, pesquisar, pois (e não se vai pedir perdão) de quem ainda não teve a sorte de conhecer nem as artes e a história do seu próprio Estado – é de se crer que não poderia organizar uma entidade com aquele específico propósito que fora da Semana de Arte Moderna.

Nada de assaltar os chamados “bastiões do passadismo”. É preciso que se conheça primeiro o que é mais autêntico e original do passado. A maioria de nós sudoestinos carece é de estudar o que foi a Semana de Arte Moderna em 1922. Carece, com certa urgência, de ler os Gilberto Mendonça Teles, os Carmo Bernardes, os Anatole Ramos, os Aidenor Aires, os Brasigois Felício, os Miguel Jorge, os Ely Brasiliense, as Iêda Schmaltz, os Hugo de Carvalho Ramos e mais uma fila de nomes. Note-se que as perspectivas culturais na região só de certo tempo estão surgindo, não obstante o caminho das boiadas já tenha sido descrito por Leo Godoy Otero. Basileu Toledo França já focalizou o instante dos pioneiros. Generalizando o enfoque, a literatura, originário do sertão, no que tem de mais autêntica, telúrica, já foi escrita por Bernardo Élis, Hugo de Carvalho Ramos, Carmo Bernardes, Francisco de Brito, Bariani Ortêncio e alguns poucos, para se lembrar só os nomes do Estado.

É de ser visto também que o bucólico, lentamente, vai desaparecendo. O carro de boi vai se convertendo em lembrança. As rodovias tornaram vizinhos os que viviam longe morando perto. A indústria é principiante. A lavoura se diversifica. De modo que existe um tipo de metamorfose, uma aflição, uma angústia, como prenúncio de mudança, embora o boi ainda continue dominando quase tudo no gosto do povo. Por outro lado, é de ser observado que a arte, literária que seja, só pode realizar-se perante a consolidação de povo como povo. Ele, aqui, por esse ângulo, ainda não conseguiu essa consciência.        

Há quem diga que a arte nasce por imposição da economia. Que a literatura resulta do desenvolvimento econômico-social, frutifica como um capítulo da sociologia e como efeito quase fatal de uma infra-estrutura econômica , surgindo daí a teoria sociológica, muito do gosto dos marxistas e seus parentes. Antes desse entendimento, segundo Delson G. Ferreira, já diziam que a literatura é a “expressão do b em”, daí o porquê da teoria ética, platônica ou jesuítica. Horácio manteve a sua, afirmando que literatura é instrução e deleite que deformou a teoria de Aristóteles. Há outras, como esta de nome biografismo, aquel’outra filológico-gramatical; e por aí afora. Para o nosso caso, importa é estudar a todas, conhecê-las em profundeza, buscando compreender que o artístico é um fenômeno eminentemente humano. E o homem não pode prescindir dele.

(Martiniano J. Silva, escritor, advogado, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, UBEGO, mestre em História Social pela UFG, professor universitário; martinianojsilva@yahoo.com.br)


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DIREITOS AUTORAIS
Ministra da Cultura encontra artistas para ter discussões sobre o Ecad. FOLHA SP 06.06

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A ministra da Cultura, Marta Suplicy, decidiu retirar a proposta de fiscalização do Ecad, entidade que arrecada e distribui direitos autorais relativos a obras sonoras no Brasil, da reforma da Lei de Direitos Autorais elaborada pelo ministério --atualmente, o anteprojeto está em análise em outras pastas do governo.

A Folha apurou que a decisão da ministra visa facilitar a aprovação da fiscalização da entidade a partir de um projeto de lei em tramitação no Senado, já que a votação da reforma inteira da atual Lei de Direitos Autorais tende a ser mais demorada.

A proposta de fiscalização do Ecad conta com o apoio de artistas como Leoni e Caetano Veloso. Na terça-feira (4) à noite, Marta reuniu-se com artistas, produtores culturais e políticos, na casa do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), em Brasília, para discutir sobre o tema.

Em março passado, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica multou o Ecad (e seis associações que integram a entidade) em R$ 38 milhões por formação de cartel e por impor barreiras à criação de novas associações de defesa dos direitos autorais de músicos. O Ecad já recorreu à acusação.

Desde então, artistas vêm se reunindo para debater a fiscalização da entidade --Marta conseguiu o apoio de cantores como Caetano Veloso e Gilberto Gil, que inicialmente eram reticentes à ideia.

O grupo tem trabalhado na elaboração do substitutivo ao projeto de lei que tramita no Senado, a ser apresentado no final deste mês. A proposta é fruto da CPI do Ecad do ano passado, presidida por Randolfe Rodrigues.

De acordo com esse substitutivo, a fiscalização da entidade poderá ser feita por um conselho com formação eminentemente técnica e participação de artistas, nos moldes do antigo Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA), extinto em 1990. Ainda não se sabe se o conselho será vinculado ao governo federal.

O MinC, por sua vez, criaria um órgão para tratar dos Direitos Autorais no Brasil como um todo, que também poderia vir a fiscalizar o Ecad.

O Ecad diz não temer "qualquer tipo de supervisão, desde que técnica, sem viés politico, dentro dos limites constitucionais, e que preserve o direito do autor de fixar o preço pela utilização de
sua obra".




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