terça-feira, 14 de maio de 2013



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Professores terão guia para identificar abusos. CORREIO BSB 14.05
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O curso de formação teve início ontem no Centro de Convenções
O Distrito Federal é a primeira unidade da federação a utilizar um guia escolar de identificação de sinais de abuso, elaborado pelo Ministério da Educação. Os professores da rede pública estudarão o material durante o 1º  de Formação Continuada em Prevenção à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, lançado ontem pelas secretarias de Educação (SEE) e da Criança (Secriança). A estimativa do governo local é de que, até o fim do ano, 700 profissionais sejam capacitados.

De acordo com a secretária da Criança, Rejane Pitanga, durante o curso, os docentes terão orientações sobre legislação e o processo de encaminhamento da denúncia. “Além disso, os professores estarão aptos a saber a diferença entre os sinais de abuso e os problemas e as dificuldades de aprendizado, que são muito confundidos”, explicou.

Diretora da Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (Eape), órgão vinculado à SEE, Olga Cristina Rocha de Freitas afirmou que, com exceção dos profissionais com formação específica na área de violência contra crianças e adolescentes, os professores não sabem identificar casos de abuso. “O curso contribuirá com a formação adequada dos professores nessa área e para o aumento das denúncias”, observou.

A especialista em violência doméstica contra criança e adolescente Ceci Marques de Alcântara destacou que 90% dos casos de abuso são identificados na escola. “Na maioria das vezes, a criança faz o relato por meio de um desenho. Cabe aos profissionais de educação estarem atentos a esses pequenos sinais”, afirmou.

A professora de artes do Centro Educacional 01 do Cruzeiro Luzimeire Santana, 37 anos, revelou que identificou um caso de abuso ao se deparar com um desenho de uma criança de 6 anos. “Ele fez uma representação de um órgão genital em detalhes, o que é impossível para um aluno dessa faixa etária”, contou Luzimeire. Segundo ela, os professores sentem receio em denunciar por não ter, na maioria das vezes, apoio do colégio. “Isso é mais difícil, principalmente, nas escolas particulares que prezam pelo nome da instituição”, disse a professora.

Rejane Pitanga garantiu que o curso e o estudo do guia também ocorrerão nas escolas particulares. “Nossa meta é atingir todos os profissionais de educação. Isso inclui os das instituições privadas. Acreditamos que, até o ano que vem, esses docentes participem da formação continuada.”

Dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República mostram aumento de 216% nas denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes no DF. No primeiro quadrimestre de 2012, foram feitas 405 denúncias, enquanto, no mesmo período deste ano, o número saltou para 1.283.


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125 anos da abolição: Até hoje, trabalho quase escravo.  Fiscais resgataram 2.849 trabalhadores. O Globo - 14/05/2013

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Número de libertados em 2012 em condições análogas à escravidão é 14% maior que em 2011
Livres. Trabalhadores resgatados na região do serrado piauiense em 2012

BRASÍLIA Operações de fiscalização do Ministério do Trabalham resgataram, no ano passado, 2.849 trabalhadores em condição análoga à escravidão no Brasil. Em comparação ao ano anterior, o número de trabalhadores resgatados em 2012 foi 14,37% maior, de acordo com dados do ministério. Para o governo, esse aumento no total de resgatados se deve à realização de ações de fiscalização em áreas que não eram incluídas nas inspeções de rotina. Segundo o ministério, também aumentou o número de resgates em operações no meio urbano.

Foram realizadas 255 ações pelo ministério. A operação que resultou na liberação de mais trabalhadores de uma só vez ocorreu em Marabá, no Pará, quando 150 trabalhadores do setor siderúrgico foram resgatados.

O segundo maior resgate ocorreu em Perobal, no Paraná, com a liberação de 125 pessoas que trabalhavam em situação irregular no setor sucroalcooleiro.

Em Engenheiro Beltrão, também no Paraná, outra ação no mesmo setor levou ao resgate de 92 trabalhadores. Na construção civil, foram resgatados 110 trabalhadores em uma única operação em Penedo (Alagoas), e 95 trabalhadores foram liberados em uma ação na capital de São Paulo.

Por região, a que concentra o maior número de resgates é a Norte, com 1.100 resgatados (resultado de 117 ações de fiscalização). Na região Sudeste, foram 496 trabalhadores resgatados, em 27 ações.

Em seguida, a Região Nordeste computa o resgate de 376 trabalhadores, em 39 fiscalizações. Na Região Sul, 23 ações resultaram na libertação de 367 pessoas, e 333 pessoas na Região Centro-Oeste deixaram a condição similar à escravidão, após a realização de 48 ações fiscais.

O ministério afirma que em quatro unidades da Federação (Roraima, Ceará, Sergipe e Distrito Federal) não ocorreram operações de fiscalização.

Entre os estados, no Pará foi feito o maior número de resgates: 563 trabalhadores liberados, em 74 ações de fiscalização. O Tocantins registrou 321 pessoas resgatadas, fruto de 24 operações. Em São Paulo, somente nove ações resultaram no resgate de 239 trabalhadores. No Rio, em três operações foram liberados 14 trabalhadores.

Segundo o MTE, foram lavrados 3.695 autos de infração no ano passado por manutenção de trabalhadores em condições similares à escravidão. Foram emitidas 2.336 guias de seguro-desemprego e assinadas 500 carteiras de trabalho.

As equipes da Fiscalização Móvel foram responsáveis por 119 operações, enquanto as unidades regionais realizaram 136 operações, de acordo com o MTE. As operações da Fiscalização Móvel alcançaram 22.793 trabalhadores e resgataram 824 pessoas.

Os dados foram divulgados ontem, dia em que se comemoraram os 125 anos da Abolição.


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Perdem-se em retórica os objetivos do projeto Rio-92.    VALOR ECONÔMICO 14.05
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Veiga: já poderiam ter sido criadas condições para o rumo da governança global deixar de ser tão temerário
"Com quase 70 anos de governança global do desenvolvimento gravemente desconectada de preocupações com a biosfera, e 40 anos de governança ambiental global bastante prejudicada por tal incongruência, é como se não tivesse saído do papel o belo projeto de desenvolvimento sustentável consagrado na Rio-92." Este parágrafo do novo livro do professor de economia da USP e colunista do Valor José Eli da Veiga é uma das chaves de sua discussão sobre os rumos do desenvolvimento e do ambiente globais sob a ótica da governança - uma desgovernança, na perspectiva do economista.

É este precisamente o título de seu 23 livro - "A Desgovernança Mundial da Sustentabilidade". Logo de início, o autor indica que a antiga polaridade entre "novas iniciativas de caráter ambiental e velhas ações de desenvolvimento", como acontece desde a conferência de Estocolmo há 41 anos, tem que encontrar um ponto de convergência logo, se o que se quer é chegar a algum lugar diante dos desafios gigantescos de lidar com a mudança climática, a perda da biodiversidade, o número crescente de zonas mortas no oceano pelo uso destemperado de nitrogênio na agricultura ou a acidificação dos mares.

O autor dedica os dois primeiros dos quatro capítulos do livro a dar vida à governança global do desenvolvimento e à governança ambiental global. No primeiro caso, recua ao final da Primeira Guerra e à Liga das Nações, o embrião do que viria a ser a Organização das Nações Unidas anos depois. Começa a destrinchar o emaranhado de siglas e conferências internacionais que marcarão as economias no século passado. Vai à mítica reunião dos 730 delegados das 44 nações aliadas que lotam a estação de esqui de Bretton Woods, em New Hampshire, de onde surgirão acordos comerciais e financeiros de importância capital e fala sobre seus filhotes e desdobramentos, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (o famoso Gatt, origem da Organização Mundial do Comércio), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Interamericano de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird, hoje Banco Mundial).

Veiga vai povoando suas páginas com os grupos de poder que irão surgindo e cenas dos confrontos. O grupo dos países mais ricos e industrializados (G-7) e sua versão alargada (G-20), o heterogêneo bloco em que se apertam todos os outros (o G-77 mais a China), o clube dos emergentes (os Brics). Pontua o balé de seus encontros com o jogo de interesses, decisões, adiamentos. O autor coloca uma lupa no momento em que se traçam as metas conhecidas por Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), articulados em 2000 para que tenham algum resultado em 2015, e que focam a erradicação da miséria e da fome, o combate à aids e malária, a tentativa de disseminar a educação primária ou reduzir os trágicos índices da mortalidade infantil. Aqui, Veiga mostra alguns furos da canoa. "O aspecto ambiental nem incorpora questões cruciais", escreve, lembrando que temas fundamentais, como a mudança do clima ou a crise nos oceanos, ficaram muito ao largo dos ODM. "E o econômico não poderia ser mais vago." Mas ele é otimista em relação aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), fruto da Rio+20 e que começam a ser debatidos, desde que incorporem temas ambientais candentes em relação ao clima, aos oceanos, à biodiversidade.

O autor prossegue trafegando pela intersecção do desenvolvimento e do ambiente, uma trilha que ainda não abandonou a retórica nas políticas públicas da maioria das nações. Ao falar sobre redução das desigualdades, por exemplo, Veiga analisa os padrões das sociedades ricas mais desiguais e não perdoa seu descaso e ignorância ambiental: "São as que revelam as mais altas perdas ecológicas, as que produzem mais lixo, as que consomem mais água e que são responsáveis por mais viagens de avião medidas em distância per capita".

Ao chegar à governança ambiental, o economista se espanta com a agenda frenética de encontros que os diplomatas do mundo todo procuram cumprir - e que não há grande imprensa no mundo que dê conta de cobrir. "Mesmo deixando de lado os acordos bilaterais, em apenas sete anos, de 2005 a 2011, foram assinados 22 acordos, 59 aditivos e 10 protocolos." Ao fazer uma revisão das conclusões mais recentes da ciência climática, lança uma crítica dura à maneira como o discurso científico procura convencer os tomadores de decisão da gravidade de suas descobertas sobre a mudança climática. "Falam que há um risco de tanto por cento que a temperatura aumente xis e aí há tanto por cento de chances que aconteça tal coisa. O problema é que desta forma não se convence um político de que a mudança climática é tão importante e que tem que ser tratada da mesma forma do que a questão da segurança e da macroeconomia."

Lançado na semana em que as emissões de dióxido de carbono na atmosfera atingiram 400 partes por milhão (número que indica que o plano político está fracassando em conseguir acordos globais para enfrentar o aquecimento da temperatura terrestre, o livro de Veiga - que é professor titular da Universidade de São Paulo e pesquisador de seu Núcleo de Economia Socioambiental (NESA), além de orientador em dois programas de pós-graduação, o de Relações Internacionais (IRI-USP) e Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) - é obrigatório para quem quer mergulhar no universo dos acordos internacionais econômicos e ambientais.

A tese central do autor é claramente explicitada: seu ceticismo de que um acordo internacional sobre mudança do clima saia das conferências climáticas, as chamadas COPs. "Quem pode decidir sobre isso é o G-20", diz, lembrando que, se isso acontecesse, boa parte das emissões mundiais de gases-estufa estaria equacionada. Veiga também defende uma taxa de carbono internacional, com recursos provenientes destinados a novas soluções energéticas.

"O livro é muito pensado e estruturado, enuncia bem os conceitos fundamentais, atualiza o leitor com o estágio do conhecimento científico, discorre sobre as siglas e o universo de órgãos das Nações Unidas, a dificuldade do consenso, e faz isso com muita precisão", diz o embaixador Rubens Ricupero. "Ele mostra muito bem que o aquecimento global é um tremendo desafio para a economia. E aí está o problema todo entre economia e ecologia. Os economistas ficam um pouco perplexos diante do desafio ambiental, são herdeiros desta ideia de que o crescimento é infinito. De repente temos um problema que diz que não, que temos que impor limites ao crescimento, e ainda não há tecnologias que possam resolver isso, com um custo razoável", prossegue Ricupero.

"Imagine um extraterrestre que viesse para cá e tivesse que fazer um relatório com o que viu", disse Veiga em entrevista ao Valor. "Seguramente, ficaria muito impressionado que quase 200 nações têm que se entender em uma coisa chamada ONU. Mas então ele percebe que há uma tremenda desigualdade entre nações e um caos entre os organismos que existem, além de dois processos paralelos, um que discute o desenvolvimento, que é o pessoal que está cuidando a revisão dos ODM, e outro, para debater o desenvolvimento sustentável nos ODS". Esta é a prova dos nove que não juntou uma coisa com a outra."

Não é de hoje que o mundo está atrasado em entender politicamente as evidências científicas e traduzir o recado em ações que corrijam a rota de desgovernança ambiental do planeta. "O rumo da governança global certamente já teria deixado de ser tão temerário se os fatos tivessem um papel mais importante na formação dos julgamentos das pessoas, principalmente quando são tomadoras de decisão", diz Veiga.

O livro "A Desgovernança Mundial da Sustentabilidade" será lançado na quinta-feira, 16 de maio, na sala Crisantempo, em São Paulo. Está programada uma conversa com o autor e o presidente da Fapesp, Celso Lafer, e os ex-ministros Ricupero e Marina Silva.

"A Desgovernança Mundial da Sustentabilidade"
José Eli da Veiga. Editora 34. 152 págs., R$ 36,00



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Dilemas de uma israelense no exército. VALOR ECONÔMICO 14.05
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Shani Boianjiu, de 25 anos, atuou como instrutora de armas no exército
Ao longo de dois anos Shani Boianjiu atuou como instrutora de armas no exército do seu país. Por ser israelense, ela cumpriu um dever quando completou a maioridade: o serviço militar obrigatório. Essa fase de amadurecimento forçado, que considera traumática, inspirou a escrita do seu livro de estreia, "O Povo Eterno Não Tem Medo" (trad. Débora Landsberg; ed. Alfaguara, 280 págs., R$ 42,90).

O romance tem três vozes. As personagens Ashivag, Lea e Yael narram em primeira pessoa o tédio e a opressão da experiência militar. A obra causou polêmica: Boianjiu, hoje com 25 anos, foi acusada de antissionista e militarista. Traduzido para mais de 20 línguas, o livro é finalista do Women's Prize for Fiction (antigo Orange Prize) deste ano. Em 2011, Shani se tornou a escritora mais jovem a receber o 5 Under 35 Fiction, prêmio da National Book Foundation, nos EUA.

Valor: Antes do alistamento, a personagem Lea assistia às séries "Dawson's Creek" e "Sex and the City". Quando, aos 18 anos, entrou no exército, ela aprendeu a manejar armas e a vigiar palestinos. É possível servir às Forças de Defesa de Israel sem cicatrizes psicológicas?

Shani Boianjiu: Não - ainda mais no caso dos jovens de hoje, que com frequência vivem numa redoma até uma idade avançada e, de repente, são obrigados a atuar em uma instituição exigente. O mundo contemporâneo representa para os jovens uma confusão singular. Enquanto são mimados e criados com os ideais dos programas televisivos, eles lidam com a violência inesperada e a turbulência política da vida real. Não é possível virar adulto sem traumas emocionais.

Valor: Qual é a sua opinião sobre o serviço militar obrigatório?

Shani: Eu não era um bom soldado. Muita vezes, eu me entediava, me enraivecia e me frustrava com o mundo. Mesmo assim, não acho que exista outra ideia melhor para um exército funcionar do que o serviço obrigatório. Vários países, em particular Israel, não podem existir sem as Forças Armadas. Ainda que o alistamento compulsório seja um estorvo para muitos, ele é a melhor saída. Não é justo forçar apenas os menos privilegiados a lutar por uma nação porque eles precisam de dinheiro ou têm desempenho ruim na escola.

Valor: A sua língua materna é o hebraico. Por que você escreveu o seu livro de estreia em inglês?

Shani: Não foi uma escolha deliberada. Não fiz isso por motivos ideológicos ou comerciais. Eu estava estudando nos EUA e percebi que gostava mais da minha escrita em inglês. Sempre apreciei essa língua porque ela tem muitas palavras, sutilezas e possibilidades. Tive de trabalhar bem mais para dizer exatamente o que queria, pois as palavras não me pertenciam naturalmente.

Valor: Depois do lançamento de "O Povo Eterno Não Tem Medo", você foi acusada de ser hostil ao sionismo e de porta-voz das Forças de Defesa de Israel. A literatura tem sempre uma dimensão política?

Shani: É claro que alguém pode dizer que tudo é política - das relações de gênero às dinâmicas familiares. Quanto às reações ao meu livro, esse é o caso em que empregam uma perspectiva estreita para interpretar uma obra de arte, e essa atitude nunca é benéfica. Muita gente tem convicções bem claras e fortes em relação ao conflito entre israelenses e palestinos. Pessoas de opiniões contrárias parecem pensar que a minha escrita não tem valor porque não puderam achar na minha obra a sua visão política limitada. Eles têm o direito de pensar assim, embora, quando escreva, eu queira contar histórias a respeito de seres humanos. Por isso, quem procura política na minha ficção nunca vai ficar satisfeito.

Valor: Em um artigo para o jornal "The Guardian", você disse ter medo de votar nas eleições de Israel - disse ser essa uma questão nacional. Os jovens israelenses estão cada vez mais alienados?

Shani: Não posso falar em nome de uma nação inteira. Ao mesmo tempo, não acho que o governo seja necessariamente o problema. Pelo menos, ele não é para as pessoas da minha idade, que nasceram durante a primeira Intifada [levante dos palestinos contra a ocupação israelense entre 1987 e 1993]. Esse conflito sempre esteve à nossa volta, não conhecemos outra realidade. Se a vida inteira de alguém é o testemunho de tentativas fracassadas de estabelecimento da paz, é natural que esse indivíduo se torne apático diante da situação geral.



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Muito além das exposições 'blockbuster'. VALOR ECONÔMICO 14.05
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Público na fila do último dia de "Caravaggio e Seus Seguidores", em cartaz no Masp entre 2 de agosto e 30 de setembro de 2012: espera chegou a durar duas horas
A entrada do Brasil nas primeiras posições de um ranking de exposições mais visitadas mundialmente pode sugerir que museus do país passam por uma fase de ouro. Nesse setor, no entanto, filas quilométricas de visitantes nem sempre são sinônimo de qualidade. "Nenhum museu deve medir seu sucesso ou fracasso pela quantidade de pessoas que o procuram", afirma Teixeira Coelho, curador do Museu de Arte de São Paulo (Masp).

Questões como mostras "blockbuster", além das funções e responsabilidades dessas instituições, são temas em evidência até domingo, durante as celebrações da 11ª Semana Nacional dos Museus - em sintonia com o Dia Internacional do Museu (sábado) e a chegada de Ângelo Oswaldo Santos à presidência do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). No Estado de São Paulo, a Secretaria de Cultura promove uma série de atividades, entre exposições, palestras e oficinas, que envolve 17 museus, incluindo a entrada gratuita aos sábados deste mês.

Especialistas questionam se a ênfase em números está em sintonia com as reais funções de um museu e se a frequência numerosa resulta em público fiel ou reflete o bom trabalho de uma instituição. Além das inclusões das exposições "Amazônia: Ciclos de Modernidade" e "Antony Gormley: Corpos Presentes" (respectivamente segunda e sétima posição, e ambas no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio) no ranking de mostras mais visitadas em 2012 elaborado pelo jornal britânico mensal "The Art Newspaper", a chegada de novos museus entra no contexto desse momento de euforia.

Em março, ocorreram as aberturas do Museu de Arte do Rio (MAR) e da Casa Daros - que recebeu cerca de 15 mil pessoas nas primeiras duas semanas de funcionamento. Fora do eixo Rio- São Paulo, o Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), recebeu cerca de 300 mil pessoas em 2012, crescimento de 35% em relação a 2011.

Exposição 'Impressionismo: Paris e a Modernidade', no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio teve 561.142 visitantes
"Em cidades com muitos turistas, um alto número de visitas é formado por pessoas que vão ao museu uma vez na vida. Já em regiões menos turísticas, uma frequência alta pode significar que há visitas repetidas - e este é um dado que considero mais significativo", diz o americano Maxwell L. Anderson, diretor do Museu de Arte de Dallas e que há dez anos se dedica a questões relativas a museologia, em livros e ensaios.

O Masp é outra instituição cujos números de bilheteria têm aumentado - em 2012, foram 845.101 visitantes; em 2011, 774.665. Apesar dos bons resultados, o curador Teixeira Coelho diz que a soma dos ingressos representa pouco no orçamento anual da instituição (R$ 10 milhões). "O museu é, por natureza, uma fonte de prejuízo, não de lucro. Nenhuma instituição no mundo tem na bilheteria uma sustentação segura", diz.

Gestores buscam diversificar as possibilidades de captação para driblar limitações financeiras. A Pinacoteca do Estado de São Paulo é um dos museus que se tornaram referência na ampliação de recursos. Uma das razões apontadas é o modelo de gestão a cargo de uma OS (Organização Social) - neste caso, a Associação Pinacoteca Arte e Cultura (Apac), instituição privada que administra o museu desde 2006.

"Estruturamos todos os departamentos do museu e as atividades foram transformadas em projetos, buscando otimizar recursos e resultados. Realizamos parcerias com empresas que entendem o valor da cultura e nos apoiam em diversas frentes. O sistema de OS ainda dá transparência na gestão do dinheiro público", diz o diretor técnico da Pinacoteca, Ivo Mesquita.

Mais de 3.500 pessoas visitaram o Museu de Arte do Rio no seu dia de abertura, em 5 de março deste ano
O modelo de OS também serviu de referência para o MAR, com o Instituto Odeon, que receberá uma verba de R$ 12 milhões por ano para administrar o museu. O novo espaço visa a formação do público, por meio de atividades voltadas para estudantes da rede municipal realizadas no prédio vizinho, onde fica a Escola do Olhar.

Coelho, no entanto, não é tão eufórico e acredita que o Ibram deveria ter preocupações mais amplas. "O Brasil, mesmo com as OSs, ainda não conseguiu encontrar novas figuras jurídicas que permitam a gestão compartilhada pelo poder público e pelo setor privado", diz o curador do Masp.

A inauguração do MAR levanta questões sobre a necessidade de se criar tantos museus na cidade do Rio - nos próximos anos, serão inaugurados ainda o Museu do Amanhã e o novo Museu da Imagem e do Som (MIS). "Novos museus são fundamentais, mas temos que olhar para os que já temos e lutar pela sua renovação. O que acontece com a Biblioteca Nacional [problemas de infraestrutura, entre outros] é um exemplo do nosso descaso atávico com a sustentabilidade da cultura e da educação", diz Luiz Camillo Osório, curador do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM- RJ).

Com orçamento de R$ 8 milhões para este ano, o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) também busca melhorias. "Temos um prédio de mais de cem anos e precisamos de mais espaço", diz a diretora da instituição, Mônica Xexéo, que espera dobrar o número de 135 mil visitantes de 2012 com a inauguração de um bistrô, em julho.

Para Luiz Fernando de Almeida, diretor do MAR, reconfigurar os museus federais deve ser uma prioridade do novo presidente do Ibram. "Os altos índices de visitação mostram que existe demanda da sociedade de consumo cultural qualificado", diz. "Mas precisa haver uma atualização das instituições federais - elas ainda carecem de estrutura de funcionamento, de pessoal e de ações educativas abrangentes. Muitos ainda trabalham em situação de penúria."

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Um abismo social barra a igualdade.  Correio Braziliense - 14/05/2013

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Uma abolição incompleta. Os indicadores sociais brasileiros comprovam que os negros são mais mal assistidos que a população branca. A população negra têm 1,6 ano de estudo a menos que a branca; representa 65,1% das vítimas de homicídios; e sustenta taxa de mortalidade infantil 60% maior que a da  população branca.

“Hoje, o negro não tem como não se revoltar. É fato que deram mais oportunidades ao filho do imigrante italiano, que era tão pobre quanto seus antepassados, do que deram para ele”, compara o historiador Bruno de Cerqueira, da Unicamp. E ele ressalta que o racismo nunca foi tão cruel quanto na República Velha, depois da queda da monarquia. “Não havia código negro, como em outros países, mas o apartheid que se faz de forma institucional é ainda melhor do que aquele não declarado. O que se fez com os negros aqui foi, simplesmente, não dar oportunidades, deixá-los à margem, nas posições menos qualificadas.”

A ideia de inferioridade determinada pela cor da pele só foi questionada abertamente em 1932, com a publicação de Casa Grande & Senzala, do sociólogo Gilberto Freyre. “A sociedade brasileira é racializada. Quando o negro aparece em um restaurante de melhor nível, todos olham com surpresa. Isso é um fato”, assegura Carlos Sant’Anna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco.
Colaborou Renata Mariz

O PAÍS EM 2013

População
190,7 milhões

Expectativa de vida
74 anos

Analfabetos
8,6%*

Unidades da Federação
27

Sistema político
República federativa presidencialista

* população acima de 15 anos

Memórias da infância
Aqueles dias que antecederam a abolição da escravatura parecem, hoje, apenas registros dos livros de história. Mas pulsam vivos na memória de quem ainda guarda alguma relação com os acontecimentos da época. As irmãs Maria das Dores Andrade, de 97 anos, e Dalva do Nascimento, 94, são descendentes de quem viveu aquele período. “Quando nós nascemos, a escravidão já tinha sido abolida, mas, até hoje, eu me pergunto se foi abolida mesmo”, questiona Maria. “É claro que o progresso veio e muita coisa mudou, o país está mais humano, mas ainda sinto que as coisas precisam continuar mudando.”

Da família de oito irmãos, só elas estão vivas. Acreditam que os antepassados vieram do Congo e de Moçambique. “Nós moramos numa fazenda, em Prata, no interior de Minas. Nessa região tinha muita gente desses países. Logo depois, convivemos com árabes e italianos, que também chegaram para ajudar a construir o país”, conta Maria.

Outra lembrança da época é a diferença de tratamento dado a negros e brancos. “Diziam que o país não ia para frente porque estava cheio de negros. Mas eles precisavam de gente para trabalhar. Os negros eram muito inteligentes e trouxeram muita coisa boa para o Brasil.”

Não era fácil enfrentar o preconceito racial. Dalva lembra que, quando tinha 15 anos, participou de um concurso na escola. Quem tivesse o melhor desempenho ia coroar Maria em uma cerimônia religiosa: “Eu tive a melhor nota. Quando a diretora comprou as coisas para me vestir de anjo, falaram: ‘você está doida, já viu anjo negro?’” Dalva ficou revoltada. “Fui à igreja, e o cônego me disse que anjo não tinha cor. Conversou com as pessoas que reclamaram e eu acabei sendo o anjo. Esse tipo de coisa acontecia”, lembra. (GC e RM)

Bibliografia: A abolição no Parlamento — 65 anos de lutas (volumes I e II); Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre; D. Pedro II, de José Murilo de Carvalho; Imperador Cidadão, de Roderick J. Barman; O Abolicionismo, de Joaquim Nabuco; O Castelo de Papel, de Mary Del Priore; O Eclipse do Abolicionismo, de Joaquim Nabuco; Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda; Visões da Liberdade, Sidney Chalhoub. Arquivos do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, do Museu Imperial e da Biblioteca Nacional Digital do Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada // Especialistas consultados: Arethuza Helena Zero, doutora em desenvolvimento econômico e autora da tese Escravidão e Liberdade: as alforrias em Campinas no Século XIX, defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Bruno de Cerqueira, historiador, fundador e gestor do Instituto Cultural D. Isabel I — A Redentora; Carlos Sant’Anna Guimarães; pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco; Diva do Couto Gontijo Muniz, professora doutora da Universidade de Brasília especialista em Brasil Império; Marcos Magalhães, professor doutor em história colonial do Centro de Memória Digital da Universidade de Brasília e consultor legislativo do Senado.



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