segunda-feira, 20 de maio de 2013


História da vida de Seu Miguel se mistura com a da cidade que ele construiu.
Quase 90 anos dedicados à literatura de cordel. Miguel Sales Franco nasceu na Paraíba e passou por vários estados, sempre utilizando a poesia como hobby enquanto trabalhava na construção civil. Hoje, aposentado, chegou a Brasília poucos dias após a inauguração e, morador de Sobradinho, se considera uma parte da cidade. JORNAL DE BSB 20.05

Com apenas três meses de estudo, Seu Miguel, 92 anos, aprendeu tudo que precisava para se dedicar ao cordel já que, para ele, o talento veio a partir do nascimento.

Infância

O contato com a literatura, tão difundida no Nordeste, veio desde cedo. “Conheci o cordel com minha avó contando as histórias rimadas quando eu era pequeno”, relembrou. A partir daí, se interessou mais ainda pelo assunto. Lia os livretos pendurados em cordas nas barracas de feiras típicas.

Já um entusiasta do cordel, Seu Miguel começou a vender miçangas como ambulante. Ele usava uma estratégia incomum para atrair clientes: recitava cordéis para que fosse notado e, com isso, conseguia a atenção que precisava para comercializar seus produtos.

Com a idade, veio a vontade de sair do Nordeste. Chegando ao Rio de Janeiro, Seu Miguel foi trabalhar na construção civil. Lá, se matriculou em um curso de carpintaria, do Senai. Antes mesmo de acabar o curso, surgiu a oportunidade de vir para Brasília, que estava prestes a ser inaugurada.

Brasília


“Fiz só oito meses de curso e decidi vir com a construtora que trabalhou nas obras dos primeiros prédios da Asa Norte. Cheguei aqui e tive que ensinar os que chegavam porque a cada dia vinham vários caminhões do Nordeste com muitos imigrantes sem qualificação”, contou. A chegada ocorreu com a capital recém-inaugurada.

Quando chegou a Brasília, pouco do que existe hoje em dia já havia sido construído. Ao passear pela cidade, Seu Miguel se sente parte da capital e fica feliz em ter participado do processo. “Só tinha os prédios da Esplanada prontos, a Rodoviária, o Setor Comercial Sul e prédios residenciais na Asa Sul. Na Asa Norte, não tinha quase nada”, lembrou.

Desde então, Seu Miguel trabalhou em várias funções, em inúmeras obras no DF, até se aposentar, com 65 anos. A partir daí, o cordelista pôde se dedicar à poesia e, nas horas vagas, lê jornais e livros.

Temáticas são diversificadas

A família contabiliza mais de 500 cordéis escritos por Seu Miguel, mas ele mesmo já perdeu a conta de quantos são. Com o esforço dos parentes, já foram publicados vários livros que, inclusive, renderam dinheiro extra ao cordelista. Não existem limites para os temas abordados nos poemas, já que o autor escreve sobre tudo, desde as dificuldades enfrentadas pelos aposentados, até o trabalho dos rodoviários. “Qualquer coisa que seja interessante, eu escrevo”, afirmou.

Dom

Entre os cordéis já escritos por Seu Miguel, não existe um preferido. “É que nem filho, você não escolhe o que gosta mais”, brincou.

Para ele, ser um bom cordelista é um dom: “Também é preciso gostar de poesia e saber rimar. No meu caso, parece que já nasci com isso. Nunca tive dificuldade de fazer cordel”.

O casamento de cerca de 70 anos, com a dona de casa Maria Fidelis Franco rendeu oito filhos, dois falecidos. Entre netos, bisnetos e trinetos, já são 80 membros da família.
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Quadrinhos de 'O Pintinho' são reunidos em coletânea. FOLHA SP 18.05
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Dizia um velho político brasileiro que intimidade só produz "aborrecimentos e filhos" --não se sabe se necessariamente nessa ordem. É de esperar, portanto, que a experiência íntima da maternidade produza as duas coisas.

Menos previsível é que filhos e aborrecimentos sejam --pelo menos para quem assiste a tudo de fora-- tão divertidos quanto nas tiras da jornalista Alexandra Moraes, 31, editora-adjunta da "Ilustrada" e mãe de Benjamin, 5.

Em 2009, ainda sob o impacto da maternidade recente, Alexandra passou a publicar as histórias dos embates entre um pintinho insolente e sua mãe indolente na internet e, a partir de 2011, nos cadernos "Ilustríssima", "Comida" e "Eleições 2012", da Folha.

Dessas tiras, 80 foram agora reunidas em coletânea pela editora Lote 42.

Reprodução   

Pintinho vai à escola Moinho da Neurose em uma das tiras
Embora motivada pelo nascimento do filho, Alexandra considera que os dois principais personagens da tira são ela mesma em situações diferentes, "a de mãe e a de civil".

"O que os personagens vocalizam são os embates entre esses dois mundos, de filho e mãe, de Alexandra jovem e velha", avalia a jornalista.

"Às vezes não há como não ter arroubos de pintinho. Mas isso toma a forma de caricatura na medida em que os problemas da vida adulta engrossam, o que acontece em velocidade maior quando uma criança depende de você."

"Por outro lado", pondera a cartunista, "essa tendência de resumir tudo a pia suja e conta vencida nos embrutece além do necessário. Para mim, é proveitoso deixar o pintinho falar de vez em quando."

A autora acredita que retirar as tiras do "lodaçal" da web e publicá-las em livro não muda o conteúdo do trabalho, mas permite reavaliá-lo. E diz concordar com Arnaldo Branco --autor do prefácio, também cartunista e também revelado pela internet-- sobre o papel da rede na supressão de "atravessadores" entre a produção e o consumo do humor.

Numa época em que o cartunista tinha de passar pelo crivo de diretores de arte, diz o prefaciador, não haveria espaço para uma tira tecnicamente simples como "O Pintinho" (feita com o programa Paint), mas na qual "a ideia é mais poderosa que o traço".

"Se não ganhamos rios de dinheiro [na internet ou fora], pelo menos agora o que fazemos tem lugar e chega a muita gente", diz Alexandra.

O PINTINHO
AUTORA Alexandra Moraes
EDITORA Lote 42
QUANTO R$ 29,90 (96 págs.)
LANÇAMENTO sábado (18), às 16h20, na r. Bahia, 1.282, Higienópolis

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