segunda-feira, 4 de março de 2013


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CULTURA POPULAR: Do Cordão Para A Literatura de Cordel.
Barbantes esticados e livretes pendurados dão origem à uma literatura do Nordeste rica em rimas e versos é o cordel, que ganhou este nome, pois, em Portugal, eram expostos ao povo amarrados em cordões,
estendidos em pequenas lojas de mercados populares ou até mesmo nas ruas.
http://www.blogpajeudagente.com
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A chegada do cordel no Brasil ocorreu no início da colonização, através dos portugueses. Na segunda
metade do século XIX começaram as impressões de folhetos brasileiros, com características próprias do país.

Os temas incluem desde fatos do cotidiano, episódios históricos, lendas, temas religiosos, entre outros. As façanhas do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1900-1938) e o suicídio do presidente Getúlio Vargas (1883-1954) são alguns dos assuntos de cordéis que tiveram maior tiragem no passado. Não há limite para a criação de temas dos folhetos. Praticamente todo e qualquer assunto pode virar cordel nas mãos de um poeta competente.

O estudante de História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Cid Carlos, é um dos admiradores da literatura. Para ele, os cordéis multiplicam as histórias tanto na ficção quanto na realidade.
“Existe alguns historiadores que explicam o cordel a partir de um cenário brasileiro, como a guerra de Canudos que propiciou a história sobre Antônio Conselheiro que dá um tom heroico para a cultura nordestina de forma rimada e em versos nos cordéis”, afirmou Cid.

No Nordeste, a literatura de cordel é uma produção típica, sobretudo nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Hoje também se faz presente em outros estados, como Minas Gerais, de Janeiro e São Paulo.

A Feira da Gente, realizada todo domingo na praça Sérgio Pacheco em Uberlândia, é um dos locais na cidade em que encontra-se cordéis para comprar. Cid Carlos é um dos vendedores e afirma que muitas pessoas tem curiosidade em conhecer a obra literária.

“Públicos acadêmicos conhecem mais os cordéis do que as outras pessoas, porém muitas pessoas se surpreendem com a literatura rimada que pode ser encontrada na feira, na revistaria do aeroporto de Uberlândia e na internet, sendo uma oportunidade do pessoal conhecer um pouco da cultura nordestina através dos cordéis”, concluiu..

Um grande exemplo de cordelista é Seu Lunga, um personagem tão folclórico que ninguém acredita sua existência real. Mas, ele existe. Natural de Juazeiro do Norte (CE), local aonde reside até hoje, é muito conhecido pela sua "delicadeza", dizem que ele é um sério candidato a Homem Mais Ignorante do Mundo pelo Guiness Book. Algumas histórias são verídicas, e outras são apenas piadas que fazem alusão a sua ignorância. Confira abaixo, um dos cordéis produzido por ele.

As proezas de Seu Lunga

Seu Lunga é cabra de bem
Porém é muito nervoso
Em perguntas idiotas
O homem perde o gozo
Das faculdades mentais
Vira o próprio satanás
Solta um palavrão trevoso.

Um belo carro de luxo
A famosa limosine
Chegou à concessionária
Tava exposta na vitrine
Lunga disse: --eu quero aquela
Dou até minha costela
Por aquela lamborguine.

O vendedor, à socapa,
Riu do momento bizarro
--Meu senhor, está enganado
Trocou o nome do carro
Lunga, bufando de raiva
Encorporou o Saraiva
Não adimitiu o sarro.

--Olhe aqui fi da broboinca
O automóvel é meu
Vou pagar com minha verba
Se entupa, seu fariseu
Dou o nome que eu quero
Joaquim, Chico ou Homero
Também ponho o de Romeu.

Uma semana depois
Lunga, no estacionamento
Foi saindo com o carro
Até passar por tormento
O alarme disparou
A polícia o abordou
Não teve nem argumento.

Era um carro igual ao dele
Não mudava nem a cor
O modelo, a capota
Pneu e radiador
Calota, marcha e breque
Iguais ao seu calhanbeque
Principalmente o motor.

Lunga tomou providência
Ali, no calor da hora
Pra não mais se confundir
Tirou da bota a espora
Riscou toda a pintura
Disse: --olhe que belezura
Quero ver trocar agora.
Ver Vídeo:
Os Poemas do Seu Lunga

Fonte: Cantigas e Cantos




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O risco das usinas sem reservatórios
O Seminário Brasilianas “Energias Alternativas” trouxe duas visões sobre o setor elétrico.
 www.luisnassif.com.br 27.02

A visão atual foi o sucesso dos leilões de energia e dos programas de energia alternativa. Ao longo dos últimos anos, além do etanol sucessivos programas e os leilões viabilizaram a energia eólica, deram o tiro de partida para a fotovoltaica.

Mas problemas ambientais provocaram uma mudança perigosa na matriz energética, com a perda gradativa da importância  relativa da hidroeletricidade e, mais que isso, dos reservatórios das usinas, trazendo um aumento de risco complicado.

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Esse alerta foi feito por Hermes Chipp, presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico e pelo professor Nivalde de Castro, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O reservatório é como um armazenador de energia. No período chuvoso, parte da água é armazenada e serve para gerar eletricidade no período de seca.

Com essa segurança, a energia alternativa era utilizada em curtos períodos, quando o nível dos reservatórios baixava além de determinado limite.

Alguns anos atrás, o nível dos reservatórios garantia até dois anos de seca. Foi caindo. Com as novas hidrelétricas sendo construídas todas a fio d’água (sem reservatório), em 2013 os reservatórios garantirão 5,4 meses; em 2017, 4,3; em 2020, 3,5 meses.

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Essa involução cria fatores complicados de segurança. Há que se proceder a mudanças substanciais no modelo elétrico e na compra de energia.

O primeiro fator relevante é a questão da segurança energética – ou seja, garantir que não faltará energia. Por exemplo, hoje em dia em nome da sustentabilidade, montou-se um modelo que impede a formação de reservatórios. Como lembra Chipp, o modelo peca pela base. Sem os reservatórios, quando falta energia são despachadas as térmicas, movidas a óleo ou carvão.

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A existência de reservatórios é fundamental inclusive para viabilizar a alternativa. Por exemplo,  prevê-se uma expansão substantiva da energia eólica – energia limpa, sustentável. Só que a energia eólica não é perene. Há períodos de pouco vento. Portanto, quanto maior a produção de eólica, maior a necessidade da energia de reserva. Sem essa reserva, se terá que recorrer a energias garantidas. E aí se cai nas termoelétricas a carvão e diesel.

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Outro ponto relevante é mudar o critério de análise de preço. Hoje em dia, os leilões de energia levam em conta apenas o custo da geração – leva quem apresentar o preço mais baixo.

Ora, o custo final de uma determinada energia é a soma do custo de geração, mais o de transmissão e o de distribuição. Se uma usina é levantada em local distante, o custo de transmissão acaba fazendo com que chegue mais cara no consumidor final do que o de outra usina levantada em local mais próximo. Ou então ocorre de usinas construídas e desligadas do sistema por problemas de transmissão – que enfrentam problemas com diversas instâncias ambientais, com Ministério Público etc.

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Diz Chipp que os leilões precisam definir previamente a quantidade de cada tipo de energia que se pretende, a região a ser implantada, o custo final para o consumidor.

Mais que isso: é necessário rediscutir a questão dos reservatórios.


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Os caminhos da economia em 2013
Para entender os desafios atuais da economia. Coluna Econômica - www.luisnassif.com.br 28.02

O ciclo do desenvolvimento consiste nas seguintes etapas:

Formação da demanda, através do fortalecimento do mercado interno e das exportações.
Fortalecimento da produção interna, para atender à demanda.
O aumento da produção interna gera mais investimentos, que geram mais empregos, que fortalecem mais o mercado interno, completando-se o círculo virtuoso.

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Por enquanto há dificuldades em completar o segundo ciclo, apesar dos avanços da redução dos juros e melhoria do câmbio.

O fato do fator 2 não ter se completado faz com que todo aumento de demanda de produtos comercializáveis (aqueles negociados no mercado internacional) seja atendido pelas importações, gerando uma pressão nas contas correntes brasileiras.

No ano passado, o consumo de industrializados cresceu mais de 8%; a produção caiu 2,8%. No setor químico, o consumo aparente tem crescido 7,1% ao ano desde 2007. E a produção continua no mesmo patamar. Em cinco anos, houve estagnação interna, enquanto o aumento de consumo foi totalmente absorvido pelas importações.

A indústria química fechou 2012 com um déficit de US$ 28,1 bilhões. Em 2013, o buraco será maior. Apenas em janeiro o déficit em conta corrente foi de US$ 11 bilhões.

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As reservas internacionais permitem empurrar algum tempo com a barriga. Mas esse desequilíbrio terá que ser desmontado em algum momento, sob pena de uma crise futura nas contas externas.

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Trata-se de uma equação complexa. Os salários melhoraram, o emprego melhorou e existe mais crédito disponível para consumo. Como a produção interna não atende a essa demanda, há um aumento dos preços de serviço e de moradia e uma pressão nas contas externas.


Este é nó central. Para ser desarmado, exigiria um reajuste muito mais acentuado do câmbio. Mas aí se esbarra na outra perna da equação: os efeitos sobre a inflação e sobre a renda.

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No ano passado, procedeu-se a uma corajosa desvalorização cambial de cerca de 30%. Mas não se resolveu o problema da competitividade interna.

Além disso, o discurso desconexo do Ministro da Fazenda Guido Mantega lançou uma nuvem de imprevisibilidade sobre os agentes econômicos. Somado ao aumento dos preços de alimentos, provocou essa alta da inflação no final do ano passado e início deste ano.

Grandes fabricantes – como Nestlé, Gessy Lever, Procter & Gamble, conseguiram emplacar reajustes médios de 10% nos atacadistas. Esses reajustes concentraram-se no setor alimentício.

Pode-se tratar o problema com antibiótico ou antigripal. O antibiótico seriam medidas duras na área de crédito, com impacto sobre o consumo – e sobre o PIB. Não é o caso ainda.

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Tem-se um desafio imediato, que consiste em desarmar as expectativas inflacionarias, trabalho que vem sendo conduzido pelo discurso mais sólido do presidente do Banco Central Alexandre Tombini. O recuo recente dos preços de alimentos ajudará nessa empreitada.

Para compensar o câmbio apreciado, o governo vem procedendo a uma série de desonerações tributárias. Mas ainda se mostram insuficientes.

De qualquer modo, a estratégia está montada. Os próximos meses indicarão se foi bem sucedida ou exigirá dosagens maiores.
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A política de cotas ganhou mais uma (Elio Gaspari, jornalista)

Na essência da política de cotas há um aspecto que exaspera seus adversários: um estudante que vai para o vestibular sem qualquer incentivo de ações afirmativas tira uma nota maior que o cotista e perde a vaga na universidade pública. Quem combate esse conceito em termos absolutos é contra a existência das cotas, cuja legalidade foi atestada pela unanimidade do Supremo Tribunal Federal e aprovada pelo Congresso Nacional (com um só discurso contra, no Senado). É direito de cada um ficar na sua posição, minoritária também nas pesquisas de opinião.
FOLHA SP 27.02
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Uma coisa é defender as cotas quando a distância é pequena, bem outra seria admitir que um estudante que faz 700 pontos na prova deve perder a vaga para outro que conseguiu apenas 400. O que é diferença pequena? Sabe-se lá, mas 300 pontos seria um absurdo.

Os adversários das cotas previam o fim do mundo se elas entrassem em vigor. Os cotistas não acompanhariam os cursos, degradariam os currículos e fugiriam das universidades. Puro catastrofismo teórico. Passaram-se dez anos, e Ícaro Luís Vidal, o primeiro cotista negro da Faculdade de Medicina da Federal da Bahia, formou-se no ano passado e nada disso aconteceu. Havia ainda também as almas apocalípticas: as cotas estimulariam o ódio racial. Esse estava só na cabeça de alguns críticos, herdeiros de um pensamento que, no século 19, temia o caos social como consequência da Abolição.

Mesmo assim, restava a distância entre o beneficiado e o barrado. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais divulgou uma pesquisa que foi buscar esses números no banco de dados do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Neste ano, as cotas beneficiaram 36 mil estudantes. Pode-se estimar que em 95% dos casos a distância entre a pior nota do cotista admitido e a maior nota do barrado está em torno de 100 pontos. Em 32 cursos de medicina (repetindo, medicina) a distância foi de 25,9 pontos (787,56 contra 761,67 dos cotistas).

O Inep listou as vinte faculdades onde ocorreram as maiores distancias. Num caso extremo deu-se uma variação de 272 pontos e beneficiou uns poucos cotistas indígenas no curso de história da Federal do Maranhão. O segundo colocado foi o curso de engenharia elétrica da Federal do Paraná, com 181 pontos de diferença. A distância diminui, até que, no 20º caso, do curso de ciências agrícolas de Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Federal do Rio Grande do Sul, ela ficou em 128 pontos.

Pesquisas futuras explicarão como funcionava esse gargalo, pois se a distância girava em torno de 100 pontos, os candidatos negros e pobres chegavam à pequena área, mas não conseguiam marcar o gol. É possível que a simples discussão das ações afirmativas tenha elevado a autoestima de jovens que não entravam no jogo porque achavam que universidade pública não era coisa para eles. Neste ano, 864.830 candidatos (44,35%) buscaram o amparo das cotas.

A política de cotas ocupou 12,5% das vagas. Num chute, pode-se supor que estejam em torno de mil os cotistas que conseguiram entrar para a universidade com mais de cem pontos abaixo do barrado, o que vem a ser um resultado surpreendente e razoável. O fim do mundo era coisa para inglês ver.

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AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA »
Cortiço ontem e hoje
affonsors@uol.com.br
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Em meio a tantos centenários de nascimento (Graciliano Ramos, Rubem Braga, Vinicius de Moraes, etc.), é bom lembrar que, neste ano, é o centenário de morte de Aluísio Azevedo.  CORREIO BSB 04.02
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Maranhense, irmão de Arthur Azevedo, ele morreu em Buenos Aires em 1913.

Ainda hoje qualquer pessoa lê O cortiço com certa volúpia. Nas escolas, quando o professor pensa num texto capaz de suscitar interesse dos adolescentes tão ligados em iPods e computadores, surge logo aquele livro, que já virou filme, novela, teatro, história em quadrinhos, etc.

Encantado com sua vida e obra, pensei em fazer a tese de doutoramento sobre ele, antes de decidir pela obra de Drummond. Li tudo o que podia sobre ele, como aquela boa biografia escrita por Raimundo de Menezes publicada em 1957, centenário de nascimento de Aluísio. E fiz posteriormente uma análise de O cortiço, que causou polêmica e foi reeditada agora em Análise estrutural de romances brasileiros (Ed.Unesp).

As universidades e as academias deveriam aproveitar a data e reestudar sua obra. Está ali a sociedade brasileira de ontem e de hoje. Está ali germe do que seriam as “comunidades” atuais, que passaram ser (no Rio) Unidades de Política Pacificadora. Por que não fazem seminários comparando os cortiços daquele tempo, as favelas de ontem e as comunidades de hoje? Chamassem urbanistas, sociólogos, políticos, escritores, historiadores para rediscutir o Brasil a partir do que Aluísio espetacularmente flagrou em sua época.

Moro do lado de uma ex-favela e/ou comunidade no Rio. Quantas vezes, passando ali em frente, me ocorreu estar lendo/vendo cenas descritas por Aluísio há 150 anos. Agora, as coisas estão mais calmas. Não tem mais tiroteio. Mas a realidade da periferia das grandes cidades brasileiras (e latino-americanas) continua inscrita nas observações daquele romancista. Pensando continentalmente, já que ele morou em La Plata (Argentina), quem viu o filme argentino Elefante branco teve a sensação de estar revendo o Brasil de Cidade de Deus ou de Tropa de elite.

Há na vida de Aluísio coisas intrigantes. Não só o escândalo do romance O mulato. Sabe-se que era caricaturista, havia estudado artes plásticas e fazia desenho de seus personagens antes de descrevê-los. Mudou-se para a frente de uma favela para desenhar realisticamente seus tipos. Mas vivendo de escrever romances durante 16 anos, o que era uma proeza já no século 19 no Brasil, quando conseguiu um posto diplomático, perdeu em parte a motivação para escrever. Viveu na Espanha, Inglaterra, Uruguai, Paraguai, Argentina e Japão.

Me lembro de ter examinado na França, em 1982, uma tese em que havia trechos do livro que escreveu sobre o Japão e, posteriormente no Rio, de ter visitado, em Botafogo, um de seus sobrinhos de nome Aluísio que tinha alguns documentos do escritor.

Quando morava no exterior, o editor Garnier lhe pagou uma bolada por sua obra; pensava receber o dinheiro, mas seu amigo Graça Aranha, que era seu procurador, comprou um terreno para ele em Copacabana. Aluísio ficou decepcionado. É uma história meio confusa. Mas Valentin Magalhães, ressaltando que Aluísio ganhava o pão com literatura, assinalava ironicamente que “as letras brasileiras ainda não dão para a manteiga”.

Há exceções, claro.



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INCENTIVO FISCAL
Lei Rouanet é ferramenta relevante para cultura
Por Cristiane Olivieri, advogada da empresa Oliveiri & Signorelli.
Revista Consultor Jurídico 28/02

As notícias, quase sempre bombásticas, sobre o uso e a ideia de uso indevido dos recursos da Lei Rouanet geram, normalmente, indignação da sociedade.  Revista Consultor Jurídico, 28/02
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Notícias como a do blog da cantora Maria Bethânia vendem a necessidade de mudanças urgentes. Mas, com certeza, não será com uma decisão imperativa do governo, parcial porque essencialmente política, que alcançaremos essa melhora. Revista Consultor Jurídico, 28 de fevereiro de 2013
http://www.conjur.com.br/2013-fev-28/cristiane-olivieri-lei-rouanet-ferramenta-relevante-cultura
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Hoje, cada projeto é analisado por um parecerista técnico, e aprovado por um conselho formado por representantes da sociedade civil e do governo. A análise não é de mérito, mas sobre a adequação à lei e a viabilidade financeira. Em qualquer processo de seleção é inevitável que sejam contemplados projetos não unânimes, toscos, ou até mesmo discutíveis.

Mas a excelência, não só da arte, não se faz com a aplicação de fundos em projetos perfeitos (quem os definiria, afinal!?). É um investimento de risco.  A cultura é a medida e o espelho de uma sociedade, e se constroi pela contribuição de todos, da inclusão dos unânimes e dos estranhos, da aceitação do oposto. Não podemos mediar as escolhas pelo ponto de vista de uma classe, de um segmento, ou de um governante de plantão.

O governo é feito de pessoas, com visão de mundo, apoiadores, parceiros e oponentes. É parcial porque tem objetivos políticos. Não pode ser colocado acima do bem e do mal. Na verdade, a história mostra que os governantes, geralmente, criam balcões para os amigos do rei. O processo de seleção existente é muito mais eficiente que decisões governamentais, com viés político partidário.

A mesma lei que aprovou o blog de Maria Bethânia aprovou também diversos projetos de formação de artistas, de inclusão de crianças e jovens pela arte, de institutos e programas culturais gratuitos, de preservação de patrimônio etc. Cada um de nós terá razões para apoiar ou contestar essas decisões, mas não cabe ao processo de seleção excluir uma proposta de vídeos de poesias, disponibilizados online, gratuitamente, apenas porque envolve profissionais reconhecidos. Seria preconceito. Cabe, sim, uma análise orçamentária, e a garantia da distribuição democrática de seu resultado.

É importante também acrescentar que a discussão sobre projetos beneficiados é praticamente exclusiva da cultura. A maioria dos benefícios fiscais praticados pelo governo federal sequer tem processo de análise. São todos concedidos em atacado, como a redução dos impostos sobre venda de veículos, ou de eletrodomésticos da linha branca.  Mas, para esporte e cultura implantou-se a análise do varejo. E é bom frisar que, em 2009, a renúncia fiscal total para cultura representou 1,26% de todas as renúncias, enquanto que os setores de comércio e serviços ficaram com 30,7%, e a indústria, 19,89% (ou seja, 50,68% do total). E ninguém discute a pertinência ou a aplicação individual desses recursos pelo governo, os quais são muito mais robustos e suscetíveis a lobby.

A Lei Rouanet é ferramenta relevante para a produção cultural e para o público, que pode ter acesso às mais diversas produções, gratuitamente ou com preços populares, conforme as novas regras implantadas. E tem selecionado projetos relevantes. O governo já fiscaliza o processo geral. Não haveria nenhum ganho para a sociedade em conferir-lhe também o poder de escolha.

Cristiane Olivieri advogada da empresa Oliveiri & Signorelli


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CULTURA POPULAR: Do Cordão Para A Literatura de Cordel.
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Lei Rouanet é ferramenta relevante para cultura
Por Cristiane Olivieri, advogada da empresa Oliveiri & Signorelli.
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Produção literária
LUIZ AUGUSTO SAMPAIO,  da Academia Goiana de Letras

Conheço vários cidadãos que possuem “veleidades literárias”, mas que, ainda, não resolveram publicar seus textos. Muitos esperam pela chamada “maturidade intelectual”. DIÁRIO DA MANHÃ 02.03
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Não se arriscam a debutar no universo literário. A literatura brasileira, exemplificando, está cheia de autores precoces e de maduros, que não ficam a esperar o "enferrujamento" de boas ideias. Tenho dado conselhos a muitos deles para que publiquem o que se acha armazenado no cérebro. Dou, agora, apenas exemplos de pessoas que publicaram livros precocemente. Álvares de Azevedo, poeta romântico, morreu aos 21 anos, vítima de um tumor na região da bacia. Antes, porém, produziu centenas de páginas de poesias e prosas, que se acham entre as mais importantes do romantismo brasileiro. Poderia citar muitos outros autores precoces. Outro, Castro Alves, que encontrou o caminho literário e faleceu aos 24 anos, e, também, Rachel de Queirós, que escreveu O Quinze, com 19 anos; Clarice Lispector, nos deu Perto do Coração Selvagem, obra de uma maturidade extraordinária, escrita antes dos 20 anos; Ferreira Gullar, que até hoje brilha no cenário pátrio, disse certa vez: “se eu tivesse começado mais tarde, minha poesia seria muito mais pobre”. Há, entretanto, escritores que escreveram já mais idosos. Um exemplo é Pedro Nava, conceituado médico, que só começou a publicar para valer depois dos 40. Entre os estrangeiros, posso citar o português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura em 1998, que teve seu livro Ensaio sobre a Cegueira adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá. Este é um caso típico, pois sobredito romance importante saiu quando ele já possuía 54 anos. E você leitor, o que está esperando? Escreva e procure os meios necessários para dar à luz seu primeiro livro. Assim, o espero. Navegar é preciso enquanto é tempo.

(Luiz Augusto Sampaio,

da Academia Goiana de Letras



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CORREIO BSB 28.02



LITERATURA »
Poesias na porteira
O premiado escritor Wilson Pereira se une ao fotógrafo Antonio Nepomuceno para uma viagem lírica no livro Reflexos do tempo, que junta imagens e palavras de um tempo de delicadeza
Reflexos do tempo
De Wilson Pereira e Antonio Nepomuceno. Edição de autor, 84 páginas. R$ 40.
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A infância está guardada em um local seguro e confortável na memória do poeta Wilson Pereira. Nesse lugar mora um menino crescido em fazenda, soltinho e travesso, feliz da vida, um garoto que o poeta resolveu moldar em forma de versos. Reflexos do tempo, que tem lançamento marcado para hoje no restaurante Vila Madá (Deck Norte), nasceu de uma parceria com o fotógrafo Antonio Nepomuceno e propõe uma visita cheia de ternura a um passado de contornos familiares aos dois autores. Napoleão também é menino de fazenda, de porteira larga e horizontes a perder de vista. “Escrevo muito sobre a infância”, avisa Pereira, mineiro de Coromandel ,e autor de uma vasta bibliografia de literatura infantojuvenil. “Até os 12 anos vivi na fazenda e esse período ficou muito marcado na lembrança.”

As perdas do pai e de um irmão ainda em tenra idade fizeram Pereira constatar muito cedo a efemeridade da vida e a presença incontornável da morte. Mais tarde, o poeta entenderia por que o francês Paul Valéry insistia na ideia de que a “infância é a pátria da poesia”. “A infância é uma recorrência entre os poetas e tenho isso muito forte em mim: um menino que, de certa forma, não cresceu, mas não é um Michael Jackson ou um Peter Pan. É um menino que sobrevive no homem, um menino que luta contra o tempo para permanecer na memória do homem.”

Colagens
A edição cuidadosa traz os poemas impressos em papel-vegetal e as imagens sobre fundo amarelado, uma maneira de remeter ao tempo passado e ao material desgastado de fotografias antigas. O tom direto e simples dos versos carrega o leitor para as colagens de Napoleão. Em Rebrincando, o poeta conta: “Eu brinco hoje/com o menino/que aos poucos/já me foge./O meu menino/brincava de ser/grande em mim./Hoje eu brinco/de mim pequeno/comigo,/brinco de ter sido”. Há uma postura melancólica, mas nunca triste, na maneira como Pereira revisita suas memórias. E, claro, a imagética da infância aparece em praticamente todos os versos.

Também mineiro, Napoleão começou a construir as imagens de Reflexos do tempo como um projeto individual durante oficinas do fotoclube f/508. “Falei para Wilson e ele me sugeriu de fazer as fotos sobre uns poemas”, conta o fotógrafo. “Peguei principalmente a infância, o desenvolvimento humano em cima dos poemas, a maturidade. Queria que as fotos fossem ligadas aos poemas, mas que tivessem vida própria.” Muitos dos versos falam em espelhos, por isso Nepoleão utilizou reflexos para construir as fotomontagens. Em algumas imagens, incorporou, inclusive, fotos antigas, de família, e desenhos infantis feitos pela própria neta. O diálogo entre os poemas e as imagens ajuda a transportar o leitor para um universo lírico e lúdico.


Os versos

Além
Por esta terra
não voltas a passar

acabou-se a estrada,

há uma estrela sobre o mar:

nada
ou tens de voar.

Tantos
Eu fui tantos
que a vida esqueceu
muitos de mim
em mins
que ainda sou eu

Pelas ruas do passado
O meu menino
vai-me fugindo
com seu passinho
apressado
pelas ruas antigas
do passado.

Filho da mãe!

Um dia
Eu sempre acordava cedo
para brincar.

Um dia meus brinquedos
se esqueceram
e não foram me acordar.

Levantei um pouco mais tarde
e fui trabalhar.

        

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