quinta-feira, 7 de março de 2013
A crise das elites em tempos de
mudança
Coluna
Econômica do Luis Nassif -
www.luisnassif.com.br - 05/03
Há um
fenômeno curioso ocorrendo com o país nesses tempos de Internet e de inclusão
geral: o envelhecimento generalizado das figuras referenciais, em todos os
níveis de Poder.
De um
lado, nunca se discutiu tanto o país, nas redes sociais, nos fóruns de
Internet, em sites especializados. De outro, poucas vezes se viu um período com
tal falta de referencias e com tal dificuldade para o novo assumir seu papel.
***
Comecemos
pelo Sistema de Justiça. Há muito a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) deixou
de ser referência de qualquer coisa, com exceção dos interesses de classe.
Na
Magistratura, igualmente, inexistem Estadistas.
As
últimas manifestações do STF (Supremo Tribunal Federal) demonstram uma pobreza
intelectual acachapante, em qualquer outro campo fora do campo do direito.
Diriam: a função do Juiz é conhecer as leis. Na cúpula, tem que ser muito mais.
Tem que ter visão refinada de um cientista social, formação humanística ampla
para interpretar adequadamente as leis à luz das mudanças ocorridas na
sociedade.
No meio
jurídico há uma brilhante geração de jovens juristas, professores capacitados,
juízes e procuradores com nível intelectual diferenciado. Mas esses ventos
novos ainda não encontraram o campo adequado para conquistar visibilidade e ser
fator de mudanças.
***
No
Congresso, nem se diga. Quando os Ministros do Supremo se envolveram em
arroubos irresponsáveis contra a instituição, a única voz que se levantou foi
do então presidente da Câmara Marcos Maia, corajoso, sim, mas sem a dimensão
que se exige dos Estadistas.
***
Salta-se
dali para os partidos políticos.
Hoje em
dia, o PT é um partido pobre em quadros. Alguns anos atrás podia exibir
intelectuais de peso, juristas de nomeada, pensadores criativos. Hoje em dia,
quem pensa o PT? Os dez anos de conquista do poder poderiam ter ensejado uma
profícua discussão sobre os rumos do partido para os próximos dez anos. Nada
aconteceu.
As
mudanças do PT ocorrem exclusivamente por conta da influência e da visão
política de Lula.
***
Sem
contar com alguém como Lula, o PSDB murcha a cada dia. A única atividade de seu
guru, Fernando Henrique Cardoso, consiste em, a cada três meses, relançar a
candidatura de Aécio Neves à presidência. O carro não pega. Três meses depois,
FHC relança Aécio. E vai para casa descansar, que ninguém é de ferro.
***
No campo
da mídia ocorre fenômeno semelhante. Até algumas décadas atrás, chefes de
redação de grandes jornais, mesmo diretores de sucursais, eram personagens
intrínsecos da estrutura de poder do país. Hoje em dia, a militância partidária
limita-se a uma campanha recorrente contra tudo o que Lula pode simbolizar, sem
um pingo de sofisticação estratégica.
***
Na
economia real, há tempos não surgem novas lideranças empresariais, nem as centrais
sindicais conseguem desenvolver um discurso novo, à altura dos desafios
contemporâneos do país.
***
São
tempos de mudança. E há uma enorme vitalidade represada, um conhecimento
acumulado que não consegue espaço nos três canais de expressão tradicionais:
partidos políticos, Universidade e mídia.
O novo já
nasceu, mas ainda não foi apresentado à Nação.
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-
Em favor
do capitalismo, um outro capitalismo
· -
Mulgan:
não se trata de socialismo, mas de um capitalismo em que o poder do mercado é
submetido a fins sociais. Valor Econômico 05.03
.
Em termos
políticos, os anos transcorridos desde a crise financeira pertenceram à
centro-direita. Mesmo a rara vitória socialista na França foi logo seguida por
uma moderação da retórica eleitoral. Grandes pontos de vista sobre algum modelo
alternativo não encontraram eco, mas é possível ver uma multiplicação de ideias
úteis sobre reformas. Na raiz dessas propostas está a admissão de que a
"mão invisível" de Adam Smith é capaz de colocar muito no bolso dos
acionistas e, em especial, dos altos executivos, mas bem pouco no dos
trabalhadores, do público e do governo; e que a ambição louvada por Smith como
motor de impulso aos valores sociais é, muitas vezes, apenas o que parece ser.
"The
Locust and the Bee", de Geoff Mulgan, traz importante contribuição para a
discussão do assunto. Mesmo quando era diretor de políticas de Tony Blair,
Mulgan ponderava que não havia motivos para o capitalismo ser visto como o fim
da história econômica. Agora, liberado há alguns anos das inibições do governo
e atualmente diretor da fundação britânica National Endowment for Science,
Technology and the Arts (Nesta), conseguiu traçar um esboço de possibilidades,
nas palavras de Marx, para "relações de produção novas e mais elevadas".
O objetivo não é o socialismo; Mulgan, marxista na juventude, já trocou de
pele. Seu novo livro argumenta a favor de um capitalismo em que o poder do
mercado é submetido a fins sociais.
As
mudanças seriam radicais, ainda mais porque o capitalismo - "um vasto
sistema de extração e pressão, de coisas em perpétuo movimento" - está
tanto fora como dentro de nós, o que dá à sua forma atual uma aura de
inevitabilidade. Ainda assim, na cúpula das corporações financeiras, o
capitalismo está cada vez mais divorciado da economia real. Deixado sozinho,
acredita Mulgan, teria sido destruído há muito tempo. O fato de isso não ter
acontecido é explicado pelas intervenções que se seguiram às quebras e
depressões dos anos 20 e 30, que criaram Estados de bem-estar social e vários ajustes
entre capital, trabalho e governo.
Para
Mulgan, o capitalismo precisa, e pode, ser algo civilizado. Primeiro, é preciso
aceitar que o valor monetário não é um fim por si só, mas um meio para uma vida
de cooperação, felicidade, amizade e amor. Ele acredita que "estamos
testemunhando a emergência de uma economia assentada mais em relacionamentos do
que em commodities; em fazer do que em ter; em preservar do que em
produzir". Em um longo capítulo, ele estabelece como podemos
"recompensar essas partes do capitalismo que recompensam a
sociabilidade", assegurando, por meio da intervenção do Estado e da
sociedade civil, um equilíbrio que o sistema não pode atingir por conta
própria.
Mulgan se
deixa levar por exageros em alguns momentos. Há ecos no livro da distinção
feita pelo líder do Partido Trabalhista britânico, Ed Miliband, entre
capitalismo "predatório" e capitalismo "produtivo", em
discurso de 2011 - diferenciação que, na prática, é difícil de fazer. Ele
escreve que "não há razão objetiva" para uma casa em Nova York valer
US$ 10 milhões, algo que só se imagina verdadeiro porque "outros estão
dispostos a acreditar". Esse valor, no entanto, é baseado no desejo
generalizado de possuir essa casa; se o valor não fosse determinado pelo
dinheiro, teria de ser por algum decreto autoritário ou pelo uso de força
privada baseada na ameaça de violência.
Alguns
poucos excessos não enfraquecem este livro generoso. Enquanto a
social-democracia está às voltas com o declínio de suas bases - um Estado
social bem financiado e poderoso, com sindicatos moderados e políticas
econômicas keynesianas previsíveis -, aqui há sinalizações de como se poderia
progredir.
O foco de
Colin Mayer em "Firm Commitment" é mais centralizado - na corporação
empresarial, que ele vê como uma criação notável, mas que deixou de ser um
"servidor" para se transformar (com a influência dos governos) em um
monstro. "Não é exagero dizer", escreve, "que, por sua
negligência, incompetência, ambição ou fraude, as corporações são uma ameaça a
nosso meio de vida e ao mundo em que vivemos". E isso vem de um fundador,
ex-reitor e hoje professor de estudos de administração da Saïd Business School,
de Oxford.
O
principal alvo da lúcida análise de Mayer é o curto-prazismo que se acoplou -
especialmente - ao comportamento empresarial britânico, graças a regras que dão
aos acionistas, sejam os de longo prazo ou os que ficam com os papéis por
apenas três dias, os mesmos direitos. Isso, para Mayer é como "se
estivéssemos conferindo direito de voto a membros da população que pretendessem
renunciar a sua cidadania amanhã". É também um sistema em que aquisições
hostis podem facilmente destruir postos de trabalho, mercados e a ética em
companhias há muito tempo estabelecidas - como ele descreve no caso da Cadbury,
uma empresa fundada por protestantes quakers, comprada pelo conglomerado
americano Kraft. Os atuais esforços para corrigir isso não funcionam: as regras
existem para serem dribladas, enquanto a responsabilidade s ocial das empresas
são um curativo numa ferida gangrenada.
Seu
principal antídoto é a "firma confiável", que opera de acordo com
três princípios. Primeiro, precisa tornar públicos seus valores e que estes
sejam compartilhados por funcionários, clientes e acionistas. Segundo, esses
valores são confiados a um conselho ("trustees") que não administra a
empresa, mas age em nome dos acionistas. Terceiro, os acionistas de longo prazo
devem estar no controle e ter privilégios, por meio da alocação de ações com
direito a voto, que seriam negadas aos investidores de curto prazo interessados
apenas em lucros rápidos.
Mayer
também, por vezes, pode mostrar-se um pouco sonhador: na Alemanha
longo-prazista, a Krupp fez várias ofertas hostis, entre as quais uma
bem-sucedida pela Hoesch, em 1991, e outra que não foi adiante pela Thyssen, em
1997, embora posteriormente tenha sido alcançado um acordo de fusão. Ele
menciona isso; mais recentemente, porém, a ThyssenKrupp, em parte controlada
por uma fundação com poder para vetar as decisões da diretoria, foi multada em
€ 103 milhões por uma autoridade antitruste da Alemanha, por fazer parte de um
cartel que buscava manter elevados os preços de trilhos ferroviários. Os
horizontes de longo prazo nem sempre estão livres de nuvens e trovoadas.
Mayer, no
entanto, não vê apenas uma forma de organizar a economia. Parte de sua
explicação para o maior dinamismo dos Estados Unidos é a combinação de modelos.
Até sua variante de composição acionária diversificada às vezes é vista como
funcionando bem. Mas na prática, e como princípio de aplicação universal,
argumenta Mayer, isso está destruindo nossa economia e nossa moralidade
empresarial. Apenas com a redescoberta de valores vitorianos de parcimônia e
comprometimento é que a instituição central do capitalismo - a corporação -
poderá ser salva.
"The
Locust and the Bee - Predators and Creators in Capitalism's Future"
Geoff
Mulgan. Editora: Princeton Univ. Press. 344 págs., US$ 29,95
"Firm
Commitment - Why the Corporation is Failing Us and How to Restore Trust in
It"
Colin
Mayer. Editora: Oxford Univ. Press. 320 págs., US$ 29,99
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O racismo não está nos olhos de
quem vê
Blogueiro
negro defende cotas raciais nas universidades até que todos deixem de tratar
pretos como representantes de minoria
-
Com a
decisão da legalidade, pelo STF, das cotas raciais , as primeiras inscrições de
alunos pela lei de cotas nas universidades públicas federais e a possibilidade
real de cotas nas universidades públicas de São Paulo amplia-se o debate sobre
questões de políticas afirmativas em relação à população afrodescendente. Boa
parte deste debate tem sido feito de forma rasa e com boa dose de preconceito
e/ou constrangimento em reconhecer as cotas como um direito que trata desiguais
de forma desigual.
Leia
também: critério de raça tem discrepância maior nas notas de corte de cotistas
Convidei
para participar dessa coluna através do texto abaixo, e assim colaborar no
debate, o estudante André Rossi Pola Barbosa. André, blogueiro, é negro, filho
de mãe solteira, militante do movimento negro e do movimento feminista. Já
cursou farmácia em uma universidade particular e depois engenharia mecânica
naval na Fundação Universidade do Rio Grande (FURG). Não era o caminho que
queria, e hoje se dedica a estudar para conquistar uma vaga em medicina em uma
universidade pública, se possível com a nota do Enem. André, por ter estudado o
ensino médio em escola particular, não tem direito a concorrer pelas cotas da
lei nacional.
Sobre
igualdade, racismo e ações afirmativas - pois o racismo não está nos olhos de
quem vê
Vivemos
na era do politicamente correto. Isso é uma coisa boa, pois desse modo muitas
pessoas percebem o quanto as expressões do dia-a-dia estão carregadas de
preconceitos e menosprezo com as minorias. Assim, muitos indivíduos que se achavam
deslocados do mundo repararam que não estão sozinhos e, disso, inúmeros
movimentos se organizaram melhor (ou ganharam mais força) como o das
feministas, o dos negros e o dos gays. A fim de melhorar e reivindicar certos
direitos que, para eles, não eram garantidos ou não eram respeitados, esses
grupos se organizaram e suas reivindicações encontraram grande resistência por
parte de reacionários (pessoas que não aceitam mudanças na sociedade e preferem
a ordem atual).
Uma
dessas reivindicações foi a política de ações afirmativas, para que haja uma
maior participação do negro na sociedade. Para isso, recentemente, o governo de
São Paulo propôs às universidades estaduais que reservassem 50% das vagas para
pretos (nomenclatura oficial para negros e pardos do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, IBGE) e alunos de escola pública. Por isso, a classe
média hoje vocifera palavras de igualdade, dizendo que as cotas vão apenas
fomentar o racismo (que ela pensa não existir mais). No entanto, isso é uma falácia
e tais ações se fazem necessárias para que justamente se diminua o racismo no
Brasil.
A maioria
das pessoas contrárias às cotas se indigna por elas tirarem a igualdade entre
os cidadãos, porque todos são "iguais perante a lei". Todavia, não
sabem da existência de dois tipos de igualdade: a formal e a material. O
primeiro tipo de igualdade é a defendida pelos reacionários, de que todos são
iguais, mas por meio desse tipo de igualdade os juristas verificaram que as
diferenças sociais não deixavam de existir. Por causa disso, foi definida então
a segunda igualdade, a material. Nesta, para tornar a sociedade mais
igualitária, os mais desiguais serão tratados desigualmente ao pé de suas
desigualdades - para que estes possam se tornar mais iguais ante os demais. Por
isso foi importante a criminalização da homofobia, foi importante a instituição
da lei "Maria da Penha" para combater a violência doméstica e assim
também são importantes as cotas raciais e sociais nas universidades públicas.
A
sociedade brasileira é a segunda maior sociedade de pretos do mundo, perdendo
apenas para a Nigéria. Mas onde eles estão? Pois não constituem a maioria dos
engenheiros, dos padres, dos médicos, dos professores, dos fisioterapeutas ou
dos advogados. Porém, constituem a maioria em empregos como: auxiliares de
obras, garçons, garis, carteiros, jardineiros, etc. Essas profissões não perdem
a sua importância para a sociedade como aquelas outras, mas, não obstante, a
possibilidade de ascensão social a partir delas é quase nula. O que explica o
porquê de negros e pardos ficarem com essas profissões é a nossa história.
Quando se
trata de escravidão, no imaginário das pessoas vem à tona a fazenda modelo de
José de Alencar. Aquela fazenda cujo retrato ocorre nas novelas de época da Globo,
onde o negro fica trabalhando normalmente sem reclamar e o branco vive o papel
do protagonista. Contudo, a vida real dessas pessoas não foi assim. Além do
trabalho árduo, o negro não passava de um objeto, não era considerado gente,
nem portador de alma segundo a igreja na época. Sofria os mais variados tipos
de castigos e de insultos, era considerado desleixado e vagabundo. Seu trabalho
não era considerado de qualidade, daí vieram expressões como "serviço de
preto" e "pretisse". Em 1888, em 13 de Maio, foi assinada a
"Lei Áurea", que colocaria um fim à escravidão, com o crescimento da
indústria no sudeste e o aparecimento do trabalho assalariado. A partir desses
eventos, o negro passaria a ter um modo de vida, então, digno.
No
entanto, isso não ocorreu. Por quê? Na época, havia inúmeras teorias racistas e
a principal e mais arraigada na mentalidade da população era: negro é um
estágio anterior dos brancos, tanto que havia "pesquisadores"
empenhados em provar que o negro era menos evoluído. Ninguém conseguiu provar
ou demonstrar tais teorias, porém elas contribuíram para o preconceito já
existente. Em suma: negro não era gente. Além disso, a "Lei Áurea"
apenas retirou o negro da condição de "objeto" e o pôs na sociedade
totalmente "cru", sem estudo e nem preparo, portanto não havia
condições de eles competirem com os imigrantes europeus e depois japoneses que
desembarcavam aos milhares nos portos brasileiros. Os novos imigrantes eram
atraídos pela possibilidade de emprego e de enriquecimento. Já para o governo
da época, essa foi uma tentativa de "embranquecer" a população, pois
uma das teorias então existentes era de que a miscigenação de "raças"
(hoje temos clareza que não há outra raça além da humana) era prejudicial para
um país e para os seres humanos. Assim o negro foi liberto, mas não garantiram
meios para que ele pudesse sobreviver, e tudo isso ocorreu por causa da
mentalidade até então existente.
O
principal ainda era a ideia de que "preto é vagabundo", "preto
não trabalha direito", "preto que não caga na entrada caga na
saída" e outras inúmeras expressões e piadas que refletiam a mentalidade
desse momento em que o negro entrava na sociedade. Por causa desse pensamento,
sempre sobraram aos negros os piores serviços, pois o empregador não queria correr
o risco de ter um funcionário "preguiçoso". Já o branco era muito
mais trabalhador, tanto que, segundo o professor da Unesp, Dagoberto José
Fonseca, surgiu a expressão "amanhã é dia de branco".
Largado
às margens da sociedade, o ex-escravo e agora favelado fica a esmo nas grandes
cidades, com dificuldade de encontrar emprego por não ter capacidade de
competir com os imigrantes. Por estar desempregado e sempre criando o samba,
dando risada, seu quadro foi agravado. Foram ratificados os estigmas de "vagabundo",
"preguiçoso", "vadio" e, para piorar, eram alvos de piadas
que mostravam a superioridade do branco, como: "Como preto sobe na vida?
Quando explode o barraco" ou "Por que preto americano é melhor?
Porque está nos Estados Unidos". Essas piadas foram transferidas
atualmente para o pobre, para o gay. Por isso, atualmente, o politicamente
correto se faz necessário para demonstrar que expressões tidas como
"inofensivas" são racistas e pregam o preconceito devido a uma carga
histórica já existente nelas. Portanto o preconceito, embora disfarçado, ainda
persiste na sociedade brasileira por meio de ditados populares e não como dizem
que ele está "nos olhos de quem vê", pois em cada expressão há uma
origem de extrema discriminação. Atualmente isso ainda é propagado por meio de
piadas, em especial.
O riso é,
de certo modo, acusador das diferenças sociais. Há pessoas que dão risada das
piadas anteriormente citadas, esse riso é o de quem concorda que essa é a atual
situação do negro. O efeito humorístico nesse caso é criado pela hipérbole da
situação deles nas cidades e, se essa situação não for mais evidente, não
haverá mais o riso. Quando não houver mais humor, é porque a mensagem passada é
um absurdo para a maioria da população e, então agora, o preto faz parte da
maioria da sociedade. Isso evidencia como as cotas raciais são necessárias.
Mas e os
brancos pobres? Embora a desigualdade social seja grande no País, o branco
pobre tem maior facilidade em arrumar um emprego do que o preto pobre, por
causa dos pensamentos anteriormente citados que dominam o subconsciente de
pessoas ainda racistas. Tanto que, no início da década de 1990, era comum nos
anúncios de emprego a exigência de "boa aparência". Por meio de uma
investigação policial, verificou-se que a "boa aparência" era ser
branco. Isso evidencia como o racismo ainda existe fortemente no Brasil. Quando
houver mais negros e pardos ocupando cargos importantes, a ideia de que ele é
"vagabundo", "preguiçoso" e "folgado" deixará de
existir.
As cotas
não constituem uma forma para acabar com a suposta "igualdade"
existente, elas criarão possibilidades para que, no futuro, a sociedade seja
mais igualitária. Ela o será quando o negro for colocado em maior evidência,
quando for retirado dos empregos considerados menos importantes, quando for
afastado dele o estigma de bandido e favelado, quando todos deixarem de rir de
piadas racistas e outras insinuações que denigrem a sua imagem. Mas tudo isso
leva tempo. Quanto tempo? O tempo até que todos deixarem de falar deles como minorias
e passarmos a nos preocupar com a situação do ser humano e não mais da situação
do negro.
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