quinta-feira, 21 de março de 2013
Somos ricos ou somos pobres? Washington Novaes é jornalista
O POPULAR/GO 21.03
Membros do governo brasileiro manifestaram-se
inconformados com a divulgação dos índices de desenvolvimento humano calculados
pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), e nos quais o
Brasil aparece no mesmo 85º lugar do “ranking anterior”, entre 187 nações. Os
índices calculam, além dos habituais indicadores econômicos (produção e renda),
a situação em matéria de educação, saúde, expectativa de vida e saneamento
básico, entre outros. E o Brasil figura abaixo de vários outros países
latino-americanos, como o Chile, a Argentina, a Colômbia, o Uruguai, Cuba. Um
dos fatores que mais parecem haver influenciado o índice brasileiro é o da
concentração da renda no País, um dos piores no mundo (e em Goiás), apesar dos
avanços no combate à pobreza.
Talvez como resposta, anunciou-se no dia seguinte
que “o “site” do primeiro “indicador de bem-estar e felicidade no Brasil” foi
lançado pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação
Getúlio Vargas, que vai “medir o nível de satisfação do brasileiro com os
serviços públicos, serviços das empresas privadas”, além de sua percepção sobre
a segurança e o meio ambiente. Convém lembrar que a própria Universidade das
Nações Unidas lançou durante a Rio + 20 o Índice de Riqueza Inclusiva, que
avalia, além de fatores econômicos e sociais, ganhos e perdas na área de
recursos naturais e recursos humanos. A Universidade mostrou que no estudo que
fez sobre o período 1980-1998, o crescimento econômico da China, calculado em
mais de 400%, caiu para menos de um vigésimo disso, se considerada também a
perda de capital natural. O do Brasil também: calculado em mais de 40% baixou
para menos de 20%.
Em cálculos dessa natureza em geral são levadas em
conta consequências da desigualdade de renda e suas influências nos índices de
violência. E esse tema está em plena ebulição em Goiás. Ainda semana passada, a
TV Anhanguera fez uma série de reportagens sobre a questão do crescimento dos
índices de violência em Goiânia e as deficiências nas estruturas policiais. O
presidente da Agência de Execução Penal do Estado, pastor Edemundo Dias de
Oliveira Filho, escreveu neste jornal (15/3) que, segundo a Organização Mundial
de Saúde, a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo – ou um milhão de
pessoas no total. No Brasil, os suicídios cresceram 17% em uma década,
principalmente entre jovens e adolescentes. Os tribunais brasileiros estão com
mais de 41 mil processos de homicídio ou tentativas parados há mais de cinco
anos (O Estado de S. Paulo, 14/3).
Tudo faz lembrar o ano de 1982, quando o autor
destas linhas mudou-se para Goiânia, a fim de dirigir a Redação do jornal
Diário da Manhã. Todos os dias, às 13 horas, havia uma reunião de todos os
editores, para avaliar o jornal que saira de manhã e começar a projetar o do
dia seguinte. Nessa reunião se fazia também uma distribuição prévia do espaço
que caberia a cada editoria. E todos os dias se ouvia a mesma queixa do editor
do noticiário policial, Carlos Honorato: “Eu não tenho notícias para preencher
essa meia página que vocês estão me dando”.
Hoje, ele precisaria talvez de todo o espaço do
jornal inteiro. Que terá mudado em Goiânia, que era uma linda e aprazível
cidade de pouco mais de 600 mil habitantes, sem problemas de trânsito ou de
estacionamento, raríssimos casos de violência, menos ainda de homicídios? Em 31
anos, a população mais do que dobrou (ou triplicou, considerada a Grande
Goiânia), por causa da mecanização no campo acompanhada do êxodo rural. A renda
por habitante caiu a níveis muito mais baixos, com a concentração de renda num
dos piores patamares na América Latina. O poder público vive exaurido em seus
recursos, já escassos e ainda reduzidos por vários programas.
O primeiro bimestre deste ano registrou recorde de
homicídios na capital: 91. Há mais de 20 mil mandados de prisão não cumpridos
(O POPULAR, 2/3) em Goiás, o que coloca o Estado em terceiro lugar no País
nessa matéria. E quando se amplia o foco para o País, o resultado é assustador:
foram 799.226 mortes por armas de fogo no Brasil entre 1980 e 2010. Desse
total, 450.225 eram jovens de 15 a 29 anos. O total equivale à soma de vítimas
fatais em quatro anos nos conflitos armados de 12 países, incluindo
Afeganistão, Iraque, Sudão e Colômbia. O índice de homicídios por 100 mil
habitantes passou de 5,1 em 1980 para 19,3 em 2010 – dizem o Centro Brasileiro
de Estudos Latino-Americanos e a Faculdade Latino-Americana de Ciências
Sociais. E para cada branco, morrem 2,5 negros.
Talvez vá piorar mais, com a queda dos índices de
crescimento da economia. De qualquer forma, temos ainda no País mais de 50
milhões de pessoas que vivem com menos de 2 dólares (4 reais) por dia – isto é,
abaixo da linha da pobreza definida pela ONU. É um formato brutal de violência
essa situação. E entre essas pessoas está grande parte das vítimas de violência
física.
Sejam quais forem os índices de avaliação de
riqueza/pobreza no País, temos muito que evoluir.
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Os caminhos da inovação no pré-sal. Coluna Econômica do Luis Nassif - 19/03/2013
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Desde a grande crise dos anos 80, a indústria
brasileira andou de lado. Foi arrebentada pela inflação renitente dos 80, pela
abertura irresponsável dos 90, pelos juros e câmbio dos 90 e 2000.
Os efeitos mais deletérios foram o desaparecimento
da produção em setores relevantes, a baixa inovação e a não participação nas
cadeias produtivas globais.
É uma visão correta sobre a indústria até agora,
mas que não capta os novos ciclos que estão se iniciando. O país não está
parado e um dos pontos focais de reindustrialização e capacitação das empresas
é a Petrobras.
Uma das estratégias relevantes – e já com
resultados concretos – foi a montada em torno do pré-sal, o Prominp (Programa
de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural), capitaneado
pela Petrobrás.
***
Na segunda-feira passada, o programa
Brasilianas.com, da TV Brasil, entrevistou Paulo Alonso, coordenador executivo
do Prominp, e Cláudio Makarosky, presidente da Câmara de Óleo e Gás da Abimaq
(Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos).
***
Estão sendo plantadas raízes sólidas em torno do
pré-sal, de maneira a transformar a produção local em paradigma para a
indústria petrolífera mundial.
No início, o Prominp visava a promoção de mão de
obra. Tornou-se um fórum em torno dos quais se juntaram todas as entidades
representativas da indústria – Abimaq, Abdib (Associação Brasileira da
Indústria de Base), Abinee (Associação Brasileira da Indústria
Eletroeletrônica).
Como explicou Paulo Alonso, o grande ganho do
pré-sal não serão as exportações de petróleo, mas de equipamentos e
inteligência.
***
Os desafios do pré-sal tornaram a inovação peça
central do programa. As profundidades dos poços, a distância da costa criaram
novos desafios, exigindo pesquisas amplas de novos materiais, novos modelos de
construção e novos sistemas.
Um dos passos importantes foi a obrigatoriedade do
conteúdo nacional nos equipamentos.
Para quem enxerga o pré-sal do ponto de vista
puramente financista, o conteúdo nacional foi tratado como decisão paternalista
que poderia tirar a competitividade da Petrobras.
***
Depois da rodada 7 do pré-sal, todos os contratos
incluem a obrigatoriedade de conteúdo nacional.
Depois, com os epecistas (as empresas que integram
os fornecedores) foram mapeados todos os elos da cadeia e identificados
fornecedores locais.
No caso dos estaleiros, por exemplo, foram
analisados não apenas os planos de suprimentos, mas entrevistados todos os
fornecedores e subfornecedores da cadeia de cada estaleiro, antes de assinar o
contrato.
As análises basearam-se nos estudos de referência
sobre a indústria brasileira, produzidos por universidades, câmaras setoriais
do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e da própria CNI
(Confederação Nacional da Indústria). E todos os produtos locais precisaram se
enquadrar no Plano de Negócios e Gestão da Petrobras.
A análise do conteúdo local
As aquisições são balizadas por um banco de dados
de compras da empresa, com fornecedores nacionais e internacionais. Quando não
se tem o produto no país, compra-se no exterior, como foi o caso dos sistemas
digitais de controles distribuído de automação industrial para refinarias. Onde
há escala, estão sendo estimuladas empresas estrangeiras a entrar em parceria
com empresas nacionais.
As missões comerciais
No caso de sistemas de segurança, controladores
lógicos programados, por exemplo, já existem fornecedores com 80% de
nacionalização e preços competitivos. Nos casos de produtos sem produção
interna, recorre-se a road-shows internacionais, nos quais a Petrobras mostra
seu Plano de Negócios, as oportunidades abertas pelo pré-sal, em cima das 28
sondas, 48 plataformas e 89 navios que serão construídos.
A missão na Inglaterra
A busca da inovação dá-se de suas maneiras. A mais
rápida é a associação com fornecedores do exterior que detenham know how e
queiram parceria. Em recente missão no Reino Unidos, a Petrobras levou a
demanda de naves e peças, conversou com 140 empresas. 40 delas já vieram duas
vezes ao Brasil, atrás de parceiros. A intermediação é feita pela Organização
Nacional da Indústria do Petróleo, que congrega todos os fornecedores.
As parcerias
O caminho mais longo – e mais consistente – é o da
parceria com universidades e institutos de pesquisa. Cinco multinacionais
instalaram seus institutos de pesquisa na ilha do Fundão, com investimentos de
R$ 500 milhões cada. Estão trabalhando em parceria com universidades e
institutos de pesquisa brasileiros e capacitando seus fornecedores. O
investimento é fundamental para quem possam se capacitar com conteúdo nacional
e nas novas tecnologias.
Os pilotos
Há as chamadas pesquisas blue-skies, futuristas.
Como o desenvolvimento de sistemas que, no futuro, não exigirão mais
plataformas. Tudo será feito no fundo do mar, na boca do poço. E inovação
pontuais, em que a empresa define a demanda, identifica o fornecedor e
engenheiros de ambas as partes e da universidade parceria, desenvolvem
conjuntamente a inovação em pleno sistema. Aprovada, é incorpoada.
As novas competências
Com esse trabalho, recuperou-se a expertise
nacional de baleeiras, guindastes offshore, áreas de automação e de tecnologia
limpa, eletrônica, acionadores elétricos de válvula sem fio. Em alguns casos,
já se tem tecnologia inovadora, como nos acionadores sem fio de válvula e nos
sistemas de rotação de bombas através de levitação eletromagnética –
possivelmente tecnologia incorporada dos enriquecedores de urânio desenvolvidos
pela Marinha.
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A religião tem futuro? Hélio Schwartsman é bacharel em
filosofia. FOLHA SP 23.03
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SÃO PAULO - Agora que a fumaça em torno do conclave
que elegeu o papa Francisco se dissipou, arrisco perguntar se a religião tem
futuro?
No nível mais fundamental, a resposta é
"sim". Depois de uma breve utopia iluminista, na qual a
intelectualidade chegou a prognosticar a morte de Deus, o consenso científico
parece caminhar para a classificação da religiosidade como um estilo cognitivo
que dá mais ênfase às intuições geradas nos lobos temporais do que aos
raciocínios lógicos produzidos no córtex pré-frontal. Isso significa que,
enquanto contarmos com uma boa variedade de seres humanos, alguns deles deverão
permanecer obstinadamente crentes.
Daí não decorre, porém, que os clérigos estejam com
a vida ganha. Há uma correlação negativa forte entre desenvolvimento social e
religiosidade, da qual a Europa dá testemunho. Nos últimos 30 anos, a tendência
geral no continente tem sido de forte queda da fé, como mostram pesquisas que
questionam não apenas as crenças dos entrevistados mas também o peso que cada
um deles atribuía à religião em sua vida.
Um caso emblemático é o da Suécia. Como mostra Phil
Zuckerman, menos de 20% dos suecos acreditam em um Deus pessoal. E este país
nórdico, não custa lembrar, é um dos melhores lugares do mundo para viver, com
uma democracia sólida, muita riqueza e bem distribuída, um amplo sistema de
seguridade social, baixíssimas taxas de criminalidade, ótima educação etc.
No outro extremo, países mais pobres tendem a ser
os mais carolas. Pesquisa Gallup de 2009 classificou 114 nações pelo valor que
suas populações atribuíam à fé. No topo, com 99% ou mais afirmando que a
religião é importante em suas vidas, temos Bangladesh, Níger e Iêmen.
Correlação, como se sabe, não é sinônimo de causa,
mas a prioridade que o papa Francisco quer dar aos pobres pode ser, mais do que
uma opção, uma questão de sobrevivência.
Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia. FOLHA SP
23.03
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